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PERCEVEJOS (HEMIPTERA: HETEROPTERA) COLETADOS EM ACEROLEIRA (MALPIGHIA GLABRA L.) EM JABOTICABAL, SP

STINKBUGS (HEMIPTERA: HETEROPTERA) COLLECTED ON BARBADOS CHERRY PLANTS (MALPIGHIA GLABRA L.) IN JABOTICABAL, SP, BRAZIL

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a diversidade de espécies de percevejos em acerola (Malpighia glabra L.), entre 2002 e 2004, em Jaboticabal, SP. Foram coletados exemplares de 11 espécies de percevejos, sendo 7 espécies de Coreidae, três de Pentatomidae e uma de Scutelleridae. As espécies Acanthocephala sp., Hyalynemus sp.,Machtimacrucigera (Fabricius), Euschistus atrox (Westwood), Loxa deducta e Piezodorus guidinii (Westwood) são relatados pela primeira vez ocorrendo em plantas de aceroleira.

PALAVRAS-CHAVE
Leptoglossus sp.; Crinocerus sanctus ; Pachycoris torridus

ABSTRACT

IN JABOTICABAL, SP, BRAZIL. The objective of this work was to verify the occurrence of stinkbugs on Barbados cherry plants (Malpighia glabra L.), between 2002 and 2004, in Jaboticabal, State São Paulo, Brazil. Eleven species were colected: 7 species of Coreidae, 3 of Pentatomidae and 1 of Scutelleridae. The species Acanthocephala sp., Hyalynemus sp., Machtima crucigera (Fabricius), Euschistus atrox (Westwood), Loxa deducta and Piezodorus guidinii (Westwood) are reported for first time on Barbados cherry plants.

KEY WORDS
Leptoglossus sp.; Crinocerus sanctus ; Pachycoris torridus

A acerola (Malpighia glabra L.) é considerada a frutífera da década de 90 em função dos altos níveis de vitamina C, sabor e propriedades medicinais que apresenta (ALMEIDA, 2002ALMEIDA, J.E.M. Manejo ecológico de pragas da acerola. In: ALMEIDA, J.E.M. & SOUZA FILHO, M.F. (Eds.). REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 7., 2002, Indaiatuba, SP. Anais. São Paulo: Instituto Biológico, 2002. p.119-127.). A rusticidade da planta e a fácil adaptação ao clima do Brasil, principalmente, no Estado de São Paulo fez com que o país se tornasse o principal produtor dessa fruta, com consumo de quase 6 mil toneladas por ano (ALMEIDA, 2002ALMEIDA, J.E.M. Manejo ecológico de pragas da acerola. In: ALMEIDA, J.E.M. & SOUZA FILHO, M.F. (Eds.). REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 7., 2002, Indaiatuba, SP. Anais. São Paulo: Instituto Biológico, 2002. p.119-127.; ARAÚJO & MINAMI, 1994ARAÚJO, P.S.R. & MINAMI, K. Acerola. Campinas: Fundação Cargill, 1994. 81p.).

As principais pragas da aceroleira no Estado de São Paulo são pulgões, cochonilhas, moscas-das-frutas, ácaros, formigas cortadeiras e diferentes espécies de percevejos. Os percevejos ocorrem na época de produção plena das plantas, perfuram os frutos com o aparelho bucal, sugando-os e causando deformações futuras, permitindo a penetração de patógenos e queda dos mesmos (ALMEIDA, 2002ALMEIDA, J.E.M. Manejo ecológico de pragas da acerola. In: ALMEIDA, J.E.M. & SOUZA FILHO, M.F. (Eds.). REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 7., 2002, Indaiatuba, SP. Anais. São Paulo: Instituto Biológico, 2002. p.119-127.).

Em função da constatação de inúmeros percevejos nas plantas de aceroleira, este trabalho teve por objetivo avaliar a diversidade de espécies que ocorrem em plantas de aceroleira, em Jaboticabal, SP.

O experimento foi realizado na Fazenda Experimental da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, da Universidade Estadual Paulista (FCAV/ UNESP), em Jaboticabal, SP. O levantamento das espécies de percevejos foi realizado em um pomar de acerola com diversas variedades, perfazendo um total de 200 plantas. A captura dos insetos foi realizada com o auxílio de rede entomológica, a cada dois meses, entre os anos de 2002 e 2004. Os insetos capturados foram acondicionados em recipientes de plástico (20 cm de diâmetro e 10 cm de altura) e conduzidos ao laboratório de Manejo Integrado de Pragas do Departamento de Fitossanidade da FCAV. Posteriormente, foram separados por morfo-espécie e enviados à Dra. Jocélia Grazia (UFRGS, Porto Alegre, RS) e ao Dr. José Antonio Marin Fernandes (UFPA, Belém, PA) para identificação.

Foram capturados exemplares de 11 espécies de percevejos sugando frutos de acerola, compreendidas nas famílias Coreidae, Pentatomidae e Scutelleridae (Tabela 1). Das 7 espécies da família Coreidae, Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775), Leptoglossus gonagra (Fabricius, 1775), Leptoglossus zonatus (Dallas, 1852) e Sphyctirtus sp. foram encontrados com muita freqüência (Tabela 1) e são citados na literatura como pragas da acerola (SOBRINHO et al., 1998SOBRINHO, R.B.; BATISTA, J.L.; GUEVARA, L.A.C.; WARUMBY, J. Pragas da aceroleira. In: SOBRINHO, R.B.; CARDOSO, J.E.; FREIRE, F.C.O. (Eds.). Pragas de fruteiras tropicais de importância agroindustrial. Brasília: EMBRAPA, 1998. p.33-40.; SOUZA FILHO & RAGA, 1998SOUZA FILHO, M.F. & RAGA, A. Relato do ataque deLeptoglossus zonatus e Sphictyrtus chryseis (Het.: Coreidae) em acerola (Malpighia glabra) no Estado de São Paulo. Revista de Agricultura, v.73, n.3, p.315-318, 1998.). ALMEIDA (2002)ALMEIDA, J.E.M. Manejo ecológico de pragas da acerola. In: ALMEIDA, J.E.M. & SOUZA FILHO, M.F. (Eds.). REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 7., 2002, Indaiatuba, SP. Anais. São Paulo: Instituto Biológico, 2002. p.119-127. refere que as espécies L. zonatus e Sphictyrtus chryseis Liechtenstein, 1797 foram as mais encontradas na macro-região de Campinas, SP, atacando frutos de acerola. Já as espécies Acanthocephala sp., Hyalynemus sp., Machtima crucigera (Fabricius, 1775) são citados pela primeira vez no Brasil como pragas de acerola, sendo a primeira espécie muito freqüente na cultura. Alguns exemplares de Acanthocephala sp. foram capturados e levados ao laboratório onde foram mantidos em recipiente de plástico transparente (30 x 45 x 30 cm), com tampa vazada e revestida com “voiale”, sendo alimentados com ramos e frutos de acerola, obtendo-se alguns ovos. Estes ovos foram depositados isoladamente nas laterais do recipiente.

Tabela 1
Percevejos coletados em plantas de acerola na FCAV/UNESP. Jaboticabal, SP. 2002/2004.

Três espécies da família Pentatomidae foram observadas, sendo de ocorrência pouco freqüente na área (Tabela 1). SOBRINHO et al. (1998)SOBRINHO, R.B.; BATISTA, J.L.; GUEVARA, L.A.C.; WARUMBY, J. Pragas da aceroleira. In: SOBRINHO, R.B.; CARDOSO, J.E.; FREIRE, F.C.O. (Eds.). Pragas de fruteiras tropicais de importância agroindustrial. Brasília: EMBRAPA, 1998. p.33-40. observaram o percevejo-verde, Nezara viridula (Linnaeus, 1758) atacando a cultura. ALMEIDA (2002)ALMEIDA, J.E.M. Manejo ecológico de pragas da acerola. In: ALMEIDA, J.E.M. & SOUZA FILHO, M.F. (Eds.). REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 7., 2002, Indaiatuba, SP. Anais. São Paulo: Instituto Biológico, 2002. p.119-127. observou o percevejo Edessa meditabunda (Fabricius, 1794) atacando brotações em aceroleira, no Município de Indaiatuba, SP. O autor justifica que esta espécie é comumente encontrada nas culturas da soja e mamona, e que na ausência destas, estes percevejos procuram hospedeiros alternativos para sua alimentação.

Pachycoris torridus Scopoli, 1772 foi a única espécie da família Scutelleridae, sendo muito freqüente na cultura. SOTO & NAKANO (2002)SOTO, S.S. & NAKANO, O. Ocorrência de Pachycoris torridus (Scopoli) (Hemiptera: Scutelleridae) em acerola (Malpighia glabra L.) no Brasil. Neotropical Entomology, v.31, n.3, p.481-482, 2002. observaram a ocorrência de ninfas e adultos desta espécie atacando frutos de acerola em Piracicaba, SP, durante o mês de abril de 2001. De acordo com MONTE (1937)MONTE, O. Algumas variações nos desenhos e côres de Pachycoris torridus (Scopoli). Campo, v.8, p.71, 1937., a forma mais freqüente desta espécie é a que apresenta colorido básico preto ou vináceo escuro, com pontuações finas; cabeça escura, pronoto e escudo com 22 manchas (8 no pronoto e 14 no escudo) vermelhas ou amareladas. A parte ventral do corpo é verde metálico; as pernas são escuras com reflexos esverdeados.

A exemplo de Acanthocephala sp., alguns exemplares de P. torridus foram levados ao laboratório e mantidos em recipiente já descrito. Foram obtidas várias posturas e as fêmeas permaneceram o tempo todo sobre a mesma, até a eclosão das ninfas, já que a postura é exatamente do tamanho da projeção do corpo do adulto, provavelmente, para proteção dos ovos contra os inimigos naturais.

Como os percevejos são bastante polífagos e nas proximidades da área cultivada com aceroleira há diversas culturas, como abacate, manga e milho, muitas espécies podem migrar de uma cultura para outra buscando atender suas exigências nutricionais o que aumenta a diversidade na área.

Os resultados indicam grande diversidade de espécies de percevejos na aceroleira, em Jaboticabal, SP, e que as espécies Acanthocephala sp., Hyalynemus sp., Machtima crucigera (Fabricius), Euschistus atrox (Westwood), Loxa deducta e Piezodorus guidinii (Westwood) são relatados pela primeira vez na cultura.

AGRADECIMENTOS

Somos gratos à Dra. Jocélia Grazia e ao Dr. José Antonio Marin Fernandes pela identificação dos insetos.

REFERÊNCIAS

  • ALMEIDA, J.E.M. Manejo ecológico de pragas da acerola. In: ALMEIDA, J.E.M. & SOUZA FILHO, M.F. (Eds.). REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 7., 2002, Indaiatuba, SP. Anais São Paulo: Instituto Biológico, 2002. p.119-127.
  • ARAÚJO, P.S.R. & MINAMI, K. Acerola Campinas: Fundação Cargill, 1994. 81p.
  • MONTE, O. Algumas variações nos desenhos e côres de Pachycoris torridus (Scopoli). Campo, v.8, p.71, 1937.
  • SOBRINHO, R.B.; BATISTA, J.L.; GUEVARA, L.A.C.; WARUMBY, J. Pragas da aceroleira. In: SOBRINHO, R.B.; CARDOSO, J.E.; FREIRE, F.C.O. (Eds.). Pragas de fruteiras tropicais de importância agroindustrial Brasília: EMBRAPA, 1998. p.33-40.
  • SOTO, S.S. & NAKANO, O. Ocorrência de Pachycoris torridus (Scopoli) (Hemiptera: Scutelleridae) em acerola (Malpighia glabra L.) no Brasil. Neotropical Entomology, v.31, n.3, p.481-482, 2002.
  • SOUZA FILHO, M.F. & RAGA, A. Relato do ataque deLeptoglossus zonatus e Sphictyrtus chryseis (Het.: Coreidae) em acerola (Malpighia glabra) no Estado de São Paulo. Revista de Agricultura, v.73, n.3, p.315-318, 1998.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2006

Histórico

  • Recebido
    09 Dez 2005
  • Aceito
    11 Jan 2006
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