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EDITORIAL

Mais uma vez, a equipe de Educação e Pesquisa começa o ano repleta de razões para comemorar. Agora, por meio do recurso de publicação ahead of print do Sistema SciELO, nosso leitor pode acessar em primeira mão os artigos aprovados, antes mesmo de sua divulgação em papel. Basta consultar a página da revista no site da SciELO (http:// www.scielo.br) e lá estarão disponíveis não apenas os artigos já publicados, mas também os demais textos que aguardam impressão, o que agiliza a divulgação dos resultados de pesquisa de nossos autores.

Além disso, a partir de 2011, Educação e Pesquisa passou a ter quatro edições anuais, consolidando o processo iniciado em 2010 com a publicação de um número especial. Trata-se de outro mecanismo para acelerar a circulação de informações; por meio dele, esperamos colaborar na divulgação da grande quantidade de contribuições - tanto brasileiras, quanto estrangeiras - recebidas pela revista.

Finalmente, já está em preparação nossa segunda seção de Demanda Dirigida. Sob a coordenação dos colegas Cláudia Pereira Vianna e Vinício de Macedo Santos, ela terá como tema Desigualdade, diferença e políticas públicas para a educação, e deverá vir a público em março de 2013. Diante da grande quantidade de desafios teóricos e políticos com que nos deparamos cotidianamente no campo educacional, não foi simples definir o mote dessa seção temática. Qual assunto seria mais produtivo para o debate, a pesquisa e a prática pedagógica? Qual seria a opção editorial mais adequada para aglutinar artigos em torno de um eixo comum, de forma que os textos se enriquecessem no diálogo? Como delimitar o tema de forma suficientemente clara e, ao mesmo tempo, aberta aos mais diversos enfoques?

Tudo nos indica que foi acertada a escolha da questão da igualdade no âmbito das lutas pelo direito à diversidade e pela ampliação da cidadania, debate que está constantemente presente nas páginas de Educação e Pesquisa. É exatamente em torno de tal questão, por exemplo, que José Carlos Libâneo conclui o denso artigo com que abrimos o presente número da revista. Em O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres, Libâneo convida-nos a uma aprofundada reflexão sobre os rumos da política educacional nas últimas décadas, concluindo que se trata de buscar responder ao desafio de construir, por um lado, uma escola que visa ao "domínio do saber sistematizado mediante o qual se promove o desenvolvimento de capacidades intelectuais, como condição de assegurar o direito à semelhança, à igualdade. Por outro, é preciso considerar que essa função primordial da escola - a formação cultural e científica - destina-se a sujeitos diferentes, já que a diferença não é uma excepcionalidade da pessoa humana, mas condição concreta do ser humano e das situações educativas".

Na sequência, o artigo A educação básica na proposta da Confederação Nacional da Indústria nos anos 2000, de Alessandro de Melo, analisa o projeto educacional dos empresários brasileiros reunidos nessa entidade, trazendo à tona um plano de política educacional em muitos aspectos concretizado nas ações governamentais do período.

As dimensões da diferença e da desigualdade marcam os dois próximos textos: O discurso curricular intercultural na educação de jovens e adultos e a produção de subjetividades, de Rosângela Tenório de Carvalho; e Gênero e culturas infantis: os clubinhos da escola e as trocinhas do Bom Retiro, de Tânia Mara Cruz. Enquanto Carvalho opõe-se às formas homogeneizadoras de currículo, analisando discursos sobre interculturalidade no âmbito da educação de jovens e adultos, Cruz revela, por meio do estudo etnográfico do recreio em uma escola de ensino fundamental, as múltiplas elaborações das culturas infantis em torno das relações de gênero. As situações observadas por Cruz em 2001 são comparadas a achados de Florestan Fernandes em seu estudo sobre brincadeiras infantis nas ruas de São Paulo durante a década de 1940.

Questões éticas estão presentes em três artigos, a partir de diferentes abordagens. No texto Las instituiciones educativas y la comunidade frente al maltrato infantil: una experiencia de investigación acción participativa, María Dilia Mieles Barrera, María Victoria Gaitán Espitia e Renán Cepeda Gaitán estudaram, em investigação participativa, o maltrato infantil numa comunidade pobre da região caribenha da Colômbia e indicam o papel das instituições educativas na proteção da infância. A perspectiva histórica marca o texto Faculdades da alma e suas implicações para a educação: saberes divulgados no século XIX, de Raquel Martins de Assis e Juliana de Souza Martins. As autoras investigaram, em um periódico editado na cidade mineira de Baependi, entre 1877 e 1899, as concepções veiculadas sobre educação moral e estética, contribuindo para uma melhor compreensão da história da psicologia no país, especialmente no que concerne à psicologia escolar. Renato José de Oliveira, no artigo intitulado Contribuições da racionalidade argumentativa para a abordagem da ética na escola, procura apresentar um modelo alternativo para o trabalho com a ética na educação básica, em substituição ao modelo denominado como racionalidade demonstrativa.

O trabalho cotidiano nas escolas é analisado nos artigos O desenvolvimento de competências gerenciais nas escolas públicas estaduais, de Veronica Bezerra de Araújo Galvão, Anielson Barbosa da Silva e Walmir Rufino da Silva; Teoria e prática no curso de pedagogia, de Giseli Barreto da Cruz; Nacionalismo territorialista en textos escolares: representaciones de la Patagonia en la dictadura militar argentina (1966- 1983), de Jesús Jaramillo; e Categorias metacognitivas como subsídio à prática pedagógica, de Evelise Maria Labatut Portilho e Simone A. Souza Dreher. O primeiro deles busca compreender o desenvolvimento de competências gerenciais entre diretores de escolas públicas estaduais de uma capital do Nordeste brasileiro, destacando que, de acordo com as respostas dos diretores ao questionário utilizado, a educação formal teve pequeno impacto em tal processo, o qual teria decorrido principalmente de suas experiências profissionais e pessoais. E é exatamente a complexa relação entre teoria e prática nos cursos de pedagogia o objeto de reflexão de Cruz, que recorre a entrevistas com dezessete pedagogos considerados pela autora como primordiais por terem testemunhado e participado do processo de implantação do curso no Brasil, posteriormente se destacando no campo acadêmico. Jaramillo, escrevendo a partir da província de Neuquén, na Argentina, coloca em primeiro plano a análise de livros didáticos, revelando como estes representaram a região da Patagônia durante os períodos ditatoriais de 1966-1973 e 1976-1983. Já no artigo de Portilho e Dreher, o foco recai sobre cada criança em particular e seu processo de aprendizagem: valendo-se de pesquisa qualitativa junto a 396 alunos da 1ª série do ensino fundamental no Estado do Paraná, as autoras buscam conhecer as estratégias metacognitivas utilizadas por crianças em processo de alfabetização.

O número encerra-se com um conjunto de textos que abordam, a partir de diferentes referenciais teóricos, as questões metodológicas da pesquisa em educação. O fato de estarem dispostos em conjunto deve-se a uma preocupação em destacar a riqueza das reflexões sobre metodologia presentes nos artigos espontaneamente enviados à revista. Trata-se de um forte indicador do grau de amadurecimento da pesquisa no campo educacional, ao revelar quanto os próprios pesquisadores estão atentos à discussão metodológica e preocupados em aprofundá-la paralelamente à realização de suas investigações.

Otaviano Helene, em Evolução da escolaridade esperada no Brasil ao longo do século XX, testa dois diferentes procedimentos estatísticos para avaliar a escolaridade esperada no Brasil durante último século, articulando, de maneira ousada, história e estatísticas educacionais. Rosimar Serena Siqueira Esquinsani, no texto intitulado Entre percursos, fontes e sujeitos: pesquisa em educação e uso da história oral, revisita os resultados de pesquisa anteriormente realizada sobre a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no 4.024, de 1961, e reflete sobre os lugares sociais dos sujeitos que narram suas histórias. Já no artigo Concepções de validade em pesquisas qualitativas, Leila Giandoni Ollaik e Henrique Moraes Ziller debatem os critérios de validade nas pesquisas qualitativas, não se restringindo ao campo educacional. Finalmente, Pesquisa em educação: os movimentos sociais e a reconstrução epistemológica num contexto de colonialidade, de Danilo Romeu Streck e Telmo Adams, reposiciona e ilumina as questões da construção de conhecimentos no campo educacional, buscando uma ação investigativa emancipadora na América Latina em consonância com o conceito de epistemologias do Sul.

Como pode notar o leitor, trata-se de uma revista das mais representativas da produção educacional em todo o país, com autorias provenientes de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Goiás e Distrito Federal, além dos países vizinhos Colômbia, Chile e Argentina. Há autores vinculados a faculdades e centros do campo da educação, mas também das áreas de física, administração, ciências sociais e psicologia. No conjunto, os artigos reúnem ensaios e resultados de pesquisas qualitativas e quantitativas, em perspectiva micro e macro social, que lançam mão de instrumentos tão variados como a modelagem estatística, a pesquisa-ação, o questionário ou as histórias de vida. Ainda, eles se apoiam em referenciais teóricos tão distintos quanto a perspectiva pós-colonial, a análise foucaultiana e a aprendizagem de competências. Tal diversidade é motivo de orgulho para nós e reflete a política de abertura intelectual e de estímulo ao franco debate acadêmico que tem marcado a linha editorial de Educação e Pesquisa.

Destacamos, por fim, que dois artigos encontram-se disponíveis também em inglês no site da SciELO: O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres e Pesquisa em educação: os movimentos sociais e a reconstrução epistemológica num contexto de colonialidade.

Marília Pinto de Carvalho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 2012
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