FRUTÍFERAS HOSPEDEIRAS E PARASITÓIDES (HYM., BRACONIDAE) DE ANASTREPHA SPP. (DIP., TEPHRITIDAE) NA ILHA DE SANTANA, ESTADO DO AMAPÁ, BRASIL

HOSTS PLANTS AND PARASITOIDS (HYM., BRACONIDAE) OF ANASTREPHA SPP. (DIP., TEPHRITIDAE) IN ILHA DE SANTANA, AMAPÁ STATE, BRAZIL

RESUMO

Este trabalho objetivou efetuar um levantamento de moscas-das-frutas, suas plantas hospedeiras e seus parasitóides na Ilha de Santana, Estado do Amapá, Brasil. Foram coletadas 44 amostras de frutos de 13 espécies vegetais, totalizando 4.177 frutos e 78.753 g. Os frutos foram coletados no período de janeiro a julho de 2005, sendo obtidos 608 pupários, de onde emergiram 225 moscasdas-frutas pertencentes ao gênero Anastrepha e 42 parasitóides da família Braconidae. Houve emergência de moscas-das-frutas somente de amostras de taperebá (Spondias mombin L.), goiaba (Psidium guajava L.) e abiu (Pouteria caimito Radlk.). As espécies registradas foram A. obliqua Macquart, A. striata Schiner e A. leptozona Hendel. Parasitóides de 3 espécies emergiram de amostras de taperebá e goiaba: Doryctobracon areolatus (Szépligeti), Opius sp. e Asobara anatrephae(Muesebeck).

PALAVRAS-CHAVE
Moscas-das-frutas; Amazônia; índice de infestação

ABSTRACT

This work was carried out to establish the association of the fruit flies species, their host plants and their parasitoids in Ilha de Santana, Amapá State, Brazil. Forty four samples from 13 vegetable species were collected, totalizing 4,177 fruits and 78,753 grams. The fruits were collected in 2005, from January to July, and from them 608 puparia were obtained, from which emerged 225 fruit flies of Anastrepha genus and 42 Braconidae parasitoids. Fruit flies emergence were only verified on Spondias mombin L., Psidium guajava L. and Pouteria caimito Radlk samples. The recorded species were A. obliqua Macquart, A. striata Schiner and A. leptozona Hendel. Three species of parasitoids emerged from samples of S. mombin and P. guajava: Doryctobracon areolatus (Szépligeti), Opius sp. and Asobara anatrephae (Muesebeck).

KEY WORDS
Fruit flies; Amazon; infestation index

Um dos maiores obstáculos à produção e livre comercialização de frutas frescas no Brasil e no mundo é a presença de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) nas áreas comerciais (MALAVASI, 2000) devido aos danos diretos causados pelas suas larvas em desenvolvimento no interior dos frutos e por restrições quarentenárias impostas por países importadores desses produtos.

Os levantamentos das espécies de moscas-dasfrutas, suas plantas hospedeiras e seus parasitóides enquadram-se entre os estudos fundamentais para uma maior compreensão desse grupo de insetos (ZUCCHI, 2000a). O procedimento de amostragem de frutos permite identificar com precisão a associação de determinada espécie de tefritídeo com a espécie vegetal ou variedade frutífera, o que não é possível quando se utiliza armadilha para capturar os adultos (NASCIMENTO et al., 2000).

No Estado do Amapá, as pesquisas com moscasdas-frutas e seus inimigos naturais foram intensificadas a partir de 1996, após a detecção oficial da moscada-carambola Bactrocera carambolae Drew & Hancock, no Município de Oiapoque. Tal espécie é caracterizada como praga quarentenária A2, sendo que sua dispersão pode ocasionar prejuízos sócio-econômicos e ambientais de grandes proporções ao Brasil (SILVA et al., 2004). Além de B. carambolae, foram registradas 14 espécies do gênero Anastrepha: A. antunesi Lima, A. atrigona Hendel, A. distincta Greene, A. coronilli Carrejo & González, A. fraterculus (Wiedemann), A. leptozona Hendel, A. limae Stone, A. obliqua (Macquart), A. pickeli Lima, A. serpentina (Wiedemann), A. sororcula Zucchi, A. striata Schiner, A. turpiniae Stone, A. zenildae Zucchi.

Os registros de parasitóides de moscas-das-frutas obtidos até o momento para o Estado do Amapá incluem 6 espécies de Braconidae e duas de Figitidae. O braconídeo Doryctobracon areolatus (Szépligeti) é a espécie mais abundante e amplamente distribuída (SILVA; SILVA, 2005).

O presente trabalho teve por objetivo efetuar um levantamento das espécies de moscas-das-frutas, suas plantas hospedeiras e seus parasitóides na Ilha de Santana, pertencente ao Município de Santana, Estado do Amapá.

A Ilha de Santana possui aproximadamente 2.100 hectares e está localizada em frente a orla do Município de Santana (00^o03’59,10’’S 51^o10’02,56’’W). É habitada por cerca de 3.000 (três mil) pessoas, havendo 60 produtores rurais cultivando, especialmente, acerola, taperebá e graviola, comercializadas todas as semanas nas Feiras do Produtor de Macapá e Santana (Bessa, comunicação pessoal¹).

Foram realizadas amostragens de frutos de março a julho de 2005, período em que se concentram as chuvas na região. As amostras foram tomadas ao acaso, localizando-se plantas com boa carga de frutos em maturação ou já maduros, coletando-se frutos da planta e recém-caídos no solo. Os frutos foram acondicionados em sacos de algodão e levados para o Laboratório de Entomologia da Embrapa Amapá, onde foram contados, pesados e dispostos em bandejas de plástico, sobre uma camada de areia esterilizada e umedecida. As bandejas foram cobertas com tecido de organza, preso com elástico. A cada 3 dias o material contido nas bandejas foi examinado e os pupários retirados e transferidos para frascos de plástico transparente, contendo uma fina camada de vermiculita umedecida. Os frascos foram cobertos com organza, presa por tampa vazada, sendo dispostos em câmaras climatizadas sob condições controladas de temperatura (27 ± 0,5º C), umidade relativa do ar (70 ± 10%) e fotofase (12h), sendo observados diariamente.

Tabela 1
Índice de infestação, viabilidade pupal e percentual de parasitismo em 13 espécies de frutos coletados na Ilha de Santana, Estado do Amapá (janeiro a julho/2005).

Família/Espécie	Frutos (n)	Peso (g)	Amostras C/I (n)	PP (n)	M (n)	PR (n)	Infestação	VP (%)	PRT (%)	Espécies
							PP/fruto - PP/kg
TOTAL	4177	78.753	44/13	608	225	42	-	-	-	-
Anacardiaceae
Taperebá (Spondias mombin L.)	794	8.522	6/6	389	126	41	0,5-45,7	32,4	10,5	A. obliqua
Manga (Mangifera indica L.)	37	5.872	3/0	-	-	-	-	-	-	-
Myrtaceae
Goiaba (Psidium guajava L.)	294	11.879	8/6	158	98	1	0,5-13,3	62,0	0,6	A. striata
Oxalidaceae
Carambola (Averroa carambola L.)	116	9.238	5/0	-	-	-	-	-	-	-
Passifloraceae
Maracujá (Passiflora sp.)	66	5.690	3/0	-	-	-	-	-	-	-
Malpighiaceae
Acerola (Malpighia punicifolia L.)	2741	14.381	9/0	-	-	-	-	-	-	-
Sapotaceae
Abiu (Pouteria caimito Radlk.)	15	530	1/1	61	1	-	4,1-115,1	1,6	-	A. leptozona
Rubiaceae
Genipapo (Genipa americana L.)	15	5.071	2/0	-	-	-	-	-	-	-
Solanaceae
Jurubeba (Solanum sp.)	34	0.34	1/0	-	-	-	-	-	-	-
Combretaceae
Castanhola (Terminalia catappa L.)	48	677	1/0	-	-	-	-	-	-	-
Annonaceae
Biribá (Rollinia mucosa Baill.)	6	3.500	1/0	-	-	-	-	-	-	-
Graviola (Annona muticata L.)	9	9.329	3/0	-	-	-	-	-	-	-
Moraceae
Jaca (Artocarpus heterophyllus Lam.)	2	4.030	1/0	-	-	-	-	-	-	-

• ^*C/I: Coletadas/Infestadas, PP: pupários, M: moscas, PR: parasitóides, VP: viabilidade pupal, PRT: parasitismo.

Tabela 2
Plantas hospedeiras de Anastrepha spp. e seus parasitóides na Ilha de Santana, Estado do Amapá (janeiro a julho/2005).

Hospedeiros	Espécies de Anastrepha	Espécies de parasitóides
Abiu (Pouteria caimito)	A. leptozona (1)	-
Goiaba (Psidium guajava)	striata (45)(53 machos)	D. areolatus (1)
Taperebá (Spondias mombin)	A. obliqua (173) (67 machos)	D. areolatus (27) Opius sp. (13) A. anastrephae (1)

As moscas-das-frutas e os parasitóides que emergiram foram acondicionados em frascos de vidro contendo álcool 70%, sendo posteriormente identificados com base nas chaves descritas por ZUCCHI (2000b) e CANAL; ZUCCHI (2000).

Foram coletadas 44 amostras de frutos de 13 espécies vegetais pertencentes a 11 famílias botânicas, totalizando 4.177 frutos e 78.753 g (Tabela 1). Destas amostras, somente três espécies de frutos apresentaram infestação por moscas-das-frutas: taperebá (Spondias mombin L.), goiaba (Psidium guajava L.) e abiu (Pouteria caimito Radlk.) (Tabela 1). As amostras infestadas somaram 16.791 g de frutos, de onde foram obtidos 608 pupários. Destes, emergiram 225 moscasdas-frutas e 42 parasitóides, caracterizando uma emergência de 43,9% e viabilidade pupal de 37,0%.

O índice de infestação natural do taperebá, goiaba e abiu foi 0,5; 0,5 e 4,1 pupários/fruto; e 45,7; 13,3 e 115,1 pupários/kg de fruto, respectivamente (Tabela 1). Estes resultados estão próximos aos obtidos nos Municípios amapaenses de Ferreira Gomes e Itaubal do Piririm, em coletas também realizadas no primeiro semestre do ano de 2005 (SILVA; SILVA, 2007; SILVA et al., 2007).

Cada fruto hospedeiro foi infestado por apenas uma espécie de tefritídeo (Tabela 2). Dessa forma, foi constatada A. striata em goiaba, A. obliqua em taperebá e A. leptozona em abiu. O predomínio de A. obliqua em amostras de taperebá e de A. striata em goiaba também foi constatado em Ferreira Gomes e Itaubal do Piririm. Os valores obtidos foram superiores a 90% para A. obliqua e de 70% a 100% para A. striata (SILVA; SILVA, 2007; SILVA et al., 2007).

No presente trabalho é feito um novo registro de hospedeiro para A. leptozona no Estado (Tabela 2), anteriormente obtida de goiaba (CREÃO, 2003) e capturada em armadilhas McPhail (RONCHI-TELES, 2000).m Embora na Ilha de Santana ocorram eventuais focos da mosca-da-carambola (SILVA et al., 2004), a praga não foi obtida de frutos no período de amostrage.

O parasitismo das moscas-das-frutas foi de 10,5% em taperebá e 0,6% na goiaba, não havendo emergência de parasitóides das larvas originadas de frutos de abiu (Tabela 2). Em Itaubal do Piririm e Ferreira Gomes, foi registrado parasitismo somente em amostras de taperebá, com índices semelhantes de 11,9% e 21,7%, respectivamente (SILVA; SILVA, 2007; SILVA et al., 2007).

Das amostras de taperebá foram obtidos exemplares de 3 espécies de parasitóides: D. areolatus (Szépligeti); Opius sp. e Asobara anastrephae (Muesebeck), associados a A. obliqua. Dos frutos de goiaba foi obtido apenas um exemplar de D. areolatus, associados a A. striata (Tabela 2). O parasitóide D. areolatus foi o predominante em taperebá (65,9%), corroborando os resultados obtidos por SILVA; SILVA (2007) e SILVA et al. (2007), em Ferreira Gomes (50%) e Itaubal do Piririm (57,1%).

• 1
  Émerson Bessa, Técnico em Agropecuária do Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá, lotado na Ilha de Santana.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Agência de Desenvolvimento da Amazônia e à Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado Amapá, pelo apoio financeiro à pesquisa.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Jan 2022
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2007

Histórico

• Recebido
  07 Ago 2006
• Aceito
  13 Jun 2007