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A biópsia de medula óssea no estudo das síndromes mielodisplásicas

Editorial

A biópsia de medula óssea no estudo das síndromes mielodisplásicas

Milton A. Ruiz

A introdução da biópsia de medula óssea (BMO) como método de estudo foi descrita no século passado, em 1958, por MacFarland e Dameshek, com o emprego da agulha de Vim Silverman (1). Em 1971, Jamishidi desenvolveu e aperfeiçoou posteriormente a agulha que leva o seu nome. Isto propiciou a obtenção de melhores fragmentos ósseos, que associado ao desenvolvimento de fixadores e de métodos de coloração, contribuiu para o avanço da observação histológica da medula óssea e no diagnóstico das alterações do tecido mielóide com maior amplitude (2, 3).

Durante o sétimo Congresso da International Society of Haematology and Blood Transfusion de 1983, realizado em Barcelona, Espanha, Rozman organizou um simpósio satélite no qual o tecido mielóide era valorizado de forma integrada. Nesta nova visão, a medula óssea foi considerada como um órgão complexo constituído de uma parte de estroma – gordura e células – e um arcabouço de suporte constituído de componente ósseo, fibras de reticulina, vasos e nervos, microambiente este, que propicia o hábitat ideal para amadurecimento e posterior liberação dos elementos celulares para o sangue periférico (1).

No Brasil, então, foi descrito nesta época um relato sobre as indicações da biópsia de medula óssea e a obtenção simultânea do aspirado medular, sugerindo o mesmo que o estudo das hemopatias com tal procedimento era mais acurado (4).

Desde a descrição das síndromes mielodisplásicas (SMD) em 1982 pelo grupo Franco-Americano-Britânico, FAB, aboliu-se a terminologia de estado pré-leucêmico (5). Além dos dados clínicos uniformizaram-se os dados citológicos e citoquímicos no sentido de se estratificar as cinco entidades descritas (5). Logo a biópsia de medula óssea veio a ser adicionada nos estudos das síndromes (6). Tricot, em publicações seqüenciais, e com números expressivos de casos, inicialmente em 40 pacientes e posteriormente em mais 70, descreveu as alterações mais proeminentes desta casuística com SMD (6).

Enfatizou o achado de grupos de células precursoras com localização anormal (ALIP) e conferiu ao dado fator de mau prognóstico na evolução da SMD (6) e que, adicionalmente, a BMO apresentava vantagens em relação aos aspirados medulares (6).

Com a evolução, observou-se que dentre os parâmetros empregados, a citogenética tinha um papel relevante como fator prognóstico, sem que o mesmo reduza a importância da BMO como método proeminente para o diagnóstico, além de ser um critério obrigatório no estudo inicial destes pacientes. Em que pese ainda existirem muitas imprecisões na análise dos fatores de risco destes pacientes, surgiu em 1997 o sistema internacional de determinação de risco e prognóstico (IPPS) (7). O IPPS enfatiza a importância na análise de risco destes pacientes, o cariotipo, os dados de BMO com o percentual de blastos, citopenias e a estratificação dos pacientes em quatro grupos: baixo risco, intermediário 1 ou 2 e de alto risco (7).

Este relato tem o objetivo de ser o preâmbulo para o artigo sobre BMO e SMD que consta deste fascículo de Romeo M. e colaboradores. São descritos e discutidos aspectos histológicos e prognósticos de uma entidade com morbidade elevada, na qual a decisão terapêutica ainda controversa na prática clínica, à luz das novas possibilidades terapêuticas que hoje existem, fazem que o fator idade, performance status do paciente e o IPPS norteiem no momento esta decisão (8).

Referências Bibliográficas

1. Nieto LH, Rozman C. Biopsia medular en la clínica hematológica, 1980. Salvat Editores SA.

2. Jamishidi K, Swain WR. Bone marrow biopsy with inaltered architecture: a new biopsy device. J Lab Clin Med. 1971. 77: 335.

3. Bartl R, Frish B, Buchenrieder B et al. Multiparameter studies on 650 bone marrow biopsy cores in Frisch B, Bartl R. Bone marrow biopsies updated Bibthca. haemat. Karger. 1984. 1-16.

4. Lorand IGH, Souza CA, Correa JR. Biópsia medular com obtenção simultânea de material para exame citológico (imprint). Seu valor diagnóstico. Bol Soc Bras Hematol Hemot. 1984. 6 (125): 3-7.

5. Bennet JM, Catovsky D, Daniel MT, Flandrin G, Galton DAG, Gralnick HR, Sultan C. Proposals for the classification of the myelodisplastic syndromes. Br J. Haematol. 1982, 51: 189-199.

6. Tricot G, Wolf- Peters C, Vlietink R, Verwilghen RL. The importance of bone marrow biopsy in myelodisplastic disorders in Frisch B, Bartl R. Bone marrow biopsies updated. Bibthca haemat. Karger. 1984, 50: 31- 40.

7. Greenberg P, Cox C, LeBeau MM et al. International scoring system for evaluating prognosis in myelodisplastic syndromes. Blood. 1997: 2079-2088.

8. Bernasconi C. Evidence based approach to treatment of myelodisplastic syndromes. Haematologica. 2001; 86: 897-899.

Coordenador da Unidade de TMO / HB – FUNFARME-FAMERP

Centro Interdepartamental de Transplantes

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jul 2003
  • Data do Fascículo
    Ago 2001
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