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Valores energéticos e efeitos da inclusão da farinha integral da vagem de algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.) em rações de poedeiras comerciais

Energy values and effects of integral mesquite pods (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.) meal inclusion in commercial laying hens diets

Resumos

Um ensaio de metabolismo foi realizado para determinar os valores de EMV e EMVn da farinha integral de vagem de algaroba (FVA) com galos cecectomizados, utilizando o método Sibbald. Um experimento de desempenho foi realizado para avaliar os efeitos da inclusão da FVA em níveis de 0; 5; 10; 15; 20; 25; e 30% em rações peletizada e farelada para poedeiras comerciais. No experimento 1, foram obtidos valores de EMV e EMVn de 2819 e 2806 kcal, respectivamente, enquanto a FVA apresentou cinco vezes mais celulose e quatro vezes mais lignina em comparação com o milho. No experimento 2, verificou-se que a peletização aumentou o peso vivo, peso dos ovos e da clara e a porcentagem de clara e reduziu a porcentagem de gema. O nível de 30% da FVA reduziu o peso e a massa de ovos e piorou a conversão alimentar, em comparação ao tratamento controle. Houve efeito quadrático do nível da FVA (como efeito principal) sobre o consumo de ração, a produção de ovos, massa de ovos, conversão alimentar por massa e porcentagens de casca, clara e gema. O consumo da FVA cresceu linearmente nas rações peletizada e farelada em resposta ao seu aumento na ração. A inclusão da FVA até 13,6%, em substituição ao milho, em rações isoprotéicas e isoenergéticas não afetou adversamente o desempenho de poedeiras comerciais.

fibra dietética; desempenho; valores energéticos


An experiment was carried out to determine TME and TMEn values of integral mesquite pods meal (MPM) in cecectomized cockerels by Sibbald method. A second experiment was conducted to examine the effects of MPM inclusion (0, 5, 10, 15, 20, 25 and 30%) in pelleted and mashed diets on laying hens performance. In the experiment 1, values of TME and TMEn in raw MPM were 2819 and 2806 kcal/kg, respectively, while cellulose and lignin contents were five- and four-fold higher than in corn. Results of experiment 2 showed that pelleting increased live weight, egg and albumen weight and percentage of albumen, and reduced yolk percentage. The 30% MPM level reduced egg and mass weights and affected feed to egg mass ratio when compared to control. There was quadratic effect of MPM levels (as main effect) on feed intake, egg production, egg mass, feed to egg mass ratio, and the percentages of shell, albumen and yolk. The MPM intake increased linearly according to their diet addition level. The inclusion of MPM up to 13.6% in isonitrogen and isoenergy diets did not adversely affect laying hens performance.

dietary fiber; laying hens; performance; energy values


Valores energéticos e efeitos da inclusão da farinha integral da vagem de algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.) em rações de poedeiras comerciais

Energy values and effects of integral mesquite pods (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.) meal inclusion in commercial laying hens diets

José Humberto Vilar da SilvaI; Edson Lindolfo da SilvaII; José Jordão FilhoII; Rodrigo Santana ToledoIII; Luiz Fernando Teixeira AlbinoIV; Marcelo Luís Gomes RibeiroI; Humberto Pena CoutoV

I Professor do Departamento de Agropecuária/CFT/UFPB

II Graduandos em Licenciatura em Técnicas Agropecuárias/DAP/UFPB. Bolsistas do PIBIC/UFPB/CNPq

III Aluno do Doutorado em Zootecnia. DZO/UFV

IV Professor do DZO/UFV

V Zootecnista, Doutor em Nutrição de Monogástricos

Endereço para correspondência Endereço para correspondência José Humberto Vilar da Silva CEP 58.220-000/Bananeiras, PB E.mail: jvilar@cft.ufpb.br

RESUMO

Um ensaio de metabolismo foi realizado para determinar os valores de EMV e EMVn da farinha integral de vagem de algaroba (FVA) com galos cecectomizados, utilizando o método Sibbald. Um experimento de desempenho foi realizado para avaliar os efeitos da inclusão da FVA em níveis de 0; 5; 10; 15; 20; 25; e 30% em rações peletizada e farelada para poedeiras comerciais. No experimento 1, foram obtidos valores de EMV e EMVn de 2819 e 2806 kcal, respectivamente, enquanto a FVA apresentou cinco vezes mais celulose e quatro vezes mais lignina em comparação com o milho. No experimento 2, verificou-se que a peletização aumentou o peso vivo, peso dos ovos e da clara e a porcentagem de clara e reduziu a porcentagem de gema. O nível de 30% da FVA reduziu o peso e a massa de ovos e piorou a conversão alimentar, em comparação ao tratamento controle. Houve efeito quadrático do nível da FVA (como efeito principal) sobre o consumo de ração, a produção de ovos, massa de ovos, conversão alimentar por massa e porcentagens de casca, clara e gema. O consumo da FVA cresceu linearmente nas rações peletizada e farelada em resposta ao seu aumento na ração. A inclusão da FVA até 13,6%, em substituição ao milho, em rações isoprotéicas e isoenergéticas não afetou adversamente o desempenho de poedeiras comerciais.

Palavras-chave: fibra dietética, desempenho, valores energéticos

ABSTRACT

An experiment was carried out to determine TME and TMEn values of integral mesquite pods meal (MPM) in cecectomized cockerels by Sibbald method. A second experiment was conducted to examine the effects of MPM inclusion (0, 5, 10, 15, 20, 25 and 30%) in pelleted and mashed diets on laying hens performance. In the experiment 1, values of TME and TMEn in raw MPM were 2819 and 2806 kcal/kg, respectively, while cellulose and lignin contents were five- and four-fold higher than in corn. Results of experiment 2 showed that pelleting increased live weight, egg and albumen weight and percentage of albumen, and reduced yolk percentage. The 30% MPM level reduced egg and mass weights and affected feed to egg mass ratio when compared to control. There was quadratic effect of MPM levels (as main effect) on feed intake, egg production, egg mass, feed to egg mass ratio, and the percentages of shell, albumen and yolk. The MPM intake increased linearly according to their diet addition level. The inclusion of MPM up to 13.6% in isonitrogen and isoenergy diets did not adversely affect laying hens performance.

Key Words: dietary fiber, laying hens, performance, energy values

Introdução

A produção anual de vagem in natura de algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.), no Nordeste brasileiro, pode variar de 0,6 a 1,1 milhão de toneladas, com rendimento bruto de cerca de US$ 12 a 22 milhões de dólares (US$ 0,02/kg).

Parte desta produção (0,6 a 1,2% da produção brasileira anual de grãos) tem sido destinada às usinas de beneficiamento para pré-secagem, moagem e produção da farinha integral de vagem de algarobeira (FVA). Os objetivos do uso da pré-secagem são desidratar a polpa pastosa e melhorar o rendimento e custo de moagem; incorporar as sementes (43% de PB) à farinha, que in natura passam intactas pelo trato gastrointestinal dos animais; romper a estrutura fibrosa e as organelas celulares, tornando os nutrientes mais disponíveis; controlar possíveis fatores antinutricionais termolábeis; reduzir o ataque de insetos durante a armazenagem; agregar valor à vagem in natura; e eliminar os casos de perfuração intestinal em ruminantes pela extremidade pontiaguda da vagem.

Não existe consenso a respeito do nível ótimo de inclusão de vagem in natura de algaroba na ração de aves. Em frangos de corte, as recomendações variam de 7% (Pinheiro et al., 1998) a 9% na fase inicial (Silva & Carneiro, 1987) e de 10% (Azevêdo, 1987) a 25% na fase final (Cabral, 1987). O único estudo recente utilizando a FVA na alimentação de aves foi publicado por Oliveira et al. (2001), os quais concluíram que a FVA poderia ser incluída em até 15% em rações de codornas japonesas.

Em codornas japonesas (Oliveira et al., 2001), é provável que a depressão na taxa de postura e na massa de ovos, quando o nível de inclusão da FVA na ração ultrapassou 15%, não tenha sido causada apenas pela redução no consumo. Silva & Ribeiro (2002) descreveram atraso na taxa de passagem (63 vs. 60 min) e aumento da umidade das excretas, quando codornas foram alimentadas com uma ração contendo 30% de FVA, em substituição à dieta basal, constituída pelo milho e farelo de soja.

Por outro lado, a vagem de algaroba apresenta conteúdo de proteína similar, porém é mais fibrosa que o milho. Na polpa da vagem (56% do fruto) são encontrados 31% de fibra insolúvel associada a 0,33% de tanino condensado e 1,6% de fibra solúvel associada a 0,88% de tanino solúvel (Grados & Cruz, 1996). O amido (690 g/kg), por sua vez, é o principal carboidrato no milho (Schutte, 1991) e a sacarose (460 g/kg), o principal carboidrato da polpa (Grados & Cruz, 1996). Além disso, no endosperma da semente da algarobeira (7,6 % do fruto), são encontrados galactomananos, compostos por 46,3% de manose e 34% de galactose, que apresentam capacidade de reter grande quantidade de água, aumentando de volume diversas vezes e formando soluções altamente viscosas (Grados & Cruz, 1996).

Em razão de, atualmente, não existirem informações sobre o valor nutritivo da FVA, foram conduzidos dois experimentos para determinar o valor energético, a composição química e, ainda, avaliar a inclusão da FVA em rações de poedeiras comerciais.

Material e Métodos

Experimento 1

Um ensaio biológico foi conduzido no Aviário do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, com o objetivo de determinar a energia metabolizável verdadeira (EMV) e a EMV corrigida pelo balanço de nitrogênio (EMVn) e a composição química da farinha integral da vagem de algaroba (FVA).

Foram utilizados doze galos adultos, cecectomizados, distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso. Um grupo de seis galos foi alimentado com a FVA e o outro permaneceu em jejum para obter as estimativas das perdas endógenas e metabólicas. Os galos foram, individualmente, alojados em baterias metálicas, por um período de adaptação de cinco dias. Rações e água foram fornecidas à vontade. Foi utilizado o método de alimentação forçada de Sibbald (1976), em que os galos receberam jejum prévio de 30 horas para o esvaziamento do trato gastrointestinal e, depois, 30 g da FVA, sendo 15 g pela manhã e 15 g à tarde, por meio de um funil sonda via esôfago, até o papo.

As 56 horas após a alimentação forçada foram destinadas às coletas de excretas, a cada 12 horas, para evitar a fermentação das mesmas, e congeladas. Ao mesmo tempo, um grupo de seis galos foi mantido em jejum durante 48 horas, período no qual as excretas também foram coletadas. Ao término do período experimental, amostras em duplicatas foram analisadas em laboratório, segundo as metodologias citadas por Silva (1990).

As análises de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG) foram realizadas pelo método proposto por Van Soest & Wine (1967). Na análise da FDN, as amostras foram submetidas a um pré-tratamento com a-amilase para dissolver o amido e reduzir o erro analítico. A hemicelulose foi estimada pela diferença entre a FDN e a FDA, enquanto a celulose foi calculada pela diferença entre a FDA e lignina (Schutte, 1991).

Experimento 2

O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a inclusão de níveis crescentes da FVA em rações de poedeiras comerciais.

O experimento foi realizado no Aviário do CFT - Campus de Bananeiras da UFPB. Foram utilizadas 336 poedeiras semipesadas, da linhagem Hisex Brown, com 18 semanas de idade e peso médio de 1,66 + 0,064 kg, alojadas em gaiolas metálicas de

1,0 x 0,60 x 0,45 m. Antes da fase de coleta, as aves foram submetidas a um período pré-experimental de 15 dias de duração para adaptação as dietas e as instalações.

A temperatura e umidade relativa do ar foram registradas duas vezes ao dia (8 e 17h), por meio de aparelho digital, localizado no centro do galpão. A temperatura média do período foi de 27,9ºC, com médias mínima e máxima, respectivamente, de 22,2 e 32,0ºC, e a umidade relativa média foi de 70,2%, com médias mínimas e máximas, respectivamente, de 52,9 e 90,6%.

A farinha integral da vagem de algaroba (FVA) foi adquirida de uma unidade de beneficiamento, localizada no Município de Sumé, Estado da Paraíba. O processamento para obter a FVA foi realizado pela tostagem das vagens, em secadores rotativos à lenha (60 a 80ºC/2 h), seguida do resfriamento e moagem.

Sete rações foram formuladas com níveis crescentes de FVA de 0, 5, 10, 15, 20, 25 e 30%, em substituição ao milho, e fornecidas as aves na forma peletizada ou farelada (Tabela 1). A peletização das rações foi realizada em prensa peletizadora equipada com motor de 6 HP, seguida de resfriamento dos peletes durante 10 minutos. Os peletes apresentavam 5 mm de diâmetro e 7 mm de comprimento.

A composição química das rações experimentais encontra-se na Tabela 1. À exceção da fração fibrosa, que cresceu à medida que a FVA foi adicionada às rações, os níveis de proteína, energia metabolizável, cálcio, fósforo disponível, metionina+cistina, metionina, lisina, treonina, triptofano e sódio foram balanceados para atender as exigências de poedeiras comerciais na fase de produção, segundo Rostagno et al. (2000). No balanceamento das rações, foram considerados os valores de EMVn e de composição química da FVA determinados no experimento 1.

As aves receberam ração e água à vontade, sendo também submetidas a um programa de luz de 16 horas. As variáveis peso vivo, consumo de ração e da FVA, produção de ovos, peso dos ovos, massa de ovos e conversão alimentar pela massa de ovos foram estudadas em três subperíodos de 28 dias de duração.

O peso vivo e o consumo de ração e da FVA foram medidos ao final de cada subperíodo experimental. O peso médio dos ovos foi obtido pela pesagem de todos os ovos produzidos nos últimos cinco dias de cada subperíodo, enquanto as avaliações de porcentagem e gravidade específica (GE) da casca, peso e porcentagem de gema e de clara foram feitas a partir de dois ovos por parcela experimental, também nos últimos cinco dias de cada subperíodo.

A qualidade da casca foi medida pela quebra e secagem das cascas em estufa a 105ºC, durante quatro horas, e a GE foi estimada pela relação entre o peso do ovo no ar e o peso de deslocamento da água pelo peso do ovo, quando completamente imerso em 1 L de água destilada com temperatura mantida a 23ºC, utilizando-se balança com precisão de 0,01 g (Hempe et al., 1988), e a seguinte expressão:

em que: FC = fator de correção da temperatura da água a 23ºC = 0,99754 (valor da densidade dependente da temperatura da água no béquer).

As análises estatísticas foram realizadas pelo SAEG (Universidade Federal de Viçosa - UFV, 1983). O experimento foi desenvolvido em um delineamento inteiramente ao acaso em esquema fatorial 7x2 (sete níveis de FVA X duas formas de apresentação da ração), resultando em 14 tratamentos, com quatro repetições de seis aves. O nível ótimo de inclusão da FVA foi estimado pelo modelo quadrático, desconsiderando-se a dieta controle. Posteriormente, outra análise de variância foi realizada, extraindo-se o QM residual para ser usado na comparação dos contrastes entre as médias de cada tratamento versus as médias da dieta controle, pelo teste Dunnett (P<0,05), sendo usado o valor da tabela bilateral do teste, com intervalo de confiança de 95% (Steel & Torrie, 1960).

Resultados e Discussão

Experimento 1

A definição e o significado do método analítico usado para quantificar e determinar a natureza da fibra dietética constituiu-se em grande problema na presente pesquisa. Diversas revisões têm abordado este aspecto (Rérat, 1978; Schutte, 1991; Bach Knudsen, 2001; Wenk, 2001).

A maior concentração de fibra insolúvel (FDN), em especial, de celulose e lignina na FVA, em comparação com o milho (Tabela 2), parece corroborar os resultados de Grados & Cruz (1996), que observaram alta proporção de fibra insolúvel na polpa e nas cascas do endocarpo, que somados atingem cerca de 58% da vagem.

O conteúdo de proteína bruta de 9,6% da FVA apresentado na Tabela 2 corrobora os resultados de estudos anteriores com a vagem in natura (Embrapa, 1991; Rostagno et al., 2000), entretanto, os valores de EMV e EMVn, respectivamente, de 2819 e 2806 kcal estão em desacordo com aqueles obtidos por Albino et al. (1986), respectivamente, de 1740 e 1730 kcal e por Rostagno et al. (2000) de EMVn de 1807 kcal. É provável que estas discrepâncias estejam relacionadas aos efeitos positivos do tratamento a calor da vagem in natura sobre o aproveitamento dos nutrientes da FVA.

Com base nos valores observados no presente estudo, a FVA deve ser classificada como alimento energético (Tabela 2). Todavia, os maiores teores de celulose e lignina indicam que a FVA não pode substituir, totalmente, o milho em rações de aves.

Experimento 2

Normalmente, os sinais associados ao alto nível de inclusão da vagem in natura de algaroba na ração são descritos como decréscimo do consumo e depressão do desempenho em pintos de corte (Azevedo, 1987, Silva & Carneiro, 1987; Pinheiro et al., 1998).

Exceto para o consumo da FVA que aumentou de forma linear nas rações peletizada (Y = 0,8704300+1,05087X; r2 = 0,99) e farelada (Y = 0,0688953+1,11514X; r2 = 0,99), à medida que o seu nível de inclusão na ração se aproximou de 30%, não houve interação significativa para nenhuma variável mostrada na Tabela 3.

De acordo com o resultado do teste SNK, o consumo de ração do tratamento controle não diferiu daqueles dos tratamentos com níveis crescentes de inclusão da FVA na ração (P>0,05). Este resultado discorda daquele obtido por Oliveira et al. (2001) com codornas, que observaram redução no consumo com 25% de inclusão da FVA em relação ao tratamento controle.

Excetuando-se o tratamento testemunha, houve efeito quadrático (P<0,01) do nível da FVA sobre o consumo de ração, com máximo consumo em 15,95% de inclusão (Tabela 3; Figura 1). Este resultado corrobora aquele obtido por Oliveira et al. (2001), que constataram consumo máximo, quando a FVA foi incluída em até 15,66% na ração.


Maior declínio no consumo foi constatado quando a FVA foi incluída em 30 % na ração. Como as rações foram formuladas para conter os mesmos valores de PB, EM, cálcio, fósforo disponível, metionina+cistina, lisina e sódio, presume-se que este resultado esteja relacionado com o aumento do teor de fibra da ração (Tabela 1), aumento do incremento calórico e, conseqüentemente, da temperatura corporal e do desconforto das aves.

A alta temperatura ambiental registrada durante o ensaio (média diurna de 32oC) também foi um dos fatores da redução do consumo com a inclusão de 30% da FVA na ração. Segundo Howlider & Rose (1987), a redução do consumo é a primeira reação das aves ao excesso de calor ambiental. Em poedeiras, o ofego influencia negativamente o mecanismo de ingestão de alimentos no cérebro, reduzindo a duração da refeição e aumentando concomitantemente a demanda energética para ativação dos mecanismos fisiológicos de dissipação de calor corporal, quando a temperatura ultrapassa 27ºC (Leeson & Summers, 1997), sendo suficiente para comprometer o índice de conversão alimentar (Temin et al., 2000).

Houve efeito significativo (P<0,05) com 10% de inclusão da FVA, que aumentou o peso vivo, e de 30% da FVA, que reduziu o peso e a massa de ovos produzida, assim como piorou a conversão alimentar pela massa de ovos em relação ao grupo controle (Tabela 3).

A peletização melhorou significativamente (P<0,05) o peso vivo e o peso dos ovos, mas não afetou o consumo, a produção, massa e conversão alimentar pela massa de ovos. Vários trabalhos têm mostrado efeitos positivos da peletização no aumento da energia líquida e na melhoria de desempenho em frangos de corte (Klein et al., 1995; Lecznieski, 1997, citados por Penz Jr. et al., 1999; Jensen, 2000). Embora não-significativo, as aves recebendo a ração peletizada aumentaram o peso vivo em 3,4% e reduziram o consumo em 2%, em relação aos valores médios obtidos com a ração farelada.

Excetuando-se o controle, houve efeito quadrático da adição da FVA à ração (P<0,05) sobre a produção de ovos (Tabela 3; Figura 2), com nível ótimo de 13,83%. Este valor é muito próximo daquele obtido por Oliveira et al. (2001) de 14,91% de inclusão da FVA na ração de codornas. Da mesma forma, a massa de ovos sofreu efeito quadrático (P<0,01), com nível ótimo de 14,06% da FVA na ração (Tabela 3; Figura 3).



Pode-se verificar que os resultados dessas variáveis de produção pioraram, à medida que o nível de inclusão da FVA na ração atingiu 15%. Os efeitos negativos da fibra sobre a digestibilidade e aporte de nutrientes essenciais disponíveis para atender as demandas de desempenho das aves constituem as explicações para estes resultados.

A inclusão de 30% da FVA na ração piorou a conversão alimentar das aves em relação ao tratamento testemunha (P<0,05), reforçando o aumento do consumo de fibra, sendo a celulose a maior parte desta fibra, como principal fator envolvido. Oliveira et al. (2001) também verificaram pior conversão em codornas alimentadas com 25% da FVA na ração, em comparação com o resultado observado na testemunha (3,23 versus 3,75), e atribuíram este resultado ao aumento do consumo de fibra pelas aves.

Da mesma forma, Noy & Sklan (2002) mostraram que o aumento da celulose de 3 para 13% na ração afetou a eficiência alimentar de pintos de corte. Uma possível explicação para isso foi sugerida por Mcbee (1977), citado por Ratcliffe (1991), que não conseguiu isolar bactérias dos cecos de galinhas com habilidade para fermentar a celulose, apoiando a opinião geral de que a degradação da celulose não deve ocorrer nos cecos de aves.

O aumento da fibra da ração afeta a digestibilidade de amido, proteína e gordura em aves (Rérat, 1978, Graham, 1991, Noblet & Le Goff, 2001), por interferir na taxa de passagem da digesta, secreção e acesso das enzimas hidrolíticas aos substratos solúveis (Graham, 1991).

Silva & Ribeiro (2002) observaram maior umidade nas excretas de codornas, quando o nível de 30% da ração à base de milho e farelo de soja foi substituído pela FVA. Segundo Yasar & Forbes (1997) e Scott et al. (1998), substâncias que aumentam a umidade das excretas comprometem o consumo, o ganho de peso e a conversão alimentar. Também, elevam os níveis de amônia nas instalações, aumentando a incidência de problemas respiratórios e lesões oculares nas aves (Daghir, 1995). Sugere-se a realização de novos estudos com a FVA, em que, além do desempenho produtivo, a viscosidade da digesta, a umidade de excretas e a qualidade da cama também deverão ser avaliadas.

A possibilidade de a conversão alimentar pela massa de ovos ter sido afetada pela presença de inibidores de proteases resistentes ao calor na FVA ainda é desconhecida. Baixas concentrações dos fatores antitripsina e antiquimotrisina (Negreiros et al., 1986) e de tanino (Grados & Cruz, 1996) foram encontradas na vagem in natura da algaroba.

Excetuando-se o controle, a conversão alimentar pela massa de ovos foi afetada de forma quadrática (P<0,05), com nível ótimo em 13,60% da FVA na ração (Tabela 3; Figura 4). Este resultado corrobora aquele de 14,40%, observado por Oliveira et al. (2001), em codornas. Apesar de não-significativa, a peletização melhorou em 2% a conversão alimentar.


Não houve efeito de interação entre o nível de inclusão da FVA e a forma de fornecimento da ração, como também entre os níveis de inclusão da FVA em relação ao tratamento controle para nenhuma das variáveis apresentadas na Tabela 4 (P>0,05). A peletização das rações melhorou o peso e a porcentagem de clara e reduziu a porcentagem de gema (P<0,05).

Excetuando-se o tratamento controle, foi constatada tendência de efeito quadrático (P<0,10) com o aumento do nível de inclusão da FVA na ração para o peso da clara, que atingiu valor mínimo em 18,90% (y=41,4693-0,237757X+0,00628937X2; r2=0,96), além de efeitos altamente significativos (P<0,01) para porcentagem de clara, que atingiu também valor mínimo em 16,94% (y=66,3579-0,209375X+0,00617978X2; r2=0,84) e porcentagem de gema (P<0,05), que, ao contrário, alcançou o valor máximo em 17,47% da FVA na ração (y=23,5609+0,148977-0,00426357X2; r2=0,73).

O peso não foi afetado, mas a porcentagem de casca o foi de forma quadrática (P<0,05), alcançando o percentual máximo em 15,65% da FVA na ração (y=10,1032+0,0536564X-0,00171034X2; r2=0,51). Nesse sentido, Oliveira et al. (2001) observaram melhor gravidade específica dos ovos de codornas japonesas com 18% de FVA na ração.

Um resultado promissor foi a não constatação de sinais de toxidez clínica nas aves, mesmo com a inclusão de 30% da FVA na ração. Relatos de toxidez causada por excesso de consumo de vagem in natura de algaroba em bovinos e cavalos são muito freqüentes na literatura (Silva, 1996).

Por outro lado, apesar de poedeiras adultas serem consideradas hábeis para digerir a fibra dietética extensivamente, limite máximo deve ser respeitado, em que a celulose pode ser usada como indicador. De certa forma, um valor mínimo de fibra é necessário para o crescimento microbiano normal e a síntese de ácidos orgânicos, que devem promover a saúde no ecossistema intestinal das aves.

Conclusões

A farinha integral de vagem de algaroba apresentou valores de EMV de 2819 kcal e EMVn de 2806 kcal na base da matéria natural.

Com base no resultado da conversão alimentar pela massa de ovos, não se recomenda a inclusão da farinha integral de vagem de algaroba acima de 13,6%, em rações isoprotéicas e isoenergéticas, para poedeiras comerciais.

Literatura Citada

SILVA, J.H.V.; RIBEIRO, M.L.G. Tabela Nacional de exigência nutricional de codornas. 2.ed. Bananeiras: DAP/UFPB/Campus IV, 2002. 25p. (no prelo).

Edson Lindolfo da Silva

www.cft.ufpb.br

Luiz Fernando Teixeira Albino

E.mail: lalbino@mail.ufv.br

Recebido em: 22/10/01

Aceito em: 20/06/02

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  • Endereço para correspondência
    José Humberto Vilar da Silva
    CEP 58.220-000/Bananeiras, PB
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Set 2005
    • Data do Fascículo
      Nov 2002

    Histórico

    • Recebido
      22 Out 2001
    • Aceito
      20 Jun 2002
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