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Apresentação

EM FOCO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Apresentação

A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-relação entre saberes e práticas coletivas, que criam identidades e valores comuns e ações solidárias face à reapropriação da natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre formas de conhecimento.

A Educação Ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, na mudança de comportamento, no desenvolvimento de competências, na capacidade de avaliação e na participação dos educandos. A relação entre meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais desafiador, demandando novos saberes para apreender processos sociais cada vez mais complexos e riscos ambientais que se intensificam.

Assim, a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão ambiental envolve um conjunto crescente de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de educadores, e o engajamento da comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. A produção de conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas, numa perspectiva que priorize um novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental.

Nessa direção, a educação deve se orientar de forma decisiva para formar as gerações atuais, não somente para aceitar a incerteza e o futuro, mas para gerar um pensamento complexo e aberto às indeterminações, às mudanças, à diversidade, à possibilidade de construir e reconstruir num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação.

Os artigos que compõem esta seção Em Foco trazem ao leitor um conjunto de temas e questões que lhe permitem navegar pelas águas de uma educação ambiental transformadora e crítica, por meio do olhar de praticantes e pesquisadores.

Pedro Roberto Jacobi, professor titular da Faculdade de Educação da USP, em "Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo, e reflexivo", reflete sobre como a multiplicação dos riscos, em especial os ambientais e tecnológicos de graves conseqüências, é elemento chave para entender as características, os limites e as transformações da nossa modernidade. Num contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, coloca-se o desafio de envolver um conjunto de atores do universo educativo em todos os níveis, sendo que os educadores têm um papel estratégico e decisivo na inserção da educação ambiental no cotidiano escolar, qualificando os alunos para um posicionamento crítico face à crise socioambiental e tendo como horizonte a transformação de hábitos e práticas sociais, assim como a formação de uma cidadania ambiental que os mobilize para a questão da sustentabilidade no seu significado mais abrangente.

"Tecendo os fios da educação ambiental: o subjetivo e o coletivo, o pensado e o vivido", de autoria de Martha Tristão, professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, analisa os campos do sentido produzidos por alguns desses termos e a trama de inter-relações entre os sujeitos e suas práticas discursivas, recusando a doutrina da unidade da razão e de um sujeito unitário em direção ao objetivo da perfeita coerência. A autora desenvolve sua reflexão sobre como a relação com as práticas cotidianas que demandam iniciativas e encaminhamentos pode fazer sentido e criar campos de interface para o exercício de uma educação ambiental.

A contribuição do professor doutor Pablo Angel Meira Cartea, da Universidade de Santiago de Compostela, "Educación ambiental en tiempos de catástrofe: la respuesta educativa al naufrágio del Prestige", analisa a resposta do sistema educativo regional ao naufrágio do navio Prestige na costa da Galícia em 2002, a partir de dois pontos de vista. Um primeiro é associado ao contexto da resposta social crítica e proativa face à orientação oficial de escamotear as dimensões da catástrofe; e um segundo reflete sobre o papel da educação ambiental como prática pedagógica, cuja dimensão política se revela como indispensável. O autor defende a tese de que a natureza política da educação ambiental explicita-se como eixo essencial na resposta do sistema educativo e de outros agentes educadores.

Marcos Sorrentino, Rachel Trajber, Patrícia Mendonça e Luiz Antonio Ferraro Junior, todos eles atuantes na área de educação ambiental junto ao governo federal, discutem no artigo "Educação Ambiental como política pública", as políticas de educação ambiental implementadas pelo MEC e MMA a partir de 2003. Mostram como essa atuação implica processos de intervenção direta, regulamentação e contratualismo, que fortalecem a articulação de atores sociais (nos âmbitos formal e não formal da educação) e sua capacidade para uma gestão territorial sustentável e educadora, a formação de educadores ambientais, a educomunicação socioambiental e outras estratégias que promovam a educação ambiental crítica e emancipatória.

Finalmente, o artigo de Isabel Cristina de Moura Carvalho, professora doutora da Universidade Luteranta do Brasil (RS) – "Discutindo a educação ambiental a partir do diagnóstico em quatro ecossistemas no Brasil" – disponibiliza as principais conclusões do estudo "Uma leitura da educação ambiental em cinco estados e um bioma do Brasil", apoiado sobre o conjunto dos diagnósticos da educação ambiental realizados por quatro redes. O estudo em questão foi concluído em novembro de 2004, respondendo à demanda da Rede Brasileira de Educação Ambiental, e teve como objetivos apresentar uma sistematização das categorias comuns pesquisadas em cada Rede; discutir se é possível, a partir consolidação dos dados nas regiões pesquisadas, comparar as características da educação ambiental nesses locais; e finalmente, destacar desafios, limites e oportunidades que se evidenciam no momento presente do desenvolvimento da educação ambiental.

O artigo apresentado na seção "Tradução", de autoria da professora Lucie Sauvé, da Université du Québec à Montreal, complementa essas reflexões ao desenvolver o argumento de que a educação ambiental não é uma forma de educação, nem um instrumento para a resolução de problemas ou de gestão ambiental. Trata-se, segundo a autora, de uma dimensão essencial da educação focada na esfera de interação, que possibilita a construção de dinâmicas sociais, no nível local e, posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade, estimulando uma lógica de cooperação e de crítica das realidades socioambientais e uma compreensão criativa e autônoma dos problemas existentes e das possíveis soluções.

Pedro Roberto Jacobi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Fev 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2005
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