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Modelo de Kirkwood para fluidos polares puros constituídos de moléculas com polarizabilidades desprezíveis

Kirkwood model for pure polar fluids of non-polarizable molecules

Resumos

Neste artigo, guiamos o leitor ou a leitora à obtenção da equação de Kirkwood para fluidos polares puros de moléculas com polarizabilidades desprezíveis. Tal equação relaciona a constante dielétrica do fluido, sua densidade e sua temperatura ao momento de dipolo permanente de suas moléculas constituintes, e envolve ainda um fator adimensional g – conhecido como fator de correlação de Kirkwood – cujo valor é uma expressão da correlação entre as orientações das moléculas do fluido, na situação de campo elétrico externo nulo. No percurso, buscamos evidenciar ao máximo a semelhança entre o modelo de Kirkwood e o modelo de Onsager aplicado a fluidos polares puros de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis).

Palavras-chave:
modelo de Kirkwood; constante dielétrica; dielétricos


In this paper, we guide the reader to obtain the Kirkwood equation for pure polar fluids of molecules with negligible polarizabilities. Such equation relates the dielectric constant of the fluid, its density and its temperature to the permanent dipole moment of its constituent molecules, and also involves a dimensionless factor g – known as Kirkwood correlation factor – whose value is an expression of the correlation between the orientantions of the molecules of the fluid, in the situation of zero external electric field. Along the way, we seek to show as much as possible the similarity between the Kirkwood model and the Onsager model applied to pure polar fluids of non-polarizable molecules (or with negligible polarizabilities).

Keywords
Kirkwood model; dielectric constant; dielectrics


1. Introdução

Em 1936, Lars Onsager obteve uma equação que relaciona a constante dielétrica ϵr de fluidos polares puros ao módulo p0 do momento de dipolo permanente de suas moléculas constituintes, e também ao índice de refração n, à densidade numérica N e à temperatura absoluta T do meio [11. L. Onsager, Journal of the American Chemical Society 58 , 1486 (1936).]:1 1 Neste artigo, escrevemos todas as equações no Sistema Internacional de Unidades (SI).

( ϵ r - n 2 ) ( 2 ϵ r + n 2 ) ϵ r ( n 2 + 2 ) 2 = N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T ,

sendo k a constante de Boltzmann e ϵ0 a permissividade elétrica do vácuo.

A equação de Onsager e as equações de Debye e de Clausius-Mossotti, que a precederam,2 2 Sendo que a equação de Clausius-Mossotti se aplica apenas a fluidos apolares – ou seja, fluidos cujas moléculas têm momento de dipolo permanente nulo. As equações de Debye e de Onsager recaem na equação de Clausius-Mossotti, no caso de moléculas apolares. fazem parte dos modelos com aproximação de meio contínuo , em que uma única molécula do fluido é modelada como um dipolo em uma cavidade esférica microscópica, e além daquela cavidade o dielétrico é tratado como um meio contínuo (veja a Figura 1). Em um artigo recente [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).], descrevemos esses modelos em detalhes, e dissemos que uma sequência natural, para os que se interessam por teoria de polarização elétrica, consiste no estudo do modelo de Kirkwood-Fröhlich, que de certa forma considera interações de curto alcance em fluidos polares puros, e foi desenvolvido – inicialmente por Kirkwood [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).], tendo recebido depois a contribuição de Fröhlich [44. H. Fröhlich, Theory of Dielectrics – Dielectric Constant and Dielectric Loss (Clarendon Press, Oxford, 1949).] – a partir do modelo de Onsager.

Figura 1
Cavidade esférica microscópica imaginária, de raio a, em um fluido dielétrico (nos modelos com aproximação de meio contínuo). A cavidade contém uma única molécula do fluido, aqui representada por seu momento de dipolo total p (em um determinado instante). Além da cavidade, o dielétrico é modelado como um meio contínuo de permissividade ϵ.

A equação de Kirkwood-Fröhlich,3 3 A equação de Kirkwood-Fröhlich também é apresentada com ϵ∞ – a chamada constante dielétrica característica para a polarização induzida – no lugar de n2. Mas ϵ∞ = n2, como explicamos em nosso artigo anterior [2], no trecho em que introduzimos o índice de refração na equação de Onsager (sendo que, lá, não usamos a notação “ϵ∞”).

( ϵ r - n 2 ) ( 2 ϵ r + n 2 ) ϵ r ( n 2 + 2 ) 2 = N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T g ,

difere da equação de Onsager pela presença do fator adimensional g, denominado fator de correlação de Kirkwood (cujo valor é uma expressão da correlação entre as orientações das moléculas do fluido, na situação de campo elétrico externo nulo), e é uma extensão da equação de Kirkwood,

( ϵ r - 1 ) ( 2 ϵ r + 1 ) 9 ϵ r = N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T g ,

que se aplica apenas a fluidos polares puros de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis). O índice de refração de um meio constituído de moléculas não polarizáveis é igual ao índice de refração do vácuo,4 4 Faça α = 0 na Eq.(39) do nosso artigo anterior [2] – a saber, (n2−1)/(n2 + 2) = Nα/3ϵ0 – e você obterá n = 1. e fazendo n = 1 na equação de Kirkwood-Fröhlich obtemos a equação de Kirkwood. Nesse sentido, a equação de Kirkwood pode ser vista como um caso particular da equação de Kirkwood-Fröhlich, mas, historicamente, primeiro surgiu a equação de Kirkwood. A consideração de polarizabilidades moleculares não nulas no desenvolvimento apresentado por Kirkwood envolve dificuldades técnicas que foram, posteriormente, contornadas por Fröhlich, de modo um tanto criativo. Mas, neste texto, estaremos interessados apenas na equação de Kirkwood, e guiaremos o leitor ou a leitora à sua obtenção.

Organizamos nossa apresentação buscando evidenciar ao máximo a semelhança entre o modelo de Kirkwood e o modelo de Onsager aplicado a fluidos polares puros de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis). Acreditamos que isso contribui para uma melhor compreensão geral desses modelos.

Para evitarmos repetições que levariam a um aumento considerável do tamanho deste artigo, admitiremos que você leu nosso artigo anterior [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).] (e está com ele à mão). Se não leu, e tem interesse no modelo de Kirkwood, saiba que a primeira frase do artigo de Kirkwood [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).] (no resumo) é: “An extension of the Onsager theory of dielectric polarization is presented.” Você esperaria compreender aquele artigo sem nenhum conhecimento prévio sobre o modelo de Onsager? Veja, não estamos dizendo que seria impossível apresentar o modelo de Kirkwood para um público que não conhece o modelo de Onsager, mas esse provavelmente seria um caminho muito mais árduo para todos. Então, se você não é um especialista em teoria de polarização elétrica, tem interesse na área, e não leu nosso artigo anterior, sugerimos fortemente que o leia antes de fazer uma leitura minuciosa deste artigo.

2. Obtendo a Equação de Onsager para o Caso Particular de Moléculas não Polarizáveis

Em nossa jornada para obtenção da equação de Kirkwood para fluidos polares puros constituídos de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis), inicialmente obteremos a equação de Onsager para o caso particular de moléculas não polarizáveis. É claro, se tivéssemos interesse apenas na equação final, bastaria fazermos n = 1 na equação de Onsager, e obteríamos (compare com a equação de Kirkwood)

( ϵ r - 1 ) ( 2 ϵ r + 1 ) 9 ϵ r = N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T ,

que é a equação de Onsager para o caso particular de fluidos polares puros constituídos de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis). Mas o que nos interessa, principalmente, é o desenvolvimento do modelo!

Pois bem, se α = 0, a sequência de quatro passos apresentada em nosso artigo anterior [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).], para a obtenção da equação de Onsager, pode ser simplificada para:

  • Passo 1: Usando mecânica estatística, calcule p0¯ para a molécula na cavidade microscópica da Fig. 1 (com p = p0), e então obtenha

    P = N p 0 ¯ ,

    em que P é o vetor polarização elétrica e N é o número de moléculas por unidade de volume do fluido.

  • Passo 2: Substitua o módulo de P (que será proporcional a E) na igualdade

    ϵ r = 1 + P ϵ 0 E .

Para o cálculo de p0¯ precisaremos obter uma expressão para o campo interno Eint que age sobre a molécula da Fig. 1, com p = p0, mas com a eliminação do passo 2 na sequência de passos de nosso artigo anterior, o passo 1 daquela sequência não precisa mais ficar explícito. O cálculo de Eint já foi realizado em nosso artigo anterior (com p não necessariamente igual a p0), então basta trocarmos p por p0 para obtermos:

(1) E int = G + R ,

com

(2) G = ( 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 ) E

e

(3) R = ( ϵ r - 1 2 ϵ r + 1 ) p 0 2 π ϵ 0 a 3 .

Podemos simplificar as coisas ainda mais, e reunir os dois passos acima em um só:

  • Usando mecânica estatística, calcule p0¯ para a molécula na cavidade microscópica da Fig. 1 (com p = p0), e substitua a expressão obtida na igualdade

    (4) ϵ 0 ( ϵ r - 1 ) E = N p 0 ¯ z ^ ,

    em que z^ é o versor com a direção e o sentido do campo E.5 5 Ou seja, o nosso sistema de coordenadas tem o eixo z com a mesma direção e o mesmo sentido que o campo E.

Calcularemos p0¯ centrando nossa atenção, como antes [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).], na molécula da Fig. 1 (mas agora com p = p0), e consideraremos o restante do fluido (o meio contínuo além da cavidade microscópica) como um reservatório térmico, e, portanto, trabalharemos com o ensemble canônico da mecânica estatística. Temos, então:

(5) p 0 ¯ = r ( p 0 ) r e - β ε r r e - β ε r ,

em que εr é a energia de um determinado estado r da molécula da Fig. 1 (com p = p0), e os somatórios são realizados sobre todos os estados acessíveis àquela molécula. Como sempre, β = 1/kT.

Separando a energia εr em seus termos de energia cinética tr e energia potencial ur, realizando a fatoração usual

e - β ε r = e - β ( t r + u r ) = e - β t r e - β u r ,

e lembrando que o estado r é determinado por coordenadas generalizadas q1,q2,… e por seus momentos associados p1,p2,…, sendo que tr = tp1,p2,…tp, ur = uq1,q2,…uq e (p0)r = (p0)q1,q2,…≡(p0)q, podemos reescrever a igualdade (5) como

(6) p 0 ¯ = p q ( p 0 ) q e β t p e β u q p q e β t p e β u q = ( p e β t p ) ( q ( p 0 ) q e β u q ) ( p e β t p ) ( q e β u q )

Podemos usar o próprio vetor p0 para especificar a configuração da molécula da Fig. 1 (com p = p0, vale sempre lembrar), e, portanto, podemos reescrever a igualdade (6) como

(7) p 0 ¯ = p 0 p 0 e - β u p 0 p 0 e - β u p 0 ,

significando que os somatórios são efetuados sobre todas as orientações possíveis para p0. É claro, como os ângulos θ e ϕ que determinam, em coordenadas esféricas, a orientação de p0 são variáveis contínuas, esses somatórios devem ser substituídos por integrais nessas variáveis. Mas não precisaremos nos ocupar com isso agora.

Vamos obter uma expressão para up0. Estamos considerando que a molécula na cavidade esférica microscópica da Fig. 1 é suficientemente representada por um dipolo rígido com momento de dipolo p0, submetido ao campo Eint = G + R (veja as igualdades (1), (2) e (3)). Mas como R é paralelo a p0, e como a molécula é não polarizável, o campo de reação R não tem qualquer efeito sobre aquela molécula – ou seja, ele não produz nela uma polarização adicional, nem exerce sobre ela torque algum. Por outro lado, G é um campo uniforme. Então temos para up0 a expressão da energia potencial de um dipolo rígido submetido a um campo elétrico uniforme: up0 = −p0G. Portanto, usando a expressão para G (veja a igualdade (2)) obtemos

u p 0 = - ( 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 ) p 0 E ,

que podemos reescrever como

(8) u p 0 = - ξ p 0 E ,

com

(9) ξ 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 .

Substituindo (8) em (7) obtemos:

(10) p 0 ¯ = p 0 p 0 e β ξ p 0 E p 0 e β ξ p 0 E ,

com ξ′ dado em (9).

Observe que usando a igualdade up0 = −p0Eint, em vez de up0 = −p0G, obteríamos

u p 0 = - p 0 E int = - p 0 G - p 0 R = - ( 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 ) p 0 E - ( ϵ r - 1 2 ϵ r + 1 ) p 0 2 2 π ϵ 0 a 3 .

Mas este último termo é constante, e, portanto, sem qualquer significado físico – já que o que importam são as variações da energia potencial, e não seu valor absoluto. De fato, a substituição em (7) desta última expressão para up0 resultaria, após uma simplificação, na mesma expressão obtida em (10) (verifique). É outra forma de ver que o campo de reação não desempenha papel relevante no modelo de Onsager aplicado a fluidos polares puros de moléculas não polarizáveis .

O desenvolvimento a partir da igualdade (10) é idêntico ao apresentado em nosso artigo anterior [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).], entre as igualdades (30) e (35) do mesmo – apenas trocando-se ξ por ξ′, é claro. É importante que você releia aquele trecho. Observe, particularmente, que o cálculo de p0¯ inicialmente nos levou a (agora trocando ξ por ξ′)

(11) p ¯ 0 = p 0 z ^ ( coth ( ξ p 0 E / k T ) - 1 ξ p 0 E / k T ) ,

e apenas para ξp0E/kT≪1 temos, como uma ótima aproximação,

(12) p 0 ¯ ξ p 0 2 3 k T E .

Substituindo (12) em (4) (fazendo uso da expressão para ξ′ em (9)) obtemos, após uma pequena manipulação algébrica,

(13) ( ϵ r - 1 ) ( 2 ϵ r + 1 ) 9 ϵ r = N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T ,

que é a equação de Onsager para o caso particular de fluidos polares puros constituídos de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis).

2.1. Desenvolvimento alternativo

Agora, vamos apresentar um desenvolvimento, entre as igualdades (4) e (13), que se assemelha bastante ao desenvolvimento que irá nos levar, na próxima seção, à equação de Kirkwood. A mudança consiste essencialmente em supormos, logo de início, que a relação entre p0¯ e E é linear para campos de intensidade suficientemente baixa (em vez de realizarmos o cálculo de p0¯ para o caso geral, como fizemos acima, considerando apenas ao final ξp0E/kT≪1 e obtendo, com isso, uma relação linear entre p0¯ e E). Por um lado, trata-se de uma ideia atraente; afinal, se o que nos interessa é uma relação linear entre p0¯ e E, por que não partir da hipótese de que p0¯ é proporcional a E para intensidades de campo suficientemente baixas? Por outro lado, como teríamos certeza de que obteríamos, com a realização do cálculo de p0¯ para o caso geral, uma relação linear entre p0¯ e E, no caso de campos de baixa intensidade? Afinal, alguns sistemas são intrinsecamente não-lineares. Mas como já realizamos o cálculo de p0¯ para o caso geral, e obtivemos que p0¯ é proporcional a E se ξp0E/kT≪1, podemos seguir com segurança por essa via alternativa.6 6 É claro, se no caso geral obtivéssemos, mesmo em primeira aproximação, uma relação intrinsecamente não linear entre p0¯ e E (como, por exemplo, p0¯∝E2⁢E), em certo sentido isso comprometeria o modelo como um todo, pois já na igualdade (4) uma relação linear entre p0¯ e E é esperada (para campos de baixa intensidade). Contudo, essa expectativa não garante que o desenvolvimento nos daria, ao final, uma relação linear entre aquelas duas grandezas. Tudo isso deve ser bem compreendido, e faz parte da discussão inesgotável do que é modelagem em física.

Pois bem, expandindo p0¯z^ (lembrando que z^ é o versor com a direção e o sentido do campo E) em potências de E (E=Ez^) de expoentes não negativos, a partir de E = 0, e tomando apenas os dois primeiros termos (considerando que a intensidade E do campo macroscópico E é suficientemente baixa), obtemos

( p 0 ¯ z ^ ) ( E ) ( p 0 ¯ z ^ ) ( 0 ) + ( p 0 ¯ z ^ ) E | E = 0 E .

Mas, é claro, para E = 0 temos p0¯=0, e, portanto (a partir daqui usando “ = ”, em vez de “≈”),

(14) p 0 ¯ z ^ = ( p 0 ¯ z ^ ) E | E = 0 E .

Esta última igualdade corresponde a

p 0 ¯ = ( p 0 ¯ z ^ ) E | E = 0 E ,

que é a primeira versão para a relação de proporcionalidade que buscamos entre p0¯ e E. Obviamente, queremos chagar à igualdade (12), mas por outro caminho (que será útil para a compreensão do desenvolvimento que levará à equação de Kirkwood, na próxima seção).

Faremos no segundo membro da igualdade (14) – mais especificamente em [(p0¯z^)/E]|E=0 – uma mudança de variável: de E para

G = ( 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 ) E

(veja a igualdade (2)). Pela aplicação da regra da cadeia, obtemos

( p 0 ¯ z ^ ) E | E = 0 = ( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 G E | E = 0 3 ϵ r / ( 2 ϵ r + 1 ) ,

e então podemos reescrever a igualdade (14) como

(15) p 0 ¯ z ^ = ( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 ( 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 ) E .

Esta mudança de variável se justifica porque o cálculo de p0¯ envolve Eint – mais especificamente G7 7 Lembre-se que o campo de reação R não tem qualquer efeito sobre uma molécula não polarizável. -, em vez de E.

Convém, neste ponto, combinarmos as igualdades (4) e (15), e com isso obtemos:

(16) ( ϵ r - 1 ) ( 2 ϵ r + 1 ) 9 ϵ r = N 3 ϵ 0 ( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 .

Para verificar a consistência de nosso desenvolvimento até este ponto, substitua (12) (observando que ξE = G) em (16), e verifique que com isso obtemos a equação de Onsager para o caso particular de fluidos polares puros constituídos de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis) – ou seja, a equação (13). Mas, é claro, não faz parte desse desenvolvimento alternativo o uso da expressão para p0¯ em (12). O que faremos a seguir será trabalhar a quantidade [(p0¯z^)/G]|G=0 sem a realização de um cálculo explícito de p0¯ – que é o que estamos evitando .8 8 Esta nota de rodapé destina-se aos leitores que podem ter levantado a seguinte questão: no teste de consistência acima, não teria sido mais adequado substituirmos em (16) não a expressão para p0¯ em (12), mas aquela em (11)? De fato, mas a confusão que pode surgir ao fazermos isto é que embora L(x)≡coth⁡x−1/x possua derivada para x = 0, as funções coth⁡x e 1/x não possuem, e, com isso, não podemos aplicar a regra da diferença para o cálculo de derivadas. Sabemos que L(x) – a chamada função de Langevin – possui derivada para x = 0 porque coth⁡x pode ser expandida em série (de Laurent) como coth⁡x = 1/x + x/3−x3/45 + 2x5/945−x7/4725 + ⋯, e o termo 1/x, que faz com que coth⁡x não tenha derivada para x = 0, é cancelado na diferença coth⁡x−1/x, que define L(x).

Tomando o produto interno, com z^, de ambos os membros da igualdade (10) (reescrita de forma ligeiramente diferente) obtemos

(17) p 0 ¯ z ^ = 1 Z p 0 ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ,

com

(18) Z p 0 e - β u p 0

e (veja a igualdade (8), e lembre-se que ξE = G)

(19) u p 0 = - p 0 G = - ( p 0 z ^ ) G = - ( p 0 cos θ ) G ,

em que θ é o ângulo entre p0 e z^ (ou, equivalentemente, entre p0 e G). Estamos escrevendo a expressão para p0¯z^ em (17) daquela forma buscando um máximo de semelhança entre este desenvolvimento e o que será apresentado na próxima seção.

A partir de (17), obtemos:

( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 = ( - 1 Z 2 Z G p 0 ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ) | G = 0 + ( 1 Z p 0 G [ ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ] ) | G = 0 .

Vamos mostrar que o primeiro dos dois termos no segundo membro, acima, é nulo:

( - 1 Z 2 Z G p 0 ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ) | G = 0 = ( - 1 Z Z G 1 Z p 0 ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ) | G = 0 = ( - 1 Z Z G p 0 z ^ ¯ ) | G = 0 = ( - 1 Z Z G ) | G = 0 ( p 0 z ^ ¯ ) | G = 0 = 0 ,

pois

( p 0 z ^ ¯ ) | G = 0 = ( p 0 ¯ z ^ ) | E = 0 = ( p 0 ¯ | E = 0 ) 0 z ^ z ^ = 0 .

Segue então que

( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 = ( 1 Z p 0 G [ ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ] ) | G = 0 .

Temos, no segundo membro da igualdade acima:

G [ ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 ] = [ G ( p 0 z ^ ) ] e - β u p 0 + ( p 0 z ^ ) e - β u p 0 [ - β u p 0 G ] ;

mas

G ( p 0 z ^ ) = ( p 0 G ) z ^ = 0 ,

pois p0 não é função de G.9 9 Um ponto como este não seria tão simples se estivéssemos considerando polarizabilidades moleculares não-nulas (ou não desprezíveis), percebe? Segue que

(20) ( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 = - β ( 1 Z p 0 ( p 0 z ^ ) u p 0 G e - β u p 0 ) | G = 0

e, como up0/G=-(p0z^)=-p0cosθ (veja a igualdade (19)), obtemos

( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 = β ( 1 Z p 0 ( p 0 z ^ ) 2 ( p 0 cos θ ) 2 e - β u p 0 ) | G = 0 = p 0 2 k T ( 1 Z p 0 cos 2 θ e - β u p 0 ) | G = 0 = p 0 2 k T ( cos 2 θ ¯ ) | G = 0 .

Só falta, então, calcularmos o valor médio de cos2θ, avaliado para G = 0 – o que simplifica o cálculo, porque com G = 0 temos eβup0 = 1, e, assim, trata-se de uma média simples. Em coordenadas esféricas (trocando o somatório em p0 por integrais), temos

( cos 2 θ ¯ ) | G = 0 = 0 2 π 0 π cos 2 θ sen θ d θ d ϕ 0 2 π 0 π sen θ d θ d ϕ = 1 3 ,

como você pode facilmente verificar, e então

(21) ( p 0 ¯ z ^ ) G | G = 0 = p 0 2 3 k T .

Substituindo (21) em (16), obtemos finalmente a igualdade (13).

3. Obtendo a Equação de Kirkwood

Sabemos que para o cálculo do campo interno (Eint) do modelo de Onsager a molécula considerada é imaginada em uma cavidade esférica microscópica, e além de tal cavidade o fluido dielétrico é modelado como um meio contínuo (veja a Fig. 1). Como dissemos em nosso artigo anterior [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).], rigorosamente isso não faz sentido – especialmente se considerarmos as moléculas mais próximas da molécula na cavidade imaginária. Kirkwood procurou melhorar essa modelagem [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).], ao substituir a cavidade microscópica da Fig. 1 por uma “cavidade macroscópica”, ilustrada aqui na Fig. 2. O termo “cavidade”, neste caso, talvez não seja o mais adequado. Podemos, simplesmente, dizer que no modelo de Kirkwood as moléculas do fluido dielétrico são tratadas de forma discreta no interior da uma pequena esfera macroscópica, de raio amacro, e além dessa esfera o fluido é modelado como um meio contínuo. Por outro lado, uma limitação do modelo de Kirkwood (posteriormente contornada por Fröhlich) é que seu desenvolvimento se aplica apenas a moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis), e, assim, cada molécula no interior da esfera macroscópica da Fig. 2 é inicialmente descrita apenas como um momento de dipolo permanente, de módulo p0.

Figura 2
Esfera macroscópica imaginária relativa ao modelo de Kirkwood para fluidos polares puros. As 𝒩 moléculas dentro da esfera são aqui apresentadas como dipolos permanentes (explicitados, nesta figura, em número bastante reduzido, é claro), e fora dela o dielétrico é modelado como um meio contínuo.

Seja M o momento de dipolo total da porção do fluido na esfera ilustrada na Fig. 2, de volume 𝒱. Considerando o fluido submetido a um campo externo que resulta em um campo macroscópico uniforme E no mesmo, e também que o meio é linear, podemos expressar sua polarização elétrica como10 10 Tratando-se de uma porção macroscópica de um fluido homogêneo submetido a um campo elétrico uniforme e constante no tempo, M é constante – a menos de flutuações estatísticas ínfimas. Assim, na igualdade P=M¯/𝒱 poderíamos escrever M, em vez de M¯, como frequentemente é o caso para certas grandezas termodinâmicas (pressão, por exemplo). Mas porque no desenvolvimento do modelo de Kirkwood são realizadas manipulações relativas ao cálculo da média de M, é necessário trabalharmos com M¯, em vez de M.

P = M ¯ 𝒱 ,

e adaptar os Passos 1′ e 2′ da seção anterior (agora visando a obtenção da equação de Kirkwood) para:

  • Passo 1: Usando mecânica estatística, calcule M¯ para o fluido na esfera macroscópica da Fig. 2, e então obtenha

    P = M ¯ 𝒱 = N M ¯ N 𝒱 = N M ¯ 𝒩 ,

    em que N é o número de moléculas por unidade de volume do fluido e 𝒩 é o número de moléculas na esfera macroscópica.

  • Passo 2: Substitua o módulo de P (que, supõe-se, é proporcional a E) na igualdade

    ϵ r = 1 + P ϵ 0 E .

Como antes, podemos reunir esses dois passos em um só:

  • Usando mecânica estatística, calcule M¯ para o fluido na esfera macroscópica da Fig. 2, e substitua a expressão obtida na igualdade

    (22) ϵ 0 ( ϵ r - 1 ) E = N 𝒩 M ¯ z ^ ,

    em que z^ é o versor com a direção e o sentido do campo macroscópico E.

Perceba que a igualdade (22) recai na igualdade (4) no caso particular em que 𝒩 = 1 (e sempre que fizermos 𝒩 = 1, estaremos fazendo também amacro = a, ou seja, estaremos reduzindo a esfera macroscópica da Fig. 2 à cavidade microscópica da Fig. 1).

Agora, seguiremos um desenvolvimento muito semelhante ao desenvolvimento alternativo apresentado na seção anterior – evitando, assim, a tentativa de um cálculo explícito de M¯. Destacaremos em que pontos aquele desenvolvimento corresponde a um caso particular do que veremos a seguir, e em que pontos há diferenças cruciais. Com isso, acreditamos que estaremos contribuindo não apenas para deixar mais clara a relação entre os modelos de Onsager e Kirkwood, mas também para uma melhor compreensão do próprio modelo de Kirkwood.

Expandindo M¯z^ (lembrando que z^ é o versor com a direção e o sentido do campo E) em potências de E (E=Ez^) de expoentes não negativos, a partir de E = 0, e tomando apenas os dois primeiros termos (considerando que a intensidade E do campo macroscópico E é suficientemente baixa), obtemos

( M ¯ z ^ ) ( E ) ( M ¯ z ^ ) ( 0 ) + ( M ¯ z ^ ) E | E = 0 E .

Mas para E = 0 temos M¯=0, e, portanto (a partir daqui usando “ = ”, em vez de “≈”),

(23) M ¯ z ^ = ( M ¯ z ^ ) E | E = 0 E .

É claro, a igualdade (14) é um caso particular da igualdade (23), para 𝒩 = 1.

O próximo passo consiste em fazermos, no segundo membro da igualdade (23) – mais especificamente em [(M¯z^)/E]|E=0 –, uma mudança de variável.

A motivação para a realização de uma mudança de variável em [(M¯z^)/E]|E=0 é que o cálculo de M¯ não envolve diretamente o campo E, mas o campo Emacro que age sobre as moléculas na esfera macroscópica da Fig. 2. Sendo Emacro uma função de E, com Emacro = 0 para E = 0, podemos reescrever a igualdade (23) como

M ¯ z ^ = ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 E macro E | E = 0 E ,

e combinando-a com a igualdade (22) obtemos

(24) ϵ 0 ( ϵ r - 1 ) = N 𝒩 ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 E macro E | E = 0 .

Kirkwood [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).] considerou Emacro = G, que é o campo de cavidade gerado pelo meio contínuo da Fig. 2. Assim, temos, no modelo de Kirkwood:

(25) E macro = G = ( 3 ϵ r 2 ϵ r + 1 ) E .

Pois bem, substituindo (25) em (24) obtemos

( ϵ r - 1 ) ( 2 ϵ r + 1 ) 9 ϵ r = N 3 ϵ 0 1 𝒩 ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = N 3 ϵ 0 1 𝒩 ( M ¯ z ^ ) G | G = 0 .

Agora, vamos trabalhar a quantidade

( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = ( M ¯ z ^ ) G | G = 0 ,

em (3), de modo semelhante a como trabalhamos, na seção anterior, a quantidade [(p0¯z^)/G]|G=0.

O primeiro passo consiste em obtermos uma expressão para M¯ – sem, contudo, termos a pretensão de realizar um cálculo explícito dessa média. Trabalhando com o ensemble canônico da mecânica estatística, considerando o meio dielétrico além da esfera macroscópica da Fig. 2 como o reservatório térmico, podemos escrever (compare com a igualdade (5)):

M ¯ = r M r e - β ε r r e - β ε r ,

em que εr é a energia de um determinado microestador do sistema de dipolos permanentes da Fig. 2, e os somatórios são realizados sobre todos os microestados acessíveis àquele sistema. Um desenvolvimento semelhante ao apresentado entre as igualdades (5) e (7) nos leva a

(27) M ¯ = p 0 1 , p 0 2 , M p 0 1 , p 0 2 , e - β u p 0 1 , p 0 2 , p 0 1 , p 0 2 , e - β u p 0 1 , p 0 2 , ,

em que a sequência p01,p02, – que é uma abreviação para p01,p02,,p0𝒩 – indica um determinado microestado do sistema de dipolos permanentes da Fig. 2. Estamos considerando, no modelo, os 𝒩 dipolos em posições fixas (apenas livres para rotacionar), mas, alternativamente, podemos dar a cada um desses dipolos 3 graus de liberdade adicionais, permitindo-os transladar pela região esférica macroscópica ilustrada na Fig. 2. Neste caso, a sequência p01,p02,,p0𝒩, que indica um determinado microestado do sistema de dipolos permanentes da Fig. 2, deve ser substituída pela sequência (r1,p01),(r2,p02),,(r𝒩,p0𝒩), em que ri é o vetor posição do i-ésimo dipolo. Mas é possível mostrar que tal substituição não levaria a qualquer mudança fundamental nos resultados que serão obtidos nesta e na próxima seção. Continuando, podemos expressar up01,p02, como a soma de dois grandes termos: a energia udipdip de interação entre os dipolos permanentes na esfera macroscópica da Fig. 2, e a energia udipEmacro de interação desses dipolos com o campo Emacro – lembrando que, no modelo de Kirkwood, Emacro = G. Assim, temos:

(28) u p 0 1 , p 0 2 , = u dip - dip + u dip - E macro ,

com (observando que Emacro é um campo uniforme)

u d i p E m a c r o = p 0 1 E m a c r o p 0 2 E m a c r o + = ( p 0 1 + p 0 2 + ) E m a c r o = M p 0 1 , p 0 2 , E m a c r o = M p 0 1 , p 0 2 , E m a c r o z ^ = ( M p 0 1 , p 0 2 , z ^ ) E m a c r o .

Portanto,

(29) u p 0 1 , p 0 2 , = u dip - dip - ( M p 0 1 , p 0 2 , z ^ ) E macro .

Tomando o produto escalar com z^ de ambos os membros da igualdade (27), obtemos:

(30) M ¯ z ^ = 1 Z p 0 1 , p 0 2 , ( M p 0 1 , p 0 2 , z ^ ) e - β u p 0 1 , p 0 2 , ,

com

(31) Z = p 0 1 , p 0 2 , e - β u p 0 1 , p 0 2 , .

As igualdades (30) e (31), com a expressão para up01,p02, em (29), e que são válidas para 𝒩⋙1, correspondem às igualdades (17) e (18) (nas quais temos 𝒩 = 1).

Um desenvolvimento muito semelhante ao que nos levou, na seção anterior, da igualdade (17) à igualdade (20), nos leva da igualdade (30) a

(32) ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = - β Z p 0 1 , ( M p 0 1 , z ^ ) u p 0 1 , E macro e - β u p 0 1 , | E macro = 0 .

Ao realizar esse desenvolvimento, observe, particularmente, que

( M z ^ ¯ ) | E macro = 0 = ( M ¯ z ^ ) | E = 0 = ( M ¯ | E = 0 ) 0 z ^ z ^ = 0 ,

e que

E macro ( M p 0 1 , p 0 2 , z ^ ) = ( M p 0 1 , p 0 2 , E macro ) z ^ = ( p 0 1 E macro + p 0 2 E macro + ) z ^ = 0 ,

pois p01, p02, … não são funções de Emacro.11 11 Novamente, um ponto como este não seria tão simples se estivéssemos considerando polarizabilidades moleculares não-nulas (ou não desprezíveis).

Substituindo (29) em (32) obtemos (e a partir daqui você observará diferenças interessantes em relação ao desenvolvimento realizado no final da seção anterior, para o caso 𝒩 = 1):

(33) ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = β ( 1 Z p 0 1 , ( M p 0 1 , z ^ ) 2 e - β u p 0 1 , ) | E macro = 0 = β ( M z ^ ) 2 ¯ | E macro = 0 .

Sendo θp01,p02, o ângulo entre os vetores Mp01,p02, e z^, temos

M p 0 1 , p 0 2 , z ^ = ( M p 0 1 , p 0 2 , ) cos ( θ p 0 1 , p 0 2 , ) ,

e podemos então reescrever a igualdade (33) como

(34) ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = β M 2 cos 2 θ ¯ | E macro = 0 = β ( M 2 | E macro = 0 ) ( cos 2 θ | E macro = 0 ) ¯ .

Agora, perceba que as variáveis M2|Emacro = 0 e cos2θ|Emacro = 0 são estatisticamente independentes ,12 12 Na ausência do campo Emacro, não há orientação preferencial para o vetor M. e assim a média de seu produto é igual ao produto de suas médias, e portanto podemos reescrever a igualdade (34) como

( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = β ( M 2 | E macro = 0 ¯ ) ( cos 2 θ | E macro = 0 ¯ ) .

Porque não há, com Emacro = 0, orientação preferencial para M, o cálculo desta última média é idêntico ao realizado para (cos2θ¯)|G=0 no final da seção anterior. Temos, então,

cos 2 θ | E macro = 0 ¯ = 1 3 ,

e com isso obtemos

(35) ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = 1 3 k T ( M 2 ) 0 ¯ ,

em que usamos a abreviação (M2)0¯ para M2|Emacro=0¯. No caso 𝒩 = 1 temos, no lugar de (M2)0¯, p02, e a igualdade (35) recai na igualdade (21).

Vamos trabalhar a média no segundo membro da igualdade (35). Temos:

( M 2 ) 0 ¯ = ( M M ) 0 ¯ = [ ( i = 1 𝒩 p 0 i ) ( j = 1 𝒩 p 0 j ) ] 0 ¯ = ( i = 1 𝒩 j = 1 𝒩 p 0 i p 0 j p 0 2 cos θ i j ) 0 ¯ = p 0 2 i = 1 𝒩 j = 1 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ ,

em que θij é o ângulo entre os vetores p0i e p0j, em um determinado sistema do ensemble (ou em um determinado instante, considerando-se a hipótese ergódica ). Assim, para ij, (cosθij)0¯é a média, no ensemble,13 13 Lembre-se que estamos trabalhando com o ensemble canônico, considerando como o reservatório térmico o meio dielétrico além da esfera macroscópica da Fig. 2. do cosseno do ângulo entre dois dipolos i e j na esfera macroscópica da Fig. 2, com Emacro = 0 (ou seja, com o capacitor descarregado). E para i = j temos, é claro, (cosθij)0¯=1. Definindo

(36) g 1 𝒩 i = 1 𝒩 j = 1 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ ,

que é o chamado fator de correlação de Kirkwood (ou fator g de Kirkwood ), podemos reescrever:

( M 2 ) 0 ¯ = 𝒩 p 0 2 g ,

e com isso a igualdade (35) fica:14 14 Não resistimos citar, aqui, o seguinte trecho do livro Física Moderna para iniciados, interessados e aficionados [5], de Ivan S. Oliveira, pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas: “Em física é assim: tratamos com pompa e detalhes matemáticos o que conhecemos; ao que não conhecemos associamos uma letra qualquer, damos um nome pomposo, e incluímos nos cálculos. É bárbaro!” O autor estava se referindo (na página 144 do volume 1) ao conceito de massa efetiva , mas a citação reflete bem o espírito da introdução do fator de correlação de Kirkwood no desenvolvimento de seu modelo, já que seu cálculo deve ser feito à parte, e pode ser bastante desafiador. Mas, frequentemente, é assim que os físicos trabalham, quando desenvolvem modelos. Discutiremos o fator g na próxima seção.

(37) ( M ¯ z ^ ) E macro | E macro = 0 = 𝒩 p 0 2 3 k T g .

Substituindo (37) em (3) obtemos15 15 Perceba que todo o desenvolvimento que realizamos após a igualdade (3) não envolve a expressão para Emacro. A única exigência feita, após a igualdade (3), foi Emacro ser um campo uniforme.

(38) ( ϵ r - 1 ) ( 2 ϵ r + 1 ) 9 ϵ r = N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T g ,

que é a equação de Kirkwood para fluidos polares puros de moléculas não polarizáveis (ou com polarizabilidades desprezíveis).

4. Sobre o Fator de Correlação de Kirkwood (g)

O fator de correlação de Kirkwood, definido através da relação (36), pode ser pensado como uma expressão da correlação entre as orientações das moléculas do fluido, na situação de campo elétrico externo nulo.

Na ausência de correlação, temos (cosθij)0¯=δij – ou seja, (cosθij)0¯=0, se ij, e (cosθij)0¯=1, se i = j (tratando-se, neste caso, de um mesmo dipolo), e assim obtemos:

(39) g = 1 𝒩 i = 1 𝒩 j = 1 𝒩 δ i j = 1 𝒩 i = 1 𝒩 1 = 𝒩 𝒩 = 1 .

Motivados por este resultado, e observando que com ou sem correlação temos (cosθii)0¯=1 (já que se trata de um mesmo dipolo), podemos escrever, a partir de (36):

(40) g = 1 𝒩 i = 1 𝒩 ( ( cos θ i i ) 0 ¯ + j i 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ ) = 1 + 1 𝒩 i = 1 𝒩 j i 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ .

Se (cosθij)0¯>0 (com ij), temos g > 1.

O valor de

j i 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ ,

em (40), depende do dipolo i considerado? Em uma primeira análise, podemos imaginar que sim, porque deve fazer diferença se o dipolo i está, por exemplo, próximo à borda da esfera da Fig. 2 ou próximo ao seu centro. Nestes dois casos, o dipolo i “enxerga” de formas distintas os demais dipolos na esfera macroscópica. Contudo, se, na situação de campo elétrico externo nulo, é desprezível a correlação entre as orientações de moléculas do fluido distantes entre si por alguns diâmetros moleculares (como é típico para líquidos), e lembrando que o valor de 𝒩 é bastante elevado (já que é macroscópica a esfera da Fig. 2), então o valor de ji𝒩(cosθij)0¯ não depende (com ótima aproximação) de i, e pode ser reescrito como ji𝒩~(cosθij)0¯, sendo 𝒩~ o número de dipolos j vizinhos ao dipolo i tais que (cosθij)0¯0. Para líquidos típicos temos, deve estar claro, 𝒩~𝒩. Com essas considerações obtemos, a partir de (40):

(41) g 1 + 1 𝒩 ( 𝒩 j i 𝒩 ~ ( cos θ i j ) 0 ¯ ) = 1 + j i 𝒩 ~ ( cos θ i j ) 0 ¯ ,

em que i é um dipolo qualquer na esfera macroscópica da Fig. 2 (e, por isso mesmo, pode ser pensado como o dipolo no centro daquela esfera), correlacionado, em termos de orientação, com apenas 𝒩~ dipolos vizinhos.

É interessante observar que podemos reescrever a relação (36) como

g = 1 𝒩 i = 1 𝒩 g i = g i ¯ ,

com

g i j = 1 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ .

Se gi é aproximadamente independente de i, temos gi¯gi, e, portanto,

g j = 1 𝒩 ( cos θ i j ) 0 ¯ ,

o que reproduz (com 𝒩 substituído por 𝒩~, e com o termo (cosθii)0¯=1 explicitado) a aproximação em (41).

Se a correlação entre as orientações das moléculas do fluido (na situação de campo elétrico externo nulo) já é desprezível além de suas z “primeiras vizinhas”, e se (cosθij)0¯ independe de qual é a primeira vizinha considerada, obtemos (como fez Kirkwood em seu artigo [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).]) uma aproximação ainda mais simples para g (veja (41)):

(42) g 1 + z ( cos θ i j ) 0 ¯ ,

em que i e j denotam duas moléculas que são primeiras vizinhas.

Em 1933, Bernal e Fowler, da Universidade de Cambridge, publicaram um artigo intitulado “A theory of water and ionic solution, with particular reference to hydrogen and hydroxyl ions” [66. J.D. Bernal e R.H. Fowler, The Journal of Chemical Physics 1 , 515 (1933).], no qual propõem um modelo para a molécula de água (a partir de dados espectroscópicos) e para a estrutura interna da água líquida, e então deduzem várias propriedades para este líquido e para soluções iônicas. Kirkwood [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).] extraiu daquele trabalho (para água líquida a temperaturas acima de 4 graus Celsius) z = 4 (lembrando que z, em (42), é o número de primeiras vizinhas de uma molécula de água, no estado líquido16 16 Esse número é denominado “número de coordenação”. ) e, indiretamente, (cosθij)0¯=0,41, e com isso obteve (usando a aproximação em (42)) g≈2,64.17 17 Como curiosidade, saiba que Kirkwood não fez uso, em seu artigo [3], da letra “g” ou de qualquer outra letra para representar a quantidade à qual ela se refere. Mas hoje esta é a letra usada por todos os pesquisadores, quando se referem àquela quantidade. Não à toa o fator de correlação de Kirkwood (g) é também denominado “fator g de Kirkwood”.

Um cálculo de g bem mais recente, e muito mais complexo, para água líquida foi realizado por Zhang, Hutter e Sprik [77. C. Zhang, J. Hutter e M. Sprik, The Journal of Physical Chemistry Letters 7 , 2696 (2016).] (Zhang e Sprik também da Universidade de Cambridge, e Hutter da Universidade de Zurique). Eles fizeram uso de métodos computacionais avançados, envolvendo a chamada teoria do funcional da densidade (uma teoria quântica muito usada na investigação da estrutura eletrônica ou nuclear – principalmente do estado fundamental – de sistemas de muitos corpos, em particular átomos, moléculas e fases condensadas). Obtiveram g≈2,2 -- um valor não tão diferente daquele obtido por Kirkwood 77 anos antes.18 18 Consideramos interessante frisar, para os estudantes menos experientes, que o cálculo de g para a água realizado por Zhang e colaboradores [7], e mesmo o cálculo de g realizado por Kirkwood [3], e partir do trabalho de Bernal e Fowler [6], não se limita ao uso da eletrodinâmica clássica e da mecânica estatística clássica (que foram suficientes para a obtenção da equação de Kirkwood). Isso é muito interessante, e contribui para o entendimento de como a física “funciona”, de como os físicos trabalham.

O momento de dipolo permanente de uma molécula de água (isolada) tem módulo p0≈6,14×10−30C⋅m, e para água pura a 1 atm e 20oC (T = 293K) temos N≈3,34×1028m−3. Com estes valores, a quantidade adimensional no segundo membro de (38) fica:

(43) N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T g 10 , 3 , para g = 2 , 64 ,

e

(44) N 3 ϵ 0 p 0 2 3 k T g 8 , 60 , para g = 2 , 20 .

Substituindo os dois valores acima no segundo membro da igualdade (38), e resolvendo a equação resultante para ϵr, obtemos, respectivamente, ϵr≈46,9 (para g = 2,64) e ϵr≈39,2 (para g = 2,20). São valores ainda distantes do valor experimental para a constante dielétrica da água (ϵr≈80), mas são bem melhores que o valor que obtemos a partir da equação de Onsager (igualdade (13)), que é ϵr≈18,1.

5. Conclusão

Neste artigo, guiamos o leitor ou a leitora à obtenção da equação de Kirkwood para fluidos polares puros de moléculas com polarizabilidades desprezíveis – a equação (38). No percurso, buscamos evidenciar ao máximo a semelhança entre o modelo de Kirkwood e o modelo de Onsager, aplicado a fluidos polares puros de moléculas com polarizabilidades desprezíveis. Pensamos que esta é uma contribuição pedagógica relevante, uma vez que o modelo de Kirkwood é apresentado, pelo mesmo [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).], como uma extensão do modelo de Onsager, mas a semelhança entre os dois modelos é difícil de ser enxergada no artigo de Kirkwood.

Agradecimentos

Agradecemos à FACEPE pela bolsa de Iniciação Científica concedida a Adonias Barros, e ao professor Gustavo Camelo Neto, da UFPE, pela leitura crítica de uma versão inicial deste artigo.

References

  • 1.
    L. Onsager, Journal of the American Chemical Society 58 , 1486 (1936).
  • 2.
    A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).
  • 3.
    J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).
  • 4.
    H. Fröhlich, Theory of Dielectrics – Dielectric Constant and Dielectric Loss (Clarendon Press, Oxford, 1949).
  • 5.
    I.S. Oliveira, Física Moderna para iniciados, interessados e aficionados (Editora Livraria da Física, São Paulo, 2005), v. 1.
  • 6.
    J.D. Bernal e R.H. Fowler, The Journal of Chemical Physics 1 , 515 (1933).
  • 7.
    C. Zhang, J. Hutter e M. Sprik, The Journal of Physical Chemistry Letters 7 , 2696 (2016).
  • 1
    Neste artigo, escrevemos todas as equações no Sistema Internacional de Unidades (SI).
  • 2
    Sendo que a equação de Clausius-Mossotti se aplica apenas a fluidos apolares – ou seja, fluidos cujas moléculas têm momento de dipolo permanente nulo. As equações de Debye e de Onsager recaem na equação de Clausius-Mossotti, no caso de moléculas apolares.
  • 3
    A equação de Kirkwood-Fröhlich também é apresentada com ϵ – a chamada constante dielétrica característica para a polarização induzida – no lugar de n2. Mas ϵ = n2, como explicamos em nosso artigo anterior [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).], no trecho em que introduzimos o índice de refração na equação de Onsager (sendo que, lá, não usamos a notação “ϵ”).
  • 4
    Faça α = 0 na Eq.(39) do nosso artigo anterior [22. A. Barros e P. Peixoto, Revista Brasileira de Ensino de Física 42 , e20200152 (2020).] – a saber, (n2−1)/(n2 + 2) = /3ϵ0 – e você obterá n = 1.
  • 5
    Ou seja, o nosso sistema de coordenadas tem o eixo z com a mesma direção e o mesmo sentido que o campo E.
  • 6
    É claro, se no caso geral obtivéssemos, mesmo em primeira aproximação, uma relação intrinsecamente não linear entre p0¯ e E (como, por exemplo, p0¯E2E), em certo sentido isso comprometeria o modelo como um todo, pois já na igualdade (4) uma relação linear entre p0¯ e E é esperada (para campos de baixa intensidade). Contudo, essa expectativa não garante que o desenvolvimento nos daria, ao final, uma relação linear entre aquelas duas grandezas. Tudo isso deve ser bem compreendido, e faz parte da discussão inesgotável do que é modelagem em física.
  • 7
    Lembre-se que o campo de reação R não tem qualquer efeito sobre uma molécula não polarizável.
  • 8
    Esta nota de rodapé destina-se aos leitores que podem ter levantado a seguinte questão: no teste de consistência acima, não teria sido mais adequado substituirmos em (16) não a expressão para p0¯ em (12), mas aquela em (11)? De fato, mas a confusão que pode surgir ao fazermos isto é que embora L(x)≡cothx−1/x possua derivada para x = 0, as funções cothx e 1/x não possuem, e, com isso, não podemos aplicar a regra da diferença para o cálculo de derivadas. Sabemos que L(x) – a chamada função de Langevin – possui derivada para x = 0 porque cothx pode ser expandida em série (de Laurent) como cothx = 1/x + x/3−x3/45 + 2x5/945−x7/4725 + ⋯, e o termo 1/x, que faz com que cothx não tenha derivada para x = 0, é cancelado na diferença cothx−1/x, que define L(x).
  • 9
    Um ponto como este não seria tão simples se estivéssemos considerando polarizabilidades moleculares não-nulas (ou não desprezíveis), percebe?
  • 10
    Tratando-se de uma porção macroscópica de um fluido homogêneo submetido a um campo elétrico uniforme e constante no tempo, M é constante – a menos de flutuações estatísticas ínfimas. Assim, na igualdade P=M¯/𝒱 poderíamos escrever M, em vez de M¯, como frequentemente é o caso para certas grandezas termodinâmicas (pressão, por exemplo). Mas porque no desenvolvimento do modelo de Kirkwood são realizadas manipulações relativas ao cálculo da média de M, é necessário trabalharmos com M¯, em vez de M.
  • 11
    Novamente, um ponto como este não seria tão simples se estivéssemos considerando polarizabilidades moleculares não-nulas (ou não desprezíveis).
  • 12
    Na ausência do campo Emacro, não há orientação preferencial para o vetor M.
  • 13
    Lembre-se que estamos trabalhando com o ensemble canônico, considerando como o reservatório térmico o meio dielétrico além da esfera macroscópica da Fig. 2.
  • 14
    Não resistimos citar, aqui, o seguinte trecho do livro Física Moderna para iniciados, interessados e aficionados [55. I.S. Oliveira, Física Moderna para iniciados, interessados e aficionados (Editora Livraria da Física, São Paulo, 2005), v. 1.], de Ivan S. Oliveira, pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas: “Em física é assim: tratamos com pompa e detalhes matemáticos o que conhecemos; ao que não conhecemos associamos uma letra qualquer, damos um nome pomposo, e incluímos nos cálculos. É bárbaro!” O autor estava se referindo (na página 144 do volume 1) ao conceito de massa efetiva , mas a citação reflete bem o espírito da introdução do fator de correlação de Kirkwood no desenvolvimento de seu modelo, já que seu cálculo deve ser feito à parte, e pode ser bastante desafiador. Mas, frequentemente, é assim que os físicos trabalham, quando desenvolvem modelos. Discutiremos o fator g na próxima seção.
  • 15
    Perceba que todo o desenvolvimento que realizamos após a igualdade (3) não envolve a expressão para Emacro. A única exigência feita, após a igualdade (3), foi Emacro ser um campo uniforme.
  • 16
    Esse número é denominado “número de coordenação”.
  • 17
    Como curiosidade, saiba que Kirkwood não fez uso, em seu artigo [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).], da letra “g” ou de qualquer outra letra para representar a quantidade à qual ela se refere. Mas hoje esta é a letra usada por todos os pesquisadores, quando se referem àquela quantidade. Não à toa o fator de correlação de Kirkwood (g) é também denominado “fator g de Kirkwood”.
  • 18
    Consideramos interessante frisar, para os estudantes menos experientes, que o cálculo de g para a água realizado por Zhang e colaboradores [77. C. Zhang, J. Hutter e M. Sprik, The Journal of Physical Chemistry Letters 7 , 2696 (2016).], e mesmo o cálculo de g realizado por Kirkwood [33. J.G. Kirkwood, The Journal of Chemical Physics 7 , 911 (1939).], e partir do trabalho de Bernal e Fowler [66. J.D. Bernal e R.H. Fowler, The Journal of Chemical Physics 1 , 515 (1933).], não se limita ao uso da eletrodinâmica clássica e da mecânica estatística clássica (que foram suficientes para a obtenção da equação de Kirkwood). Isso é muito interessante, e contribui para o entendimento de como a física “funciona”, de como os físicos trabalham.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    13 Jun 2021
  • Revisado
    03 Jul 2021
  • Aceito
    09 Jul 2021
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