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OMORGUS (OMORGUS) SUBEROSUS (FABRICIUS) (COLEOPTERA: TROGIDAE) EM ESTERCO DE GALINHAS POEDEIRAS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA, SP, BRASIL

OMORGUS (OMORGUS) SUBEROSUS (FABRICIUS) (COLEOPTERA: TROGIDAE) IN POULTRY MANURE IN SÃO JOÃO DA BOA VISTA, SP, BRAZIL

RESUMO

A família Trogidae (Coleoptera) é cosmopolita e suas espécies têm hábitos principalmente necrófagos. Estudos com Omorgus (Omorgus) suberosus (Fabricius, 1775), em fezes de granja aviária devem ser realizados, uma vez que poucas informações sobre esta espécie, neste tipo de ambiente, estão disponíveis na literatura. Foi realizado um levantamento deste trogídeo em granja de aves poedeiras situada em São João da Boa Vista, SP, Brasil, entre janeiro de 2001 a dezembro de 2002, utilizando-se, para captura, armadilhas de solo, funil de Berlese–Tullgren e flutuação em água. Dos 2.322 espécimes de O. suberosus coletados, armadilhas de solo somaram 99,17% do total, 0,51% pelo funil de Berlese–Tullgren e apenas 0,30% (sete espécimes) foram capturados pela flutuação em água. Aumento significativo (P < 0,05) na captura de O. suberosus foi registrado no verão de 2001 / 2002, além do que a armadilha de solo mostrou ser o método mais apropriado (P < 0,05) para capturar esta espécie.

PALAVRAS-CHAVE
Granja avícola; Insecta; Omorgus suberosus ; Trogidae

ABSTRACT

The family Trogidae (Coleoptera) is cosmopolitan and its species are mainly necrophagous. Studies on Omorgus (Omorgus) suberosus (Fabricius, 1775) on excrements in poultry houses are needed due to the scarcity of published information on the species in this kind of environment. A survey for this trogid was carried out in a poultry house in São João da Boa Vista, SP, Brazil, from January 2001 to December 2002 using soil and water flotation traps and Berlese-Tullgren funnel. A total of 2,322 specimens of O. suberosus were collected, being 99.17% by soil trap, 0.51% by Berlese-Tullgren funnel and only 0.30% (7 specimens) by water flotation trap. A significant increase in the capture (P < 0.05) of O. suberosus was registered in the summer of 2001/2002, and the soil trap proved to be the most appropriate method (P < 0.05) for capture of this species.

KEY WORDS
Poultry house; Insecta; Omorgus suberosus ; Trogidae

INTRODUÇÃO

A família Trogidae (Coleoptera) é de distribuição cosmopolita sendo constituída por cerca de 300 espécies de hábito principalmente necrófago (SCHOLTZ, 1986SCHOLTZ, C.H. Phylogeny and systematics of the Trogidae (Coleoptera: Scarabaeoidea). Systematic Entomology, v.11, p.355-363, 1986.). Em sua maioria ocorrem em regiões áridas dos continentes do Hemisfério Sul. Tanto os adultos como as larvas geralmente são encontrados associados ao último estágio da decomposição de restos animais (PAYNE, 1965PAYNE, J.A. A summer carrion study of the baby pig Sus scrofta Linnaeus. Ecology, v.46, n.5, p.592-602, 1965.), alimentando-se também em guano de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em cavernas, ovos de gafanhotos (Insecta, Orthoptera), larvas de moscas (Insecta, Diptera) e ainda em itens não usuais, como carpetes velhos, chapéus–de–feltro, almofadas de pele e crina de cavalo (Equus caballus (Linnaeus, 1758) – Mammalia, Perissodactyla, Equidae) (SCHOLTZ, 1990SCHOLTZ, C.H. Revision of the Trogidae of South America. Journal of Natural History, v.24, p.1391-1456, 1990.). Os ovos dos trogídeos são colocados no solo, variando a profundidade no substrato alimentar; após a eclosão, as larvas posicionam-se verticalmente para alimentarem-se (VAURIE, 1962VAURIE, P. A revision of the genus Trox in South America (Coleoptera: Scarabaeidae). Bulletin of the American Museum of Natural History, v.124, n.4, p.101-168, 1962.). Possuem três estádios larvais, com duração total de, aproximadamente, quatro semanas. O estágio de pupa, dura aproximadamente, duas semanas. Algumas espécies são fortemente atraídas pela luz e produzem sons (VAN EMDEN, 1948EMDEN, F.I. VAN. Trox larva feeding on locust eggs in Somalia. Proceedings of the Royal Entomological Society of London, v.17, n.3, p.145-148, 1948.).

Alguns autores acreditam que determinados trogídeos sejam endêmicos em ninho de aves predadoras como corujas (Aves, Strigiformes), enquanto que outras espécies vêm sendo encontradas em toca de animais carnívoros (Mammalia, Carnivora) (GOMES, 2005GOMES, R.S. Atractividad de diferentes cebos sobre trogídos (Coleoptera) en el bosque autóctono “El Espinal”, Río Cuarto (Córdoba, Argentina). Revista de laSociedad Entomológica Argentina, v.64, n.2, p.103-105, 2005.).

Esta família é constituída por 3 gêneros: Trox Fabricius, 1775; Omorgus Erichson, 1847 com dois subgêneros, Omorgus Erichson, 1847 e Haroldomorgus Scholtz, 1986SCHOLTZ, C.H. Phylogeny and systematics of the Trogidae (Coleoptera: Scarabaeoidea). Systematic Entomology, v.11, p.355-363, 1986.; e Polynoncus Burmeister, 1876. O gênero Trox é amplamente distribuído principalmente nas regiões Holártica e Afrotropical, já o gênero Omorgus ocorre normalmente em regiões áridas, principalmente nos continentes ao Sul e, por fim, o gênero Polynoncus que possui distribuição restrita à América do Sul.

Poucos trabalhos relacionados ao O. suberosus em granja de aves poedeiras foram publicados. Somente GIANIZELLA; PRADO (1999)GIANIZELLA, S.L.; PRADO, A.P. Ocorrência e sazonalidade de Omorgus (Omorgus) suberosus (Fabr.) (Trogidae: Coleoptera) em esterco de aves poedeiras em Monte Mor, SP. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.28, n.3, p.749-751, 1999. relataram esta espécie neste tipo de excremento, o que, sem dúvida, dificulta um melhor entendimento do que realmente ocorre com este trogídeo neste ecossistema artificial.

Deste modo, o presente trabalho teve como objetivos estudar a sazonalidade do O.suberosus dentro das estações do ano e evidenciar a metodologia mais apropriada para captura deste artrópode no ecossistema artificial de esterco de aves poedeiras.

MATERIAL E MÉTODOS

Descrição da Granja: as coletas foram realizadas na granja Crisdan, situada a 7 km do Município de São João da Boa Vista, Estado de São Paulo (22º 01’ S, 46º 48’ W, altitude de 763 m).

A granja, considerada de pequeno porte, possuía 2 conjuntos de 4 galpões (abertos) cada, com capacidade para alojar 25.000 galinhas (Gallus gallus domesticus (Linnaeus, 1758) – Aves, Galliformes, Phasianidae) das linhagens “Hy Line” e “Hy–line Brown”, em fase de postura.

O galpão de coleta possuía 3 conjuntos de gaiolas (ou 3 corredores onde se acumulam as fezes) separados por dois corredores de concreto de 0,5 m de largura. As fileiras das gaiolas estavam distribuídas em degrau (tipo “narrow house”). As gaiolas variavam de tamanho e abrigavam de duas a quatro galinhas. Sob as gaiolas, o piso era de terra onde as fezes se acumulavam.

Ao redor da granja havia culturas agrícolas e, durante o período analisado, a predominância foi de café (Coffea sp. – Rubiaceae) e milho (ZeamaysL. – Poaceae). Durante a coleta, nenhum inseticida foi utilizado sobre o esterco, o qual foi retirado em 24/4 e 20/9 de 2001 e em 15/3 e 2/11 de 2002. Devido às altas precipitações pluviométricas constatadas no verão, o uso de óxido de cálcio e de serragem foi relativamente comum.

Foram realizadas 75 coletas entre 17/1/2001 a 26/12/2002, com intervalos de sete dias durante os primeiros 12 meses, passando a quinzenais nos demais meses, totalizando 1.125 armadilhas e 600 kg de esterco. Para amostragem dos espécimes adultos foram utilizados três métodos distintos: armadilha– de–solo (método 1), o funil de Berlese–Tullgren (método 2) e a flutuação em água (método 3).

Método 1 – Armadilha–de–solo: estas armadilhas foram utilizadas visando a obtenção de trogídeos adultos (WALKER, 1985WALKER, R.L. A pitfal trap study on the Carabidae and Staphylinidae (Coleoptera) in Country Durham. Entomologist’s Monthly Magazine, v.121, n.1, p.1-18, 1985.; SUMMERLIN, 1989SUMMERLIN, J.W. Tetchiness for collecting, rearing and handling histerid beetles. Southwestern Entomologist, v.14, p.415-425, 1989.). Consistiram de frascos plásticos com 9,0 cm de altura e 8,0 cm de diâmetro contendo 200 mL de líquido fixador e conservante (80% de água; 5% de glicerina; 5% de álcool a 70%; 5% de formol e 5% de detergente) para posterior identificação e quantificação em microscópio esterioscópio. As armadilhas foram retiradas e substituídas por outras com novo fixador em cada coleta, sendo elas numeradas de 1 a 15, as quais foram escolhidas aleatoriamente e, posteriormente, enterradas sob as gaiolas, ao longo de 3 corredores (5/ armadilhas/corredor) A, B e C, próximo ao esterco acumulado.

A distribuição das armadilhas foi feita por “amostragem sistemática”, que consistiu em delimitar áreas em quadrados contíguos (1 m2), onde elas foram distribuídas (KREBS, 1989KREBS, C.J. Ecological methods. New York: Harper & Row, 1989. 700p.).

Método 2 – Extração direta do esterco: o esterco acumulado sob as gaiolas apresentava, visualmente, cinco tipos distintos de consistência: líquido, pastoso, pastoso–firme, firme e seco (BRUNO et al., 1993BRUNO, T.V.; GUIMARÃES, J.H.; SANTOS, A.M.M.; TUCCI, E.C. Moscas sinantrópicas (Diptera) e seus predadores que se criam em esterco de aves poedeiras confinadas, no Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia, v.37, n.2, p.577-590, 1993.), sendo, que no galpão, havia esterco com uma ou mais consistências diferentes. As amostras foram retiradas de forma a obter esterco de todas as consistências.

Na coleta das amostras de esterco foi utilizada uma pá, ao invés da introdução de um cilindro de metal, como recomendado por PECK ; ANDERSON (1969)PECK, R.F.; ANDERSON, J.R. Arthropod predators of immature Diptera developing in poultry groupings in northern California. Journal of Medical Entomology, v.6, n.1, p.163-167, 1969.. Para obtenção deste material, foram extraídas cerca de 10 (400 g/amostra) amostras aleatórias num total de, aproximadamente, 4 kg dos diferentes tipos de esterco por coleta.

Em seguida, o material coletado foi transferido para funil de Berlese–Tullgren confeccionado com um tubo de papel cartolina sobre um vidro, com líquido fixador e conservador (álcool a 70%). Sobre o funil foi utilizada uma lata tipo embalagem de achocolatado sem fundo que foi substituída por uma tela de malha de 1 cm. O esterco (cerca de 670 g/funil) era colocado dentro da lata e ficava exposto a lâmpada de 25 W, durante 5 dias.

Método 3 – Flutuação em água:as amostras foram extraídas do esterco utilizando–se o método de Roberts recomendado por MOORE (1954)MOORE, I. An efficient method of collecting dung beetles. Pan–Pacific Entomologist, v.30, n.4, p.208, 1954., com base no princípio de flutuação.

Da mesma forma que o método anterior, cerca de 10 amostras (400 g/amostra) foram extraídas aleatoriamente do galpão para obtenção do material, totalizando, aproximadamente, 4 kg de esterco por coleta.

Em 8 baldes de 10 L de capacidade, contendo água quase até a borda, foram colocadas porções de cerca de 500 g de esterco/balde. Após agitação feita com o auxílio de um bastão de madeira e posterior decantação do esterco, foram coletados os artrópodes que flutuavam, com o auxílio de uma peneira de malha fina. Os espécimes obtidos foram secados em papel toalha, para posterior identificação.

Todo material coletado foi levado para o laboratório onde foi triado, contado, identificado, fixado e conservado em álcool a 70%, sendo que, para a identificação do Omorgus (Omorgus) suberosus, foi utilizado o trabalho de SCHOLTZ (1990)SCHOLTZ, C.H. Revision of the Trogidae of South America. Journal of Natural History, v.24, p.1391-1456, 1990.. O material testemunho encontra–se na Coleção Entomológica da Faculdade de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Fundação de Ensino “Octávio Bastos” (UNIFEOB), São João da Boa Vista, SP.

Os dados de sazonalidade referentes aos 3 métodos de coleta ao longo dos dois anos de coleta foram previamente transformados em log (x + 1) e, posteriormente, efetuou-sea análise de variância por meio de um delineamento em parcela subdividida no tempo (“Split Plot in Time”), sendo estabelecidos como tratamento principal os métodos de coleta e, como tratamento secundário, as estações dos anos para obtenção das significâncias do teste F. As médias (= S [log (x + 1)]/n) dos tratamentos foram obtidas pelo procedimento Lsmeans utilizando o teste Tukey–Kramer (P < 0,05).

As análises das correlações momento–produto de Pearson foram utilizadas para avaliação de quão associados foram os números de O. suberosus capturados e temperatura (ambiente), umidade relativa do ar e os índices pluviométricos. Os dados pluviométricos, de temperatura e umidade relativa do ar foram fornecidos pelo Banco de Dados Hidrometerológicos da Cooperativa Agrícola Nacional Sudeste Centro Oeste, situada em São João da Boa Vista, SP. O teste para verificação de correlações realizada pelo programa anteriormente citado é um Teste t de Student.

Para tanto, foram utilizados os procedimentos GLM do programa Statistical Analysis System, versão 6.12.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Capturaram–se 2.322 espécimes de trogídeos adultos pertencentes à espécie O. (Omorgus) suberosus associados ao esterco de galinhas poedeiras. Utilizando–se armadilhas de solo, foram coletados 2.303 exemplares (99,17% do total); nas coletas realizadas por meio do funil de Berlese–Tullgren, foram encontrados 12 trogídeos (0,51%) e, pela flutuação em água, apenas sete (0,30%). Esta espécie possui de 11,5 a 15,0 mm de comprimento e 6,8 a 8 mm de largura, sendo amplamente distribuída no Novo Mundo, desde o Canadá até o sul da Argentina. BAKER (1968)BAKER, C.W. Larval taxonomy of the trogine with notes on biologies and life histories. Bulletin of the United States National Museum, v.279, p.1-79, 1968. relatou que O. suberosus preda ovos de gafanhotos na América do Sul.

Poucas informações sobre os hábitos alimentares do O. suberosus na América do Sul existem na literatura, porém, observações de pesquisadores indicam que eles ocorrem em situações típicas da família Trogidae, tais como carcaças, pêlos e em acúmulo de fezes de granja aviária (PAYNE, 1965PAYNE, J.A. A summer carrion study of the baby pig Sus scrofta Linnaeus. Ecology, v.46, n.5, p.592-602, 1965.).

Tabela 1
Resultado das comparações múltiplas (médias ajustadas Tukey-Kramer ) do desdobramento da interação estações do ano (2001 e 2002) e métodos de captura, em granja aviária de São João da Boa Vista, SP.
Tabela 2
Total de Omorgus (Omorgus) suberosus capturados nas diferentes estações do ano, segundo o método de amostragem, em granjas de aves poedeiras de São João da Boa Vista, SP.
Tabela 3
Valores médios das covariáveis temperatura (ºC), umidade realtiva (%) e pluviometria (mm3) ao longo das estações do ano de 2001 e 2002.
Tabela 4
Resultado das comparações múltiplas (médias ajustadas Tukey-Kramer ) do desdobramento da interação corredor e número da armadilha de captura, em granja aviária de São João da Boa Vista, SP.

O único relato de O. suberosus encontrado associado ao esterco de aves poedeiras foi realizado por GIANIZELLA; PRADO (1999)GIANIZELLA, S.L.; PRADO, A.P. Ocorrência e sazonalidade de Omorgus (Omorgus) suberosus (Fabr.) (Trogidae: Coleoptera) em esterco de aves poedeiras em Monte Mor, SP. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.28, n.3, p.749-751, 1999. em uma granja comercial de Monte Mor, Estado de São Paulo.

Em esterco de aves poedeiras, a armadilha de solo parece ser o método mais adequado (P < 0,05) para capturar O. suberosus em relação ao funil de Berlese– Tullgren e a flutuação em água (Tabela 1). Acredita– se que a baixa freqüência de O. suberosus, capturados no funil de Berlese–Tullgren e pela flutuação em água, seja decorrente do fato que este coleóptero possui uma maior biomassa (FLECHTMAN et al., 1995FLECHTMAN, C.A.H.; RODRIGUES, S.R.; COUTO, H.T.Z. Controle biológico da mosca–dos–chifres (Haematobia irritans) em Selvíria, Mato Grosso do Sul. Levantamento de espécies fimícolas associadas à mosca. Revista Brasileira de Entomologia, v.39, n.1, p.249-258, 1995.) em relação a outros artrópodes (comumente capturados por estes métodos), dificultando desta maneira a sua captura pelos métodos supracitados.

O acme populacional de O. suberosus capturados pelos três métodos de coleta foi em fevereiro de 2001 (363), quando a temperatura média neste mês foi de 29º C (Fig. 1). A menor ocorrência pode ser constatada em outubro de 2002 com apenas quatro trogídeos registrados. Larvas da espécie não foram encontradas durante os 24 meses de captura. O mesmo pode ser observado por GIANIZELLA; PRADO (1999)GIANIZELLA, S.L.; PRADO, A.P. Ocorrência e sazonalidade de Omorgus (Omorgus) suberosus (Fabr.) (Trogidae: Coleoptera) em esterco de aves poedeiras em Monte Mor, SP. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.28, n.3, p.749-751, 1999.. Estes autores estudaram a sazonalidade desta espécie de Trogidae capturados por armadilha de solo, notificando grandes picos populacionais entre os meses de setembro e dezembro, nos 2 anos em que este trogídeo foi coletado. No presente estudo, convém salientar que foi constatado um aumento significativo (P < 0,05) no número de espécimes de O.suberosus,capturados por meio de armadilhas de solo no verão de 2001/2002, e que, no inverno, ocorreu uma queda abrupta (P < 0,05) (Tabelas 1 e 2).

As correlações entre os totais de exemplares de O. suberosus encontrados e dados abióticos (temperatura umidade relativa do ar e precipitação pluvial) foram de baixa magnitude, indicando baixas associações com estas covariáveis. A temperatura durante o período de coleta apresentou média mínima de 25,05º C (inverno de 2001 e 2002) e máxima de 27,85º C no verão de ambos os anos amostrados, umidade relativa do ar apresentou média mínima de 57,42% no inverno e máxima de 70,64% no verão de 2001 e 2002, para pluviosidade foi notificada somatória mínima de 1.201 mm3 nosmesesde inverno dos anos de 2001 e 2002 e máxima de 5.183 mm3 na primavera dos anos levantados (Tabela 3).

É importante ressaltar que não houve diferenças significativas (P > 0,05) no total de espécimes de O. suberosus amostrados nos diferentes corredores (A, B e C) em que as armadilhas de solo estiveram dispostas (5/armadilhas/corredor) aleatoriamente (Tabela 4). Entretanto, sua presença ao longo do galpão de coleta sempre esteve associada a locais onde havia grande quantidade de ração, ovos quebrados e penas que eram freqüentemente derrubadas pelas aves. Além disso, sua coloração produziu grande efeito mimético, fazendo–o, muitas vezes, passar despercebido no esterco, mesmo estando algumas vezes em grande densidade populacional.

Fig. 1
Total de espécimes deOmorgus (Omorgus) suberosus (Fabricius, 1775) (Coleoptera, Trogidae) capturados por armadilhas de solo, funil de Berlese–Tullgren e flutuação em água, de janeiro de 2001 a dezembro de 2002, em granja aviária de São João da Boa Vista, SP, Brasil.

CONCLUSÕES

Os resultados encontrados possibilitam concluir que:

  • além do método de captura, as estações do ano e a precipitação pluvial, outros fatores como os componentes genéticos, interação social e capacidade de dispersão desta espécie de coleóptero podem estar interagindo na sazonalidade de O. suberosus;

  • armadilhas de solo mostraram ser a metodologia mais apropriada para capturar O. suberosus neste ecossistema artificial de aves poedeiras.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Gilson Pereira de Oliveira, Dra. Marisa Rossi Monteiro pela colaboração técnica, aos professores Maria Cândida de Oliveira Costa e Afonso Celso Navarro pelas sugestões e comentários. Este trabalho foi financiado pela UNIFEOB.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2007

Histórico

  • Recebido
    27 Set 2006
  • Aceito
    23 Ago 2007
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