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Redução dos níveis de proteína e suplementação aminoacídica em rações para codornas européias (Coturnix coturnix coturnix)

Reduction of the dietary protein levels and amino acid supplementation of European quails (Coturnix coturnix coturnix)

Resumos

O experimento foi realizado objetivando-se avaliar o efeito de nove planos de nutrição (PN) sobre o desempenho de um lote misto de 576 codornas, distribuído em delineamento experimental inteiramente ao acaso, com nove tratamentos e quatro repetições de 16 aves. Nas fases de 1 a 21 dias de idade, os PN foram: PN1 = 28% de proteína bruta (PB), 1,5% lisina (L) e 1,1% de metionina+cistina (MC) de 1 a 21 dias e 24%PB, 1,3%L e 0,9%MC de 22 a 42 dias (controle); PN2 = 25,2% PB, 1,23% L e 0,83% MC de 1 a 21 dias e de 21,6% PB, 1,0% L e 0,74% MC de 22 a 42 dias; PN3 = 22,4% PB, 0,71% MC de 1 a 21 dias e 1,2% L e 19,2% PB, 0,64% MC e 0,95% L de 22 a 42 dias; PN4 = PN2+L; PN5 = PN3+L; PN6 = PN2+MC; PN7 = PN3+MC; PN8 = PN2+L+MC; e PN9 = PN3+L+MC. A suplementação da ração do PN4 ao PN9 com L, MC ou L+MC foi realizada para proporcionar valores de L e de MC semelhantes aos do PN1. As rações nas duas fases continham 2.900 kcal EM/kg e, como a água, foram oferecidas à vontade. Na fase de 1 a 21 dias, a redução da proteína de 28 para 22,4% reduziu o consumo, o peso vivo e o ganho de peso, mas não afetou a conversão alimentar. A suplementação da dieta com MC melhorou o desempenho das aves. O uso do nível de L recomendado (1,5%) em ração deficiente em PB (19,2%) e em MC (0,71%) afetou negativamente o crescimento de codornas de 1 a 21 dias de idade. Ao contrário, o atendimento da exigência em MC permitiu a redução da PB de 28 para 22,4% e de 24 para 19,2%, respectivamente, de 1 a 21 e de 22 a 42 dias, independentemente da suplementação de lisina.

codorna tipo carne; lisina; metionina+cistina; plano de nutrição


The effects of feeding nine nutrition plans (NP) on the performance of 576 quails, allotted to a completely randomized design with nine treatments of four replicates of 16 birds, were evaluated in this trial. The following NP were analyzed from 1 to 21 days of age: NP1 = 28% of crude protein (CP), 1.5% lysine (L) and 1.1% methionine + cystine (MC) from 1 to 21 days and 24%CP, 1.3%L and 0.9% MC from 22 to 42 days (control); NP2 = 25.2% CP, 1.23% L and 0.83% MC from 1 to 21 days and of 21.6% CP, 1.0% L and 0.74% MC from 22 to 42 days; NP3 = 22.4% CP, 0.71% MC from 1 to 21 days and 1.2% L and 19.2% CP, 0.64% MC and 0.95% L from 22 to 42 days; NP4 = NP2+L; NP5 = NP3+L; NP6 = NP2+MC; NP7 = NP3+MC; NP8 = NP2+L+MC; and NP9 = NP3+L+MC. The diet supplementation from NP4 to NP9 with L, MC or L+MC aimed to provide values of L and MC similar to NP1. Diets (2,900 kcal ME/kg ) and water were fed ad libitum in both phases. From 1 to 21 days, decreasing dietary crude protein levels from 28 to 22.4% also reduced intake, body weight, weight gain, but did not affect feed conversion. The dietary supplementation with MC increased bird performance. The recommended level of L (1.5%) in a deficient diet in CP (19.2%) and MC (0.71%) decreased quail growth from 1 to 21 days of age. However, meeting the MC requirements decreased dietary CP levels from 28 to 22.4% and from 24 to 19.2%, respectively, for quails from 1 to 21 and 22 to 42 days of age, independent of the lysine supplementation.

quail meat type; lysine; methionine+cystine; nutrition plan


MONOGÁSTRICOS

Redução dos níveis de proteína e suplementação aminoacídica em rações para codornas européias (Coturnix coturnix coturnix)1 1 Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada ao PPGZ/CCA/UFPB, Areia - PB

Reduction of the dietary protein levels and amino acid supplementation of European quails (Coturnix coturnix coturnix)

Edson Lindolfo da SilvaI; José Humberto Vilar da SilvaII; José Jordão FilhoIII; Marcelo Luís Gomes RibeiroIII; Fernando Guilherme Perazzo CostaIV; Paulo Borges RodriguesV

IPós-Graduação em Zootecnia, PPGZ/CCA/UFPB, Areia - PB

IIDAP/CFT/UFPB, Bananeiras - PB e PPGZ/CCA/UFPB, Areia - PB

IIIDoutorado Integrado em Zootecnia, CCA-UFPB/UFRPE/UFC. Areia - PB

IVPPGZ/DZ/CCA/UFPB, Areia - PB

VPPGZ/DZO/UFLA, Lavras - MG

RESUMO

O experimento foi realizado objetivando-se avaliar o efeito de nove planos de nutrição (PN) sobre o desempenho de um lote misto de 576 codornas, distribuído em delineamento experimental inteiramente ao acaso, com nove tratamentos e quatro repetições de 16 aves. Nas fases de 1 a 21 dias de idade, os PN foram: PN1 = 28% de proteína bruta (PB), 1,5% lisina (L) e 1,1% de metionina+cistina (MC) de 1 a 21 dias e 24%PB, 1,3%L e 0,9%MC de 22 a 42 dias (controle); PN2 = 25,2% PB, 1,23% L e 0,83% MC de 1 a 21 dias e de 21,6% PB, 1,0% L e 0,74% MC de 22 a 42 dias; PN3 = 22,4% PB, 0,71% MC de 1 a 21 dias e 1,2% L e 19,2% PB, 0,64% MC e 0,95% L de 22 a 42 dias; PN4 = PN2+L; PN5 = PN3+L; PN6 = PN2+MC; PN7 = PN3+MC; PN8 = PN2+L+MC; e PN9 = PN3+L+MC. A suplementação da ração do PN4 ao PN9 com L, MC ou L+MC foi realizada para proporcionar valores de L e de MC semelhantes aos do PN1. As rações nas duas fases continham 2.900 kcal EM/kg e, como a água, foram oferecidas à vontade. Na fase de 1 a 21 dias, a redução da proteína de 28 para 22,4% reduziu o consumo, o peso vivo e o ganho de peso, mas não afetou a conversão alimentar. A suplementação da dieta com MC melhorou o desempenho das aves. O uso do nível de L recomendado (1,5%) em ração deficiente em PB (19,2%) e em MC (0,71%) afetou negativamente o crescimento de codornas de 1 a 21 dias de idade. Ao contrário, o atendimento da exigência em MC permitiu a redução da PB de 28 para 22,4% e de 24 para 19,2%, respectivamente, de 1 a 21 e de 22 a 42 dias, independentemente da suplementação de lisina.

Palavras-chave: codorna tipo carne, lisina, metionina+cistina, plano de nutrição

ABSTRACT

The effects of feeding nine nutrition plans (NP) on the performance of 576 quails, allotted to a completely randomized design with nine treatments of four replicates of 16 birds, were evaluated in this trial. The following NP were analyzed from 1 to 21 days of age: NP1 = 28% of crude protein (CP), 1.5% lysine (L) and 1.1% methionine + cystine (MC) from 1 to 21 days and 24%CP, 1.3%L and 0.9% MC from 22 to 42 days (control); NP2 = 25.2% CP, 1.23% L and 0.83% MC from 1 to 21 days and of 21.6% CP, 1.0% L and 0.74% MC from 22 to 42 days; NP3 = 22.4% CP, 0.71% MC from 1 to 21 days and 1.2% L and 19.2% CP, 0.64% MC and 0.95% L from 22 to 42 days; NP4 = NP2+L; NP5 = NP3+L; NP6 = NP2+MC; NP7 = NP3+MC; NP8 = NP2+L+MC; and NP9 = NP3+L+MC. The diet supplementation from NP4 to NP9 with L, MC or L+MC aimed to provide values of L and MC similar to NP1. Diets (2,900 kcal ME/kg ) and water were fed ad libitum in both phases. From 1 to 21 days, decreasing dietary crude protein levels from 28 to 22.4% also reduced intake, body weight, weight gain, but did not affect feed conversion. The dietary supplementation with MC increased bird performance. The recommended level of L (1.5%) in a deficient diet in CP (19.2%) and MC (0.71%) decreased quail growth from 1 to 21 days of age. However, meeting the MC requirements decreased dietary CP levels from 28 to 22.4% and from 24 to 19.2%, respectively, for quails from 1 to 21 and 22 to 42 days of age, independent of the lysine supplementation.

Key Words: quail meat type, lysine, methionine+cystine, nutrition plan

Introdução

O custo de produção de codornas, assim como o de outras espécies de aves, tem-se elevado com o alto preço das fontes protéicas da ração. A proteína, seguida pelo componente energético, é o segundo nutriente mais caro e seu balanceamento adequado deve melhorar a competitividade e o rendimento econômico das criações de codornas. Entretanto, são escassos os estudos sobre planos de nutrição visando à redução dos níveis protéicos da ração e a suplementação com aminoácidos para esta espécie.

Segundo Silva & Ribeiro (2001), as codornas apresentam 10% do peso vivo de galinhas poedeiras e seus ovos pesam 16% do peso dos ovos de galinhas. Contudo, são mais exigentes em proteína e seu consumo de ração corresponde a 14% do PV, enquanto o de galinhas é de apenas 7% do PV.

As informações sobre os níveis de proteína para codornas para produção de carne são escassas e muito discrepantes (Garcia, 2001). Portanto, as controvérsias acerca das recomendações para codornas são evidentes quanto aos níveis, às fases de crescimento e à aptidão produtiva das aves. Por exemplo, o NRC (1994) apresenta as exigências nutricionais para codornas destinadas à produção de ovos, mas não especifica a fase e a linhagem da ave.

Leeson & Summers (1997) recomendaram, para codornas selecionadas para a produção de carne, dietas com 28% de proteína até a sexta semana e 18% até o abate, enquanto Shrivastav & Panda (2001) sugeriram 26% até a segunda e 24% até a sexta semana de idade. Estas discrepâncias tornam a formulação de dietas para codornas uma tarefa difícil para os produtores e para a indústria de rações. No Brasil, Silva & Ribeiro (2001) publicaram uma tabela de exigência nutricional de codornas, mas as informações se limitam a codornas para a produção de ovos.

De acordo com Shrivastav (2002), para se obter máximo benefício na criação dessas aves, é necessário o uso de rações balanceadas, que, além de baratas, forneçam nutrientes nas proporções necessárias para o ótimo crescimento e produção das codornas. Este autor comenta que as exigências nutricionais estimadas em condições de clima temperado podem não representar bem as exigências das aves criadas em condições de clima tropical, uma vez que experiências com galinhas poedeiras comprovaram que as exigências variam de uma região para outra.

Planos de nutrição para a criação de codornas, em condições brasileiras, ainda não foram desenvolvidos, mas podem ter contribuição importante na redução do custo de produção. Neste estudo, avaliaram-se planos de nutrição para codornas européias (Coturnix coturnix coturnix) destinadas à produção de carne visando à redução da proteína bruta e a suplementação da dieta com os aminoácidos essenciais.

Material e Métodos

O experimento foi desenvolvido em galpão experimental do Setor de Pesquisas em Nutrição de Aves (SPNA) do Centro de Formação de Tecnólogos (CFT), Campus III da UFPB, localizado na cidade de Bananeiras, estado da Paraíba.

Utilizou-se um lote misto de 576 codornas européias (Coturnix coturnix coturnix) tipo carne, com peso médio de 8,64 g, alojado, no período de 1 a 42 dias de idade, em boxes com dimensões (1 m x 1,5 m) e piso coberto com cama de maravalha. O aquecimento das aves na fase inicial foi realizado com lâmpadas incandescentes de 100 W e o programa de luz adotado, durante a fase experimental, foi de 24 horas.

O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso com nove tratamentos e quatro repetições de 16 aves (oito de cada sexo). Foram testados nove planos de nutrição (PN) no período de 1 a 21 dias e outros nove planos no período de 22 a 42 dias de idade (Tabela 1). As rações dos PN2, PN4, PN6 e PN8 foram formuladas com redução de 10% da proteína fornecida pela dieta controle (PN1) e as dos PN3, PN5, PN7 e PN9, com reduções de 20%.

As rações dos PN4 e PN5 foram suplementadas com L-lisina•HCl e as dos PN6 e PN7, com DL-metionina, para apresentar níveis semelhantes aos da ração controle (PN1), enquanto as rações dos PN8 e PN9 foram suplementadas simultaneamente com L-lisina•HCl e DL-metionina, também para atender aos requerimentos das aves e atingir os mesmos níveis da ração controle. As rações para as duas fases foram isoenergéticas, continham 2.900 kcal de energia metabolizável (EM)/kg e foram fornecidas à vontade, juntamente com a água.

No PN1 (controle), as rações foram formuladas para atender 100% das exigências das codornas nos períodos de 1 a 21 dias, segundo Leeson & Summers (1997), e de 22 a 42 dias, de acordo com as exigências preconizadas por Shrivastav & Panda (1999), e suas composições são descritas nas Tabelas 2 e 3.

Foram avaliados o peso vivo (g), o ganho de peso (g/d), o consumo de ração (g/d) e a conversão alimentar (kg/kg) nas fases de 1 a 21; de 22 a 42; e de 1 a 42 dias de idade das aves. O ganho de peso foi determinado pela diferença entre os pesos final e inicial de cada fase; o consumo de ração, pela diferença entre a ração fornecida; as sobras dos baldes e dos comedouros e a conversão alimentar, pela relação entre o consumo de ração e o ganho de peso das aves.

Aos 42 dias, após jejum de 12 horas, foram abatidas quatro aves por parcela experimental, selecionadas pelo peso (10%) médio de cada parcela.

Após a depena e evisceração, as aves foram pesadas (sem pés e cabeça) e o rendimento de carcaça foi medido em relação ao peso vivo. Posteriormente, foram calculados os rendimentos de vísceras comestíveis (moela, fígado e coração), em relação ao peso vivo, e os rendimentos de peito e de pernas (coxa + sobrecoxa), em relação ao peso da carcaça eviscerada.

As análises estatísticas dos dados foram realizadas pelo programa SAEG – Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV, 1999). Quando houve efeito significativo, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Student Newman Keuls, a 5%.

Resultados e Discussão

As médias de temperatura e umidade relativa do ar mínimas e máximas (22 e 26ºC e 80 e 87%, respectivamente) foram registradas no interior do galpão em aparelho termo-higrômetro em dois períodos diários, às 8 e 16h, respectivamente.

No período de 1 a 21 dias de idade, a redução da proteína da ração de 28% para 25,2 e 22,4%, sem a suplementação dos aminoácidos, afetou (P<0,05) o consumo de ração, o peso vivo e o ganho de peso e piorou a conversão alimentar das codornas (Tabela 4), corroborando os resultados obtidos por Panda & Shrivastav (1978), que estimaram exigência protéica de 27% para codornas de 1 a 3 semanas de idade criadas em condições climáticas tropicais e subtropicais da Índia.

Blake et al. (2003), no entanto, estudaram diferentes níveis de proteína para codornas "Bobwhite" de 2ª a 8ª semana de vida e não encontraram diferenças entre o ganho de peso das codornas alimentadas com dietas contendo 26 e 24% de proteína e o daquelas que receberam dieta com 22% de PB.

A suplementação de lisina da ração contendo 25,2% de PB não alterou o desempenho das aves se comparada à mesma ração sem suplementação, mas piorou o consumo, o peso vivo e o ganho de peso em relação à ração controle (P<0,05). Entretanto, quando a dieta com 22,4% foi suplementada com lisina, o desempenho foi inferior ao obtido com a ração controle (P<0,05), reduzindo até 63% do consumo de ração, em decorrência do desbalanço aminoacídico, em virtude da necessidade das aves de se protegerem de severas lesões patológicas, que, segundo Sidransky & Baba (1960), são provocadas pela ingestão de dietas desbalanceadas. Park & Austic (1998) verificaram redução no consumo de ração desbalanceada dois dias após o início da alimentação das aves.

Outro fator que pode ter interferido no consumo das aves foi o antagonismo lisina x arginina, bem documentado na literatura (D'Mello, 2003), em que o excesso de lisina estimula a arginase renal, aumentando o catabolismo de arginina no organismo. Esse processo é mais vital para aves jovens, que exigem arginina pré-formada na ração para o atendimento completo às necessidades desse aminoácido (Baker, 1991; Klasing, 1998). O excesso de lisina causa sintomas de deficiência de arginina, pela semelhança estrutural (Kid & Kerr, 1998) e por ambos competirem pelo mesmo transportador (y+) no íleo, não dependente de sódio (Collarini & Oxender, 1987; Cynober et al., 1995).

Além do menor consumo, do mais baixo ganho de peso e da pior conversão alimentar, a redução da proteína para 22,4% e a suplementação com lisina causou pior empenamento, toxidez severa e alta mortalidade, com 20,31% de óbitos no PN5 (22,4%PB+L), enquanto, no PN1 (28%PB), morreram apenas 1,56%; no PN8 (25,2%PB+L+MC), 4,69%; e no PN7 (22,4%PB+MC), 3,12% das aves.

Os sintomas de toxidez incluíram dificuldades da ave em se levantar e ficar de pé e presença de andar cambaleante. As aves permaneciam em posição de decúbito lateral, com passos no sentido transversal à linha dorsal, como se um lado do corpo fosse mais pesado que o outro. Os sinais nervosos foram tremores e pescoço caído com movimentos circulares.

Segundo Koelkebeck et al. (1991), a lisina é um dos aminoácidos mais tóxicos para as aves, quando adicionado em excesso. Urdaneta-Rincon & Leeson (2004) também constataram efeito tóxico em pintos de corte alimentados com dieta contendo baixa proteína (17%) suplementada com lisina (de 1,34% para 1,46%).

Entretanto, a suplementação da ração contendo 22,4% PB com M+C proporcionou desempenho compatível ao obtido com a dieta controle, sugerindo que a suplementação de dietas com baixo teor de PB com M+C permite reduzir a proteína da ração e, conseqüentemente, o custo e a excreção de nitrogênio, controlando a poluição ambiental nas regiões de alta densidade de criações da espécie.

Os resultados deste estudo contribuem também para reavaliação das recomendações de 28% (Leeson & Summers, 1997) e 24% de PB (Rajini et al., 1998; Shrivastav, 2002; Silva & Ribeiro, 2001) para esta espécie na fase de 1 a 21 dias de idade.

O fato de a adição de M+C às rações com 24,2 (PN6) e 22,4% PB (PN7) ter permitido o crescimento normal das penas e minimizado os sintomas de toxidez e a mortalidade das codornas parece confirmar as evidências experimentais observadas em frangos e poedeiras de que a M+C são os primeiros aminoácidos limitantes em dietas à base de milho e farelo de soja também para codornas. Segundo Pack (1995), as exigências dos aminoácidos sulfurosos para empenamento são relativamente importantes para os requerimentos totais das aves.

A síntese de queratina das penas está relacionada principalmente ao conteúdo de M+C na dieta, uma vez que estes aminoácidos são responsáveis, respectivamente, por 0,7 e 5,5% da composição de aminoácidos das penas (Moran, 1984). Outros aminoácidos que podem afetar o empenamento são arginina (Wylie et al., 2003), valina (Farran & Thomas, 1992) e leucina (Penz et al., 1984), além dos aminoácidos de cadeia ramificada (Robel, 1977).

Na fase de crescimento (22 a 42 dias de idade), o consumo de ração diminuiu (P<0,05) com a redução de 24 para 21,6 e 19,2% da proteína da ração (Tabela 5). O peso vivo do animal foi menor no tratamento com 19,2% de proteína, mas o ganho de peso e a conversão alimentar foram superiores aos obtidos com a dieta contendo 24% de PB e provavelmente foram influenciados pelo ganho compensatório das aves, que, na fase anterior, foi severamente comprometido pelo baixo teor protéico das rações.

Este resultado está de acordo com a recomendação do NRC (1994) de 20% de proteína para codornas na fase de crescimento. Da mesma forma, Blake et al. (2003) verificaram que as codornas alimentadas com os mais baixos níveis de proteína (22 e 20% PB) da 6ª a 8ª semana, apresentaram maior ganho de peso e melhor conversão alimentar, indicando que o consumo de rações com baixos níveis de proteína permitiu que as aves ingerissem a quantidade de aminoácidos necessários às suas funções vitais.

O peso vivo das aves que receberam as rações dos PN3 e PN5, com baixo teor de proteína sem e com suplementação de lisina, foi inferior (P<0,05).

Nesta fase, os sinais clínicos de toxidez observados na fase de 1 a 21 dias de idade desapareceram e as codornas desenvolveram-se satisfatoriamente, provavelmente em razão do desbalanço aminoacídico e da ausência do antagonismo entre lisina e arginina.

No período total (1 a 42 dias), os melhores consumos foram observados no tratamento controle e naqueles com suplementação de M+C e L+M+C e os piores, no PN5 (22,4 e 19,2% de PB + lisina), PN3 e PN2 e PN4 (Tabela 6).

O pior ganho de peso foi constatado também no plano de com baixo teor de proteína, suplementado ou não com lisina. Os demais tratamentos não diferiram do plano controle (P>0,05).

Este resultado confirma que erros na definição dos níveis nutricionais na fase inicial não são superados até as codornas atingirem a idade de abate, de modo que os prejuízos no ganho de peso são irreversíveis. Resultados observados por Silva et al. (2000abc) também indicam que dietas desbalanceadas em lisina fornecidas nos períodos de 1 a 6, 7 a 12 e 13 a 18 semanas afetam o desempenho de poedeiras até o final do pico de postura.

A melhor conversão alimentar foi observada no plano de nutrição com baixo teor de proteína, suplementado com lisina, não havendo diferença entre os demais tratamentos e o controle, comprovando que a proteína da ração de 1 a 21 dias e de 22 a 42 dias pode ser reduzida sem prejudicar a eficiência de utilização da ração ingerida por codornas.

Esse resultado parece confirmar a afirmação de Shirisvastav & Panda (1999) de que a qualidade da proteína é mais importante que seu nível na ração. Entretanto, em razão dos efeitos da redução da PB no período inicial sobre o consumo, o peso vivo e o ganho de peso, o nível de PB da ração não deve ser menosprezado (Oliveira, 2001), pois diversas pesquisas apontam seu efeito sobre o desempenho e a mortalidade de codornas, principalmente nas primeiras fases de vida.

Embora os rendimentos de carcaça e peito (Tabela 7) não tenham sido afetados, a redução de 20% da proteína das rações inicial e de crescimento, com ou sem a suplementação de lisina, afetou negativamente os pesos da carcaça, do peito e das pernas (P<0,05). Portanto, o nível recomendado de lisina para codornas de 1 a 21 dias (Leeson & Summers, 1997) e de 22 a 42 dias (Shrisvastav & Panda, 1999), em dietas 20% deficientes em proteína, afeta os pesos da carcaça e dos cortes nobres (peito e pernas) até o abate.

Quanto às vísceras comestíveis, apenas o peso da moela e a porcentagem de fígado não foram afetados de forma significativa pelos tratamentos (Tabela 8).

Os menores rendimentos percentuais de moela e de coração foram observados no PN6, em que a ração apresentava 25,2 e 21,6% de proteína, respectivamente, nas fases de 1 a 21 dias e de 22 a 42 dias de idade, suplementadas com M + C. Os melhores rendimentos percentuais de moela, no entanto, foram observados nos PN3 e PN5 e de coração, nos PN2, PN3, PN5, PN7 e PN9.

Oliveira (2001) demonstrou que a porcentagem de vísceras comestíveis é afetada pelo nível de PB da ração de codornas de 1 a 49 dias de idade, observando-se os melhores resultados com 20, 22 e 26% e o pior, com 24% de PB.

Os resultados deste trabalho, de que M+C são os aminoácidos mais limitantes para codornas, em rações à base de milho e farelo de soja, corroboram estudo realizado para avaliar o efeito da redução da proteína da ração e suplementação da ração com lisina e metionina+cistina para galinhas poedeiras (Silva et al., 2003).

Considerando os resultados de desempenho, pode-se afirmar que a suplementação com M+C permitiu redução de 20% do nível de proteína sugerido por Leeson & Summers (1997) para cordornas na fase de 1 a 21 dias (de 28 para 22,4%) e do nível recomendado por Shrisvastav & Panda (1999) para a fase de 22 a 42 dias (de 24 para 19,2%), sem afetar as características de desempenho das aves.

Apesar de as codornas exigirem dietas mais protéicas para garantir o crescimento normal (Shim & Vohra, 1984), dietas com melhor balanço em aminoácidos e níveis mais baixos de proteína parecem favorecer o desempenho dessas aves.

Conclusões

O fornecimento de dietas contendo 22,4% de proteína, 0,71% de metionina+cistina e 1,5% de lisina para codornas européias de 1 a 21 dias de idade provocou sintomas de toxidez, mortalidade elevada e problemas na formação do empenamento, afetando também o consumo, o ganho de peso e a conversão alimentar das aves. Esses sintomas foram minimizados com a diminuição do nível de lisina para 1,2% ou com a elevação do conteúdo de metionina+cistina para 1,1%.

Recomendam-se, para a fase de 1 a 21 dias de idade, ração contendo 2.900 kcal de EMAn, 22,4% de proteína, 1,1% de metionina + cistina e 1,2% de lisina e, para a fase de 22 a 42 dias de idade, ração contendo 2.900 kcal de EMAn, 19,2% de proteína, 0,9% de metionina + cistina e 0,95% de lisina.

Literatura Citada

Recebido: 21/12/04

Aprovado: 29/08/05

Correspondências devem ser enviadas para: edsonlindolfo@yahoo.com.br

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  • 1
    Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada ao PPGZ/CCA/UFPB, Areia - PB
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Jul 2006
    • Data do Fascículo
      Jun 2006

    Histórico

    • Recebido
      21 Dez 2004
    • Aceito
      29 Ago 2005
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