PATOGENICIDADE DO ISOLADO IBCB 66 DE BEAUVERIA BASSIANA À BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR DIATRAEA SACCHARALIS EM CONDIÇÕES DE LABORATÓRIO

PATHOGENICITY OF IBCB 66 STRAIN OF BEAUVERIA BASSIANA TO THE SUGAR CANE WEEVIL DIATRAEA SACCHARALIS UNDER LABORATORY CONDITIONS

RESUMO

O fungo entomopatogênico Beauveria bassiana já vem sendo utilizado no controle de várias pragas de importância econômica no Brasil, sendo patogênico à broca da cana de açúcar Diatraea saccharalis, que é considerada como uma das principais pragas que atingem esta cultura. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito das concentrações: 5 x 10⁶, 1 x 10⁷, 5 x 10⁷, 1 x 10⁸ e 5 x 10⁸ con./ mL do isolado IBCB 66 de B. bassianaà esta broca. Com auxílio de uma torre de Potter foi aplicado 1 mL das suspensões fúngicas nas lagartas de D. saccharalis que posteriormente foram colocadas individualmente em tubos de criação com um pedaço de colmo jovem de cana. Estes tubos foram mantidos em câmara climatizada a 25,5 ± 0,5º C e UR em torno de 70% e as avaliações da mortalidade foram feitas diariamente até o sexto dia. As lagartas mortas foram colocadas em câmaras úmidas para a confirmação da morte pelo entomopatógeno. O fungo foi patogênico à D. saccharalis em todas as concentrações avaliadas e a CL₅₀ determinada para o 6º dia foi de 1,58 x 10⁷ con./mL.

ABSTRACT

The entomopathogenic fungus Beauveria bassiana has been used in the control of many pests affecting important crops in Brazil. It is pathogenic to the sugar cane borer Diatraea saccharalis which is considered one of the major pests of this crop. The objective of this work was to evaluate the effect of the concentrations: 5 x 10⁶, 1 x 10⁷, 5 x 10⁷, 1 x 10⁸ and 5 x 10⁸ conidia/mL of the IBCB 66 strain of Beauveria bassiana to this borer. With the support of a Potter tower 1 mL of the fungus suspension was applied on the larvae of D. saccharalis that later were put indivudualy in tubes with a piece of young sugar cane. These tubes were kept in a climated room at 25.5 ± 0.5º C and RH around 70% and the evaluations of mortality were done daily until the sixth day. The dead larvae were put in humid chamber in order to confirm their death by the entomopathogen. The fungus was pathogenic to D. saccharalis in all the concentrations evatuated and the LC₅₀ for the sixth day was determined in 1.58 x 10⁷ con./mL.

KEY WORDS
Beauveria bassiana ; Diatraea saccharalis ; pathogenicity; microbial control

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e o setor sucroalcooleiro movimenta milhões de reais todos os anos com a produção de açúcar e álcool. A broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis Fabricius (Lepidoptera: Crambidae) é uma das principais pragas desta cultura e causa prejuízos diretos como abertura de galerias que vão ocasionar perda de peso na cana e provocar a morte das gemas, causando falhas na germinação. Nas canas novas, a broca produz o secamento dos ponteiros, conhecido como

coração morto. Dentre os prejuízos indiretos destacase a penetração de fungos através dos orifícios e galerias, abertos pela broca, causando a podridão vermelha do colmo. Os fungos Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme invertem a sacarose, diminuindo a pureza e dando menor rendimento em açúcar e álcool (^{GALLO et al., 2002}).

Alguns métodos podem ser utilizados para controle desta praga como, por exemplo, o parasitóide de lagartas Cotesia flavipes, controle cultural, controle químico com inseticidas entre outros (^{GALLO et al., 2002}). Entretanto, outras formas de controle devem ser avaliadas como a utilização de fungos entomopatogênicos e dentre eles destaca-se o fungo Beauveria bassiana. Este fungo está amplamente distribuído no mundo todo e pode ser isolado de insetos, ácaros e do solo, onde é parte normal da flora microbiana, e outros substratos (^{BOUCIAS & PENDLAND, 1998}). Quando as condições climáticas são favoráveis este entomopatógeno pode causar epizootias naturais em populações de insetos das ordens Hemiptera, Lepidoptera e Coleoptera (^{ALVES, 1998}).

A broca D. saccharalis é suscetível ao fungo e em testes realizados em campo, o patógeno causou mortalidade média de 44%, para uma dosagem de aproximadamente 10¹³ conídios/ha (^{ALVES, 1998}).

Devido a grande importância da cultura da canade-açúcar no Brasil e das grandes perdas anuais provocadas pela ocorrência desta praga, este trabalho teve como objetivo verificar a patogenicidade do isolado IBCB 66 de B. bassiana, em laboratório, a lagartas de D. saccharalis.

O isolado IBCB 66 de B. bassiana é proveniente da Coleção de Microrganismos Entomopatogênicos do Laboratório de Controle Biológico do Centro Experimental Central do Instituto Biológico, Campinas, SP, onde o ensaio foi realizado. O fungo foi produzido em arroz e as concentrações foram padronizadas em 5 x 10⁶, 1 x 10⁷, 5 x 10⁷, 1 x 10⁸ e 5 x 10⁸ con./mL com viabilidade acima de 94%. Foram utilizadas lagartas de 1 cm de tamanho provenientes da criação do laboratório da Usina São João, Araras, SP. As lagartas foram separadas dos frascos com dieta e colocadas em placas de Petri, para serem posteriormente inoculadas. Cada grupo de 25 lagartas foi pulverizado, utilizando-se uma Torre de Potter, com 1 mL das suspensões e a testemunha foi pulverizada somente com água destilada esterilizada. Após a pulverização das suspensões, as lagartas foram transferidas e individualizadas em tubos de criação contendo um pedaço de colmo jovem de cana-de-açúcar e vedados com algodão. Os tubos com as lagartas foram mantidos em câmara climatizada na temperatura de 25,5 ± 0,5º C e umidade relativa em torno de 70%. As avaliações da mortalidade foram realizadas diariamente por um período de seis dias e câmaras úmidas foram feitas para a confirmação da mortalidade pelo entomopatógeno. A cada dois dias os pedaços de colmo de cana-de-açúcar foram substituídos por pedaços novos.

Os dados de mortalidade foram corrigidos através da fórmula de ^{ABBOT (1925)} e a concentração letal (CL₅₀) e o tempo letal (TL₅₀) médios foram determinados pela análise de Probit (^{FINNEY, 1947}). Os dados de mortalidade para o 6º dia foram analisados pelo teste de Duncan.

O fungo foi patogênico à broca da cana-de-açúcar em todas as concentrações avaliadas sendo que, a mortalidade aumentou com o tempo e com as concentrações (Tabela 1).

Tabela 1
Porcentagem de mortalidade corrigida de lagartas de Diatraea saccharalis nos diferentes dias de avaliação após a pulverização de concentrações de conídios do isolado IBCB 66 do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana (T = 25,5 ± 0,5º C, U.R.em torno de 70 %).

Tratamentos	Período de avaliação (dias)
	1	2	3	4	5	6*
Testemunha	0	5,0	10,0	15,0	15,0	15,0			c
5 x 106 con./mL	0	0	10,5	21,0	31,5	32,0		b
1 x 107 con./mL	4,5	9,0	18,0	27,0	40,5	40,5		b
5 x 107 con./mL	0	0 15,0		35,0	60,0	65,0	a	b
1 x 108 con./mL	4,0	13,0 26,0		52,0	83,0	85,0	a
5 x 108 con./mL	4,0	9,0 27,0		45,0	73,0	89,0	a

• ^*
  Dados originais na tabela e transformados em +10 para análise estatística. F = 3,68** e C.V. (%) = 2,24. Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.

As mortalidades nas concentrações de 5 x10⁷, 1 x 10⁸ e 5 x 10⁸ con./mL foram estatisticamente iguais entre si e atingiram valores entre 65 e 89% (Tabela 1).

A concentração letal 50 (CL₅₀) determinada para o 6º dia foi de 1,58 x 10⁷ conídios/mL. Concentração letal menor foi encontrada por ^{ALVES et al. (1985)} numa avaliação de eficiência de B. bassiana (isolado da broca da cana-de-açúcar na região de Piracicaba). Os autores verificaram que a CL₅₀ para a fase de pré-pupa da lagarta foi de 1,27 x 10⁵ conídios/mL. Ainda neste trabalho foram avaliadas as concentrações de 5,5 x 10⁴ a 5,5 x 10⁸ conídios/mL e os valores de mortalidade obtidos variaram de 40 a 97,5% da menor para a maior concentração, observados nove dias após a inoculação do fungo.

A patogenicidade do isolado 447 de B. bassiana foi verificada por ^{ALVES et al. (2002)} e os autores avaliaram a mortalidade da praga quando inoculada com conídios e o fungo na fase de levedura. Foi verificado que a fase de levedura proporcionou mortalidades maiores do que os conídios equivalentes a 10⁷ e 10⁸ cell./mL. Na concentração de 10⁷ a mortalidade com as células de levedura foi de 70% contra menos de 30% para a suspensão equivalente em conídios.

O efeito de diferentes dosagens de B. bassiana em lagartas de D. saccharalis em condições de laboratório e campo também foi avaliada por ^{LEGASPI et al. (1999)}. No laboratório foram avaliadas cinco dosagens que variaram de 3 a 872 conídios/mm² do produto comercial Mycotrol^® e no campo foram realizados os tratamentos somente óleo, B. bassiana em suspensão emulsionável + óleo e B. bassiana em pó molhável + óleo com a taxa de aplicação dos fungos/tratamento em torno de 5 x 10¹³ conídios/hectare. Ainda no campo, ^{ESTRADA et al. (1997)} avaliaram a aplicação de B. bassiana sobre o desenvolvimento em D. saccharalis. O fungo foi aplicado na dose de 10¹² conídios/ha como suspensão aquosa. As amostragens foram realizadas aos 7, 15, 30, 45, 60 e 101 dias depois da aplicação do fungo e foi verificado que o número de larvas vivas nas parcelas tratadas com o fungo foi menor do que na testemunha, o que se repetiu para o número de internódios afetado pela praga. Os autores ainda concluíram que há uma correlação entre a presença de larvas vivas e o número de internódios afetados pela praga, assim nos tratamentos com fungo houve uma redução do número de danos produzidos pelos lepidópteros. Parâmetros relacionados ao rendimento da cana, como por exemplo, açúcar total também foram avaliados e nas áreas onde B. bassiana foi aplicada os rendimentos foram maiores.

Evidencia-se assim, que o fungo entomopatogênico B. bassiana pode ser usado para o controle de D. saccharalis, entretanto, experimentos relacionados ao modo de aplicação do microrganismo no campo devem ser realizados.

REFERÊNCIAS

• ¹
  ABBOT, W.S. A method for computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology, v.18, p.265-267, 1925.
• ²
  ALVES, S.B. Controle microbiano de insetos Piracicaba: FEALQ, 1998. 1163p.
• ³
  ALVES, S.B.; PÁDUA, L.E.M.; AZEVEDO, E.M.V.M.; ALMEIDA, L.C. Controle da broca da cana-de-açúcar pelo uso de Beauveria bassiana Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.20, n.4, p.403-406, 1985.
• ⁴
  ALVES, S.B.; ROSSI, L.S.; LOPES, R.B.; TAMAI, M.A.; PEREIRA, R.M. Beauveria bassianayeast phase on agar medium and its pathogenicity against Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae) and Tetranychus urticae (Acari: Tetranychidae). Journal of Invertebrate Pathology, v.81, p.70-77, 2002.
• ⁵
  BOUCIAS, D.G. & PENDLAND, J.C. Principles of insect pathology Boston: Kluwer, 1998. 548p.
• ⁶
  ESTRADA, M.E.; ROMERO, M.; SNOWBALL, M. Aplicácion de Beauveria bassiana em la lucha biológica contra Diatraea saccharalis. Cana de Açúcar, v.15, n.1, p.3943, 1997.
• ⁷
  FINNEY, D.J. Probit analisis New York: Cambridge University Press, 1947. 255p.
• ⁸
  GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.
• ⁹
  LEGASPI, J.C.; POPRAWSKI, T.J.; LEGASPI, B.C. Laboratory and field evaluation ofBeauveria bassianaagainst sugarcane stalkbores (Lepidoptera: Pyralidae) in the lower Rio Grande Valley of Texas. Journal of Economic Entomology, v.93, n.1, p.54-59, 1999.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  14 Jan 2022
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2006

Histórico

• Recebido
  07 Fev 2006
• Aceito
  18 Maio 2006