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Exigência de lisina para aves de reposição de 13 a 20 semanas de idade

Requirement of lysine for rearing egg-type pullets from 13 to 20 weeks of age

Resumos

Objetivando estimar as exigências de lisina de 13 a 20 semanas e avaliar seus efeitos na fase de produção de ovos, 200 poedeiras leves (PL) Lohmann Selected Leghorn e 200 poedeiras semipesadas (PSP) Isa Brown foram distribuídas em delineamento em blocos ao acaso e alimentadas com ração basal contendo 14,0% de proteína bruta (PB) e 2.900 kcal de energia metabolizável (EM) suplementada com L-lisina HCl para os níveis de 0,39; 0,42; 0,45; 0,48; e 0,51% de lisina total nas rações. Na fase de postura, 160 aves de cada linhagem foram alimentadas com ração de produção contendo 16,5% de PB, 2.900 kcal/kg de EM, 2,9% de Ca+2 e 0,755% de lisina. As estimativas das exigências de lisina obtidas pelo ganho de peso, para a fase de 13 a 20 semanas de idade, foram de 0,48% ou consumo de 354 mg diário para as PL e de 0,49% ou consumo de 365 mg diário para as PSP. Produção de ovos e conversões por massa e por dúzia de ovos de ambas as linhagens foram afetadas de forma quadrática pelos níveis de lisina da fase de crescimento. A massa de ovos das PL foi afetada de forma quadrática. Durante a fase de crescimento, as PSP apresentaram maior ganho de peso que as PL. Durante a fase de produção, as PSP apresentaram menor consumo de ração e melhor conversão alimentar por massa de ovos que as PL.

aminoácido; crescimento; produção e massa de ovos


The objective of this work was to estimate the requirement of lysine from 13 to 20 weeks and to evaluate the posterior effect on the performance of two egg-type strains. Three hundred egg-white pullets from 13 to 20 weeks of age and three hundred egg-brown pullets from 13 to 20 weeks of age were allotted to a randomised block design with five treatments and four replicates. A basal diet with 14.0% of crude protein and 2900 kcal metabolizable energy/kg was supplemented with L-lysine HCl to obtain 0.39, 0.42, 0.45, 0.48, and 0.51% of total lysine in the diet. During the laying period, all hens received the same diet with 16.5 CP, 2822 kcal ME/kg, 3.81% Ca+2 and 0.755% of lysine. The pullets requirement estimates of lysine based on weight gain from 13 to 20 weeks were 0.48% or a daily intake of 354 mg for white-egg, and 0.49% or a daily intake of 365 mg for brown-egg. Egg production and mass and egg dozen conversions of two strains were quadraticly affected. Egg mass of white-egg was affected by quadratic manner. During the final growing phase, the brown-egg pullets showed better weight gain than white-egg pullets. During the egg production phase, the brown-egg pullets showed a lower feed intake and better egg mass conversion than white-egg pullets.

amino acid; growth; egg production; egg mass


Exigência de Lisina para Aves de Reposição de 13 a 20 Semanas de Idade1 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB.

José Humberto Vilar da Silva2 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB. , Luiz Fernando Teixeira Albino3 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB. , Horacio Santiago Rostagno3 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB. , Paulo César Gomes3 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB. , Ricardo Frederico Euclydes3 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB.

RESUMO - Objetivando estimar as exigências de lisina de 13 a 20 semanas e avaliar seus efeitos na fase de produção de ovos, 200 poedeiras leves (PL) Lohmann Selected Leghorn e 200 poedeiras semipesadas (PSP) Isa Brown foram distribuídas em delineamento em blocos ao acaso e alimentadas com ração basal contendo 14,0% de proteína bruta (PB) e 2.900 kcal de energia metabolizável (EM) suplementada com L-lisina HCl para os níveis de 0,39; 0,42; 0,45; 0,48; e 0,51% de lisina total nas rações. Na fase de postura, 160 aves de cada linhagem foram alimentadas com ração de produção contendo 16,5% de PB, 2.900 kcal/kg de EM, 2,9% de Ca+2 e 0,755% de lisina. As estimativas das exigências de lisina obtidas pelo ganho de peso, para a fase de 13 a 20 semanas de idade, foram de 0,48% ou consumo de 354 mg diário para as PL e de 0,49% ou consumo de 365 mg diário para as PSP. Produção de ovos e conversões por massa e por dúzia de ovos de ambas as linhagens foram afetadas de forma quadrática pelos níveis de lisina da fase de crescimento. A massa de ovos das PL foi afetada de forma quadrática. Durante a fase de crescimento, as PSP apresentaram maior ganho de peso que as PL. Durante a fase de produção, as PSP apresentaram menor consumo de ração e melhor conversão alimentar por massa de ovos que as PL.

Palavras-chave: aminoácido, crescimento, produção e massa de ovos.

Requirement of Lysine for Rearing Egg-type Pullets from 13 to 20 Weeks of Age

1 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB.

ABSTRACT - The objective of this work was to estimate the requirement of lysine from 13 to 20 weeks and to evaluate the posterior effect on the performance of two egg-type strains. Three hundred egg-white pullets from 13 to 20 weeks of age and three hundred egg-brown pullets from 13 to 20 weeks of age were allotted to a randomised block design with five treatments and four replicates. A basal diet with 14.0% of crude protein and 2900 kcal metabolizable energy/kg was supplemented with L-lysine HCl to obtain 0.39, 0.42, 0.45, 0.48, and 0.51% of total lysine in the diet. During the laying period, all hens received the same diet with 16.5 CP, 2822 kcal ME/kg, 3.81% Ca+2 and 0.755% of lysine. The pullets requirement estimates of lysine based on weight gain from 13 to 20 weeks were 0.48% or a daily intake of 354 mg for white-egg, and 0.49% or a daily intake of 365 mg for brown-egg. Egg production and mass and egg dozen conversions of two strains were quadraticly affected. Egg mass of white-egg was affected by quadratic manner. During the final growing phase, the brown-egg pullets showed better weight gain than white-egg pullets. During the egg production phase, the brown-egg pullets showed a lower feed intake and better egg mass conversion than white-egg pullets.

Key Words: amino acid, growth, egg production, egg mass

Introdução

O conhecimento da curva de crescimento das aves de reposição tem mostrado que 70% do peso adulto de uma poedeira deve ser atingido até as 12 semanas (FARIA e JUNQUEIRA, 1998), 82% até as 15 semanas, e 92% até as 22 semanas, enquanto os 8% restante deve ser ganho posteriormente (KWAKKEL, 1992).

Na fase de crescimento final, o ganho de peso de cerca de 400 a 500 g é influenciado pelo acréscimo nos pesos do fígado (PENZ JUNIOR, 1991) e nas estruturas vitais para o adequado desempenho de produção, como o ovário e o oviduto, com pique de crescimentoem torno da 19a semana (KWAKKEL, 1992).

A maioria das informações sobre exigências de poedeiras foi obtida em regiões de clima ameno, e sabe-se que, em condições tropicais, as altas temperaturas diurnas estressam as aves, afetando negativamente o consumo de ração, o crescimento e o desempenho produtivo em relação às aves criadas em clima temperado (DEVEGOWDA, 1992, e LEESON e SUMMERS, 1997), retardando a maturidade sexual das aves e, provavelmente, a troca da ração de crescimento final para a ração de produção.

Entretanto, os recentes ganhos genéticos obtidos com a introdução dos genes do nanismo nas aves semipesadas, a partir dos anos 80, com redução do peso e do consumo de ração, além de melhor conversão alimentar (FLOCK, 1998), fez surgir novas demandas para atualização da informação das exigências de poedeiras em crescimento e das diferenças das necessidades das aves semipesadas em relação às das leves.

A publicação do NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC (1994) ainda não refletiu essas mudanças, em virtude da escassez de informações das exigências das aves leves e semipesadas à época. Um exemplo, as recomendações de lisina para a fase final de crescimento foram derivadas de dois trabalhos publicados na décadas de 70 (BERG, 1976) e 80 (KESHAVARZ, 1984) com aves legornes, em que os resultados foram extrapolados para obter as exigências das aves semipesadas, considerando-se o maior peso, o apetite e a maior exigência de mantença dessas linhagens.

Por outro lado, sérias discordâncias são encontradas na literatura nas recomendações dos aminoácidos e no início e término das fases do crescimento, tornando a formulação de ração para poedeiras em crescimento uma tarefa difícil.

No período de 13 a 20 semanas de idade, ROSTAGNO et al. (1983) recomendaram 0,55% de lisina para rações com 2.900 kcal de energia metabolizável e 14% de proteína bruta. Ja o NRC (1994) sugeriu 0,45 e 0,42%, respectivamente, para as aves leves e semipesadas.

Dados mais recentes mostraram que', na fase final de crescimento, níveis de lisina acima de 0,46% na ração com 2.930 kcal EM não melhoraram a taxa de crescimento de aves semipesadas (LEESON e SUMMERS, 1997), sendo este nível similar ao recomendado para as aves leves.

Por outro lado, os manuais das linhagens comerciais trazem valores muito além dos normalmente encontrados nas tabelas convencionais. O MANUAL DA LINHAGEM LOHMANN LSL (1997) sugeriu 0,70% de 8 a 18 semanas e o MANUAL DA LINHAGEM ISA BROWN (1996), 0,74% de lisina de 10 a 16 semanas de idade.

Os objetivos deste trabalho foram atualizar as exigências em lisina de poedeiras leves e semipesadas de 13 a 20 semanas de idade e avaliar o efeito desses níveis sobre o rendimento produtivo das aves.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Aviário do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, no período de 05 de junho de 1997 a 11 de março de 1998.

Fase de crescimento

Um total de 400 aves, 200 poedeiras leves (PL) Lohmann Selected Leghorn e 200 poedeiras semipesadas (PSP) ISA-Brown, foi identificado por tratamento e criado em condições convencionais com rações balanceadas para todos os nutrientes, fornecidas à vontade até às 12 semanas. Aos 10 dias de idade, as aves foram debicadas para prevenção de canibalismo, iniciando-se esquema básico de vacinação e controle das principais enfermidades das aves de postura.

No início da fase de produção, as aves pesadas foram transferidas para os boxes de 1 x 2 m do galpão experimental, onde permaneceram até as 20 semanas de idade. Foram usados cama de maravalha, um comedouro tubular e um bebedouro pendular em cada boxe.

Uma ração basal deficiente em lisina com 14,0% de proteína bruta (NRC, 1994) e 2900 kcal de EM/kg (ROSTAGNO et al., 1983) foi suplementada com 0,000; 0,038; 0,076; 0,115; e 0,153% de L-lisina HCl de forma a proporcionar cinco níveis de lisina nas rações de 0,39; 0,42; 0,45; 0,48; e 0,51% (Tabela 1). Inicialmente, as duas misturas das extremidades foram preparadas e seguidas por uma série de diluições para se obterem as rações com níveis intermediários.

O sorgo de baixo tanino e o glúten de milho foram incluídos em substituição ao milho e farelo de soja, para reduzir o conteúdo de lisina da ração basal e por serem, respectivamente, boas fontes de energia e proteína em rações de aves.

Os parâmetros avaliados foram consumo de ração e lisina, ganho de peso e conversão alimentar. Com a conclusão da fase experimental, as aves permaneceram no mesmo recinto até as 22 semanas.

Fase de postura

O galpão de postura, de 60 x 9 m, com telas nas laterais à prova de pássaro, coberto com telhas de barro em duas águas, apresentava dois conjuntos de quatro fileiras de gaiolas, separadas por um corredor central de 2 m, sendo utilizadas apenas duas fileiras centrais de cada conjunto. Durante a fase de produção, o fotoperíodo utilizado foi de 16 horas por dia.

Às 22 semanas, 160 frangas Lohmann LSL e 160 Isa Brown foram pesadas e transferidas do piso para as gaiolas de produção. As aves foram alojadas ao acaso em quatro repetições por tratamento, cada uma com oito aves. A água foi distribuída em bebedouros de água corrente de alumínio, tipo V, localizados acima dos comedouros.

Uma ração de produção (Tabela 1) foi fornecida à vontade a todas as aves, com a finalidade de permitir a avaliação do efeito residual dos níveis de lisina do período de 13 a 20 semanas, sendo formulada para atender ou exceder as exigências das aves em energia metabolizável, proteína e lisina, conforme ROSTAGNO et al. (1996), e demais nutrientes incluídos, de acordo com o NRC (1994).

Os dados de postura foram obtidos em quatro períodos de 28 dias (26 a 42 semanas). No início e final de cada período, as aves e rações foram pesadas. A produção de ovos foi anotada diariamente e os ovos produzidos nos últimos cinco dias de cada período foram pesados nos dias posteriores às coletas. As variáveis estudadas foram produção de ovos, consumo de ração, peso e massa de ovos e conversões por massa e dúzia de ovos.

O experimento foi realizado em um delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial 5 x 2 (cinco níveis de lisina e duas linhagens de postura comercial), com quatro repetições de 15 aves de 13 a 20 semanas e oito aves durante o período de produção, empregando o seguinte modelo estatístico:

Yijkl = m + Bl + Ni + Lj + Ni*Lj + eijkl

em que Yijkl é observação relativa à k-éssima unidade experimental que recebeu o i-éssimo nível de lisina e a j-éssima linhagem j, l-éssimo bloco; m, média geral do experimento; Bl, efeito do l-éssimo bloco, sendo l = 1, ... 4; Ni, efeito do i-éssimo nível de lisina, sendo i = 0,39; 0,42; 0,45; 0,48; e 0,51%; Lj, efeito da j-éssima linhagem, sendo j = 1 e 2; Ni * Lj, efeito de interação dos níveis de lisinai e a linhagemj; eijkl, erro experimental, sendo o erro NID (0, s2).

As somas de quadrados dos tratamentos foram desdobradas nos efeitos lineares, quadráticos, cúbicos e quárticos, conforme procedimento do SAEG (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV, 1982). As exigências de lisina de cada linhagem foram estimadas pelo modelo de regressão quadrático, considerando-se o coeficiente de determinação (R2) e a interpretação biológica dos parâmetros.

Os valores estimados das exigências de lisina foram empregados para obter a relação ideal com os valores calculados de aminoácidos importantes na ração de poedeiras em crescimento e comparados com a relação obtida da recomendação de aminoácido total do NRC (1994).

Consumo diário de lisina total e digestível

As quantidades diárias de lisina total a serem fornecidas às aves foram obtidas considerando as estimativas percentuais das exigências de lisina, como variável independente das equações de regressão linear dos consumos de lisina total, em função da concentração de lisina total na ração. Em seguida, os valores calculados de lisina total foram multiplicados pelo coeficiente de digestibilidade verdadeira de lisina de 89% (ROSTAGNO, et al., 1996), para obtenção da quantidade diária de lisina digestível.

Resultados e Discussão

Temperatura ambiente

A temperatura na fase de 13 a 20 semanas variou de 11,0 a 25,8ºC e, provavelmente, não limitou o consumo de ração das aves. Na fase de postura, a temperatura variou de 17,5 a 32,0ºC. As médias diurnas de 30 a 42 semanas foram superiores a 30ºC e, apesar das controvérsias a respeito da zona termoneutra das aves, segundo CHARLES (1992), exposições prolongadas a temperaturas maiores que 27ºC são perigosas para a sobrevivência das poedeiras.

Desempenho na fase de crescimento

Existiram efeitos quadráticos (P<0,05) para o ganho de peso, com estimativas das exigências de lisina de 0,48% para a linhagem leve e 0,49% para a linhagem semipesada (Tabela 2 e Figura 1).


Coerentes com os resultados dos ensaios anteriores (SILVA et al., 2000ab), estas estimativas foram maiores que as do NRC (1994), 0,45% para a linhagem leve e 0,42% para a semipesada, e inferiores ao valor de 0,55% de lisina prescrito por ROSTAGNO et al. (1983). A estimativa obtida para as aves semipesadas foi levemente superior àquela descrita por LEESON e SUMMERS (1997) de 0,46%. Foi observado que as aves leves apresentaram exigência de lisina 2% inferior àquela das aves semipesadas.

Pelos resultados obtidos neste experimento, infere-se que as aves leves e semipesadas apresentaram ótimos crescimentos, com níveis de lisina na ração inferiores aos recomendados nos manuais dessas linhagens, de 0,70% (MANUAL DA LINHAGEM LOHMANN, 1997) e 0,74% (MANUAL DA LINHAGEM ISA BROWN, 1997).

O consumo de ração cresceu linearmente (P<0,05) (Tabela 2), mas a conversão alimentar de ambas as linhagens foi afetada de forma quadrática pelos extremos de lisina nas rações (Tabela 7 e Figura 2), com exigências estimadas de 0,47% para as aves leves (P<0,01) e 0,48% para as semipesadas (P<0,05), sendo ligeiramente menores que as obtidas pelo ganho de peso.


O consumo de lisina cresceu de forma linear (P<0,01) com o aumento da concentração de lisina nas rações (Tabela 2 e Figura 3). Estes resultados foram consistentes com os observados nas fases de 0 a 6 e de 7 a 12 semanas de idade (SILVA et al., 2000a,b).


As quantidades diárias de lisina estimadas para atender às exigências das aves leves e semipesadas foram de 354 e 365 mg de lisina total/ave/dia, respectivamente. Considerando a digestibilidade de lisina de 89% (ROSTAGNO et al., 1996), as exigências de lisina digestível para as aves leves e semipesadas foram de 0,43% ou 315 mg/dia/ave e de 0,44% ou 324 mg/dia/ave, respectivamente.

Estes resultados reforçam as conclusões das fases anteriores (SILVA et al., 2000ab), em que as exigências das aves semipesadas foram maiores que as das aves leves, que apresentaram valor exigido de lisina muito próximo, enquanto as semipesadas acima da recomendação do NRC (1994), que demonstra a necessidade de atualização das recomendações das aves semipesadas.

Não existiram diferenças significativas (P>0,05) entre as linhagens quanto ao consumo de ração, à conversão alimentar e ao consumo de lisina no período de crescimento. Entretanto, as aves semipesadas apresentaram maior média de ganho de peso diário (P<0,05) que as leves (Tabela 2).

As relações de lisina e metionina, aminoácidos sulfurosos, treonina e triptofano obtidas no presente estudo foram superiores às relações para ambas as linhagens descritas pelo NRC (1994), sugerindo maior concentração desses aminoácidos em relação à lisina (Tabela 3). As relações lisina:proteína das duas linhagens e lisina:energia das semipesadas também foram maiores que as do NRC (1994), sugerindo maior quantidade de lisina na ração dessas linhagens em relação à proteína e das semipesadas em relação à energia.

A relação lisina:aminoácidos sulfurosos cresceu em comparação às fases anteriores (SILVA et al., 2000ab), sendo consistente com o aumento da deposição de proteína nas penas, rica em cistina e metionina, e a queda na taxa de crescimento da proteína muscular, dependente de lisina. Essa hipótese é coerente com as informações de outros autores (BAKER e HAN, 1994; PACK, 1995; e MARTIN et al., 1994).

O uso de aves geneticamente diferentes, os alimentos distintos e as diferentes condições experimentais foram as causas prováveis das discrepâncias no relacionamento lisina e demais nutrientes deste experimento para a tabela convencional.

Os maiores ganhos de peso de 580 e 611 g, respectivamente, para as leves e semipesadas, obtidos no tratamento com 0,48% de lisina, sugerem que parte significativa do ganho de peso ocorre no final da recria. Esses resultados foram consistentes com o ganho esperado para a fase de 400 a 500 g (PENZ JR., 1998) e influenciados pelos crescimentos das estruturas vitais para a produção de ovos, como ovário, oviduto, tecido adiposo (KWAKKEL, 1992) e fígado.

Fase de postura

Vários autores têm afirmado que a composição do corpo é mais importante que o peso corporal no preparo do organismo da ave para a produção de ovos (WELLS, 1980; JOHNSON et al., 1985; CHI, 1985; Leeson, 1986, citado por PENZ JR., 1991; SUMMERS et al., 1987; KWAKKEL et al., 1991; KWAKKEL, 1992; e LEESON e SUMMERS, 1997), portanto os resultados deste estudo são consistentes com esta afirmação.

Os tratamentos com 0,39; 0,42; 0,45; 0,48; e 0,51% de lisina resultaram em início da postura aos 140, 137, 136, 140 e 145 dias nas leves e aos 139, 135, 133, 133 e 133 dias nas semipesadas. Observaram-se atrasos na maturidade sexual de 4 e 6 dias, respectivamente, para as aves leves e semipesadas alimentadas com o nível de 0,39% de lisina, em comparação ao nível de 0,45%. Estes resultados são consistentes com os atrasos na maturidade sexual de matrizes (COUCH et al., 1967) e poedeiras leves (CONNOR et al., 1977, e KWAKKEL et al., 1991), submetidas às rações deficientes em lisina, em relação às aves com níveis adequados.

A linhagem semipesada iniciou a produção, em média, aos 135 dias e as leves, aos 139 dias.

Similar ao atraso verificado na maturidade sexual, a deficiência de lisina retardou a idade, em que as aves leves atingiram 50% de produção em média cinco dias e das semipesadas em média um dia, quando as aves receberam as rações contendo 0,39 e 0,42% de lisina em comparação com as rações com 0,45 a 0,51% de lisina. Estes resultados sugerem que o fornecimento inadequado de lisina na ração de crescimento final afeta negativamente a maturidade sexual e, conseqüentemente, a idade das aves, ao atingirem 50% de produção.

As poedeiras leves atrasaram, em média, dois dias (P<0,05) para atingir 50% de produção em relação às poedeiras semipesadas.

Existiram efeitos quadráticos para produção de ovos, conversão por massa (Figuras 4 e 5) e conversão por dúzia de ovos (P<0,05) de ambas as linhagens (Tabela 4). As exigências de lisina variaram de 0,45 a 0,46% para as aves leves, enquanto o resultado para as semipesadas foi de 0,45%.



Estes resultados discordam dos obtidos por COUCH et al. (1967), que observaram maior produção para as matrizes alimentadas com ração pobre em lisina na fase de crescimento e sugerem danos irreversíveis ao organismo das aves comerciais, impossíveis de serem recuperados até as 42 semanas de idade. Dessa forma, a restrição de lisina durante a fase final do crescimento deve ser evitada.

Existiram diferenças entre as linhagens para consumo de ração e conversão por massa de ovos. A linhagem semipesada apresentou menor consumo e melhor conversão alimentar (P<0,05) que a linhagem leve.

Vários estudos têm indicado que as aves mais pesadas produzem ovos de maior tamanho (DOUGLAS e HARMS, 1982; SUMMERS e LEESON, 1993; KESHAVARZ e NAKAJIMA, 1995; e LEESON e SUMMERS, 1997).

O peso dos ovos não foi afetado pelos níveis de lisina, provavelmente, em virtude de as aves terem sido selecionadas para similar peso corporal. Este resultado reforça a afirmação anterior e sugere que a deficiência marginal de lisina na ração de crescimento final não deve afetar esta característica de modo importante.

A maior incidência de ovos quebrados no nível de 0,45% de lisina na ração das poedeiras semipesadas (P<0,10), conforme a equação quadrática: y = -2,83291 + 12,9917X - 14,3931X2 (r2 = 0,86), foi inesperado. As poedeiras leves apresentaram maior quantidade de ovos quebrados que as semipesadas (P<0,05).

Conclusões

As exigências de lisina total para a fase de 13 a 20 semanas foram de 0,46% ou consumo de 354 mg diário, para as aves leves, e 0,49% ou consumo de 365 mg diário para as semipesadas, correspondendo, respectivamente, a 315 e 325 mg de lisina digestível diárias.

A deficiência de lisina na fase final do crescimento afeta de forma irreversível o desempenho produtivo das poedeiras comerciais.

Referências Bibliográficas

Recebido em: 02/12/99

Aceito em: 26/04/00

2 Departamento de Agropecuária - CFT/UFPB - Bananeiras - PB - CEP 58.220-000. E.mail: jvilar@cft.ufpb.br

3 Professor do Departamento de Zootecnia da UFV. Viçosa, MG, Brasil. CEP. 36.570-000.

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  • 1
    Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor. Bolsista do convênio PICDT-Capes/UFPB.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Out 2002
    • Data do Fascículo
      Dez 2000

    Histórico

    • Aceito
      26 Abr 2000
    • Recebido
      02 Dez 1999
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