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Educational reforms, journey and comparison in the 1800s Brazil: the case of Uchoa Cavalcanti (1879)

Abstracts

We analyze in this article the journey of Uchoa Cavalcanti (Inspector of Public Instruction of the Province of Pernambuco) to the Court and Provinces of Rio de Janeiro and São Paulo in 1879, based on the official report of this trip presented to the president of the Province and published in that same year in Recife. When reading this document, we paid attention to the general conditions of the journey and to the narrative constructed by the inspector as a strategy to discuss the representations that he produces, with special emphasis on those related to the Court and Province of Rio de Janeiro. To such end, we analyzed the sources utilized by the author, articulating them with what is produced by his personal testimony and experience. The report, entitled "Public instruction - study on the system of primary teaching and pedagogical organization of the schools of the Court, Rio de Janeiro and Pernambuco" has 293 pages distributed along an introduction, four parts, and a conclusion. As a whole, the inspector attempts to carry out his objective of contrasting the knowledge that he has with what he observes in loco. In this exercise, the inspector builds a narrative that helps to problematize recurrent theses in the historiography (general and of education) that establish the Court and the province of Rio de Janeiro as models for the nation. On the basis of this report the comparison within the country becomes necessary to fertilize reflections related to the variety of school forms at work in the 19th century, contributing to temper the thesis that a vertical power organized a single form for Brazil and her schools.

History of education; Comparison; Journeys


Neste artigo, analisamos a viagem de Uchoa Cavalcanti (Inspetor de Instrução Pública da Província de Pernambuco) à Corte e às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo em 1879, por meio do relatório oficial dessa viagem, apresentado ao presidente da Província, e publicado no mesmo ano em Recife. Ao ler esse documento, procuramos observar as condições gerais da viagem e da narrativa construída pelo inspetor como estratégia para discutir as representações que produz, com especial destaque às relativas à Corte e à Província do Rio de Janeiro. Nesse sentido, analisamos as fontes manejadas pelo autor, articulando-as com o que é produzido pelo seu testemunho e experiência pessoal. O relatório, intitulado Instrução Pública - estudo sobre o sistema de ensino primário e organização pedagógica das escolas da Corte, Rio de Janeiro e Pernambuco possui 293 páginas, distribuídas em uma introdução, quatro partes e uma conclusão. No conjunto, o inspetor procura levar a bom termo seu objetivo de contrastar a ciência que possui com aquilo que observa in loco. Nesse exercício, o inspetor constrói uma narrativa que ajuda a problematizar teses recorrentes na historiografia (geral e da educação) que estabelecem a Corte e a província do Rio de Janeiro como modelos para a nação. Com base nesse relatório, a comparação intranacional se põe como exigência para fertilizar reflexões relativas à variedade das formas escolares em funcionamento no século XIX, ajudando a matizar a tese de um poder vertical que teria organizado uma única forma para o Brasil e para suas escolas.

História da educação; Comparação; Viagens


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  • Correspondência:

    José Gonçalves Gondra
    Rua Olegário Mariano, 276/106
    20510-210 - Rio de Janeiro - RJ
    E-mail:
  • 1
    . A respeito das escalas de observação nas pesquisas em Ciências Sociais, cf. Revel, 1998.
  • 2
    . Para pensar os relatos de viagens como gênero literário e da regularidade dessa prática, em especial na Europa e na Espanha, ver Tobar; Elduyaen, 2005. Para o caso do Brasil, ver Leite, 1997; Toussant-Samson, 2005; dentre outros.
  • 3
    . Missão realizada na gestão de Adolpho de Barros Cavalcante de Lacerda, iniciada em 20/05/1878 e encerrada em 18/9/1879. Lacerda foi sucedido por Dr. Adelino Freire, a quem o relatório é encaminhado em dezembro de 1879.
  • 4
    . Cf., por exemplo, o manual do Padre Roquette (Schwarcz, 1997).
  • 5
    . O requerimento foi dirigido ao Presidente da Província de Pernambuco em 22/03/1879, tendo sido prontamente acolhido em reposta de 24/03/1879, o que tornou a viagem uma missão oficial, incluindo o dever de elaboração do relato circunstanciado da "excursão escolar", como a denominava o inspetor Uchoa Cavalcanti.
  • 6
    . A Lei nº 369, de 14/05/1855, introduziu na escola primária o ensino de História e Geografia do Brasil e da Província de Pernambuco.
  • 7
    . O Regimento Interno das Escolas Primárias, de 30/07/1859, dividiu as escolas primárias em 1º e 2º graus, estabelecendo 8 classes de ensino, regidas pelo professor, seus adjuntos e decuriões.
  • 8
    . A Lei nº 598, de 13/05/1864, retomou a organização das escolas primárias, consideradas todas de grau único (primeiro), conforme a legislação de 1827.
  • 9
    . O regulamento de 27/11/1874 alargou o currículo escolar e novo regulamento de 07/04/1879, de autoria do Inspetor Geral Uchoa Cavalcanti; introduziu inovações como "lições de coisas e instrução moral e cívica, por meio de leituras apropriadas" (Cavalcanti, 1798, p. 11); além de reorganizar o ensino primário em três graus: elementar, médio e complementar.
  • 10
    . Para análise da reforma de 1854, ver Gondra, 2003; e Martinez, 1997.
  • 11
    . "... é com pesar que se vê, em duas províncias tão importantes e florescentes como são as do Rio de Janeiro e São Paulo, achar-se reduzido o plano de estudos nas aulas primárias oficiais, bem como não ter a extensão que devera nas escolas da Corte" (Cavalcanti, 1879, p. 36).
  • 12
    . Para o caso das Conferências da Corte, ver Borges; Gondra, 2005.
  • 13
    . A respeito das escolas noturnas da Corte, ver Costa, 2007.
  • 14
    . Sobre o sistema de moral e cívica do professor Frazão, ver Schueler, 2005).
  • 15
    . Refere-se ao livro
    O Caráter, de Samuel Smiles.
  • 16
    . Neste caso, ele se refere às suas próprias traduções de Mme. Carpentier e Rousselot e aos textos para o ensino de ciências físicas e naturais:
    Primeiros elementos de História Natural, de Theonilla Tavares Bastos, e
    Dicionário de Educação e Ensino, de Campagne, traduzido por Camillo Castello Branco.
  • 17
    . A respeito das iniciativas de organização de professores na Corte, ver Lemos, 2006.
  • Publication Dates

    • Publication in this collection
      13 Apr 2009
    • Date of issue
      Dec 2008

    History

    • Received
      26 Mar 2007
    • Accepted
      13 Oct 2008
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