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Estratégias de resolução de conflito em crianças em desenvolvimento normal de linguagem: cooperação ou individualismo?

Resumos

OBJETIVO: Verificar as habilidades de resolução de conflito de crianças de 7 e 8 anos em desenvolvimento normal de linguagem. MÉTODOS: Participaram do estudo 40 crianças em desenvolvimento normal de linguagem, com idades entre 7 anos e 8 anos e 11 meses. Para avaliar as habilidades de resolução de conflito foram apresentados cinco contextos hipotéticos de conflito. Após a apresentação de cada história, foi feita a seguinte pergunta: "Se você fosse ele [avaliadora aponta para o personagem da história], o que você faria?". As respostas foram agrupadas em cinco níveis e pontuadas da seguinte forma: nível 0 (soluções que não se enquadram nos demais níveis) - zero ponto; nível 1 (soluções físicas) - um ponto; nível 2 (soluções unilaterais) - dois pontos; nível 3 (soluções cooperativas) - três pontos e nível 4 (soluções mútuas) - quatro pontos. RESULTADOS: A maioria das estratégias propostas pertenciam aos níveis 2 (M=2,55±0,34) e 3 (M=1,53±1,26). Foi observada correlação significante e positiva (p=0,03, r=0,34), porém ruim, entre a faixa etária das crianças e a pontuação na prova de resolução de conflito. Esses resultados indicam que aos 7 e 8 anos as crianças ainda utilizam frequentemente estratégias unilaterais, porém já são capazes de dialogar com eficiência para solucionar problemas. CONCLUSÃO: Aos 7 e 8 anos de idade, crianças em desenvolvimento normal de linguagem utilizam com mais frequência estratégias unilaterais e cooperativas para solucionar problemas.

Linguagem infantil; Desenvolvimento da linguagem; Fala; Cognição; Compreensão; Testes de linguagem


PURPOSE: To verify the conflict resolution abilities of 7- and 8-year-old children with normal language development. METHODS: Participants were 40 children with normal language development, with ages ranging from 7 to 8 years and 11 months. To evaluate conflict resolution abilities, five hypothetical conflict contexts were presented. After each story presentation, children were asked the following question: "If you were him [examiner points to the story character], what would you do?". The answers were arranged into five levels and scored as it follows: level 0 (solutions that do not match the other levels) - score 0; level 1 (physical solutions) - score 1; level 2 (unilateral solutions) - score 2; level 3 (cooperative solutions) - score 3, and level 4 (mutual solutions) - score 4. RESULTS: Most of the proposed strategies were placed at levels 2 (M=2.55±0.34) and 3 (M=1.53±1.26). Significant but weak positive correlation was found between children's age and their scores on the conflict resolution test (p=0.03, r=0.34). These results suggest that unilateral strategies are still frequently used by 7- and 8-year-olds, although they are already capable of dialoguing efficiently to solve problems. CONCLUSION: At 7 and 8 years of age, children with normal language development frequently use unilateral and cooperative strategies to solve problems.

Child language; Language development; Speech; Cognition; Comprehension; Language tests


ARTIGO ORIGINAL

Estratégias de resolução de conflito em crianças em desenvolvimento normal de linguagem: cooperação ou individualismo?

Erica Macêdo de PaulaI; Debora Maria Befi-LopesII

IPrograma de Pós-Graduação (Mestrado) em Ciências da Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil

IIDepartamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Erica Macêdo de Paula R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária, São Paulo (SP), Brasil, CEP: 05360-160. E-mail: ericamdp@usp.br

RESUMO

OBJETIVO: Verificar as habilidades de resolução de conflito de crianças de 7 e 8 anos em desenvolvimento normal de linguagem.

MÉTODOS: Participaram do estudo 40 crianças em desenvolvimento normal de linguagem, com idades entre 7 anos e 8 anos e 11 meses. Para avaliar as habilidades de resolução de conflito foram apresentados cinco contextos hipotéticos de conflito. Após a apresentação de cada história, foi feita a seguinte pergunta: "Se você fosse ele [avaliadora aponta para o personagem da história], o que você faria?". As respostas foram agrupadas em cinco níveis e pontuadas da seguinte forma: nível 0 (soluções que não se enquadram nos demais níveis) - zero ponto; nível 1 (soluções físicas) - um ponto; nível 2 (soluções unilaterais) - dois pontos; nível 3 (soluções cooperativas) - três pontos e nível 4 (soluções mútuas) - quatro pontos.

RESULTADOS: A maioria das estratégias propostas pertenciam aos níveis 2 (M=2,55±0,34) e 3 (M=1,53±1,26). Foi observada correlação significante e positiva (p=0,03, r=0,34), porém ruim, entre a faixa etária das crianças e a pontuação na prova de resolução de conflito. Esses resultados indicam que aos 7 e 8 anos as crianças ainda utilizam frequentemente estratégias unilaterais, porém já são capazes de dialogar com eficiência para solucionar problemas.

CONCLUSÃO: Aos 7 e 8 anos de idade, crianças em desenvolvimento normal de linguagem utilizam com mais frequência estratégias unilaterais e cooperativas para solucionar problemas.

Descritores: Linguagem infantil; Desenvolvimento da linguagem; Fala; Cognição; Compreensão; Testes de linguagem

INTRODUÇÃO

Cognição social é um importante aspecto da cognição, que consiste na compreensão do mundo social, incluindo a compreensão sobre o conhecimento, pensamento, intenções, emoções e pontos de vista do outro, além do conhecimento sobre papéis e relações sociais. Um tipo de interação social, que caracteriza o desenvolvimento cognitivo, é a resolução de conflito. Para resolver conflitos é preciso compreender o ponto de vista do outro, assim como desenvolver e expressar estratégias para resolver disputas; portanto são necessárias habilidades cognitivas e linguísticas(1).

Crianças em desenvolvimento normal de linguagem (DNL) possuem um grande número de estratégias de resolução de conflitos, e essas estratégias tornam-se mais complexas com o passar da idade. Já crianças pequenas ou com déficit de cognição social utilizam estratégias de resolução de conflito mais globais e menos sofisticadas, pois muitas vezes não são capazes de compreender o ponto de vista do seu oponente(1).

Habilidades linguísticas e cognitivas, como as funções executivas e a capacidade de se colocar no lugar do interlocutor e de compreender as intenções e pensamentos do oponente (Teoria da Mente - TdM), são essenciais para o processamento da informação social. Vários estudos relatam a importância dessas habilidades para se obter o sucesso em situações sociais(2-7).

Algumas pesquisas mostram forte correlação entre TdM e testes de funções executivas, independentemente da idade e da inteligência(3,8,9). Duas habilidades executivas parecem estar mais relacionadas ao desenvolvimento da TdM, o controle inibitório(3,10) e a memória de trabalho(11), uma vez que o sucesso nos testes envolvendo TdM exige tanto a habilidade para manter na memória múltiplas perspectivas (memória de trabalho) como a habilidade de inibir perspectivas irrelevantes (controle inibitório).

Outra vertente de estudos tem mostrado a importância do sistema de neurônios espelho, localizados no córtex pré-motor, no desenvolvimento da cognição social e na compreensão da intenção de outras pessoas. Essa rede de neurônios espelho, que possui a habilidade de correlacionar as percepções do ambiente com as representações sensório-motoras internas, pode desempenhar um importante papel em múltiplos aspectos da cognição social, desde a percepção da ação até a empatia(12,13).

Nos humanos, especula-se que o sistema de neurônios espelho esteja envolvido não somente na representação física de uma ação, mas também na compreensão das intenções, pensamentos e sentimentos que motivaram determinada ação, possivelmente por meio de conexões recíprocas com outras regiões cerebrais, como o sistema límbico ou o córtex pré-frontal medial(14).

As habilidades de resolução de conflito podem nos fornecer ricas e variadas informações sobre as competências linguísticas, cognitivas e sociais das crianças em desenvolvimento normal de linguagem (DNL).

Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi verificar as habilidades de resolução de conflito em crianças de 7 e 8 anos de idade em desenvolvimento normal de linguagem.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa, do Hospital das Clínicas, sob número 0602/07. Todos os responsáveis pelas crianças participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Casuística

Participaram dessa pesquisa 40 crianças sem alterações de linguagem, com idades entre 7 anos e 8 anos e 11 meses (20 crianças por faixa etária), de ambos os gêneros (18 meninas e 22 meninos), matriculados em duas escolas da rede pública de ensino e residentes do município de São Paulo.

Para a seleção das crianças, foi solicitado às professoras que indicassem as crianças sem dificuldades escolares e com desenvolvimento adequado de linguagem para participarem da pesquisa. As crianças indicadas foram submetidas a uma bateria de testes para inclusão, ou não, na pesquisa.

Fizeram parte da bateria de testes aplicada as seguintes provas: Prova de Fonologia do ABFW, Prova de Segmentação em Letras de Palavras e de Pseudo-palavras; Teste de Sensibilidade Fonológica e Prova de Leitura/Escrita, sendo o Nível I aplicado nas crianças da faixa etária de 7 anos e o Nível II nas crianças da faixa etária de 8 anos(15-18). O processo de seleção foi finalizado quando 40 crianças apresentaram desempenho adequado em todas as provas aplicadas e foram selecionadas para a pesquisa.

Procedimentos

As crianças selecionadas passaram por avaliação, onde foi realizada a Prova de Resolução de Conflito(1). O teste foi aplicado, em aproximadamente 15 minutos, na própria escola.

Inicialmente as crianças receberam a seguinte instrução: "Eu gostaria de saber o que meninos (as) como você pensam sobre as coisas. Eu vou contar algumas coisas que aconteceram com um menino. Depois eu gostaria que você pensasse todas as coisas que ele poderia fazer. Me fale tudo o que vier na sua cabeça. Finja que todos os meninos tem [idade do sujeito] anos".

Em seguida foram apresentados oralmente às crianças cinco contextos hipotéticos de conflito (Anexo 1 Anexo 1 )(1). Todas as histórias são compostas por apenas três frases e ao mesmo tempo, para facilitar a compreensão das crianças, foram expostos desenhos que representavam as situações de conflito; sendo que para cada história foram apresentadas três figuras, representando cada uma das frases. Os desenhos foram julgados por quatro fonoaudiólogas pós-graduadas, que verificaram se as figuras realmente remetiam à história contada.

Após cada apresentação, as crianças foram instruídas a recontar a história, a fim de que fosse verificada a compreensão dos acontecimentos. Seriam excluídas do estudo as crianças que não compreendessem as situações hipotéticas de conflito, porém todos os sujeitos demonstraram que compreenderam adequadamente as cinco histórias.

Logo após a recontagem de cada história foi feita a seguinte pergunta: "Se você fosse ele [avaliadora aponta para o personagem da história], o que você faria?". Desta forma, as crianças deveriam relatar o que o protagonista poderia fazer naquela situação, fornecendo apenas uma estratégia para solução do problema. As respostas foram gravadas em um gravador digital Panasonic® RR-US380, para posterior análise.

As respostas foram analisadas para determinar, inicialmente, a presença ou ausência de estratégias de resolução de conflito. Em seguida as respostas foram organizadas em 27 estratégias, descritas no Quadro 1(1).


As estratégias foram agrupadas em cinco níveis, que formam uma escala evolutiva de desenvolvimento para habilidades de resolução de conflitos e as respostas das crianças foram pontuadas de acordo com os níveis propostos, conforme descrito no Quadro 1.

Análise dos dados

Foi definido para este trabalho um nível de significância de 0,05 (5%). Para realizar as análises estatísticas foram utilizados os seguintes testes: Wilcoxon, Mann-Whitney, correlação de Spearman e, para validar a correlação, o Teste de Correlação.

RESULTADOS

A Tabela 1 compara a quantidade média de respostas para os cinco níveis propostos; para análise estatística dos dados foi utilizado o teste de Friedman. Houve diferença estatística entre os níveis, tanto na amostra geral quanto por faixa etária. Para determinar com precisão entre quais níveis ocorre a diferença, foi utilizado o teste de Wilcoxon e todos os níveis foram comparados aos pares; estes valores de p estão descritos na Tabela 2.

Para o grupo como um todo, a maioria das estratégias propostas pertencia ao nível 2 e que os níveis menos utilizados foram os níveis 0 e 4 (Tabelas 1 e 2). As crianças de 7 anos, também utilizaram com mais frequência as estratégias do nível 2 e os níveis menos utilizados por elas também foram os níveis 0 e 4. Para as crianças de 8 anos o nível mais utilizado foi novamente o nível 2, seguido pelo nível 3 e os níveis menos utilizados, foram os níveis 0, 1 e 4.

Para medir o grau de relação entre as faixas etárias das crianças (faixa etária de 7 anos: de 7 a 7 anos e 11 meses; faixa etária de 8 anos: de 8 a 8 anos e 11 meses) e a pontuação total obtida na Prova de Resolução de Conflito, foi utilizada a correlação de Spearman e, para validar a correlação, foi utilizado o Teste de Correlação. É possível observar correlação significante (p=0,03, r=0,34) e positiva (quanto maior a idade, maior a pontuação total), porém o r=0,34 indica que essa correlação é ruim.

O teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar os gêneros com a pontuação total obtida na prova. Embora exista diferença entre os gêneros, sendo a pontuação das meninas mais alta do que a dos meninos, a mesma não pode ser considerada significativa; portanto os gêneros se comportam igualmente.

DISCUSSÃO

As estratégias dos níveis 0 e 4 foram as menos utilizadas pela amostra geral e pelas faixas etárias separadamente, sendo que para as crianças de oito anos o nível 1 também não diferiu dos níveis 0 e 4. Desta forma, pode-se concluir, com base nas estratégias utilizadas, que aos sete e oito anos as crianças ainda utilizam frequentemente estratégias unilaterais, porém já são capazes de dialogar com eficiência para solucionar problemas.

Apesar de ainda utilizarem raramente as soluções mútuas (nível 4), que muitas vezes são as mais eficientes, as crianças também utilizaram poucas vezes as estratégias do nível 0, o que demonstra que apesar das crianças das faixas etárias estudadas ainda não serem capazes de utilizar as estratégias mais sofisticadas, do ponto de vista linguístico, essas crianças já demonstram habilidades de solução de problemas.

É esperado que as habilidades de cognição social, e, consequentemente, as habilidades de solução de problemas ainda evoluam consideravelmente, até por isso, muitas das pesquisas que estudaram as habilidades de cognição social foram realizadas com crianças mais velhas(1,2,19,20).

Por ser provável que crianças mais velhas e adolescentes utilizem com mais frequência estratégias mais sofisticadas, seria interessante aumentar a amostra da pesquisa, acrescentado mais faixas etárias, pois somente assim será possível analisar como e quando ocorre uma maior evolução nas habilidades de resolução de conflito e em que idade as crianças passam a utilizar estratégias mútuas para solucionar seus problemas.

Ao analisar a pontuação obtida pelas crianças participantes da pesquisa na Prova de Resolução de Conflito, nota-se que a correlação entre a faixa etária e a pontuação total é ruim; o que está de acordo com o descrito na literatura(1) e sugere que crianças de sete e oito anos resolvem conflitos da mesma maneira.

A correlação ruim entre a pontuação e a idade já era esperada, uma vez que as habilidades linguísticas não evoluem significativamente entre essas faixas etárias. A grande evolução das habilidades de metarrepresentação e das funções executivas (essenciais para a solução de problemas) ocorre por volta dos quatro anos(3,7,8,21,22) e o próximo marco importante no desenvolvimento linguístico, que poderia influenciar as habilidades sociais, é a alfabetização, que ocorre por volta dos 5 anos(23). Entretanto, apesar da pontuação não ter diferido entre as faixas etárias, as crianças de 7 anos, quando comparadas às de 8, utilizaram com mais frequência estratégias do nível 1 e as de 8 anos, quando comparadas às de 7, utilizaram mais vezes estratégias do nível 3.

Antes dos 7 anos as crianças não conseguem compreender completamente a natureza do conhecimento e dos pensamentos dos outros, portanto crianças dessa faixa etária ainda apresentam uma grande dificuldade em compreender pensamentos como interpretações que podem variar entre indivíduos. Essa idéia de importantes modificações por volta dos 6/7 anos vai de encontro à idéia que crianças de 5/6 anos ainda têm dificuldade de raciocinar sobre problemas que envolvem pensamentos(6).

Tendo como base a pesquisa citada anteriormente, podemos concluir que aos 7 anos as crianças começam a compreender efetivamente a natureza abstrata dos pensamentos e que esses podem variar de acordo com as situações (habilidade necessária para solução de conflitos); esse dado é importante para compreender porque as crianças de 7 anos utilizaram com menos frequência as estratégias do nível 3. Possivelmente as crianças de 7 anos ainda estão começando a compreender melhor o pensamento do outro e dessa forma ainda não vivenciaram muitas situações sociais em que puderam utilizar esse conhecimento recém-adquirido. Dessa forma, a evolução que ocorre aos 7 anos pode justificar a maior utilização das estratégias do nível 3 pelas crianças de 8 anos, uma vez que nessa faixa etária as crianças já são capazes de compreender com mais assertividade a natureza dos pensamentos e já utilizaram esse conhecimento mais vezes em situações sociais, sendo assim capazes de elaborar estratégias mais pertinentes às situações problemas.

Outro marco importante no desenvolvimento, que ocorre pouco antes dos 7 anos, e que pode ter contado a favor das crianças de 8 anos, no que diz respeito à utilização mais frequente das estratégias do nível 3, é a capacidade de raciocinar sobre múltiplas possibilidades e de responder a perguntas do tipo: "E se chover amanhã, será que vamos à praia?". Somente por volta dos 7 anos as crianças conseguem pensar de forma madura sobre possibilidades futuras e avaliar genuinamente as alternativas possíveis(24).

De acordo com o exposto, é provável que a evolução das habilidades de cognição social e, consequentemente, a evolução da capacidade para solucionar problemas, esteja relacionada às experiências sociais individuais em conjunto com a evolução da linguagem e da capacidade de raciocínio abstrato, o que reforça a importância de realizar essa pesquisa com crianças mais velhas.

Verificamos nessa pesquisa que não há diferença entre a pontuação das meninas e dos meninos na Prova de Resolução de Conflito, dado este que está de acordo com o descrito na literatura, uma vez que não há evidências de que meninos e meninas dessa faixa etária apresentem diferenças no desenvolvimento de habilidades linguísticas ou de cognição social(1,2,20).

Esta pesquisa fornece uma importante base para futuros estudos sobre as habilidades de resolução de conflito de crianças em desenvolvimento normal de linguagem e deixa em aberto a possibilidade de importantes relações entre a evolução das habilidades de resolução de conflito e o aumento das situações sociais vivenciadas por crianças mais velhas.

CONCLUSÃO

Aos 7 e 8 anos, crianças em desenvolvimento normal de linguagem utilizam com mais frequência estratégias unilaterais e cooperativas para solucionar problemas. Apesar de ainda utilizarem raramente as soluções mútuas, crianças da faixa etária estudada já demonstram algumas habilidades de solução de problemas.

Recebido em: 28/6/2010;

Aceito em: 1/9/2010

Trabalho realizado no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Desenvolvimento da Linguagem e suas Alterações do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil, com bolsa concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.

Anexo 1. Situações hipotéticas de conflito - histórias traduzidas(1)

1 - Thiago é o melhor amigo de João. Mas agora Thiago brinca com um novo menino da escola todos os dias. Thiago nunca mais brinca com João.

2 - Rodrigo quer usar o computador para jogar seu jogo favorito. Seu irmão Lucas já está usando o computador. Lucas odeia ser interrompido quando está usando o computador.

3 - Marcelo está com fome. Ele quer que seu irmão mais velho, Daniel, o ajude a pegar alguns biscoitos que estão em uma prateleira alta. Marcelo está com medo que Daniel diga não.

4 - Tem um menino chamado Marcos que mora perto do Eduardo. Marcos é muito chato. Quase todos os dias Marcos xinga Eduardo no caminho para escola.

5 - Pedro é um novo menino no bairro. Um sábado Bruno chama Pedro para assistir desenho animado. Depois de dez minutos Pedro muda de canal sem perguntar.

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Anexo 1

  • Endereço para correspondência:
    Erica Macêdo de Paula
    R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária,
    São Paulo (SP), Brasil,
    CEP: 05360-160.
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Aceito
      01 Set 2010
    • Recebido
      28 Jun 2010
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