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EDITORIAL

Este fascículo de EDUCAÇÃO & PESQUISA marca o segundo ano de publicação quadrimestral de nossa revista. Iniciamos o desafio de trazer a público três números anuais em 2004, quando comemoramos os trinta anos de existência da revista e estamos satisfeitos por propiciar aos estudiosos e demais interessados nas questões educacionais um aumento na divulgação da fértil produção desenvolvida por pesquisadores brasileiros e internacionais.

Outra notícia positiva é que concretizamos mais alguns passos rumo à internacionalização de EDUCAÇÃO & PESQUISA, que neste número passa a ter um novo layout de capa, com seu nome também em inglês, bem como a tradução para este idioma dos artigos da seção EM FOCO, em sua versão on-line, disponível na rede SciELO e na Rede Alyc, o que abrirá um novo circuito de leitores e, certamente, também de colaboradores.

Este volume traz dois artigos de autores estrangeiros e três de autores brasileiros, que abordam perspectivas diversas a respeito de questões referentes à situação do universo escolar, do ensino e dos seus atores.

Um dos artigos vem da França, "Amplitude e aspectos peculiares das desigualdades sociais na escola francesa", de Marie Duru-Bellat, no qual se apresenta um cuidadoso balanço dos resultados acumulados pela sociologia da educação francesa a respeito da análise das desigualdades sociais na escola. Para tanto a autora recupera o percurso da produção da área em seu país, passando a limpo a intensa discussão, feita desde os anos 70 do século passado, nesse campo. Ao retomar as teses elaboradas por Bourdieu e Passeron, que vêem a escola como reprodutora e legitimadora das desigualdades sociais, ela identifica seu caráter fatalista e caminha em busca da gênese dessas desigualdades, que, segundo seu ponto de vista, passa pelos mecanismos individuais e contextuais, bem como pelas desigualdades decorrentes do próprio sucesso acadêmico. A importância deste artigo para os estudiosos dos problemas da escola brasileira e de todas as manifestações do fracasso escolar é indiscutível, não só pela grande influência das análises de Bourdieu e Passeron entre nós, como pela perspectiva de análise apresentada pela autora, ao apontar a necessária atualização e contextualização do papel da escola para o entendimento desse fenômeno.

Os mexicanos José Ángel Vera Noriega e Rosario Leticia Dominguez Guedea discutem, em "Práctica docente en el aula multigrado rural de una problación mexicana", o desenvolvimento do ensino em escolas multisseriadas, em localidades rurais marcadas por situação de pobreza. A partir de dados de observação e de referências verbais sobre estratégias didáticas, controle de grupo, planejamento, avaliação e apoio à aprendizagem, os autores classificam a prática de 206 professores e assinalam que é o modo como os docentes manejam esses elementos que permite alcançar diferentes resultados na aprendizagem dos alunos. Enfatizam também o papel dos mecanismos de incentivo e capacitação docente para se promover habilidades cognitivas sobre o processo de ensino-aprendizagem, bem como a importância da classificação das práticas por eles desenvolvidas para ações posteriores de capacitação específica para a zona rural. O artigo traz importantes contribuições para o estudo das escolas rurais, tema ainda insuficientemente estudado em face de sua importância na estrutura educacional de nossos países.

Em "As identidades docentes como fabricação da docência", de Maria Manuela Alves Garcia, Álvaro Moreira Hypolito e Jarbas Santos Vieira, discute-se como os discursos educacionais das últimas décadas têm orientado as definições a respeito da situação ocupacional e da profissionalização dos professores e analisa a construção da identidade docente, a partir dos papéis atribuídos aos professores e às professoras, e das representações colocadas em circulação pelos discursos sobre o modo de ser e agir desses profissionais no exercício de suas funções. Os autores buscam demonstrar como os novos modelos de profissionalismo contribuem para a construção de identidades docentes, mais ou menos articuladas com os objetivos das reformas educacionais em pauta, e indicam as narrativas de professores acerca de si mesmos e de seus contextos de trabalho como um fértil caminho teórico-metodológico para se investigar a construção da identidade docente.

A introdução da internet em uma escola no curso de um programa de formação de professores é descrita por Marcelo Giordan em "A internet vai à escola: domínio e apropriação de ferramentas culturais". Ele analisa como se dá a determinação dos propósitos e das formas de uso da ferramenta cultural pelos envolvidos. Apoiando-se na definição de ambientes na internet com base no conceito de ferramenta cultural e das propriedades da ação mediada, o autor revela os caminhos pelos quais os professores elaboram significados e se apropriam do correio eletrônico, tema de grande importância no contexto da formação contínua de professores.

Em "Imagens do negro na literatura infantil brasileira: análise historiográfica", Maria Cristina Soares de Gouvêa faz uma análise das representações sociais sobre o negro na literatura infantil das três primeiras décadas do século XX, momento em que emergia a discussão a respeito da construção da identidade brasileira e se destacava o debate sobre a composição racial da população, período em que o negro passou a figurar, de forma mais freqüente, na produção literária. Porém, suas características físicas e cognitivas, suas relações com os brancos e sua inserção no espaço social são estereotipadas, abordadas a partir de referências culturais marcadamente etnocêntricas, com o objetivo de construir uma imagem de integração. Para ela, a literatura infantil produzida nessa época visava a um embranquecimento do leitor, na medida em que procura identificá-lo com os personagens e as referências culturais brancas, o que passa necessariamente pelo embranquecimento dos seus personagens.

A seção EM FOCO, sob o título "Educação Matemática em perspectivas", divulga contribuições presentes no VII Encontro Paulista de Educação Matemática, promovido pela Sociedade Brasileira de Educação Matemática de São Paulo e realizado na Feusp em 2004. Nesse encontro debateram-se idéias que têm subsidiado os avanços das pesquisas, a formulação de programas para o ensino da matemática e a formação de professores. Dessa vasta produção divulgamos os textos "Sociedade, cultura, matemática e seu ensino", de Ubiratan D'Ambrósio, "Escola, professores e caipiras: exercício para um descentramento histórico", de Antonio Vicente Marafioti Garnica, e "História, filosofia e sociologia da educação matemática na formação do professor: um programa de pesquisa", de Antonio Miguel, que ilustram tipos de pensamento que circulam e orientam propostas de ensino e pesquisas no campo, e trazem contribuições importantes para a ampliação das discussões acerca de novas perspectivas para a área. Agradecemos aos professores Manoel Oriosvaldo de Moura e Vinício de Macedo Santos pela organização e apresentação da seção.

Agradecemos também as imprescindíveis colaborações da professora Isabel Gretel Eres Fernandez na revisão de textos em espanhol e da doutoranda Tereza Van Aker nas comunicações em francês.

Maria Isabel de Almeida

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2005
  • Data do Fascículo
    Mar 2005
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