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Níveis de proteína bruta em dietas para bovinos de corte: consumo, digestibilidade e desempenho produtivo

Crude protein levels in beef cattle diets: intake, digestibility and performance

Resumos

Foram avaliados o consumo e a digestibilidade total dos nutrientes, a taxa de passagem, o ganho de peso, o rendimento de carcaça e a conversão alimentar de bovinos de corte recebendo dietas com quatro níveis de PB (9, 11, 13 e 15% na MS), formuladas com silagem de milho como volumoso e fornecidas na relação volumoso:concentrado de 60:40. Foram utilizados 24 novilhos zebuínos não-castrados (peso médio inicial de 381,6 kg), distribuídos em um delineamento em blocos casualizados, com quatro tratamentos e seis repetições. O período experimental foi de 84 dias, dividido em três períodos de 28 dias, após 15 dias de adaptação. A produção de fezes foi estimada utilizando-se a fibra em detergente ácido indigestível (FDAi), após incubação in situ por 144 horas. Os consumos de MS, MO, FDN, CNF e NDT e a taxa de passagem (Kp) estimada não foram influenciados pelos níveis crescentes de PB das dietas. Os consumos de PB e EE aumentaram linearmente com a elevação dos níveis de PB das dietas. As digestibilidades totais de MS, MO, EE e FDN não foram afetadas pelas dietas, mas a da PB aumentou linearmente com os níveis de PB das dietas. Os ganhos médios diários (GMD) e a conversão alimentar (CA) apresentaram resposta quadrática aos níveis crescentes de PB, que, no entanto, não influenciaram o rendimento de carcaça (RC). Dietas com 12% de PB atendem às exigências de PB e PDR de novilhos zebuínos em fase de terminação com menores custos de produção.

carboidratos não-fibrosos; confinamento; fibra em detergente neutro; silagem de milho; soja grão; uréia


The objective of this trial was to investigate intake, apparent total tract digestibility of nutrients, passage rate, average daily gain, carcass yield, and feed conversion in beef cattle fed diets containing four levels of CP (9, 11, 13 and 15%) and forage:concentrate ratio of 60:40. Twenty-four young Zebu bulls were assigned to a completely randomized block design with four treatments and six replications. The experiment lasted 84 days with 15 days for diet adaptation and three periods of 28 days for data and sample collection. Indigestible acid detergent fiber (IADF; ADF remaining after 144 hours of in situ incubation) was used to estimate fecal output. Intakes of DM, OM, NDF, NFC and TDN and estimated passage rate (Kp) all were not affected by the increasing levels of CP in the diet. Conversely, intakes of both CP and EE increased linearly when the dietary CP level varied from 9 to 15%. No significant differences among treatments were observed for the apparent total tract digestibilities of DM, OM, EE, and NDF. However, digestibility of CP increased linearly with the incremental levels of CP in the diet. Significant quadratic effects were observed for the average daily body weight gain and feed conversion by increasing dietary CP but no diet effect was found for carcass yield. It can be concluded that diets with 12% of CP supplied the requirements of CP and RDP of finishing young Zebu bulls with the lowest production cost.

corn silage; feedlot; non-fiber carbohydrate; neutral detergent fiber; urea; whole soybean


RUMINANTES

Níveis de proteína bruta em dietas para bovinos de corte: consumo, digestibilidade e desempenho produtivo1 1 Parte da tese de Doutorado apresentada à UFV.

Crude protein levels in beef cattle diets: intake, digestibility and performance

José Antônio ObeidI; Odilon Gomes PereiraI, II; Dalton Henrique PereiraIII; Sebastião de Campos Valadares FilhoI, II; Isabela Pena Carvalho de CarvalhoIV; José Maria MartinsV

IDepartamento de Zootecnia

IIBolsista CNPq

IIIDoutorando em Zootecnia. Bolsista CNPq

IVGraduanda em Zootecnia

VTécnico Agrícola, CEPET/UFV

RESUMO

Foram avaliados o consumo e a digestibilidade total dos nutrientes, a taxa de passagem, o ganho de peso, o rendimento de carcaça e a conversão alimentar de bovinos de corte recebendo dietas com quatro níveis de PB (9, 11, 13 e 15% na MS), formuladas com silagem de milho como volumoso e fornecidas na relação volumoso:concentrado de 60:40. Foram utilizados 24 novilhos zebuínos não-castrados (peso médio inicial de 381,6 kg), distribuídos em um delineamento em blocos casualizados, com quatro tratamentos e seis repetições. O período experimental foi de 84 dias, dividido em três períodos de 28 dias, após 15 dias de adaptação. A produção de fezes foi estimada utilizando-se a fibra em detergente ácido indigestível (FDAi), após incubação in situ por 144 horas. Os consumos de MS, MO, FDN, CNF e NDT e a taxa de passagem (Kp) estimada não foram influenciados pelos níveis crescentes de PB das dietas. Os consumos de PB e EE aumentaram linearmente com a elevação dos níveis de PB das dietas. As digestibilidades totais de MS, MO, EE e FDN não foram afetadas pelas dietas, mas a da PB aumentou linearmente com os níveis de PB das dietas. Os ganhos médios diários (GMD) e a conversão alimentar (CA) apresentaram resposta quadrática aos níveis crescentes de PB, que, no entanto, não influenciaram o rendimento de carcaça (RC). Dietas com 12% de PB atendem às exigências de PB e PDR de novilhos zebuínos em fase de terminação com menores custos de produção.

Palavras-chave: carboidratos não-fibrosos, confinamento, fibra em detergente neutro, silagem de milho, soja grão, uréia

ABSTRACT

The objective of this trial was to investigate intake, apparent total tract digestibility of nutrients, passage rate, average daily gain, carcass yield, and feed conversion in beef cattle fed diets containing four levels of CP (9, 11, 13 and 15%) and forage:concentrate ratio of 60:40. Twenty-four young Zebu bulls were assigned to a completely randomized block design with four treatments and six replications. The experiment lasted 84 days with 15 days for diet adaptation and three periods of 28 days for data and sample collection. Indigestible acid detergent fiber (IADF; ADF remaining after 144 hours of in situ incubation) was used to estimate fecal output. Intakes of DM, OM, NDF, NFC and TDN and estimated passage rate (Kp) all were not affected by the increasing levels of CP in the diet. Conversely, intakes of both CP and EE increased linearly when the dietary CP level varied from 9 to 15%. No significant differences among treatments were observed for the apparent total tract digestibilities of DM, OM, EE, and NDF. However, digestibility of CP increased linearly with the incremental levels of CP in the diet. Significant quadratic effects were observed for the average daily body weight gain and feed conversion by increasing dietary CP but no diet effect was found for carcass yield. It can be concluded that diets with 12% of CP supplied the requirements of CP and RDP of finishing young Zebu bulls with the lowest production cost.

Key Words: corn silage, feedlot, non-fiber carbohydrate, neutral detergent fiber, urea, whole soybean

Introdução

Detentor do maior rebanho comercial bovino do mundo, o agronegócio brasileiro possui a pecuária de corte como uma das mais importantes atividades, representando uma parcela substancial do PIB e gerando mais de nove milhões de empregos diretos e indiretos. A partir da década de 90, com as imposições da globalização, o setor pecuário (corte e leite) tem apresentado avanços expressivos de desenvolvimento, aumentando sua competitividade produtiva e econômica. Firmando-se como o maior exportador mundial de carne bovina a partir de 2003 (Cavalcanti, 2004), o Brasil, desde 2004, tende a se tornar também o maior exportador mundial de leite.

Com a maior área agricultável (apenas de cerrados o Brasil possui aproximadamente 151 milhões de hectares) e o maior reservatório de água doce do planeta, o Brasil tem condições de produzir pastagem e forragem conservada em alta escala e a baixo custo, permitindo o aumento do rebanho e da produção com qualidade. Os produtos de melhor qualidade e, portanto, de maior valor agregado, são demandados pelos países importadores, em especial aqueles de maior poder aquisitivo que, certamente remuneram melhor carne e leite livres de hormônios, probióticos e promotores de crescimento, comuns nos produtos americanos e europeus.

Como a maior parte do território brasileiro está localizada na região tropical, as forrageiras utilizadas estão sujeitas à estacionalidade de produção, resultando em grande deficiência quantitativa e qualitativa de forragem no período de estiagem. Com a tecnificação e a intensificação do processo produtivo na pecuária de corte, tem sido usada, entre outras, a prática do confinamento como alternativa na terminação de novilhos, pela qual alimentos volumosos conservados, principalmente silagens e fenos, constituem a principal fonte de nutrientes para a alimentação dos animais.

Por outro lado, a possibilidade de substituir parte da proteína verdadeira pelo nitrogênio não-protéico (NNP) como forma de reduzir o custo de produção tem levado ao aumento das pesquisas, em especial com a utilização da uréia. Os níveis de suplementação de dietas com uréia para a alimentação de bovinos em confinamento tem sido inconsistentes. A recomendação mais utilizada é a substituição de até 1/3 do nitrogênio protéico da ração pela uréia, entretanto, Haddad (1984) sugere limitar a quantidade de uréia em, no máximo, 1,0% da MS total da dieta. Salienta ainda que, quando os níveis de proteína na ração são elevados, principalmente se sua origem é NNP, pode ocorrer redução na palatabilidade e, conseqüentemente, no consumo, podendo ocasionar ainda, em caso de excesso de amônia no rúmen, altas perdas de nitrogênio urinário.

Magalhães et al. (2005), trabalhando com níveis crescentes de uréia (0,00; 0,65; 1,30 e 1,65% da MS total) para novilhos em confinamento, não encontraram diferenças nos ganhos de peso, que foram, respectivamente, de 1,21; 1,25; 1,28 e 1,08 kg/novilho/dia.

O consumo é um dos principais fatores que deteminaram o desempenho animal e, segundo Mertens (1994), 60 a 90% das variações de desempenho são atribuídas às oscilações no consumo, enquanto apenas 10 a 40% são relacionadas à digestibilidade dos componentes nutritivos. Entre os fatores que mais influenciam o consumo, destaca-se o teor de proteína, que deve ser atendido pela absorção intestinal de aminoácidos provenientes principalmente da proteína microbiana sintetizada no rúmen e da proteína alimentar não degradada no rúmen (Valadares Filho & Valadares, 2001).

A digestibilidade é um importante indicativo do valor nutritivo da dieta (Van Soest, 1994) e indica a porcentagem de cada nutriente utilizado pelo animal (Coelho da Silva & Leão, 1979). Efeitos da concentração protéica da dieta sobre a digestibilidade têm sido mais consistentes quando utilizadas fontes protéicas degradadas no rúmen. Aumentos na digestibilidade aparente da MS com o aumento da PB na ração foram relatados por Valadares et al. (1997). Entretanto, Rennó et al. (2003), trabalhando com rações contendo 12 a 15% de PB, verificaram efeito apenas sobre os coeficientes de digestibilidade aparente total de PB e EE.

Objetivou-se com este trabalho avaliar os consumos, as digestibilidades totais dos nutrientes, o desempenho produtivo e o rendimento de carcaça de novilhos zebus alimentados com dietas contendo diferentes níveis de PB.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (CEPET), da Universidade Federal de Viçosa. A CEPET localiza-se no município de Capinópolis - MG, com altitude média de 620,2 m, latitude sul de 18º 41' e longitude oeste de 49º 34'.

O clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen, quente e úmido, com temperatura do mês mais frio acima de 18ºC, com estação chuvosa no verão e seca no inverno e precipitação média anual de 1.400 a 1.600 mm.

Foram utilizados 24 animais zebuínos, com peso médio inicial de 381,6 kg, distribuídos em um delineamento em blocos casualizados, com quatro tratamentos e seis repetições.

Os tratamentos foram constituídos de rações à base de silagem de milho como volumoso, formuladas para conter 9, 11, 13 e 15% de PB na MS, com relação volumoso:concentrado de 60:40. Os concentrados foram formulados à base de fubá de milho, minerais e uréia, adicionados de níveis crescentes de grãos de soja no momento da alimentação, à exceção da ração com 9% de PB, que não continha soja.

O milho (híbrido AG 1051), ensilado no estádio farináceo-duro, foi proveniente de uma área de 3,0 ha, adubada com NPK (8-28-16) + Zn (300 kg/ha) e 100 kg de uréia em cobertura.

Os custos (US$/100 kg) e a proporção dos ingredientes nos concentrados, expressa com base na matéria natural, bem como os custos (US$/animal/dia) e a proporção dos ingredientes nas dietas experimentais, expressa com base na MS, encontram-se nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.

A composição químico-bromatológica dos concentrados, da silagem e das rações experimentais encontra-se nas Tabelas 3 e 4, respectivamente.

O período experimental foi de 84 dias, divididos em três períodos de 28 dias, após 15 dias de adaptação.

Após pesagem e everminação, os animais foram alojados em baias individuais (10 m2) contendo comedouro coberto e bebedouro, onde receberam a alimentação, duas vezes ao dia (7 e 15 h), em quantidade suficiente para ocorrer 10% de sobras.

Durante o período experimental, diariamente, avaliou-se o consumo e coletaram-se amostras dos alimentos fornecidos e das sobras de cada animal, que foram acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e armazenadas em freezer.

As pesagens inicial e final foram realizadas com os animais em jejum completo de 14 horas e as intermediárias, com os animais sem jejum.

Para o ensaio de digestibilidade e estimativa da produção fecal utilizando-se a FDAi como indicador, as fezes foram coletadas diretamente no piso, uma vez ao dia antes da primeira alimentação, entre o 43º e 48º dia experimental. Nesta ocasião, foram também coletadas amostras dos alimentos fornecidos e das sobras.

Todas as amostras foram submetidas à pré-secagem em estufa com ventilação forçada (a 65ºC, por 72 horas) e, posteriormente, foram trituradas em moinho de facas, tipo Willey, com peneira de 30 mesh, sendo armazenadas em frascos de vidro com tampa de polietileno para posteriores análises.

As análises dos teores de MS, MO, EE, compostos nitrogenados (N), lignina, nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) foram feitas segundo procedimentos descritos por Silva & Queiroz (2002).

A composição em FDN e FDA foi determinada pela técnica da autoclave, segundo Pell & Schofield (1993). A correção da FDN para cinzas e proteína (FDNcp) foi realizada nas amostras de alimentos para cálculo da digestibilidade da FDN e do NDT das rações.

Os teores de NDT foram obtidos a partir da equação: NDT = PBD + 2,25 EED + FDNcpD + CNFD em que PBD, EED, FDNcp e CNFD significam, respectivamente, PB digestível, EE digestível, FDN digestível corrigida para cinza e proteína e CNF digestíveis. Os carboidratos não-fibrosos (CNF) foram calculados como proposto por Hall (2000): CNF = 100 - [(% PB - % PB derivada da uréia + % de uréia) + % FDN + % EE + % cinzas].

As concentrações de FDAi foram determinadas nas amostras de alimentos, sobras e fezes, por meio de incubação ruminal por 144 horas de 0,5 g de amostra em sacos de Ankom (filter bags F57), que, posteriormente, foram lavados em água corrente, fervidos em detergente ácido por uma hora, lavados em água destilada fervente por 10 minutos e, em seguida, com acetona (por duas vezes), sendo secos em estufa a 65ºC por 72 horas, para determinação da FDAi.

A taxa de passagem foi estimada por meio das equações preditas pelo NRC (2001) para forrageiras úmidas (Kp = 3,054 + 0,614X1) e para alimentos concentrados (Kp = 2,904 + 1,375X1 – 0,020X2), em que X1 equivale ao consumo de matéria seca em relação ao peso corporal e X2, à porcentagem de PB na ração.

Os teores de proteína degradável no rúmen (PDR) foram calculados conforme recomendações do NRC (2001), por meio da equação: PDR= A + B * (kd/ kd+kp), em que A, B, kd e kp significam, respectivamente, fração solúvel em água, fração insolúvel em água e potencialmente degradável, taxa de degradação da fração B e taxa de passagem da PB pelo rúmen. Os valores de A (%), B (%) e kd (%/hora) adotados foram: 54,72; 36,0 e 6,68 para silagem de milho; 21,93; 74,21 e 4,03 para fubá de milho e 29,10; 70,90 e 9,90 para grãos de soja, respectivamente (Valadares Filho et al., 2002). Os valores de kp estimados foram de 4,63%/hora para silagem de milho e 5,73%/hora para fubá de milho e grão de soja, sendo utilizado o valor médio de 5%/hora para todos os ingredientes das dietas.

Após o abate dos animais, foram avaliados os rendimentos de carcaça (RC), expressos pela divisão do peso de carcaça quente (PCQ) pelo respectivo peso corporal final (PVF) de cada animal, submetido a jejum de 14 horas.

As variáveis estudadas foram submetidas às análises de variância e regressão utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (UFV, 2001). Os modelos foram escolhidos utilizando-se como critérios a significância entre as dietas, por meio do teste F a 5% de probabilidade, e por meio dos coeficientes de determinação.

Resultados e Discussão

A silagem de milho utilizada apresentou valor médio de pH de 3,8, concentração de N-NH3, em porcentagem do nitrogênio total, de 5,94%, e baixo teor de FDN (46,95%), o que permite classificá-la como de ótima qualidade (McDonald et al., 1991).

As médias, as equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação (r2) e de variação (CV, %) para os consumos diários de componentes nutritivos, em função dos níveis de PB, encontram-se na Tabela 5.

Os consumos diários de MS (kg/dia e %PV) e MO (kg/dia) não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de PB das rações e apresentaram valores médios de 9,18 kg/dia e 2,1% do PV (consumos de MS) e de 8,89 kg/dia (consumo de MO). Certamente, a quantidade de compostos nitrogenados nas diferentes rações experimentais atendeu às exigências dos microrganismos ruminais, não influenciando, portanto, o consumo destes componentes nutritivos. Segundo Van Soest (1994), concentrações de PB superiores a 7% na MS total não influenciam a ingestão de MS pelos bovinos. Valadares et al. (1997) também observaram redução de consumo apenas quando a ração continha 7% de PB e encontraram consumos de MS mais elevados e iguais entre si para as rações contendo 9,5; 12,0 e 14,5% de PB. Trabalhos de Magalhães et al. (2005) e Cavalcante et al. (2005) utilizando uma única relação volumoso:concentrado e níveis crescentes de PB, não revelaram aumento no consumo quando os níveis de PB foram superiores a 7%. Independentemente da forma de expressão, Carvalho et al. (1997), Cardoso et al. (2000), Ítavo et al. (2002a) e Moraes et al. (2002) também não verificaram variação no consumo com o aumento do concentrado quando as dietas possuíam níveis superiores a 7% de PB. Diferentemente, Dias et al. (2000) e Silva et al. (2003) obtiveram aumento linear no consumo de MS e MO quando aumentaram a quantidade de concentrado nas dietas experimentais.

Como esperado, o consumo de PB (kg/dia) aumentou linearmente (P<0,05) com a elevação dos teores de PB nas rações, o que está consoante com os resultados obtidos por Ítavo et al. (2002b). Considerando que a exigência para bovinos de corte com peso de 450 kg e ganho de 1,0 kg/dia é de 0,921 kg de PB (NRC, 1996), pode-se afirmar que as demais rações atenderam aos requerimentos de PB dos animais, à exceção daquela com 9% de PB, que atendeu 96% da exigência deste nutriente.

O consumo de EE aumentou linearmente (P<0,05) com a elevação dos níveis de PB nas rações, certamente em decorrência dos níveis crescentes de grãos de soja, visto que o consumo de MS não variou entre as dietas.

O consumo de FDN, independentemente de sua forma de expressão (kg/dia ou % PV), não foi influenciado (P>0,05) pelas rações, o que era esperado tendo-se em vista a similaridade no consumo de MS e nos teores de FDN nas rações. Considerando a recomendação do NRC (1996) de 6,33 kg/dia de NDT para animais com 450 kg e ganho diário de 1,0 kg, à exceção da ração com 9% de PB (sem soja), as demais atenderam às exigências em NDT dos animais.

Na Tabela 6 são relacionados os coeficientes de digestibilidade total dos componentes nutritivos, as equações de regressão ajustadas em função dos níveis de PB das dietas e os respectivos coeficientes de determinação (r2) e de variação (CV %).

As digestibilidades totais de MS, MO, EE e FDN não foram influenciadas (P>0,05) pelos níveis de PB das rações, apresentando médias de 70,61; 71,60; 72,06 e 43,65, respectivamente. Esses resultados eram esperados, pois não houve elevação do consumo de CNF com o aumento dos níveis de PB nas dietas. Entretanto, resultados de literatura nos quais foram utilizados diferentes níveis de concentrado revelaram aumentos lineares nos coeficientes de digestibilidade da MS e MO com a elevação dos níveis de PB nas dietas (Ítavo et al., 2002a) ou mesmo efeitos quadráticos (Ladeira et al., 1999).

Os coeficientes de digestibilidade aparente total da PB aumentaram linearmente (P<0,05) com o aumento dos níveis de PB, o que está de acordo com os resultados descritos por Cardoso et al. (2000) e Dias et al. (2000). Entretanto, Ítavo et al. (2002a) e Moraes et al. (2002) não encontraram efeito de níveis de concentrado sobre os coeficientes de digestibilidade aparente total da PB.

A taxa de passagem (Kp) estimada (0,0460 ± 0,0012/hora) não foi influenciada (P>0,05) pelos níveis de PB nas rações, sendo semelhante à obtida por Pereira (2004).

Na Tabela 7, constam os pesos corporais inicial (PVI) e final (PVF), o ganho de peso médio diário (GMD), o rendimento de carcaça (RC), a conversão alimentar (CA), o custo da arroba produzida considerando o alimento (US$/@), as equações de regressão e os coeficientes de determinação (r2) e variação (CV%) obtidos nos tratamentos.

O GMD apresentou resposta quadrática (P<0,05) ao aumento dos níveis de PB nas rações (Tabela 7), estimando-se valor máximo de 1,47 kg/dia para o nível de 13% de PB na ração. Comportamento quadrático foi relatado também por Hoffman et al. (2001), ao testarem níveis de PB de 8, 11, 13 e 15%. Cavalcante et al. (2005), no entanto, não verificaram efeito dos níveis de PB na dieta sobre o GMD de novilhos nelorados, cujo ganho médio foi de 1,074 kg/dia. Constata-se que a utilização de nível de uréia superior em até 58% ao recomendado por Haddad (1984) não prejudicou o GMD dos animais.

Como demonstrado na Figura 1, a quantidade ideal de PB para os animais utilizados neste ensaio foi de 1,11 kg/dia para ganho de peso médio diário de 1,43 kg/animal. Esses animais apresentaram consumo médio de MS de 19,18 kg/animal/dia (média de 12% de PB na MS total), sugerindo que esse teor de PB foi equivalente às exigências dos animais nesta pesquisa.


O GMD de 1,43 kg/dia foi obtido com consumo ótimo de PDR de 0,684 kg/dia (Figura 2), o que equivale a 7,5% de PDR na MS ingerida ou a 61,6% de PDR na PB total requerida. Contudo, consumos de PDR superiores a 1,111 kg/dia resultaram em mesmo ganho diário, o que permite inferir que as exigências de PB podem ser supridas exclusivamente pela PDR da dieta.


Assim, pode-se afirmar que as exigências de novilhos de corte zebuínos em confinamento com peso médio inicial de 382 kg foram de 12% de PB e de 7,5% de PDR na MS total.

O teor de PB das dietas não influenciou (P>0,05) o RC, o que está de acordo com os resultados obtidos por Ferreira et al. (1999), Souza et al. (2002) e Cavalcante et al. (2005).

A conversão alimentar ajustou-se a um modelo quadrático (P<0,05), estimando-se ponto de mínimo de 6,34 para o nível de 13,6% de PB nas rações, próximo àquele que resultou em GMD máximo, o que está de acordo com os resultados descritos por Ferreira et al. (1999). A maior participação de grãos de soja nas rações resultou em maior ingestão (P<0,05) de PB, EE e NDT, requerendo menor quantidade de alimento para o ganho de peso.

Considerando o GMD e o custo das rações consumidas, os custos por kg de peso produzido durante o experimento foram de US$ 0,85; 0,78; 0,78 e 0,82 para os níveis de PB de 9, 11, 13 e 15%, respectivamente. O custo por kg de peso foi igual para os tratamentos com 11 e 13% de PB e superior em 9 e 5% para os tratamentos com 9 e 15% de PB, respectivamente.

Tomando como base os valores de mercado e os dados deste trabalho, algumas alternativas podem ser analisadas pelo pecuarista. Primeira: considerando-se R$ 53,00 (US$ 23,92) o atual preço da arroba, a melhor dieta experimental (13% PB) propiciou lucro de US$ 0.20/@ produzida. Como a duração do confinamento foi de 84 dias e o GMD de 1,47 kg, obteve-se produção de 4,22 @ (carcaça) e um lucro de US$ 0.85/animal confinado. Segunda: considerando a possibilidade de aluguel da pastagem (US$ 5.13/animal/mês - Anualpec 2005) desocupada pelo animal confinado, é possível obter receita de US$ 15.166 durante o período de confinamento. Além disso, o acabamento precoce dos animais, propiciado pelo confinamento, resulta em giro mais rápido do capital empatado e proporciona a reposição de animais a pasto em pleno período de estiagem, quando seu estado corporal favorece o comprador.

Como terceira alternativa, se os animais permanecessem em pastagem sem suplementação, cada animal perderia estimadamente 30 kg de PV durante o período de estiagem (0,25 kg/novilho dia durante 120 dias - julho a outubro). Ganhando cerca de 0,6 kg/animal/dia no período das águas (novembro a maio), os animais só atingiriam o peso obtido no confinamento (503 kg) em 18/05 do ano subseqüente, mesmo assim, considerando a adição dos 30 kg perdidos na seca como ganho compensatório. Nesta hipótese, o confinamento proporcionaria a possibilidade de aluguel da pastagem por um período de 10,6 meses (julho a 18 de maio), com receita unitária de US$ 58,20, resultando em um lucro de US$ 46.40/animal confinado, deduzido o prejuízo de US$ 7.98 ocasionado pelo custo do alimento utilizado no confinamento.

Conclusões

As exigências de bovinos zebuínos em confinamento com 382 kg de PV inicial e 496 kg de PV final foram de aproximadamente 1,11 kg de PB/dia, equivalente, neste experimento, a 12% de PB na MS. A ingestão mínima de PDR foi de 0,684 kg/dia para maior ganho de peso (1,43 kg/animal/dia) e menor custo de produção (US$ 0,78/kg de PV) sem comprometer a digestibilidade aparente total da maioria dos nutrientes.

Literatura Citada

Recebido: 01/12/05

Aprovado: 11/07/06

Correspondências devem ser enviadas para: obeid@ufv.br

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  • 1
    Parte da tese de Doutorado apresentada à UFV.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Jan 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 2006

    Histórico

    • Recebido
      01 Dez 2005
    • Aceito
      11 Jul 2006
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