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CONTROLE QUÍMICO DE BONAGOTA SALUBRICOLA (MEYRICK, 1937) (LEPIDOPTERA: TORTRICIDAE) EM LABORATÓRIO E POMAR DE MACIEIRA

CHEMICAL CONTROL OF BONAGOTA SALUBRICOLA (MEYRICK, 1937) (LEPIDOPTERA: TORTRICIDAE) IN THE LABORATORY AND APPLE ORCHARD

RESUMO

A lagarta-enroladeira Bonagota salubricola é considerada uma das principais pragas da macieira no Brasil. Para o controle do inseto, tem sido empregado o inseticida clorpirifós-etil, porém, o produto encontra restrições de uso, principalmente devido à toxicidade e a efeitos secundários sobre inimigos naturais. Com o objetivo de avaliar novos inseticidas que possam ser empregados no controle da lagarta-enroladeira, foram conduzidos experimentos de laboratório e em pomar comercial. Os inseticidas avaliados foram spinosad (Tracer 480 SC, 20 e 25 mL/100 L), metoxifenozide (Intrepid 240 SC, 40 e 60 mL/100 L), benzoato de emamectina (Proclaim 5 SG, 10 e 15 g/100 L) associado ao espalhante adesivo AgBem 250 mL/100 L e etofenproxi (Trebon 100 SC, 100 e 150 mL/100 L). Para comparação, foi utilizado o clorpirifós-etil (Lorsban 480 CE, 150 mL/100 L) e uma testemunha. Em laboratório, os inseticidas foram aplicados sobre posturas do inseto (com até 48 horas) e em folhas de maçãs, com posterior infestação de lagartas. Nenhum inseticida apresentou efeito sobre posturas da espécie. Os inseticidas benzoato de emamectina (0,5 e 0,75 g/100 L), clorpirifós-etil (75 g/100 L), metoxifenozide (14,4 g/100 L) e spinosad (12 g/100 L) provocaram mortalidade de lagartas superior a 90%, 96 horas após a aplicação. O etofenproxi não apresentou mortalidade significativa. Em pomar comercial, o dano nos frutos foi significativamente reduzido por todos os inseticidas, sendo que os produtos benzoato de emamectina (0,5 e 0,75 g/100 L) e metoxifenozide (14,4 g/100 L) apresentaram resultado equivalente ao inseticida clorpirifós-etil (75 g/100 L), reduzindo a porcentagem de frutos danificados em 85%. O inseticida spinosad (12 g/100 L) e o etofenproxi (10 e 15 g/100 L) reduziram os danos em 75,6 e 45%, respectivamente. Os inseticidas benzoato de emamectina e metoxifenozide são alternativas ao uso do clorpirifós-etil no controle da lagarta-enroladeira na cultura da macieira.

PALAVRAS-CHAVE
Lagarta-enroladeira da maçã; injúria; Malus sp

ABSTRACT

The Brazilian apple leafroller (BAL) Bonagota salubricola is one of the major apple pests in Brazil. For pest control, chlorpyriphosethyl is the principal compound used by growers, however its use entails environmental and health concerns. The objective of this work was to evaluate new insecticides for BAL control in laboratory and field experiments. Insecticides evaluated were spinosad (Tracer 480 SC, 20 and 25 mL/100L), methoxyfenozide (Intrepid 240 SC, 40 and 60 mL/100 L), emamectin benzoato (Proclaim 5 SG, 10 and 15 g/100 L) associated with the adjuvant AgBem, 250 mL/100 L, and etofenproxi (Trebon 100 SC, 100 and 150 m L/100 L). Chlorpyriphos-ethyl (Lorsban 480 CE, 150 mL/100 L) was used as a standard. In the laboratory, the insecticides were applied on egg masses (48 hours old) and apple leaves with posterior larvae infestation. No tested insecticide provided ovicidal effect. The insecticides emamectin benzoato (0.5 and 0.75 g/100 L), chlorpyriphos-ethyl (75 g/100 L), methoxyfenozide (14,4 g/100 L) and spinosad (12 g/100 L) caused larvae mortality above 90%, 96 hours after the application. Etofenproxi had reduced effects on larvae. In a commercial orchard, the damage in fruits was reduced for all treatments. The insecticides emamectin benzoato (0.5 and 0.75 g/100 L) and methoxyfenozide (14.4 g/100 L) were equivalent to chlorpyriphos-ethyl (75 g/100 L), reducing the damage by 85%. The insecticide spinosad (12 g/100L) and etofenproxi (10 and 15 g/100L) provided 75.6 and 45% reduction of fruit damage, respectively. The insecticides emamectin benzoato and methoxyfenozide are alternatives to chlorpyriphos-ethyl use for the control of BAL in apple orchards.

KEY WORDS
Brazilian apple leafroller; Malus sp; injuries

INTRODUÇÃO

A lagarta-enroladeira Bonagota salubricola (Lepidoptera: Tortricidae), anteriormente conhecida como Bonagota cranaodes (Brown; Razowski, 2003BROWN, J.W.; RAZOWSKI, J. Description of Ptychocroca, a new genus from Chile and Argentina, with comments on the Bonagota Razowski group of genera (Lepidoptera: Tortricidae: Euliini). Zootaxa, v.303, p.131, 2003.), é uma das mais recentes pragas da macieira no Brasil (Kovaleski et al., 1998KOVALESKI, A.; BOTTON, M.; EIRAS, A.E.; VILELA, E. Lagarta-enroladeira da macieira: bioecologia e controle. Bento Gonçalves: Embrapa-Uva e Vinho, 1998. 22p. (Circular Técnica, 24).). As primeiras infestações foram relatadas na década de 80 (Lorenzato, 1984LORENZATO, D. Ensaio laboratorial de controle da “traça-da-maçã” Phtheochroa cranaodes Meyrick, 1937 com Bacillus thuringiensis Berliner e inseticidas químicos. Agronomia Sul-Rio-Grandense, v.20, p.157-163, 1984.), sendo que, na safra de 1984, verificou-se o primeiro grande ataque, principalmente sobre a cultivar Fuji, cuja produção é mais tardia (Kovaleski, 1994KOVALESKI, A. Eficiência de inseticidas no controle da lagarta-enroladeira (Phtheocroa cranaodes) em condições de laboratório. Horti Sul, v.3, p.30-32, 1994.).

A espécie é considerada polífaga, atacando um grande número de plantas cultivadas e silvestres. Além da macieira, o inseto foi observado alimentando-se de álamo, ameixeira, hortênsia, nabo, pereira, roseira, serralha e trevo (Kovaleski et al., 1998KOVALESKI, A.; BOTTON, M.; EIRAS, A.E.; VILELA, E. Lagarta-enroladeira da macieira: bioecologia e controle. Bento Gonçalves: Embrapa-Uva e Vinho, 1998. 22p. (Circular Técnica, 24).). Os adultos são de coloração cinza-claro, medindo cerca de 15 mm de envergadura e de 7 a 10 mm de comprimento. As fêmeas colocam seus ovos na superfície adaxial da folha de macieira e de outras espécies hospedeiras. eles são depositados em grupos contendo em média 40 ovos, num total de 200 por fêmea, sendo que a duração do período de ovo a adulto é, em média, 42 dias a 25º C (Kovaleski et al., 2003KOVALESKI, A.; RIBEIRO, L.G. Manejo de pragas na produção integrada de maçã. In: PROTAS, J.F. da S.; SANHUEZA, R.M.V. (Org.). Produção integrada de frutas: o caso da maçã no Brasil. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2003. 192p.).

O ataque do inseto pode ser visualizado nas folhas e frutos, sendo que nas folhas não há perdas econômicas (Kovaleski et al., 1998KOVALESKI, A.; BOTTON, M.; EIRAS, A.E.; VILELA, E. Lagarta-enroladeira da macieira: bioecologia e controle. Bento Gonçalves: Embrapa-Uva e Vinho, 1998. 22p. (Circular Técnica, 24).). Os principais prejuízos ocorrem quando as lagartas raspam a casca dos frutos, depreciando-os comercialmente. Devido ao seu ataque, pode haver perdas de até 9,6% na produção (Kovaleski I, 1994KOVALESKI, A. Eficiência de inseticidas no controle da lagarta-enroladeira (Phtheocroa cranaodes) em condições de laboratório. Horti Sul, v.3, p.30-32, 1994.). Nos últimos anos, com a utilização de feromônios sexuais sintéticos para o monitoramento da praga nos pomares e a aplicação de inseticidas fosforados para o controle do inseto, as perdas estão entre 3 a 5%, podendo ser reduzidas a 1%, principalmente, na região de Vacaria, maior pólo produtor de maçãs do Estado do Rio Grande do Sul (Kovaleski; Ribeiro, 2003KOVALESKI, A.; RIBEIRO, L.G. Manejo de pragas na produção integrada de maçã. In: PROTAS, J.F. da S.; SANHUEZA, R.M.V. (Org.). Produção integrada de frutas: o caso da maçã no Brasil. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2003. 192p.).

Embora técnicas como a confusão sexual estejam sendo avaliadas visando o controle do inseto nos pomares comerciais (Pastori, 2007PASTORI, P.L. Bioecologia de Trichogramma pretiosum (Riley, 1879) (Hymenoptera: Trichogrammatidae) e Controle Integrado de Bonagota salubricola (Meyrick, 1937) e Grapholita molesta (Busck, 1916) (Lepidoptera: Tortricidae) com feromônios sexuais na cultura da macieira. 2007. 151f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas-Entomologia) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.), os produtores têm empregado basicamente o controle químico, sendo o inseticida clorpirifós-etil o composto mais eficiente (Botton et al., 2000BOTTON, M.; NAKANO, O.; KOVALESKI, A. Controle químico da lagarta-enroladeira (Bonagota cranaodes, Meyrick) na cultura da macieira. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v.35, p.139-2144, 2000.; Kovaleski; Ribeiro, 2003KOVALESKI, A.; RIBEIRO, L.G. Manejo de pragas na produção integrada de maçã. In: PROTAS, J.F. da S.; SANHUEZA, R.M.V. (Org.). Produção integrada de frutas: o caso da maçã no Brasil. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2003. 192p.). Entretanto, existe uma preocupação crescente entre técnicos e produtores para racionalizar e/ ou substituir o emprego de inseticidas fosforados, especialmente nos agroecossistemas frutícolas conduzidos sob sistemas de produção integrada (Titi et al., 1995TITI, A.E.; BOLLER, E.F.; GENDRIER, J.P. Producciónintegrada: principios y directrices técnicas. [S.1.]: IOBC/ WPRS, 1995. 22p.). Entre os motivos que exigem a necessidade urgente de substituir este grupo químico na fruticultura, destacam-se os efeitos secundários sobre a entomofauna benéfica, riscos de intoxicação dos aplicadores e contaminação ambiental. Além disso, são cada vez maiores as restrições quanto ao uso de inseticidas fosforados devido à carência elevada, principalmente quando empregados no período de pré-colheita.

Tendo em vista a baixa disponibilidade de grupos químicos para uso no manejo de pragas na cultura da macieira, torna-se necessário avaliar novos inseticidas mais eficientes para o controle da lagarta-enroladeira, bem como definir estratégias para o seu emprego em pomares comerciais. Dentre as novas alternativas para o controle químico do inseto, surgem os lagarticidas específicos, como o metoxifenozide e o benzoato de emamectina (Jansson et al., 1997JANSSON, R.K.; PETERSON, R.F.; MOOKERJEE, P.K.; HALLIDAY, W.R.; ARGENTINE, J.A.; DYBAS, R.A. Efficacy of solid formulation of emamectin benzoate controlling lepidopterous pest. Florida Entomologist, v.79, p. 434-449, 1997.; Sun et al., 2000SUN, X.; BARRETT, B.A.; BIDDINGER, D.J. Fecundidad and fertility changes in adult leafrollers exposed to surfaces treated with ecdysteroid agonists tebufenozide and methoxyfenozide. Entomologia Experimentalis et Applicata, v.94, p.75-83, 2000.). Como vantagens destes produtos, citam-se a dosagem reduzida, baixa toxicidade e carência, além da especificidade sobre lagartas, evitando efeitos tóxicos sobre organismos não-alvo (Morando et al., 1990MORANDO, A.; BEVIONE, D.; MORINO, G. Prove di controlle delle tignole della vite côn prodotti tradizionali e regolatori di crescita. L’Informatore Agrario, v.16, p.141-145, 1990.; Leibee et al., 1995LEIBEE, G.L.; JANSSON, R.K.; NUESSLY, G.; TAYLOR, J.L. Efficacy of emamectin benzoate and Bacillus thuringiensis at controlling diamondback moth (Lepidoptera: Plutellidae) populations on cabbage in Florida. Florida Entomologist, v.78, p.82-96, 1995.; Carlson et al., 2001CARLSON, G.R.; HADIALLA, T.S.; HUNTER, R.; JANSSON, R.K.; JANY, C.S.; LIBERT, Z.; SLAWECKI, R.A. The chemical and biological properties of methoxyfenozide, a new insecticidal ecdysteroid agonist. Pest Management Science, v.57, p.115-119, 2001.). Além dos inseticidas específicos para o controle de lepidópteros, é fundamental que sejam avaliadas alternativas para substituir o carbaril e o dimetoato, produtos amplamente empregados no período de pré-colheita das maçãs, quando ocorre ataque conjunto da mosca-das-frutas Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae). Na linha dos novos inseticidas substitutos dos fosforados que possuem potencial para serem empregados nessa fase, destacam-se o spinosad, produto derivado da fermentação do actinomiceto Sacharopolyspora spinosa (Sparks et al., 1998SPARKS, T.C.; THOMPSON, G.D.; KIRST, H.A.; HERTLEIN, M.B.; LARSON, L.L.; WORDEN, T.V.; THIBAULT, S.T. Biological activity of the spinosys, new fermentation derived insect control agents, on tobacco budworm (Lepidoptera: Noctuidae) larvae. Journal Economic of Entomology, v.91, p.1277-1283, 1998.; Thompson; Hutchins, 1999THOMPSON, G.; HUTCHINS, S. Spinosad. Pesticide Outlook, v.10, p.78-81, 1999.) e o etofenproxi, composto à base de carbono, oxigênio e hidrogênio (Yoshimoto et al., 1989YOSHIMOTO, T.; OGAWA, S.; UDAGAWA, T.; NUMATA, S. Development of new inseticide, Etofenprox. Journal of Pesticide Science, v.14, p.259-268, 1989.).

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliarem-se novos inseticidas que possam ser utilizados como substitutos dos fosforados no controle da lagarta-enroladeira B. salubricola na cultura da macieira.

MATERIAL E MÉTODOS

A avaliação de inseticidas para o controle de B. salubricola foi conduzida no Laboratório de Entomologia da Embrapa Uva e Vinho, localizado em Bento Gonçalves, RS (latitude 29°09’44" Sul, longitude 51°31’50" Oeste), e em pomar comercial de macieira da cv. Fuji, localizado no Município de Vacaria, RS (latitude 28°30’ Sul, longitude 50°54’ Oeste), no perío-do de janeiro a abril de 2003, quando as plantas estavam em período de produção.

Os seguintes tratamentos foram avaliados tanto no laboratório como no pomar comercial: etofenproxi (Trebon 100 SC, 100 e 150 mL/100 L), benzoato de emamectina (Proclaim 5 SG, 10 e 15 g/100 L) associado a espalhante adesivo (AgBen, 250 mL/100 L), clorpirifós-etil (Lorsban 480 CE, 150 mL/100 L), metoxifenozide (Intrepid 240 SC, 40 e 60 mL/100L) e spinosad (Tracer 480 SC, 20 e 25 mL/100 L). O tratamento testemunha foi constituído somente por água.

Experimento de laboratório. O experimento de laboratório foi conduzido na temperatura de 25 ± 3º C, U.R. de 80 ± 10%, utilizando-se insetos criados em dieta artificial seguindo a metodologia descrita por Parra et al. (1995)PARRA, J.R.P.; EIRAS, A.E.; HADDAD, M.L.; VILELA, E.F.; KOVALESKI, A. Técnica de criação de Phtheocroa cranaodes Meyrick (Lepidoptera: Tortricidae) em dieta artificial. Revista Brasileira de Biologia, v.55, n.4, p.537-543, 1995.. O efeito dos produtos sobre ovos foi verificado utilizando-se posturas com até 48 horas de idade, as quais foram mergulhadas nas respectivas caldas inseticidas. Cada tratamento constou de dez repetições (uma postura por repetição), tendo sido os ovos contados antes do tratamento. A avaliação da eclosão das lagartas foi realizada 12 dias após o tratamento.

O efeito sobre lagarticida foi realizado utilizando-se lagartas (≥ 1,5 cm) de B. salubricola, sendo que cada parcela experimental foi composta por um pote de plástico transparente com tampa (5,0 x 10,0 cm de altura e diâmetro, respectivamente), estabelecendo-se cinco repetições no delineamento experimental inteiramente casualizado. Discos de folhas de macieira (3,5 cm de diâmetro) da cv. Fuji foram obtidos com o auxílio de um vazador e, em seguida, pulverizados na face abaxial e adaxial em torre de pulverização (Burkard Scientific Uxbridge UK). A pressão de trabalho foi de 10 lb/pol2, utilizando-se 1 mL de calda por pulverização, obtendo-se uma deposição média de resíduo úmido de 1,8 mg/cm2. Após o tratamento, os discos foram deixados por duas horas, à sombra, para secagem da calda. Em cada pote de plástico (repetição) foram colocados quatro discos e quatro lagartas. Os discos foram sobrepostos para reduzir a perda de umidade e proporcionar abrigo para as lagartas. A mortalidade foi avaliada 24, 48, 72 e 96 horas após a infestação.

Experimento em pomar comercial. O experimento para avaliar o efeito de inseticidas foi conduzido em Vacaria, RS, em pomar comercial de macieiras da cv. Fuji, com oito anos de idade, enxertadas sobre M-9 e plantadas no espaçamento de 3,5 x 1,5 m e com altura aproximada de 2,5 a 3,0 m. A adubação, controle de doenças e manejo de plantas invasoras foram realizados conforme as recomendações contidas nas normas para a produção integrada para a cultura da macieira (Protas; Sanhueza, 2000PROTAS, J. F. S.; SANHUEZA, R.M.V. Normas técnicas e documentos de acompanhamento da produção integrada de maçã. Bento Gonçalves, Embrapa Uva e Vinho, 2000. 64p.). Os inseticidas foram aplicados com o auxílio de um turbo atomizador, utilizando um volume de 900 L de calda por hectare, sendo que cada tratamento foi aplicado numa área aproximada de 0,3 ha. As aplicações foram realizadas no período de maturação dos frutos, nos dias 14 e 26/2, 13/3 e 25/3 e 8/4/2003, estabelecendo-se um intervalo entre os tratamentos de, aproximadamente, 12 dias. A avaliação do dano causado pela lagarta-enroladeira nos frutos foi realizada em 17/4/2003, colhendo-se 500 frutos em cinco pontos de amostragem (repetições) de 100 frutos cada no interior da área tratada.

Para a análise estatística, o número de lagartas vivas foi transformado em (X + 0,5)½ e a porcentagem de frutos danificados em arc seno (%/100)½, objetivando normalizar a variância. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05) utilizando o programa Genes (Cruz, 2001CRUZ, C.D. Programa Genes: Aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: Editora UFV, 2001. 648p.), sendo a porcentagem de mortalidade ou a redução de danos nos frutos calculada através da fórmula de Abbott (1925)ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomologic, v.18, p.265-267, 1925..

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não foi constatado efeito ovicida quando os inseticidas foram aplicados sobre posturas de até 48 horas, sendo que a eclosão de lagartas nos tratamentos foi equivalente à testemunha (Tabela 1). Na avaliação realizada 24 horas após o tratamento, verificou-se que somente o clorpirifós-etil (72 g/100L) provocou 100% de mortalidade das lagartas de B. salubricola (Tabela 2). Os inseticidas benzoato de emamectina (0,5 e 0,75 g/100 L) e spinosad (9,6 e 12 g/100 L) provocaram mortalidade intermediária (45 a 65%), enquanto que o uso do etofenproxi (10 e 15 g/100 L) e do metoxifenozide (9,6 e 14,4 g/100L) não resultou em diferenças significativas em relação ao tratamento testemunha (Tabela 2). Na segunda avaliação, realizada 48 HAT, constatou-se que os inseticidas benzoato de emamectina (0,5 e 0,75 g/100 L) e spinosad (12 g/100 L) causaram mortalidade equivalente ao clorpirifós-etil (72 mL/100 L), mantendo o mesmo comportamento na avaliação realizada 72 e 96 HAT (Tabela 2). O metoxifenozide (14,4 g/100 L) somente foi equivalente ao inseticida clorpirifós-etil (75 g/100 L) na avaliação final, realizada 96 HAT, enquanto que a menor dosagem do spinosad (9,6 g/100 L) e do metoxifenozide (9,6 g/100 L) possibilitaram controle próximo a 70% (Tabela 2). O inseticida etofenproxi (10 e 15 g/100 L), em todas as avaliações, não provocou mortalidade significativa de lagartas grandes de B. salubricola em laboratório (Tabela 2).

Tabela 1
Viabilidade de ovos de B. salubricola após a aplicaçao de inseticidas em posturas com até 48 horas de idade. Bento Gonçalves, RS, 2003.
Tabela 2
Efeito de inseticidas sobre lagartas (≥ 1,5 cm) de Bonagota salubricola e porcentagem de controle (%C) após a pulverização sobre folhas de macieira da cultivar Fuji, em laboratório. Bento Gonçalves, RS, 2003.

A diferença marcante na mortalidade das lagartas tratadas com metoxifenozide observada entre 24 e 96 HAT deve-se ao modo de ação do inseticida, que é mais lento que os produtos neurotóxicos (Hadialla et al., 1998HADIALLA, T.S.; CARLSON, G.R.; LE, D. New insecticides with ecdysteroidal and juvenile hormone activity. Annual Review of Entomology, v.43, p.545-569, 1998.). Os resultados obtidos com o clorpirifós-etil foram similares aos observados por Botton et al. (2000)BOTTON, M.; NAKANO, O.; KOVALESKI, A. Controle químico da lagarta-enroladeira (Bonagota cranaodes, Meyrick) na cultura da macieira. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v.35, p.139-2144, 2000., assim como o efeito do metoxifenozide apresentou resultado similar ao tebufenozide, produto atualmente empregado no controle de lagartas na cultura da macieira (Kovaleski; Ribeiro, 2002KOVALESKI, A.; RIBEIRO, L.G. Manejo de pragas na produção integrada de maçã. Bento Gonçalves: EMBRAPA-CNPUV, 2002. 8p.).

Com base nestes resultados, verifica-se que os inseticidas spinosad (Tracer 480 SC, 25 mL /100 L), metoxifenozide (Intrepid 240 SC, 60 mL /100 L), benzoato de emamectina (Proclaim 5 SG, 10 e 15 g/100 L) associado ao espalhante adesivo AgBem 250 mL/100 L e clorpirifós-etil (Lorsban 480 CE, 150 mL/100 L) apresentam atividade biológica sobre lagartas grandes de B. salubricola em laboratório.

Quando estes inseticidas foram empregados em pomar comercial, o dano provocado pela lagarta-enroladeira nas plantas testemunhas foi superior ao das protegidas pelos inseticidas, observando-se diferença significativa entre os produtos aplicados (Tabela 3). O menor dano foi constatado nos tratamentos com benzoato de emamectina (0,5 e 0,75 g/100 L), clorpirifós-etil (72 mL/100 L) e metoxifenozide (9,6 e 14,4 mL/100 L), os quais reduziram a porcentagem de frutos danificados em relação à testemunha, entre 85,4% e 97,6% conforme o produto e dose utilizada (Tabela 2). O spinosad (12 mL/100L) reduziu o dano nos frutos em 75,6%, enquanto que o etofemproxi (10 e 15 g/100 L) e o spinosad (9,6 g/100 L) proporcionaram uma redução próxima a 50% (Tabela 3).

Tabela 3
Porcentagem de frutos danificados (%FD) por lagartas de Bonagota salubricola e redução do dano em relação à testemunha (%RFD) após cinco aplicações de inseticidas (14 e 26/2, 13 e 25/3 e 8/4/2003), em pomar comercial de macieiras da cultivar Fuji. Vacaria, RS, 2003.

Os resultados obtidos com o metoxifenozide e o benzoato de emamectina neste trabalho assemelham-se aos obtidos por Arioli et al. (2004)ARIOLI, C.J.; BOTTON, M.; CARVALHO, A.C. Controle químico da Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) na cultura do pessegueiro. Ciência Rural, v.34, p.1695-1700, 2004. no controle de Grapholita molesta (Busck) na cultura do pessegueiro, em cujo experimento foram observadas porcentagens de controle em torno de 90% para ambos os inseticidas. Estes resultados são bastante interessantes dentro de um programa de manejo integrado de pragas, pois, na cultura da macieira, B. salubricola ocorre conjuntamente com G. molesta, sendo que ambas as espécies podem ser controladas com a utilização do metoxifenozide e o benzoato de emamectina, diminuindo, assim, o número de aplicações e a quantidade de ingrediente ativo utilizado por hectare.

Com relação aos inseticidas spinosad e etofenproxi, apesar de possuírem uma eficiência intermediária no controle de B. salubricola, contemplam um maior espectro de ação e poderiam ser direcionados para a fase de pré-colheita, controlando G. molesta e adultos de mosca-das-frutas sul-americana A. fraterculus (Wiedemann), que também ocorrem nesta fase (Scoz et al., 2004SCOZ, P.L.; BOTTON, M.; GARCIA, M.S. Controle químico de Anastrepha fraterculus (Wied.) (Diptera: Tephritidae) em laboratório. Ciência Rural, v.34, p.1689-1694, 2004.; Arioli et al., 2004ARIOLI, C.J.; BOTTON, M.; CARVALHO, A.C. Controle químico da Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) na cultura do pessegueiro. Ciência Rural, v.34, p.1695-1700, 2004.).

Com base nos resultados de laboratório e de pomar comercial, verificou-se que os inseticidas metoxifenozide (Intrepid 240 SC, 40 e 60 mL /100 L), benzoato de emamectina (Proclaim 5 SG, 10 e 15 g/100 L) associado ao espalhante adesivo AgBem 250 mL/100 L e clorpirifós-etil (Lorsban 480 CE, 150 mL/100 L) reduzem com eficiência o dano da lagarta-enroladeira em pomares de macieira. Os inseticidas metoxifenozide e o benzoato de emamectina apresentam-se como novas alternativas para o controle da lagarta-enroladeira na cultura da macieira, apresentando menor toxicidade e reduzida dose de aplicação, quando comparados com os fosforados.

REFERÊNCIAS

  • ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomologic, v.18, p.265-267, 1925.
  • ARIOLI, C.J.; BOTTON, M.; CARVALHO, A.C. Controle químico da Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) na cultura do pessegueiro. Ciência Rural, v.34, p.1695-1700, 2004.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2009

Histórico

  • Recebido
    03 Ago 2007
  • Aceito
    09 Fev 2009
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