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CARACTERIZAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA DOENÇA DE NEWCASTLE EM FRANGOS DE CORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS NO PERÍODO DE 1988 A 1998

EPIDEMIOLOGY CARACTERIZATION OF THE NEWCASTLE DISEASE IN BROILERS OF MINAS GERAIS STATE, BRAZIL, 1988–1998

RESUMO

No presente estudo foram analisados 791 exames laboratoriais para frangos de corte do Estado de Minas Gerais, no período de 1988 a 1998. Foram descritas as formas de ocorrência da doença de Newcastle (DNC) no estado, investigando a sua relação com o sistema de produção e com os mecanismos de prevenção sanitária a estes associados. O pequeno número de isolamento viral encontrado possibilita formular a hipótese de que a incidência da DNC foi muito baixa, durante os 11 anos estudado, embora focos esporádicos da doença tenham sido detectados. Observaramse diferenças significativas entre as mesorregiões mineiras, quando comparados os títulos de anticorpos antivírus da DNC considerados negativos para a presença do vírus, positivos vacinais ou positivos com títulos de IH para o vírus da DNC de desafio. No Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, os títulos de IH negativos confirmaram que a vacinação não é praticada pela maioria das granjas e o contato com vírus de campo foi mínimo, indicando que as condições sanitárias e de biosseguridade permitem a não utilização de vacinas contra a DNC. Já nas outras mesorregiões estudadas, a vacinação é realizada como rotina, apresentando bom índice de proteção vacinal (56%). O contato com o vírus de campo foi maior, justificando o uso de vacinação como forma de garantir aves livres da DNC.

PALAVRAS-CHAVE
Doença de Newcastle; proteção vacinal; inibição da hemaglutinação; frango de corte

ABSTRACT

The present study analyzed the occurrence of Newcastle disease in the commercial poultry population in all major regions of Minas Gerais, Brazil. The main objective was to investigate the impact of regional patterns of production on the epidemiology of the disease. The study was based on data collected from 797 diagnosis files of laboratory results of samples processed from 1988 up to 1998. The small number of cases of virus isolation encountered suggest that the incidence of Newcastle disease in Minas Gerais was very low over the period, although sporadic foci have occurred. The vaccination antibody titer responses were adequate and within the recommended standards. Some marked regional differences were found. In the region Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Brazil, the incidence of HI titers indicative of contact with the virus was very low, confirming that vaccination is not carried out and natural challenge rarely occurs. Conversely, vaccination is a common practice in the other regions studied, but the incidence of contact with wild virus was significantly (p > 0.05) higher than in the former region. Vaccinated broilers HI antibody titers indicative of protection were found in adequate proportions

KEY WORDS
Newcastle disease; vaccinal proteccion; hemagglutination inhibition; broiler

O Estado de Minas Gerais é um importante centro avícola, com potencial exportador de sua produção (BRASIL, 1997BRASIL Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Boletim de notificações de doenças. Brasília: Ministério da Agricultura, 1997. 2p.). A distribuição da produção de frango de corte no estado é heterogênea, com forte predominância das regiões Central (participação de 25,05% no total do rebanho estadual), Sul de Minas (19,58%), Zona da Mata (13,92%) e Triângulo Mineiro (11,08%). Esta atividade envolve baixo número de avicultores (cerca de mil) que dispõem de grandes alojamentos em suas granjas. As regiões Centro, Triângulo, Zona da Mata e Sul respondem por 95% da capacidade de produção estadual, que, em 2006, foi de 67.356.503 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões, mesorregiões geográficas do Brasil. Brasília: IBGE, 2006. v.34, 62p.).

O Programa Nacional de Sanidade Avícola foi criado em 1994, tendo como uns dos seus objetivos o controle e a erradicação da Doença de Newcastle (BRASIL, 1997BRASIL Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Boletim de notificações de doenças. Brasília: Ministério da Agricultura, 1997. 2p.). O Estado de Minas Gerais, seguindo as diretrizes do Programa Nacional, implantou em 1995 o Programa Estadual de Sanidade Avícola, com os mesmos objetivos (INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA, 1995INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUARIA. Programa estadual de sanidade avícola. Belo Horizonte: IMA, 1995. 30 p.). Por meio desses programas, o setor avícola tem a certificação oficial das condições sanitárias dos seus plantéis, atendendo às exigências do mercado internacional.

A Doença de Newcastle (DNC) tem sido um dos grandes desafios da avicultura nacional. O Brasil ocupa atualmente o terceiro lugar na produção mundial de carnes de frango, sendo o maior exportador mundial de carne de frango e, para poder comercializar seus produtos, tem de atender às exigências do mercado externo. As barreiras sanitárias são o controlador e o fator limitante para esse comércio. O controle e a erradicação das formas velogênicas da doença são as principais exigências do mercado internacional.

Assim, a legislação sanitária vigente no País, através do Programa Nacional de Sanidade Avícola, visa criar mecanismos que favoreçam os produtos brasileiros no comércio internacional, bem como manter o estado sanitário e desenvolvimento tecnológico da avicultura brasileira, que é uma das mais desenvolvidas do mundo, atingindo padrão de qualidade reconhecido internacionalmente (BRASIL, 1997BRASIL Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Boletim de notificações de doenças. Brasília: Ministério da Agricultura, 1997. 2p.).

Este estudo objetivou descrever as formas de ocorrência da DNC em frangos de corte do Estado de Minas Gerais, entre 1988 e 1998, e investigar a sua relação com o sistema de produção e com os mecanismos de prevenção sanitária a estes associados.

A área estudada foi o Estado de Minas Gerais, com extensão de 582.586 km2, sendo formado por 852 municípios, distribuídos em 12 mesorregiões (IBGE, 2006INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões, mesorregiões geográficas do Brasil. Brasília: IBGE, 2006. v.34, 62p.): Noroeste de Minas, Norte de Minas, Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Central Mineira, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce, Oeste de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Campos das Vertentes e Zona da Mata.

Primeiramente, relacionaram-se os exames sorológicos, pelo teste de inibição da hemaglutinação, e virológicos, pelo isolamento e identificação do agente viral com a distribuição anual e mensal dos exames, a faixa etária e a localização das granjas, conforme a mesorregião de origem dos exames.

Em seguida, foram avaliados o nível de proteção vacinal e a presença de vírus de campo, relacionandoos com as diferentes mesorregiões.

Os dados foram obtidos de fichas arquivadas no sistemas de informações no Instituto Mineiro de Agropecuária - IMA e nos laboratórios de diagnósticos de doenças de aves existentes em Minas Gerais.

Os exames sorológicos e virológicos dos materiais (aves, soros e órgãos), procedentes de oito mesorregiões geográficas do Estado de Minas Gerais e enviados aos laboratórios, foram realizados durante os 12 meses do ano, no período de janeiro de 1988 a dezembro de 1998. Em todos os laboratórios, a técnica sorológica utilizada foi a Inibição da Hemaglutinação (IH), e o isolamento viral foi efetuado inoculando-se o material suspeito em ovos embrionados de galinha livres de patógenos específicos, com 9 a 12 dias de incubação.

Os testes sorológicos, em IH foram fornecidos na forma de média geométrica de títulos (MGT) e os isolamentos do vírus classificados como positivo ou negativo, não havendo tipificação do vírus.

Foram analisados 18 lotes de aves para o isolamento viral e 6.533 soros pelo teste de IH. O diagnóstico dividiu-se em somente sorológico (6.263), sorológico (270) e isolamento viral (18).

Os dados foram armazenados em banco de dados elaborado com o software Epinfo e Excel. Para confecção dos mapas, utilizou-se o software Mapinfo; na análise epidemiológica foram empregados os softwares Epinfo e Win Episcope versão 2.0.

As variáveis estudadas foram as seguintes: ano do exame - foram trabalhadas as fichas de janeiro de 1988 a dezembro de 1998; mês do exame - foram considerados os meses de janeiro a dezembro; idade - a idade das aves foi analisada em dias e dividida em faixas etárias; mesorregiões - o estudo abrangeu oito mesorregiões mineiras onde a avicultura industrial está presente de forma significativa; tipo de exame realizado - os exames foram divididos em virológicos e sorológicos; exames virológicos – foram divididos em positivos e negativos, conforme o isolamento ou não do vírus; exames sorológicos - os exames sorológicos efetuados pelo teste de inibição da hemaglutinação (IH) foram tabulados em média geométrica de títulos (MGT), dividindo-se em positivos vacinal, desafio de campo e negativos, conforme os níveis de anticorpos encontrados.

Na análise dos dados sorológicos, baseando-se na MGT, estabeleceram-se os seguintes parâmetros, em conformidade com ALLAN et al. (1980)ALLAN, W.H.; LANCASTER, J.E.; TOTH, B. Newcastle disease vacines their production and use. Roma: FAO, 1980. 163p.: para MGT abaixo de 2, foram considerados negativos, ou seja, com ausência de anticorpos específicos para o vírus da DNC; para MGT maior ou igual a 2, foram considerados positivos, ou seja, com presença de anticorpos específicos para o vírus da DNC; para MGT entre 2 e 128, foram considerados anticorpos da DNC de origem vacinal; e para MGT maior que 128, foram considerados anticorpos da DNC originados de desafio de campo.

Para avaliar a significância das diferenças regionais quanto ao nível de proteção vacinal e aos títulos de anticorpos específicos contra o vírus da DNC, foi utilizado o método c2 (SNEDECOR; COCHRAM, 1989SNEDECOR, G.M.; COCHRAN, W.G. Statistical methods. Ames: Iowa State University Press, 1989. 593p.). A magnitude do efeito das mesorregiões, no valor dos mesmos indicadores, foi avaliada calculando-se o risco relativo (NOORDHUIZEN et al., 1997NOORDHUIZEN, J.P.T.M.; FRANKENA, K.; VAN DER HOOFD, C.M.; GRAAT, E.A.M. Application of quantitive methods in veterinary epidemiology. Waningen, The Netherlands: Waningen Pers, 1997. 445p.). Os intervalos de confiança do risco relativo foram calculados usando-se a aproximação logarítmica (NOORDHUIZEN et al., 1997NOORDHUIZEN, J.P.T.M.; FRANKENA, K.; VAN DER HOOFD, C.M.; GRAAT, E.A.M. Application of quantitive methods in veterinary epidemiology. Waningen, The Netherlands: Waningen Pers, 1997. 445p.).

Em seguida, foram avaliados o nível de proteção vacinal e a presença de vírus de campo, relacionandoos com as diferentes mesorregiões.

MANCHANG et al. (2004)MANCHANG, T.K.; ABDU, P.A.; SAIDU, L. Epidemiology and clinicopathologic manisfestations of Newcastle disease in Nigerian local chickens. Revue d’Elevage et de Medicine Veterinaire des Pays Tropicaux, v.57, n.1-2, 2004., fazendo um estudo retrospectivo sobre a DNC em frangos de corte entre janeiro de 1978 a dezembro de 1997, encontraram freqüência mais elevada nas aves de menos idade (20,7%) que nas de mais idade (12,1%), contrariando os achados deste estudo onde a faixa etária de maior concentração dos 791 exames laboratoriais ficou entre 37 e 47 dias (Tabela 1). Os autores relacionaram a maior freqüência da doença nas aves mais jovens com a maior susceptibilidade, devido a desuniformidade dos níveis de anticorpos contra o VDNC, até aos 35 dias de idade.

Tabela 1
Distribuição dos exames sorológicos e virológicos da doença de Newcastle em frangos de corte do Estado de Minas Gerais, conforme a faixa etária (em dias) entre 1988 a 1998.

A Tabela 2 mostra que as mesorregiões com maiores números de exames foram Metropolitana de Belo Horizonte, com 375 (47,4%) e o Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba, com 183 (23,1%). Na Tabela 3 verificase que, dos 791 exames, 773 (97,7%) foram somente sorológicos, 5 (0,7%) foram somente virológico e 13 (1,6%) foram sorológico e virológico. O exame sorológico é utilizado normalmente como monitoria, para avaliação do estado imunitário das aves (SAIF et al., 2003SAIF, Y.M.; BARNES, H.J.; GLISSON, J.R.; FADLY, A.M.; MCDOUGALD, L.R. Diseases of poultry. 11.ed. Iowa: Blackwell Publishing, 2003. 1248p.). Para isto são coletados sangue de aves em fase final do ciclo de produção, para a obtenção de soro. Quando se suspeita da doença, coleta-se órgãos e procede-se ao isolamento do vírus (VILLEGAS, 2007VILLEGAS, P. Epidemiologia del Newcastle y estrategias para su controle. In: CONGRESO LATINOAMERI-CANO DE AVICULTURA, 20., Porto Alegre, 2007. Anais, Porto Alegre, 2007. p.73-81. 10), único método de confirmação da doença. Assim, estes resultados referem-se principalmente à monitoria sorológica dos plantéis.

Tabela 2
Distribuição dos exames sorológicos e virológicos da doença de Newcastle em frangos de corte do Estado de Minas Gerais, de acordo com a mesorregião, entre 1988 a 1998.
Tabela 3
Distribuição dos resultados laboratoriais da doença de Newcastle em frangos de corte do Estado de Minas Gerais, segundo o tipo de exame, entre 1988 a 1998.

A Tabela 4 apresenta a freqüência de títulos de anticorpos específicos ao VDNC. A avaliação da proteção, de acordo com os critérios estabelecidos por ALLAN et al. (1980)ALLAN, W.H.; LANCASTER, J.E.; TOTH, B. Newcastle disease vacines their production and use. Roma: FAO, 1980. 163p., permite caracterizar os títulos abaixo de 2 como negativos, aqueles entre 2 e 128 como vacinais e os acima de 128 como desafio. Foram considerados negativos para a presença de vírus: 29,5%; positivos vacinais: 63,6%; e positivos com títulos de IH para o VDNC de desafio 6,9%. Os títulos encontrados indicam que neste tipo de criação o nível de proteção vacinal atinge 56%, não havendo diferença significativa entre as mesorregiões. O Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba foi a mesorregião que registrou o maior número de exames com títulos IH negativos (90,7%), e a Metropolitana de Belo Horizonte, a de maior número de títulos IH positivos de origem vacinal (84,4%). Estes resultados são coerentes com a não-vacinação no Triângulo Mineiro e a vacinação na Metropolitana de Belo Horizonte. A percentagem de anticorpos de desafio foi baixa (1,1%) no Triângulo Mineiro, sendo mais alta na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte (6,6%) e em outras mesorregiões (12,0%). Os intervalos de confiança do risco relativo dessas mesorregiões, por comparação com o Triângulo Mineiro, revelam fraca precisão desta estimativa, mas, ainda assim, permitem confirmar a significância do valor encontrado para a mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte (5,97) e para o conjunto de outras mesorregiões (10,92). No entanto, o risco na Metropolitana de Belo Horizonte pode não ser totalmente um reflexo dos títulos, pois revacinações podem causar respostas anamnésticas (SANTOS et al., 1996SANTOS, B.M.; MARTINS, N.R.S.; RESENDE, M.; GOUVEIA, A.M.G. Resposta imune conferida pelas amostras La Sota e VG/GA do vírus da doença de Newcastle. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.48, n.6, p.645-656, 1996.). Os dados dos laboratórios não informavam sobre o programa de vacinação utilizado nas granjas.

Tabela 4
Distribuição dos resultados sorológicos analisados para a doença de Newcastle em frangos de corte do Estado de Minas Gerais, de acordo com a mesorregião, condição sorológica (em MGT) e nível de proteção vacinal, entre 1988 a 1998.

Exames sorológicos com títulos negativos e positivos vacinal foram registrados por SALES et al. (2007)SALES, T.S.; HERVAL, E.F.G.; CÉSAR, A.E.R.; RAMOS, I.; BATINGA, T.B.; SILVA, P.S.; MAIA, P.C.C.; FERNADES, L. Títulos de anticorpos contra o vírus da doença de Newcastle em três diferentes sistemas de criação avícola na região de Feira de Santana – Bahia. Revista Brasileira de Saúde Pública Animal, v.8, n.4, p.386-393, 2007. em um estudo semelhante em soros de frangos vacinados contra a DNC. Os autores concluíram que os resultados obtidos indicavam a falta de uma boa cobertura vacinal.

O controle da DNC se realiza basicamente mediante a eliminação das estirpes de vírus patogênicas, eliminando as aves portadoras destes vírus, quando do aparecimento dos surtos e imunização utilizando, para isso, vacina de vírus vivo e inativado (VILLEGAS, 2007VILLEGAS, P. Epidemiologia del Newcastle y estrategias para su controle. In: CONGRESO LATINOAMERI-CANO DE AVICULTURA, 20., Porto Alegre, 2007. Anais, Porto Alegre, 2007. p.73-81. 10).

Registraram-se resultados de exames virológicos positivos nas mesorregiões Metropolitana de Belo Horizonte, Oeste de Minas, Central Mineira, Vale do Rio Doce e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (Tabela 6). Os plantéis afetados foram sacrificados, sendo aplicadas todas as medidas de controle exigidas pela legislação sanitária existente no País, de acordo com normas do programa nacional de sanidade avícola.

Tabela 5
Comparação da condição sorológica dos títulos de anticorpos negativos e positivos (desafio) da mesorregião Triângulo Mineiro com a Metropolitana de Belo Horizonte e outras mesorregiões de frangos de corte do Estado de Minas Gerais, entre 1988 a 1998.
Tabela 6
Distribuição dos resultados virológicos da doença de Newcastle em frangos de corte do Estado de Minas Gerais de acordo com o ano, mês, idade das aves (em dias ) e mesorregião.

De acordo com os resultados deste estudo, aproximadamente 30% dos exames sorológicos são originários de plantéis que não foram vacinados e não tiveram contato com o vírus de campo. COURTECUISSE et al. (1990)COURTECUISSE, C.; JAPIOT, F.; BLOCH, N.; DIALLO, I. Sorological survey of Newcastle and Gumboro disease in fowls of local breeds in Niger. Revue d’Elevage et de Medicine Veterinaire des Pays Tropicaux, v.43, p.27-29, 1990., fazendo lavantamento do comportamento da DN na Nigéria, detectaram anticorpos IH para o VDNC em 14% de aves não vacinadas de 31 granjas de frangos de corte. Também, AWAN; JAMES (1994)AWAN, M.A.; OTTE, M.J.; JAMES, A.D. The epidemiology of Newcastle disease in rural poultry: a review. Avian Pathology, v.23, n.3, p.405-423, 1994. analisaram, pelo teste de IH, 1.200 amostras de soros de frangos de corte não vacinados e no final do ciclo de produção. Eles verificaram que menos de 10% das aves mostraram anticorpos detectáveis para o VDNC, concluindo, com isso, que o vírus vacinal, utilizado em outros plantéis, se disseminou muito pouco entre as aves do plantel estudado. Neste estudo verificou-se que a proteção vacinal pode ser considerada satisfatória, levando-se em conta que as aves possuem tempo de vida curto (42 dias em média), as instalações são limpas, desinfetadas e submetidas a um vazio sanitário de 15 dias, mantendo condições inadequadas à sobrevivência e manutenção do vírus.

As mesorregiões avaliadas (Campo das Vertentes, Central Mineira, Oeste de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Vale do Rio Doce e Zona da Mata), quando avaliadas em pool e comparadas com o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, apresentaram situação de risco relativo 12 vezes maior. As condições de produção nessas mesorregiões são variáveis, possuindo alta, média ou baixa tecnologia, com poucos médicos veterinários, responsáveis técnicos, trabalhando direto na empresa e capazes de influenciarem na condição sanitária dos plantéis. Ainda assim, a DNC apresenta-se controlada por meio do uso de vacinação, que é utilizada como rotina nessas mesorregiões.

A produção de frangos de corte no Estado de Minas Gerais possui diferentes níveis tecnológicos nas diferentes mesorregiões. Essa variação é conseqüência do grau de adoção de medidas de manejo na granja, do tipo de instalações e da existência de médico veterinário responsável técnico pela granja.

A mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte pratica a vacinação contra a DNC como rotina e apresentou um risco relativo 5,97 vezes maior de ocorrência do vírus de campo que a mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Entretanto, os títulos altos que determinaram a ocorrência de vírus de campo podem ser derivados de uma alta presença do vírus circulante de origem vacinal, pois a região, em determinadas épocas, teve por princípio utilizar revacinação aos 21 dias para os frangos de corte. Portanto, é necessário um estudo para se determinar o tipo de amostra de vírus circulante na região.

A mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba é uma região onde os avicultores detêm maior nível tecnológico quanto ao manejo e às instalações. A presença do vírus de campo é mínima e os plantéis de frango de corte não são vacinados contra a DNC. Garante-se o nível de proteção apenas com a vacinação das matrizes e a passagem dos anticorpos maternos contra o vírus da DNC à progênie.

O pequeno número de isolamentos virais, durante os 11 anos estudados, possibilita formular a hipótese de que a incidência da doença seja muito baixa, com ocorrência de focos esporádicos O período de vida curto (42-47 dias) e os procedimentos de limpeza, desinfecção e vazio sanitário são responsáveis pelo sucesso do controle da DNC neste tipo de produção.

REFERÊNCIAS

  • ALLAN, W.H.; LANCASTER, J.E.; TOTH, B. Newcastle disease vacines their production and use Roma: FAO, 1980. 163p.
  • AWAN, M.A.; OTTE, M.J.; JAMES, A.D. The epidemiology of Newcastle disease in rural poultry: a review. Avian Pathology, v.23, n.3, p.405-423, 1994.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2008

Histórico

  • Recebido
    03 Jan 2007
  • Aceito
    31 Jul 2008
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