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EDITORIAL

Com este terceiro número do volume 31, EDUCAÇÃO E PESQUISA publica três fascículos pelo segundo ano consecutivo, consolidando sua nova periodicidade quadrimestral. Não bastasse essa conquista, pudemos manter em nossa revista on-line, ao contrário do anunciado em editorial anterior, a versão para o inglês de parte de nossos artigos. Isso significa que o conjunto dos textos presentes na seção "Em Foco: Educação ambiental", do v. 31 n. 2, está disponível para os leitores também em inglês, no site www.scielo.br. E o mesmo acontece em relação à seção "Em Foco" publicada neste volume. Vemos a continuidade dessa iniciativa, que só foi possível graças à liberação de recursos pelo CNPq, como nossa parcela de contribuição para a divulgação da pesquisa em educação produzida no Brasil, tendo em vista ampliar as possibilidades de diálogo e intercâmbio com a produção internacional.

Esse diálogo está também expresso nas páginas deste fascículo, aberto com um artigo inédito da pesquisadora francesa Claudine Haroche, que discute a possibilidade do conhecimento e do ensino diante da fluidez dos saberes, da aceleração da circulação de informações e da intensificação das solicitações que caracterizam nossas sociedades. Ainda será possível pensar, refletir, acumular conhecimentos _ para além da mera sucessão de dados e informações sem sentido, para além da pressa, fragmentação, dispersão e descomprometimento? Como se colocam a universidade e a produção de conhecimentos frente à incerteza que se encontra no âmago da crise da cultura e da educação? A redução do trabalho intelectual a números a serem avaliados estaria levando a uma produtividade cega, extirpada das idéias, da crítica e da imaginação?

Em seguida, ainda no campo da reflexão filosófica, apresentamos as contribuições de Maurício Mogilka em "Educação, desenvolvimento humano e cosmos", que retomam criticamente o pensamento de Carl Rogers, Jean-Jacques Rousseau e John Dewey para refletir sobre desenvolvimento humano, pedagogias antiautoritárias e propostas radicalmente democráticas de educação e de sociedade.

Já o texto de Alessandra Frota de Schueler analisa as representações da docência, entre as décadas de 1870 e 1880, a partir de pesquisa em artigos publicados por professores primários no periódico Instrução Pública. Sua análise permite concluir que os mestres das escolas primárias da Corte participaram ativamente no processo de constituição da profissão docente, por meio da discussão pública e da produção coletiva de identidades profissionais.

Marcílio Souza Júnior e Ana Maria de Oliveira Galvão definem seu artigo, que vem a seguir, como "um ensaio bibliográfico". Nele, os autores buscam inserir dentro do contexto mais amplo da história da educação as tendências predominantes na área conhecida como história das disciplinas escolares, bastante presente na historiografia da educação no Brasil. Esse esforço de produzir um balanço e uma reflexão teórica decorre da convicção de que apenas por meio de retomadas dessa ordem é possível tornar inteligível o processo contínuo de transformação de saberes em saberes propriamente escolares, ao romper o isolamento das pesquisas monográficas, além de evidenciar e debater seus pressupostos teóricos.

Também à luz da história e utilizando-se da teoria de Bakhtin, Ana Claudia Balieiro Lodi discute, em "Plurilingüismo e surdez", algumas das polêmicas seculares que envolvem a educação dos surdos e o embate histórico entre a língua brasileira de sinais (LIBRAS) e o português. Busca apontar os reflexos dessa história nos dias atuais em nosso país, em especial por meio dos resultados de pesquisa empírica realizada pela autora.

Encerrando esta primeira seção, Luciene Stivanin e Claudia Inês Scheuer oferecem os resultados de pesquisa realizada junto a crianças de 2ª a 4ª séries do ensino fundamental de uma escola pública da cidade de São Paulo, no que se refere ao tempo de latência e exatidão para leitura e nomeação, numa contribuição à compreensão dos processos de desenvolvimento.

A seção "Em Foco" trata de um tema de grande relevância no campo da pesquisa educacional, mas que nem sempre é analisado com a devida profundidade teórica: a pesquisa-ação sobre a prática docente. Organizada por Maria Amélia Santoro Franco, a quem agradecemos o trabalho dedicado, minucioso e competente, esta seção traz um conjunto de artigos de autores brasileiros e estrangeiros que representam, majoritariamente, as correntes de pesquisa-ação hoje predominantes no Brasil entre aqueles que a utilizam para abordar o trabalho docente. Trata-se de um material aprofundado e consistente, que certamente contribuirá para o debate dessa metodologia de pesquisa em nosso contexto. Temos clareza, contudo, de que não se abordam aqui todas as possibilidades de pesquisa-ação em suas diferentes modalidades. Está ausente, por exemplo, uma vasta tradição originária especialmente de grupos que atuavam junto aos movimentos populares na América Latina e que teve grande repercussão no campo educacional brasileiro nos anos de 1970 e 1980, com o nome de "pesquisa participante" e tendo como marco duas coletâneas organizadas por Carlos Rodrigues Brandão. Esperamos que essas lacunas, impossíveis de cobrir numa única seção com poucos artigos, sirvam como estímulo a outros autores e autoras para novas publicações, em debate e em complementação ao material aqui apresentado.

Nosso especial agradecimento à colega Isabel Gretel Eres Fernandez, pela revisão do texto em espanhol.

Marília Pinto de Carvalho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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