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A incidência regional do tromboembolismo venoso no Brasil

Resumo

Contexto

Vários estudos realizados em climas temperados sugerem que há uma variação na incidência de tromboembolismo venoso (TEV) de acordo com as estações climáticas. Entretanto, nenhum estudo foi feito comparando áreas de clima semiárido com áreas de clima temperado.

Objetivos

Analisar se existe correlação entre a incidência do TEV em áreas de clima semiárido e de clima temperado no Brasil.

Métodos

Foi feito um levantamento de dados retrospectivos de pacientes com diagnóstico de TEV no Sistema Único de Saúde de janeiro de 2011 a dezembro de 2014 provenientes dos seguintes estados com clima semiáridos: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, localizados na Região Nordeste do Brasil; e dos seguintes estados com clima temperado: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, localizados na Região Sul do Brasil. Os dados de variação climática foram obtidos do Instituto Nacional de Meteorologia e os dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Resultados

Houve correlação significativa na incidência de casos de TEV em regiões de temperaturas mais baixas (p < 0,001). A Região Sul apresentou temperaturas significativamente menores que as da Região Nordeste (p < 0,001) e apresentou número significativamente maior de casos de TEV do que a Região Nordeste (p < 0,001).

Conclusão

Há mais casos de TEV em regiões de clima temperado, onde as temperaturas são mais baixas. No entanto, pouco ainda é conhecido na literatura sobre a flutuação sazonal e a incidência de TEV. Sendo assim, mais estudos são necessários nessa área.

Palavras-chave:
tromboembolismo venoso; trombose venosa; sazonalidade; clima

Abstract

Background

Several studies conducted in areas with temperate climates have suggested that the incidence of venous thromboembolism (VTE) varies depending on seasonal climatic fluctuations. However, no studies have been conducted comparing areas with semi-arid climate with areas with temperate climates.

Objectives

To analyze whether there is a correlation between the incidence of VTE in areas with semi-arid climates and areas with temperate climates in Brazil.

Methods

Retrospective data were acquired for patients diagnosed with VTE from January 2011 to December 2014 from the Brazilian National Health Service for the following Brazilian states that have semi-arid climates: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, and Rio Grande do Norte (all located in the Northeast Region of Brazil); and the following states with temperate climates: Paraná, Santa Catarina, and Rio Grande do Sul (all located in the South Region of Brazil). Data on climatic variation were obtained from the National Meteorological Institute and population data were obtained from the Brazilian Institute of Geography and Statistics.

Results

There was a significant correlation in the incidence of VTE cases in areas with lower temperatures (p < 0.001). The South Region exhibited significantly lower temperatures than the Northeast Region (p < 0.001) and had a significantly higher number of cases of VTE than the Northeast Region (p < 0.001).

Conclusions

There are more cases of VTE in areas with temperate climates, where temperatures are lower. However, there is still little information in the literature on seasonal fluctuations and incidence of VTE. More studies of this subject are needed.

Keywords:
venous thromboembolism; venous thrombosis; seasonality; climate

INTRODUÇÃO

O tromboembolismo venoso (TEV) é bastante prevalente no mundo, variando de 50 a 200 casos por 100.000 habitantes por ano11 Silverstein MD, Heit JA, Mohr DN, Petterson TM, O’Fallon WM, Melton LJ 3rd. Trends in the incidence of deep vein thrombosis and pulmonary embolism: a 25-year population-based study. Arch Intern Med. 1998;158(6):585-93. PMid:9521222. http://dx.doi.org/10.1001/archinte.158.6.585.
http://dx.doi.org/10.1001/archinte.158.6...

2 Maffei FH. Epidemiologia da trombose venosa profunda e de suas complicações no Brasil. Cir Vasc Angiol. 1998;14:5-8.

3 Fowkes FJ, Price JF, Fowkes FG. Incidence of diagnosed deep vein thrombosis in the general population: systematic review. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2003;25(1):1-5. PMid:12525804. http://dx.doi.org/10.1053/ejvs.2002.1778.
http://dx.doi.org/10.1053/ejvs.2002.1778...
-44 Naess IA, Christiansen SC, Romundstad P, Cannegieter SC, Rosendaal FR, Hammerstrøm J. Incidence and mortality of venous thrombosis: a population-based study. J Thromb Haemost. 2007;5(4):692-9. PMid:17367492. http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.2007.02450.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.20...
. A sazonalidade do TEV tem sido reportada em diversos estudos que foram realizados em áreas de clima temperado11 Silverstein MD, Heit JA, Mohr DN, Petterson TM, O’Fallon WM, Melton LJ 3rd. Trends in the incidence of deep vein thrombosis and pulmonary embolism: a 25-year population-based study. Arch Intern Med. 1998;158(6):585-93. PMid:9521222. http://dx.doi.org/10.1001/archinte.158.6.585.
http://dx.doi.org/10.1001/archinte.158.6...

2 Maffei FH. Epidemiologia da trombose venosa profunda e de suas complicações no Brasil. Cir Vasc Angiol. 1998;14:5-8.

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http://dx.doi.org/10.1053/ejvs.2002.1778...

4 Naess IA, Christiansen SC, Romundstad P, Cannegieter SC, Rosendaal FR, Hammerstrøm J. Incidence and mortality of venous thrombosis: a population-based study. J Thromb Haemost. 2007;5(4):692-9. PMid:17367492. http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.2007.02450.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.20...

5 Stein PD, Kayali F, Olson RE. Analysis of occurrence of venous thromboembolic disease in the four seasons. Am J Cardiol. 2004;93(4):511-3. PMid:14969640. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjcard.2003.10.061.
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjcard.2003...

6 Kleinfelder D, Andrade JL, Schlaad SW, Carvalho FC, Bellen BV. A sazonalidade do tromboembolismo venoso no clima subtropical de São Paulo. J Vasc Bras. 2009;8(1):29-32. http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009005000005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009...

7 Brown HK, Simpson AJ, Murchison JT. The influence of meteorological variables on the development of deep venous thrombosis. Thromb Haemost. 2009;102(4):676-82. PMid:19806252.

8 Gallerani M, Boari B, Toma D, Salmi R, Manfredini R. Seasonal variation in the occurrence of deep vein thrombosis. Med Sci Monit. 2004;10(5):CR191-6. PMid:15114268.

9 Ribeiro DD, Bucciarelli P, Braekkan SK, et al. Seasonal variation of venous thrombosis: a consecutive case series within studies from Leiden, Milan and Tromsø. J Thromb Haemost. 2012;10(8):1704-7. PMid:22681473. http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.2012.04811.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.20...

10 Fink AM, Mayer W, Steiner A. Seasonal variations of deep vein thrombosis and its influence on the location of the thrombus. Thromb Res. 2002;106(2):97-100. PMid:12182906. http://dx.doi.org/10.1016/S0049-3848(02)00094-4.
http://dx.doi.org/10.1016/S0049-3848(02)...

11 Boulay F, Berthier F, Schoukroun G, Raybaut C, Gendreike Y, Blaive B. Seasonal variations in hospital admission for deep vein thrombosis and pulmonary embolism: analysis of discharge data. BMJ. 2001;323(7313):601-2. PMid:11557707. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.323.7313.601.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.323.7313.6...
-1212 Dentali F, Ageno W, Rancan E, et al. Seasonal and monthly variability in the incidence of venous thromboembolism. A systematic review and a meta-analysis of the literature. Thromb Haemost. 2011;106(3):439-47. PMid:21725580. http://dx.doi.org/10.1160/TH11-02-0116.
http://dx.doi.org/10.1160/TH11-02-0116...
. A maioria deles mostra haver maior prevalência em períodos de temperaturas mais baixas.

Entretanto, nenhum estudo foi feito comparando áreas de clima tropical semiárido com áreas de clima temperado. O presente estudo tem com objetivo analisar se existe correlação entre a incidência do TEV em áreas de clima semiárido e de clima temperado no Brasil.

MÉTODOS

Foi feito um levantamento de dados retrospectivos de pacientes com diagnóstico de TEV no banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS)1313 Datasus [site na Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2016 [citado 2016 jun 1]. http://www2.datasus.gov.br.
http://www2.datasus.gov.br...
. Foram selecionados pacientes atendidos de janeiro de 2011 a dezembro de 2014 e provenientes dos seguintes estados com clima semiárido: Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, localizados na Região Nordeste do Brasil; e dos seguintes estados com clima temperado: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, localizados na Região Sul do Brasil.

Os dados climáticos das capitais dos estados supracitados foram obtidos no site oficial do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)1414 Inmet [site na Internet]. Brasília, DF: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 2016 [citado 2016 jun 1]. http://www.inmet.gov.br.
http://www.inmet.gov.br...
durante o mesmo período. Os dados populacionais foram obtidos no site oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)1515 Ibge [site na Internet]. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; 2016 [citado 2016 jun 1]. www.ibge.gov.br..

Os dados foram submetidos a análise estatística usando os testes de Spearman e de Mann-Whitney.

RESULTADOS

Os valores descritivos das temperaturas dos estados avaliados estão na Tabela 1, na qual se pode observar que as medianas das temperaturas dos estados do sul foram mais baixas comparadas com as registradas nos estados do nordeste. Alguns meses não foram incluídos na tabela, pois não havia dados oficiais disponíveis (Tabela 1).

Tabela 1
Valores descritivos das temperaturas nos estados, expressas em graus Celsius.

Os valores descritivos do número de casos de TEV para cada 100.000 habitantes nos estados avaliados estão na Tabela 2. Essa tabela demonstrou que as maiores medianas foram encontradas nos estados da Região Sul.

Tabela 2
Valores descritivos do número de casos de tromboembolismo venoso para cada 100.000 habitantes nos estados avaliados.

Os valores descritivos das médias das temperaturas das regiões avaliadas estão na Tabela 3. Verificou-se que os estados do sul têm uma média de temperatura menor do que a dos estados do nordeste.

Tabela 3
Valores descritivos das médias das temperaturas das regiões, expressas em graus Celsius.

Através do teste não paramétrico de Mann-Whitney, observamos que há diferença significativa entre as regiões em relação à temperatura. A Região Sul apresentou temperaturas significativamente menores que as da Região Nordeste (p < 0,001) (Figura 1).

Figura 1
Variação da média de temperatura entre a Região Nordeste e a Região Sul em graus Celsius.

Os dados populacionais dos estados avaliados foram obtidos do IBGE. A população total da Região Sul era de 27.384.815 pessoas; e a da Região Nordeste era de 36.988.674 pessoas.

Os valores descritivos do número de casos de TEV para cada 100.000 habitantes nas regiões avaliadas estão na Tabela 4. A análise dessa tabela revelou que a mediana da Região Sul é maior do que a da Região Nordeste.

Tabela 4
Valores descritivos do número de casos de tromboembolismo venoso para cada 100.000 habitantes nas regiões avaliadas. n = número de meses de cada Estado avaliado.

Através do teste não paramétrico de Mann-Whitney, observamos que houve diferença significativa entre as regiões em relação ao número de casos de TEV. A Região Sul apresentou um número significativamente maior que a da região nordeste (p < 0,001) (Figura 2).

Figura 2
Casos de tromboembolismo venoso por 100.000 habitantes nas Regiões Nordeste e Sul.

Através do coeficiente de correlação de Spearman, observamos que há correlação negativa e significativa entre temperatura e a taxa de TEV por 100.000 habitantes (r = -0,652; p < 0,001) (Figura 3).

Figura 3
Correlação entre incidência de casos de tromboembolismo venoso para cada 100.000 habitantes e a temperatura em graus Celsius.

DISCUSSÃO

Na literatura, diversos trabalhos correlacionam casos de TEV e a variação climática. No trabalho de Stein et al.55 Stein PD, Kayali F, Olson RE. Analysis of occurrence of venous thromboembolic disease in the four seasons. Am J Cardiol. 2004;93(4):511-3. PMid:14969640. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjcard.2003.10.061.
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjcard.2003...
, foi feito levantamento do banco de dados do National Hospital Discharge Survey durante o período de 1979 e 1999. Foram encontrados 7.682.000 pacientes com TEV, 2.457.000 com tromboembolismo pulmonar e 5.767.000 com TVP, e não foi evidenciada correlação entre variação sazonal e a incidência de TEV55 Stein PD, Kayali F, Olson RE. Analysis of occurrence of venous thromboembolic disease in the four seasons. Am J Cardiol. 2004;93(4):511-3. PMid:14969640. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjcard.2003.10.061.
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjcard.2003...
.

Já o trabalho de Kleinfelder et al.66 Kleinfelder D, Andrade JL, Schlaad SW, Carvalho FC, Bellen BV. A sazonalidade do tromboembolismo venoso no clima subtropical de São Paulo. J Vasc Bras. 2009;8(1):29-32. http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009005000005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009...
, que analisou 955 casos de TEV entre 1996 e 2003, constatou maior incidência nos meses quentes. Por outro lado, Brown et al.77 Brown HK, Simpson AJ, Murchison JT. The influence of meteorological variables on the development of deep venous thrombosis. Thromb Haemost. 2009;102(4):676-82. PMid:19806252., em análise retrospectiva de 37.336 casos durante 20 anos na Escócia, relataram maior incidência de TEV durante o mês mais frio (p < 0,0001). Resultados semelhantes foram obtidos por Gallerani et al.88 Gallerani M, Boari B, Toma D, Salmi R, Manfredini R. Seasonal variation in the occurrence of deep vein thrombosis. Med Sci Monit. 2004;10(5):CR191-6. PMid:15114268. em estudo prospectivo de 1166 casos no Hospital Geral de Ferrara, Itália, que encontrou de maior incidência de TEV no inverno (p < 0,0001). Outros pesquisadores, como Ribeiro et al.99 Ribeiro DD, Bucciarelli P, Braekkan SK, et al. Seasonal variation of venous thrombosis: a consecutive case series within studies from Leiden, Milan and Tromsø. J Thromb Haemost. 2012;10(8):1704-7. PMid:22681473. http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.2012.04811.x.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.20...
, Fink et al.1010 Fink AM, Mayer W, Steiner A. Seasonal variations of deep vein thrombosis and its influence on the location of the thrombus. Thromb Res. 2002;106(2):97-100. PMid:12182906. http://dx.doi.org/10.1016/S0049-3848(02)00094-4.
http://dx.doi.org/10.1016/S0049-3848(02)...
, Boulay et al.1111 Boulay F, Berthier F, Schoukroun G, Raybaut C, Gendreike Y, Blaive B. Seasonal variations in hospital admission for deep vein thrombosis and pulmonary embolism: analysis of discharge data. BMJ. 2001;323(7313):601-2. PMid:11557707. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.323.7313.601.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.323.7313.6...
e Dentali et al.1212 Dentali F, Ageno W, Rancan E, et al. Seasonal and monthly variability in the incidence of venous thromboembolism. A systematic review and a meta-analysis of the literature. Thromb Haemost. 2011;106(3):439-47. PMid:21725580. http://dx.doi.org/10.1160/TH11-02-0116.
http://dx.doi.org/10.1160/TH11-02-0116...
, também constataram maior incidência de casos de TEV no inverno.

Existem alguns fatores e hipóteses que podem ser considerados. Durante os períodos mais quentes, as pessoas tendem a ficar mais sedentárias devido ao excesso de calor, promovendo maior imobilidade1616 Mora-Rodriguez R, Ortega JF, Fernandez-Elias VE, et al. Influence of Physical Activity and Ambient Temperature on Hydration: The European Hydration Research Study (EHRS). Nutrients. 2016;8(5):252. PMid:27128938. http://dx.doi.org/10.3390/nu8050252.
http://dx.doi.org/10.3390/nu8050252...
. Já durante os meses mais frios, o desenvolvimento do TEV também pode ter relação com a diminuição da atividade física e com a vasoconstrição induzida pela baixa temperatura, que produz uma diminuição no fluxo sanguíneo dos membros inferiores66 Kleinfelder D, Andrade JL, Schlaad SW, Carvalho FC, Bellen BV. A sazonalidade do tromboembolismo venoso no clima subtropical de São Paulo. J Vasc Bras. 2009;8(1):29-32. http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009005000005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009...
.

Ademais, as infecções do trato respiratório no inverno podem induzir a um estado de hipercoagulabilidade devido ao aumento dos níveis de fibrinogênio, o que também foi observado por Brown et al.77 Brown HK, Simpson AJ, Murchison JT. The influence of meteorological variables on the development of deep venous thrombosis. Thromb Haemost. 2009;102(4):676-82. PMid:19806252., Boulay et al.1212 Dentali F, Ageno W, Rancan E, et al. Seasonal and monthly variability in the incidence of venous thromboembolism. A systematic review and a meta-analysis of the literature. Thromb Haemost. 2011;106(3):439-47. PMid:21725580. http://dx.doi.org/10.1160/TH11-02-0116.
http://dx.doi.org/10.1160/TH11-02-0116...
e Gallerani et al.88 Gallerani M, Boari B, Toma D, Salmi R, Manfredini R. Seasonal variation in the occurrence of deep vein thrombosis. Med Sci Monit. 2004;10(5):CR191-6. PMid:15114268.. Além disso, a diminuição do tempo de exposição à luz solar reduz a produção de melatonina e aumenta a coagulabilidade66 Kleinfelder D, Andrade JL, Schlaad SW, Carvalho FC, Bellen BV. A sazonalidade do tromboembolismo venoso no clima subtropical de São Paulo. J Vasc Bras. 2009;8(1):29-32. http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009005000005.
http://dx.doi.org/10.1590/S1677-54492009...
.

Em condições frias, alguns fatores de coagulação estão aumentados in vitro, como a contagem de plaquetas e a agregação plaquetária, e também há diminuição do volume plasmático, o que aumenta a viscosidade do sangue e do fibrinogênio promovendo condições que aumentam os casos de trombose1111 Boulay F, Berthier F, Schoukroun G, Raybaut C, Gendreike Y, Blaive B. Seasonal variations in hospital admission for deep vein thrombosis and pulmonary embolism: analysis of discharge data. BMJ. 2001;323(7313):601-2. PMid:11557707. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.323.7313.601.
http://dx.doi.org/10.1136/bmj.323.7313.6...
.

Quanto ao consumo de líquidos, não há diferença no balanço hídrico em temperaturas mais quentes ou mais baixas. O consumo de líquidos é maior em temperaturas mais altas; porém, as perdas hídricas também são proporcionalmente maiores1717 Malisova O, Bountziouka V, Panagiotakos DB, Zampelas A, Kapsokefalou M. Evaluation of seasonality on total water intake, water loss and water balance in the general population in Greece. J Hum Nutr Diet. 2013;26(Suppl. 1):90-6. PMid:23521514. http://dx.doi.org/10.1111/jhn.12077.
http://dx.doi.org/10.1111/jhn.12077...
.

No nosso estudo, os estados da Região Norte foram excluídos do trabalho devido à baixa amostragem. Na Região Nordeste, a amostragem é maior; no entanto, parece haver mais subnotificações de casos comparados aos dados da Região Sul, onde há mais recursos disponíveis na área da saúde. Os dados de incidência do TEV foram obtidos do SUS, que é o sistema oficial de saúde pública do Brasil.

Após análise estatística, houve correlação significativa na incidência de casos de TEV em temperaturas mais baixas (p < 0,001). Ou seja, quanto mais frio, maior é a incidência de TEV. A Região Sul apresenta temperaturas significativamente menores que as da Região Nordeste (p < 0,001) e apresenta número significativamente maior de casos de TEV do que a Região Nordeste (p < 0,001).

CONCLUSÃO

Existe maior incidência de TEV nos estados do sul do Brasil, onde as temperaturas são mais baixas. No entanto, pouco ainda é conhecido na literatura sobre a correlação entre a flutuação sazonal e a incidência de TEV. Sendo assim, mais estudos ainda são necessários nessa área.

  • Informações sobre financiamento: Nenhuma.
  • O estudo foi realizado no Serviço de Cirurgia Vascular Integrada do Hospital Beneficência Portuguesa (BP), São Paulo, SP, Brasil.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Set 2017

Histórico

  • Recebido
    03 Maio 2017
  • Aceito
    04 Jul 2017
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