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Uso da Fotografia na Pesquisa Organizacional: Legitimidade e Potencialidades

RESUMO

Objetivo:

discutir o uso do método fotográfico como meio de produzir evidências na pesquisa organizacional e contribuir com o debate para que o método alcance maior legitimidade a partir das nuances que delimitam o campo organizacional.

Proposta:

por meio de um ensaio são apresentadas características, approaches do método fotográfico, limitações e possibilidades de sua aplicação como um meio de produzir evidências em pesquisas organizacionais com rigor, relevância, acurácia e impacto. Discutem-se ainda aspectos práticos da análise fotográfica e os dilemas que acompanham o pesquisador em seu uso. São também apresentados exemplos de reflexões que são úteis aos pesquisadores quando fizerem uso da análise fotográfica.

Conclusões:

diante do restrito uso da fotografia no contexto da pesquisa organizacional, do reduzido escopo de artigos publicados com análise fotográfica e do potencial que o método possui em produzir evidências, o ensaio instiga os atores do campo a ampliar o uso da fotografia e discute meios para que ela alcance maior espaço entre pesquisadores, editores, avaliadores e leitores. Dado o amplo escopo teórico e metodológico no qual a fotografia pode ser aplicada e as facilidades tecnológicas contemporâneas, a superação deste uso reduzido está relacionada mais à necessidade de maior legitimidade da fotografia pelos pares do que por especificidades do método.

Palavras-chave:
pesquisa qualitativa; metodologia visual; organização

ABSTRACT

Objective:

to discuss the use of the photographic method to produce evidence in organizational research and contribute to the debate so that the method achieves greater legitimacy from the nuances that delimit the organizational field.

Proposal:

present characteristics, approaches of the photographic method, limitations, and possibilities of its application as a means of producing evidence in organizational research with rigor, relevance, accuracy, and impact, discussing practical aspects of photographic analysis and the dilemmas that accompany the researcher in its use. Examples of reflections helpful to researchers when using photographic analysis are also presented.

Conclusions:

given the restricted use of photography in organizational research, the reduced scope of articles published with photographic analysis, and the potential that the method has to produce evidence, the essay encourages actors in the field to expand the use of photography. Moreover, the article discusses how photography can achieve more significant space among researchers, editors, reviewers, and readers. Given the broad theoretical and methodological scope in which photography can be applied and the contemporary technological facilities, overcoming this reduced use is more related to the need for greater legitimacy of photography by peers than the specifics of the method.

Keywords:
qualitative research; visual methodology; organization

INTRODUÇÃO

Este ensaio tem como objetivo discutir o uso do método fotográfico como meio de produzir evidências na pesquisa organizacional e contribuir com o debate para maior legitimidade de seu uso a partir das nuances que delimitam o campo organizacional. O argumento central é que a fotografia não é usada em sua potencialidade mais em razão de legitimidade do que características do método em si. Para sustentar este argumento, além de uma apresentação sobre as características do método, será discutido que a legitimidade pode ser ampliada a partir de duas perspectivas. A primeira perspectiva é o método em si, o que envolve (a) a análise fotográfica e (b) as limitações do método e os dilemas do pesquisador. A segunda perspectiva é a ação dos pares para a consolidação da legitimidade no campo organizacional.

São inúmeros os métodos de pesquisa social que são aplicados nos estudos sobre organizações, com variados graus de complexidade e propósito. Os pesquisadores que trabalham com abordagem qualitativa fazem elevado uso de métodos como entrevistas, pesquisas documentais, grupos focais etc. Por outro lado, não é difícil supor que a fotografia não tem sido utilizada por boa parte dos pesquisadores do campo organizacional no nível de seu potencial (Davison, McLean, & Warren 2012Davison, J., McLean, C., & Warren, S. (2012). Exploring the visual in organizations and management. Qualitative Research in Organizations and Management, 7(1), 5-15. https://doi.org/10.1108/17465641211223528
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; Warren, 2005).

A fotografia faz parte dos chamados métodos visuais, os quais englobam, dentre outros, filmes, desenhos, colagens, cartuns (Glaw, Inder, Kable, & Hazelton, 2017Glaw, X., Inder, K., Kable, A., & Hazelton, M. (2017). Visual methodologies in qualitative research: Autophotography and photo elicitation applied to mental health research. International Journal of Qualitative Methods, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.1177/1609406917748215
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). Há uma tradição do uso da fotografia na sociologia e na antropologia como um eficiente meio de produção de evidências complementares aos dados não verbais ou escritos, em que este método tem sido usado para analisar tanto fenômenos específicos como o que é produzido por uma cultura (Harper, 1988Harper, D. (1988). Visual sociology: Expanding sociological vision. The American Sociologist, 19, 54-70. https://doi.org/10.1007/BF02692374
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).

Desde sua origem no campo social, o método tem tido seu uso expandido para vários campos do conhecimento (Pain, 2012Pain, H. (2012). A literature review to evaluate the choice and use of visual methods. International Journal of Qualitative Methods, 11(4), 303-319. https://doi.org/10.1177/160940691201100401
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). Porém, a despeito de um recente crescimento no interesse (Li, Prasad, Smith, Gutierrez, Lewis, & Brown, 2019Li, E. P. H., Prasad, A., Smith, C., Gutierrez, A., Lewis, E. & Brown, B. (2019). Visualizing community pride: Engaging community through photo and video-voice methods. Qualitative Research in Organizations and Management, 14(4), 377-392. https://doi.org/10.1108/QROM-03-2018-1621
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), tal expansão não tem sido aplicada em seu potencial no campo organizacional (Greenwood, Jack, & Haylock, 2019Greenwood, M., Jack, G., & Haylock, B. (2019). Toward a methodology for analyzing visual rhetoric in corporate reports. Organizational Research Methods, 22(3), 798-827. https://doi.org/10.1177/1094428118765942
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; Meyer, Höllerer, Jancsary, & van Leeuwen, 2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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; Shortt, 2015Shortt, H. (2015). Liminality, space and the importance of ‘transitory dwelling places’ at work. Human Relations, 68(4), 633-658. https://doi.org/10.1177/0018726714536938
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), ou mais, tem sido mesmo negligenciada como defendem Davison, McLean e Warren (2012Davison, J., McLean, C., & Warren, S. (2012). Exploring the visual in organizations and management. Qualitative Research in Organizations and Management, 7(1), 5-15. https://doi.org/10.1108/17465641211223528
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), ainda que esses autores ressaltem que tem havido um recente crescimento no interesse entre pesquisadores. Uma razão indicada por Bell e Davison (2013Bell, E., & Davison, J. (2013). Visual management studies: Empirical and theoretical approaches. International Journal of Management Reviews, 15(2), 167-184. https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2012.00342.x
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) para este uso restrito é que os pesquisadores enfrentam desafios para demonstrar o caráter científico de suas pesquisas devido à natureza inerentemente ambígua e polissêmica do visual.

Este reduzido uso da fotografia em estudos de organizações contrasta com o avanço tecnológico e com a diversidade dos meios de fotografar, o que tem possibilitado maior facilidade de uso e proporcionado elevados níveis de qualidade fotográfica (Soares & Storm, 2022Soares, J. S., & Storm, B. C. (2022). Exploring functions of and recollections with photos in the age of smartphone cameras. Memory Studies, 15(2), 1-17. https://doi.org/10.1177/17506980211044712
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; Steyaert, Marti, & Michels, 2012Steyaert, C., Marti, L., & Michels, C. (2012). Multiplicity and reflexivity in organizational research: Towards a performative approach to the visual. Qualitative Research in Organizations and Management, 7(1), 34-53. https://doi.org/10.1108/17465641211223456
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). Assim, esta aplicação reduzida não está vinculada a limitações técnicas, e sim a escolhas do pesquisador, muitas vezes baseadas em análises de legitimidade no campo (Dimaggio & Powell, 1983Dimaggio, P. J., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited: Institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48(2), 147-160. https://doi.org/10.2307/2095101
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; Shortt & Warren, 2019Shortt, H. L., & Warren, S. K. (2019). Grounded visual pattern analysis: Photographs in organizational field studies. Organizational Research Methods, 22(2), 539-563. https://doi.org/10.1177/1094428117742495
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; Skjælaaen, Bygdås, & Hagen, 2020Skjælaaen, G. R., Bygdås, A. L., & Hagen, A. L. (2020). Visual inquiry: Exploring embodied organizational practices by collaborative film-elicitation. Journal of Management Inquiry, 29(1), 59-75. https://doi.org/10.1177/1056492618778138
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).

A despeito da existência de artigos que citam a questão da legitimidade em pesquisas que fazem uso de métodos visuais, esta não é uma questão principal presente na literatura organizacional. Assim, este artigo avança no conhecimento ao discutir, centralmente, a legitimidade do uso da fotografia nos estudos organizacionais a partir da aplicação do método em si, com base em suas características e limitações, e do papel dos atores do campo.

Neste sentido, a justificativa deste ensaio surge da pertinência em instigar um debate sobre a intensidade do uso da fotografia nas pesquisas organizacionais e expandir a discussão entre os pares sobre a legitimidade da fotografia como fonte de evidências. O incremento do uso do método fotográfico pode trazer ganhos para os pesquisadores em particular e para o campo em geral, haja vista a capacidade de exploração de elementos não textuais ou verbais que podem ser uma rica fonte de evidências dos fenômenos organizacionais, sem prejuízo do rigor analítico.

Já é legitimado no campo organizacional o uso de elementos visuais em pesquisas e em artigos científicos, como gráficos, esquemas e tabelas. Porém, normalmente na pesquisa qualitativa, estes elementos apenas buscam facilitar a transmissão de informações oriundas de evidências escritas ou verbais. No caso da fotografia como fonte de evidência, ainda não se percebe uma legitimidade condizente com o potencial do método, ao contrário da entrevista, método mais legitimado no campo organizacional (Sølvberg & Jarness, 2019Sølvberg, L. M., & Jarness, V. (2019). Assessing contradictions: Methodological challenges when mapping symbolic boundaries. Cultural Sociology, 13(2), 178-197. https://doi.org/10.1177/1749975518819907
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). Ao oferecer este espaço de discussão e estímulo à aplicabilidade do método fotográfico, este ensaio busca contribuir para reduzir esta lacuna de legitimidade.

O método fotográfico pode ser um profícuo meio de suportar pesquisas que apresentem temas atuais e relevantes para a sociedade, no intuito de compreender uma realidade para transformá-la no nível que um vasto escopo da sociedade, e não apenas alguns grupos sociais, entende como mais relevante e positivo para o seu desenvolvimento. Esta aptidão do método fotográfico é alcançada em razão da capacidade de uma imagem de produzir evidências fidedignas, com elevado poder de síntese e com facilidade de comparação. Assim, a maior legitimidade de evidências oriundas do método fotográfico contribui para a compreensão do contexto social e do campo gerencial quando realça de maneira mais efetiva o mundo concreto e vivido a ser positivamente transformado.

CARACTERÍSTICAS, APPROACHES E APLICAÇÕES DA FOTOGRAFIA

A visualidade oferece uma base filosófica distinta a partir da qual se pode observar as complexidades associadas a relacionamentos, interações, espaço, objetos, self, identidade, dentre outras (Shortt, 2012Shortt, H. (2012). Identityscapes of a hair salon: Work identities and the value of visual methods. Sociological Research Online, 17(2), 22. Retrieved from http://www.socresonline.org.uk/17/2/22.html
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). As manifestações visuais não evidenciam apenas aspecto na forma, mas também no conteúdo; assim, o modo visual aumenta o potencial de expressar identidades e valores por meio da dimensão latente dos artefatos (Meyer et al., 2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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). Na pesquisa organizacional, ao registrar os espaços e os ambientes, amplia-se o potencial de explicação dos mais variados fenômenos organizacionais (Shortt, 2015).

A sociedade faz largo uso da fotografia (Bell & Davison, 2013Bell, E., & Davison, J. (2013). Visual management studies: Empirical and theoretical approaches. International Journal of Management Reviews, 15(2), 167-184. https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2012.00342.x
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). Uma das razões para este uso é a praticidade de registro, seja por câmeras fotográficas, seja por smartphones (Wilhoit, 2017Wilhoit, E. D. (2017). Photo and video methods in organizational and managerial communication research. Management Communication Quarterly, 31(3), 447-466. https://doi.org/10.1177/0893318917704511
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), com amplas possibilidades técnicas de registro, aprimoramento e difusão (Soares & Storm, 2022Soares, J. S., & Storm, B. C. (2022). Exploring functions of and recollections with photos in the age of smartphone cameras. Memory Studies, 15(2), 1-17. https://doi.org/10.1177/17506980211044712
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). As fotografias conectam, subjetivamente, o observador com o argumento (Harper, 2005Harper, D. (2005). What’s new visually? In N. K. Denzin & Y. S. Lincoln. Tha Sage Handbook of Qualitative Research (3rd ed., pp. 747-762). Thousand Oaks: Sage.) e podem ser lidas para entender as nuances da interação, apresentações de si mesmo e as relações entre as pessoas em seus ambientes materiais (Harper, 1988). As fotografias têm uma vivacidade rica na qualidade e profundidade das informações sensoriais, ajudando os indivíduos a codificar suas informações mais prontamente e com maior acúmulo de informações (Machin, Moscato, & Dadzie, 2021Machin, J. E., Moscato, E., & Dadzie, C. (2021). Visualizing food: Photography as a design thinking tool to generate innovative food experiences that improve food well-being. European Journal of Marketing, 55(9), 2515-2537. https://doi.org/10.1108/EJM-02-2020-0141
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) e ainda podem revelar aspectos que não são explicitados em entrevistas (Buchanan, 2001Buchanan, D. A. (2001). The role of photography in organization research: A reengineering case illustration. Journal of Management Inquiry, 10(2), 151-164. https://doi.org/10.1177/1056492601102018
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).

Existem múltiplas perspectivas de classificação da fotografia. Em relação ao nível de análise, a fotografia pode ter foco tanto no indivíduo como em um grupo ou na organização em geral (Ray & Smith, 2012Ray, J. L., & Smith, A. D. (2012). Using photographs to research organizations: Evidence, considerations, and application in a field study. Organizational Research Methods, 2(15), 288-315. https://doi.org/10.1177/1094428111431110
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). Quanto à centralidade do método frente ao objeto, a fotografia pode ser usada tanto como método complementar no processo de triangulação (Warren, 2005Warren, S. (2005). Photography and voice in critical qualitative management research. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 18(6), 861-882. https://doi.org/10.1108/09513570510627748
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) quanto como método principal de pesquisa para elucidar evidências. Como exemplos de metodologia complementar, Buchanan (2001Buchanan, D. A. (2001). The role of photography in organization research: A reengineering case illustration. Journal of Management Inquiry, 10(2), 151-164. https://doi.org/10.1177/1056492601102018
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) faz uso conjunto da fotografia e métodos tradicionais da pesquisa qualitativa como meio de análise de reordenação de processos organizacionais de um hospital. Pullman e Robson (2007Pullman, M. E., & Robson, S. K. A. (2007). Visual methods: Using photographs to capture customers’ experience with design. Cornell Hotel and Restaurant Administration Quarterly, 48(2), 121-144. https://doi.org/10.1177/0010880407300410
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) combinam entrevistas e pesquisas baseadas em fotografia para fornecer a compreensão da perspectiva do consumidor sobre o design de hotéis e suas implicações para a satisfação do hóspede. Shortt (2012Shortt, H. (2012). Identityscapes of a hair salon: Work identities and the value of visual methods. Sociological Research Online, 17(2), 22. Retrieved from http://www.socresonline.org.uk/17/2/22.html
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) faz uso da autofotografia e da foto-entrevista para analisar como um grupo de trabalhadores cabeleireiros do Reino Unido usa os espaços, objetos e coisas em seus locais de trabalho para formar uma narrativa visual de quem eles são, ou seja, como eles usam aspectos de sua paisagem material de trabalho como recursos importantes na produção e reprodução de suas identidades de trabalho.

Como exemplo em que a fotografia é o método central, Anjo (2020Anjo, J. E. da S. (2020). Por trás das câmeras: Registro fotográfico dos bastidores de uma produção cinematográfica. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, 9(3), 161-177. http://dx.doi.org/10.9771/23172428rigs.v9i3.33562
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) analisa, sob a lente organizacional, os bastidores da produção cinematográfica de um projeto de extensão universitária. Muzzio (2021Muzzio, H. (2021). Cidades criativas da UNESCO: Registros de design e artesanato em capitais do Nordeste. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 8(21), 263-289. https://doi.org/10.25113/farol.v8i21.6680
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) aplica a fotografia para analisar duas experiências de cidades criativas chanceladas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no nordeste brasileiro: Fortaleza, na categoria Design, e João Pessoa, na categoria Artesanato, bem como as respectivas contribuições para a consolidação destas cidades como polos de criatividade. Li, Prasad, Smith, Gutierrez, Lewis e Brown (2019Li, E. P. H., Prasad, A., Smith, C., Gutierrez, A., Lewis, E. & Brown, B. (2019). Visualizing community pride: Engaging community through photo and video-voice methods. Qualitative Research in Organizations and Management, 14(4), 377-392. https://doi.org/10.1108/QROM-03-2018-1621
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) usam a fotografia para analisar a formação de laços entre uma comunidade canadense e o meio sociocultural, natural e político, evidenciando o papel dos recursos visuais na consolidação do orgulho desta comunidade. Byrne, Cave e Raymer (2021Byrne, Z. S., Cave, K. A., & Raymer, S. D. (2021). Using a generalizable photo-coding methodology for assessing organizational culture artifacts. Journal of Business and Psychololy. https://doi.org/10.1007/s10869-021-09773-0
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) utilizam a fotografia por meio de codificação para desvendar a cultura de uma organização por meio de seus artefatos.

Em relação a approaches, Davison et al. (2012Davison, J., McLean, C., & Warren, S. (2012). Exploring the visual in organizations and management. Qualitative Research in Organizations and Management, 7(1), 5-15. https://doi.org/10.1108/17465641211223528
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) e Steyaert, Marti e Michels (2012Steyaert, C., Marti, L., & Michels, C. (2012). Multiplicity and reflexivity in organizational research: Towards a performative approach to the visual. Qualitative Research in Organizations and Management, 7(1), 34-53. https://doi.org/10.1108/17465641211223456
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) dividem os estudos visuais entre aqueles nos quais os pesquisadores utilizam fotografias prévias, produzidas por atores do campo, e aqueles em que os próprios pesquisadores ou os pesquisados produzem novos dados visuais para estudo de um fenômeno organizacional. Meyer, Höllerer, Jancsary e van Leeuwen (2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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) fazem uma divisão mais específica da pesquisa visual utilizando cinco approaches: 1. Arqueológico, quando é feito uso de imagens prévias, as quais são produzidas pelos atores organizacionais e interpretadas pelo pesquisador. 2. Prático, cujo foco é compreender como os artefatos fazem parte do cotidiano organizacional, sendo os dados gerados e interpretados pelos atores do campo. 3. Estratégico, quando se analisa como as imagens são usadas pelas organizações como meio de persuasão, em que os dados podem ser gerados tanto pelos atores do campo como pelo pesquisador, sendo interpretados pelos atores do campo. 4. Dialógica, em que as imagens são usadas como um meio para estimular o debate sobre o contexto organizacional, sendo os dados produzidos pelos atores do campo e, eventualmente, pelo pesquisador. 5. Documental, quando as imagens são geradas e analisadas pelo pesquisador para capturar um fenômeno.

Para além destas classificações, sob uma perspectiva prática, fotografia pode ser usada em casos em que pessoas envolvidas com o fenômeno em análise não se sintam à vontade em responder a uma entrevista ou em participar de um grupo focal, por exemplo, mas permitem o registro de suas rotinas laborais. A fotografia pode ainda ser usada na pesquisa como um meio de comunicação entre pesquisador e investigados (Wilhoit, 2017Wilhoit, E. D. (2017). Photo and video methods in organizational and managerial communication research. Management Communication Quarterly, 31(3), 447-466. https://doi.org/10.1177/0893318917704511
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).

Também é possível analisar o método fotográfico sob a ótica temporal. Além da aplicação contemporânea, os registros fotográficos servem para o futuro e podem ser muito úteis para os pesquisadores vindouros, assim como é possível utilizar registros históricos para compreender fenômenos antigos. Tal como a fotografia do passado em relação ao presente, os flagrantes de hoje podem ser objetos de estudos no futuro no intuito de analisar, comparativamente, as transformações organizacionais físicas e simbólicas e os comportamentos e configurações que, embora atualmente vigentes, não serão padrão no longo prazo.

Sob uma ótica política, os métodos visuais têm ocupado um espaço social crescente no mundo midiático que permeia a contemporaneidade. A digitalização, as mídias sociais e as plataformas de compartilhamento de informações estruturam o novo modelo de economia digital, em que as tecnologias de informação e comunicação criam redes globais que impulsionam mudanças econômicas e sociais (Williams, McDonald, & Mayes, 2021Williams, P., McDonald, P., & Mayes, R. (2021) The impact of disruptive innovation on creative workers: The case of photographers. Creative Industries Journal, 14:2, 130-151. https://doi.org/10.1080/17510694.2020.1858707
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). Neste contexto, o uso do método fotográfico em pesquisas organizacionais pode ser uma ferramenta poderosa, ocupar um lugar privilegiado e ser um recurso útil para apreensão mais real e válida da realidade.

Sob uma ótica de aplicação, a fotografia possui um amplo escopo de compatibilidade com distintos approaches de pesquisa, como o interpretativo, o realístico, a sociomaterialidade e o crítico, bem como é adequado a distintos approaches metodológicos, como grounded theory, etnografia ou estudo de caso. Isto possibilita aos pesquisadores organizacionais um extensivo prisma de ação.

A aplicação do método fotográfico no contexto organizacional pode ser usada para registros humanos e não humanos. No contexto não humano, são exemplos os registros de layout, plantas industriais, ambientes de produção, espaços de atendimento, salas de reunião, escritórios, áreas de serviços, estoques, banheiros, bem como adornos, móveis e vestimentas. As Figuras 1, 2 e 3 exemplificam registros de espaços organizacionais em uma pesquisa sobre trabalho criativo. Não há espaço neste artigo para realizar uma análise de tais fotografias, mas registra-se a possibilidade de análise, por exemplo, sobre tecnologia de produção, tipo de produtos, vinculação dos produtos com a cultura local, espaço de produção, criatividade (ver temas de estudo na próxima seção), a partir do uso de distintas lentes teóricas ou perspectivas epistemológicas.

Figura 1
Manipulação.

Figura 2
Produção.

Figura 3
Comercialização.

Os registros fotográficos podem relacionar aspectos físicos a comportamentos, como registro de ornamentos ou de ambientes que revelam elementos da cultura organizacional (Byrne, Cave, & Raymer, 2021Byrne, Z. S., Cave, K. A., & Raymer, S. D. (2021). Using a generalizable photo-coding methodology for assessing organizational culture artifacts. Journal of Business and Psychololy. https://doi.org/10.1007/s10869-021-09773-0
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), tais como design de interiores, fachadas, móveis, quadros, fotografia do fundador e uso de cores nos ambientes.

Em relação ao contexto humano, servem de exemplo os registros de instantes de comportamentos de indivíduos nas diversas atividades do ambiente organizacional, como em reuniões, treinamentos, processos criativos, atendimentos a clientes, produções, conferências e momentos de descontração.

Enfim, estas características exemplificam a versatilidade e os potenciais de aplicação da fotografia em pesquisas organizacionais, em que pesquisadores possuem à disposição um leque de escolhas que são condizentes com distintas estratégias de investigação, o que potencializa o uso do método fotográfico nos estudos organizacionais.

ANÁLISE FOTOGRÁFICA E LEGITIMIDADE

Para sustentar o argumento central deste artigo, defende-se que a legitimidade será ampliada tanto por ações relacionadas ao método em si como por ações comportamentais dos atores do campo. A primeira discussão foca na etapa de análise.

A garantia de um bom processo analítico se inicia antes do processo em si. É necessário rigor desde a fase de planejamento e uma pertinente questão de pesquisa. Há uma vasta literatura que aborda as questões de rigor, relevância e confiabilidade na pesquisa qualitativa (Gioia, Corley, & Hamilton, 2013Gioia, D. A., Corley, K. G., & Hamilton, A. L. (2013). Seeking qualitative rigor in inductive research: Notes on the Gioia methodology. Organizational Research Methods, 16(1), 15-31.https://doi.org/10.1177/1094428112452151
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; Morse, Barrett, Mayan, Olson, & Spiers, 2002Morse, J. M., Barrett, M., Mayan, M., Olson, K., & Spiers, J. (2002). Verification strategies for establishing reliability and validity in qualitative research. International Journal of Qualitative Methods, 1(2), 13-22. https://doi.org/10.1177/160940690200100202
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). Como estes cuidados incluem o método fotográfico, serão discutidos aqui aspectos mais práticos. Dentre os referidos approaches de Meyer et al. (2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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), o approach documental, cujo foco de pesquisa são o conteúdo e o significado do artefato visual, é o menos usual na pesquisa organizacional e, nesse sentido, os comentários aqui terão foco neste approach, embora não sejam, por vezes, indevidos a outros approaches.

Inicialmente, a análise fotográfica tem a tarefa de garantir que: (1) o que foi observado é 'verdadeiro' e de alguma forma aceitável; (2) os dados foram analisados de forma que os significados atribuídos a eles sejam aceitáveis (Laroche, 2020Laroche, H. (2020). Observation as photography: A metaphor. M@n@gement, 23(3), 79-99. https://doi.org/10.37725/mgmt.v23i3.5513
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).

O pesquisador deve oferecer uma descrição detalhada de todos os procedimentos de preparação dos registros e da etapa analítica, assim como de todo o processo de investigação. A análise fotográfica também deve se valer da recursividade, com o pesquisador e sua equipe realizando rodadas de análises, refinamentos e revisões. Diante da subjetividade envolvida nesta fase e da externalidade positiva que a complementaridade possibilita, o uso da triangulação de pesquisadores e de métodos (Farquhar, Michels, & Robson, 2020Farquhar, J., Michels, N., & Robson, J. (2020). Triangulation in industrial qualitative case study research: Widening the scope. Industrial Marketing Management, 87, 160-170. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2020.02.001
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) pode contribuir para suprir lacunas de percepção e de interpretação individuais, mitigar a subjetividade e ampliar o rigor (Byrne et al., 2021Byrne, Z. S., Cave, K. A., & Raymer, S. D. (2021). Using a generalizable photo-coding methodology for assessing organizational culture artifacts. Journal of Business and Psychololy. https://doi.org/10.1007/s10869-021-09773-0
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) em relação aos registros fotográficos. Para Harper (1988Harper, D. (1988). Visual sociology: Expanding sociological vision. The American Sociologist, 19, 54-70. https://doi.org/10.1007/BF02692374
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), muitos dos métodos utilizados em pesquisas podem ser mais bem compreendidos se congelados em uma imagem fotográfica em comparação a escritos em um memorando de campo.

O pesquisador deve buscar isenção, eliminar vieses e fazer uma reflexividade exaustiva (Cassell, Radcliffe, & Malik, 2020Cassell, C., Radcliffe, L., & Malik, F. (2020). Participant reflexivity in organizational research design. Organizational Research Methods, 23(4), 750-773. https://doi.org/10.1177/1094428119842640
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), ainda que existam reconhecidos limites de isenção na pesquisa qualitativa (Berger, 2015Berger, R. (2015). Now I see it, now I don’t: Researcher’s position and reflexivity in qualitative research. Qualitative Research, 15(2), 219-234. https://doi.org/10.1177/1468794112468475
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). Ao realizar os registros fotográficos, o pesquisador deve fazer anotações em seu caderno de campo (físico ou digital) para produzir informações complementares e explicativas ou destaques do que fora registrado, o que irá ser útil na etapa de análise. A despeito da confirmação de evidências, a confrontação com relatos escritos ou ditos pode ser contraditória com os registros fotográficos. Neste caso, novas reflexões, comparações ou novos registros podem ser necessários.

Eventualmente, o pesquisador pode ter acesso a fotos anteriores pertencentes ao acervo organizacional ou de algum membro da organização que são úteis ao seu objeto de investigação, o que seria designado como um método híbrido (Meyer et al., 2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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). Neste caso, o pesquisador deve examinar a pertinência do uso a partir de seus objetivos e garantir todos os cuidados aqui discutidos, deixando claro caso faça uso de tais registros.

A análise pode ser facilitada se houver múltiplos registros do mesmo ambiente ou das mesmas pessoas em suas rotinas funcionais, dado que esta estratégia possibilita a captura de muitas nuances presentes nas organizações (Byrne et al., 2021Byrne, Z. S., Cave, K. A., & Raymer, S. D. (2021). Using a generalizable photo-coding methodology for assessing organizational culture artifacts. Journal of Business and Psychololy. https://doi.org/10.1007/s10869-021-09773-0
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). A análise da fotografia pode ser feita sem ou com o uso de soft (Ray & Smith, 2012Ray, J. L., & Smith, A. D. (2012). Using photographs to research organizations: Evidence, considerations, and application in a field study. Organizational Research Methods, 2(15), 288-315. https://doi.org/10.1177/1094428111431110
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), o qual permite o acesso a uma série de facilidades e funcionalidades. Para além do soft, a análise pelo pesquisador permite perspectivas só acessíveis a partir de subjetividades e da experiência do pesquisador.

Condizente com os estudos qualitativos, não há apenas uma única estratégia de análise e isto depende, por exemplo, dos propósitos da pesquisa, da pertinência do método em relação ao objeto e da familiaridade do pesquisador (Byrne et al., 2021Byrne, Z. S., Cave, K. A., & Raymer, S. D. (2021). Using a generalizable photo-coding methodology for assessing organizational culture artifacts. Journal of Business and Psychololy. https://doi.org/10.1007/s10869-021-09773-0
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; Greenwood et al., 2019Greenwood, M., Jack, G., & Haylock, B. (2019). Toward a methodology for analyzing visual rhetoric in corporate reports. Organizational Research Methods, 22(3), 798-827. https://doi.org/10.1177/1094428118765942
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). Análise de conteúdo e análise temática são comuns na análise de registros e estão no cerne das fases de primeira, segunda e terceira ordens. Na análise de conteúdo, é possível a realização de quantificações, enumerações e descrições. Apesar da possibilidade de ser interpretativamente rigorosa, seria pertinente não esquecer que uma análise de conteúdo é limitada em sua capacidade de vincular explicitamente o conteúdo visual ao uso retórico e aos aspectos ideológicos dos elementos visuais e, portanto, é limitada em sua capacidade de criticidade (Greenwood et al., 2019).

A análise temática visa a identificar núcleos de sentido (Bardin, 2010Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo (4th ed.). Lisboa: Edições 70.). Neste momento, podem ser identificados elementos manifestos ou latentes. Os temas podem emergir de padrões fotográficos, dos diários de campo (Ray & Smith, 2012Ray, J. L., & Smith, A. D. (2012). Using photographs to research organizations: Evidence, considerations, and application in a field study. Organizational Research Methods, 2(15), 288-315. https://doi.org/10.1177/1094428111431110
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) ou de teorias de suporte. Em busca de rigor, deve-se garantir o uso de um pesquisador da equipe que atue como auditor de todo o processo analítico. A análise temática envolve interpretação e, como tal, envolve abdução de segunda ordem, existindo um componente cultural que norteia a interpretação do pesquisador (Greenwood et al., 2019Greenwood, M., Jack, G., & Haylock, B. (2019). Toward a methodology for analyzing visual rhetoric in corporate reports. Organizational Research Methods, 22(3), 798-827. https://doi.org/10.1177/1094428118765942
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).

Em termos práticos, um caminho é, inicialmente, revisar os registros e, eventualmente, excluir o que for necessário por motivos técnicos ou de ordem ética. Posteriormente, os registros devem ser ordenados de acordo com critérios que os pesquisadores entendam que melhor atendem aos seus objetivos, por exemplo, ordem cronológica, eventos ou espaços organizacionais. Em seguida, devem ser identificados todos os elementos humanos e não humanos em cada registro. Estes dados podem ser vinculados, por exemplo, a configurações espaciais, ordenações, escalas e quantificações, todos dotados de simbolismos que podem fazer emergir evidências sobre o objeto de investigação. Todo este processo requer ‘olhos educados’ (Laroche, 2020Laroche, H. (2020). Observation as photography: A metaphor. M@n@gement, 23(3), 79-99. https://doi.org/10.37725/mgmt.v23i3.5513
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) para que possam extrair detalhes, o não dito ou o camuflado. A recursividade, a reflexividade e a discussão entre integrantes devem acompanhar todo o processo.

De forma prática, sem a pretensão de ser exaustivo e prescritivo, e sem significar obrigatoriamente uma sequência a ser seguida, a Figura 4 apresenta um rol de questionamentos que podem nortear o processo analítico:

Figura 4
Questionamentos para nortear o processo analítico.

Em paralelo, a pesquisa com método fotográfico pode compreender vários temas organizacionais. A Tabela 1 apresenta exemplos, não exaustivos, de contextos e focos de estudo que podem inspirar pesquisadores sobre como as fotografias podem contribuir para produzir evidências de variados fenômenos organizacionais, os quais podem ser analisados por um amplo escopo epistemológico e teórico.

Tabela 1
Aspectos organizacionais fotografáveis e temas/focos de estudos.

Enfim, esta seção apresentou uma discussão sobre estratégias, práticas, comportamentos e escolhas para os quais o pesquisador deve atentar ao realizar a análise fotográfica no campo organizacional. Ao fazer uso correto daquilo que foi proposto, ao observar as coerências entre as escolhas epistemológicas, teóricas e metodológicas, ao estabelecer um protocolo coerente com seu objeto de investigação, ao dotar o público de todas as informações possíveis (observando aspectos éticos) do processo desenvolvido, ao buscar usar o método com o rigor necessário, enfim, ao buscar realizar a investigação e a análise com qualidade, o pesquisador tanto potencializa a legitimidade de sua pesquisa em si como irá contribuir com a legitimação do método fotográfico neste campo de conhecimento. Assim, a despeito da referida natureza ambígua e polissêmica do método fotográfico (Bell & Davison, 2013Bell, E., & Davison, J. (2013). Visual management studies: Empirical and theoretical approaches. International Journal of Management Reviews, 15(2), 167-184. https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2012.00342.x
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), ao buscar maximizar as potencialidades e reduzir as limitações deste método, o pesquisador contribuirá neste processo de legitimação.

DILEMAS DO PESQUISADOR, LIMITAÇÕES DO MÉTODO E LEGITIMIDADE

Apresenta-se aqui uma discussão que envolve escolhas e cuidados que o pesquisador deve ter para ampliar a legitimidade de sua própria pesquisa e do método fotográfico no campo organizacional. Um primeiro destaque é a escolha epistemológica do pesquisador, o que vai influenciar toda a investigação. O visual pode ser analisado por diferentes concepções epistemológicas, conceituais e metodológicas (Boxenbaum, Jones, Meyer, & Svejenova, 2018Boxenbaum, E., Jones, C., Meyer, R. E., & Svejenova, S. (2018). Towards an articulation of the material and visual turn in organization studies. Organization Studies, 39(5-6), 597-616. https://doi.org/10.1177/0170840618772611
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). Por exemplo, Hultin (2019Hultin, L. (2019). On becoming a sociomaterial researcher: Exploring epistemological practices grounded in a relational, performative ontology. Information and Organization, 29(2), 91-104. https://doi.org/10.1016/j.infoandorg.2019.04.004
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) usa a sociomaterialidade para analisar as práticas que ocorrem na área de recepção do Conselho Sueco de Migração. Com o apoio de fotografias, a autora debate como uma posição ontológica implica a epistemologia e como é possível agir a partir desta perspectiva. Por outro lado, Walker, Osbahr e Cardey (2021Walker, G., Osbahr, H., & Cardey, S. (2021). Thematic collages in participatory photography: A process for understanding the adoption of zero budget natural farming in India. International Journal of Qualitative Methods. https://doi.org/10.1177/1609406920980956
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) realizam uma pesquisa-ação com o uso de colagens temáticas como método de apoio à geração dialógica com o intuito de elucidar motivações subjetivas em um contexto agrícola na Índia.

Como em todos os métodos de pesquisa, a fotografia possui limitações e seu uso deve levar em consideração as convenções coletivas do campo. Neste sentido, o pesquisador deve estar atento aos problemas éticos envolvidos com a fotografia, a qual já provou ser um instrumento maravilhoso para ver o que o fotógrafo desejava ver (Laroche, 2020Laroche, H. (2020). Observation as photography: A metaphor. M@n@gement, 23(3), 79-99. https://doi.org/10.37725/mgmt.v23i3.5513
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), condição não condizente com o que se espera de uma pesquisa.

Dentre as preocupações, destacam-se: ter o consentimento para a produção e o uso da imagem, divulgar a imagem apenas no sentido que foi autorizado, não registrar espaços e pessoas não autorizados, não invadir a privacidade, não divulgar fatos que podem ser embaraçosos sobre indivíduos e não usar a imagem para lucro (Prins, 2010Prins, E. (2010). Participatory photography: A tool for empowerment or surveillance? Action Research, 8(4), 426-443. https://doi.org/10.1177/1476750310374502
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). Segundo Harper (2005Harper, D. (2005). What’s new visually? In N. K. Denzin & Y. S. Lincoln. Tha Sage Handbook of Qualitative Research (3rd ed., pp. 747-762). Thousand Oaks: Sage.), se o pesquisador entender que o registro fotográfico pode infringir uma legislação ou o que fora acordado com os participantes, ou que isto pode trazer consequências indesejadas, a fotografia não deve ser produzida.

Outro aspecto diz respeito à manipulação da fotografia. É possível fazer uso de técnicas de manipulação que permitem, por exemplo, melhorar a qualidade da imagem por meio de técnicas de revelação ou uso de software, mas não se espera que tais manipulações possam distorcer a realidade ou falsear evidências, pois é sabido que as fotografias podem ocultar ou mentir (Laroche, 2020Laroche, H. (2020). Observation as photography: A metaphor. M@n@gement, 23(3), 79-99. https://doi.org/10.37725/mgmt.v23i3.5513
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).

Neste sentido, a representação da fotografia não deve ser dada como absolutamente realística diante da mediação interpretativa do pesquisador, bem como daqueles que visualizam as imagens, pois as fotos dependem da intenção do pesquisador, de seu objeto de investigação, de como obtém a concordância dos participantes, de questões de estilo, de enquadramento etc. (Buchanan, 2001Buchanan, D. A. (2001). The role of photography in organization research: A reengineering case illustration. Journal of Management Inquiry, 10(2), 151-164. https://doi.org/10.1177/1056492601102018
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).

Espera-se ainda que o pesquisador busque garantir que as pessoas tenham conhecimento prévio de sua presença no período designado de pesquisa (Ray & Smith, 2012Ray, J. L., & Smith, A. D. (2012). Using photographs to research organizations: Evidence, considerations, and application in a field study. Organizational Research Methods, 2(15), 288-315. https://doi.org/10.1177/1094428111431110
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), a partir da informação dos responsáveis pelo contexto organizacional investigado. Esta informação prévia pode mitigar resistências e facilitar o registro dos pesquisados. Contudo, isto não elimina a necessidade de o pesquisador explicar aos participantes a natureza e os objetivos do estudo, esclarecer eventuais dúvidas ou questionamentos e respeitar negativas de participação, inclusive ao longo do processo e já tendo sido feitos registros. Formalmente, é necessário o consentimento por meio de assinatura de termo de livre participação. Há ainda a necessidade de previamente esclarecer os meios e os propósitos de divulgação dos registros.

Outro aspecto de preocupação é a necessidade de transparência dos dados, ou seja, sob a ótica da ciência aberta (Vicente-Saez & Martinez-Fuentes, 2018Vicente-Saez, R., & Martinez-Fuentes, C. (2018). Open Science now: A systematic literature review for an integrated definition. Journal of Business Research, 88, 428-436. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.12.043
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), permitir que os vários atores do campo, desde que com autorização e sem causar problemas éticos, tenham acesso aos registros fotográficos utilizados para apoiar as alegações da pesquisa empírica, o que possibilitaria aos leitores apreciar a riqueza e as nuances do que as fontes evidenciam e avaliar a robustez da pesquisa. Esta ação de acesso aos dados pode envolver o uso de apêndices (Moravcsik, 2014Moravcsik, A. (2014). Transparency: The revolution in qualitative research. PS: Political Science & Politics, 47(1), 48-53. https://doi.org/10.1017/S1049096513001789
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). Contudo, os espaços dos artigos não são suficientes para garantir o acesso a diversas fotografias. Esta limitação pode ser superada pelo uso de repositórios digitais, largamente disponíveis, inclusive de forma gratuita.

Enfim, todo método é fruto de escolhas, requer adequações ao objeto investigado e possui limitações. Mesmo a entrevista, um método com larga legitimidade, deve ser objeto de preocupações. Nunkoosing (2005Nunkoosing, K. (2005). The problems with interviews. Qualitative Health Research, 15(5), 698-706. https://doi.org/10.1177/1049732304273903
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) cita problemas de poder na relação entrevistador-entrevistado, de resistência, de consentimento, de maior grau de controle em entrevistas estruturadas, de distinções culturais, de privacidade, da possibilidade de direcionamento pelo entrevistador a determinados assuntos ou aspectos que mais lhe interessam etc. Em boa medida, tais preocupações podem ser estendidas ao método fotográfico.

No aspecto epistemológico, parece que o debate não deve caminhar para a dicotomia certo ou errado. Faz mais sentido observar a lógica de escolhas ou embates, que são realizados em função de configurações do campo, de poder ou de hegemonias institucionalizadas (Dimaggio & Powell, 1983Dimaggio, P. J., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited: Institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48(2), 147-160. https://doi.org/10.2307/2095101
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; Suchman, 1995Suchman, M. C. (1995). Managing legitimacy: Strategic and institutional approaches. The Academy of Management Review, 20(3), 571-610. https://doi.org/10.2307/258788
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).

Em relação às limitações ao método em si, o pesquisador deve agir para ampliar tanto a legitimidade de sua própria pesquisa como para colaborar no processo de legitimação do método fotográfico. Ao respeitar as questões legais ou princípios éticos, ao buscar ser fidedigno naquilo que registra, ao deixar claros os propósitos do estudo para investigados, ao ser transparente sobre os procedimentos realizados, ao ser rigoroso em suas escolhas, o pesquisador irá contribuir com um processo de maturação e aceitação do método. Naturalmente, isto é um processo que envolve pares e que requer tempo para se consolidar, mas quando este coletivo atua de maneira cuidadosa e atenta aos limites do método, isto terá um importante papel neste processo de legitimidade.

O CAMPO ORGANIZACIONAL E A LEGITIMIDADE DO MÉTODO FOTOGRÁFICO

A questão da legitimidade do método fotográfico reflete uma realidade maior que envolve a própria pesquisa qualitativa. Diante da posição hegemônica da pesquisa quantitativa no campo organizacional, os atores que utilizam métodos qualitativos estão em constante defesa sobre a capacidade de tais métodos de subsidiar a produção de conhecimento. Contudo, a legitimidade de métodos qualitativos não virá por comparações diretas com métodos quantitativos. Neste sentido, esta legitimidade pode ser alcançada, por exemplo, ao se construir um sólido discurso sobre as distinções e características da pesquisa qualitativa e sua capacidade de produzir conhecimento sobre outra lógica que envolve, dentre outros, subjetividade, emoção, intuição, interpretação, ou ainda, como defende Bispo (2017Bispo, M. de S. (2017). Educating qualitative researchers in management: Toward performative judgements. Revista de Administração de Empresas, 57(2), 158-169. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020170205
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), julgamento performativo.

É neste contexto que se insere o método fotográfico, o qual está ainda inserido no embate entre as linguagens verbal e escrita, as predominantes no campo organizacional (Meyer et al., 2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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, Sølvberg & Jarness, 2019Sølvberg, L. M., & Jarness, V. (2019). Assessing contradictions: Methodological challenges when mapping symbolic boundaries. Cultural Sociology, 13(2), 178-197. https://doi.org/10.1177/1749975518819907
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), e a linguagem visual. Para além de ações relacionadas ao próprio método fotográfico, o argumento central desta análise sobre sua legitimidade inclui ações desenvolvidas pelos atores do campo. A legitimidade é um processo de convencimento social de médio-longo prazo (Suchman, 1995Suchman, M. C. (1995). Managing legitimacy: Strategic and institutional approaches. The Academy of Management Review, 20(3), 571-610. https://doi.org/10.2307/258788
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). O alcance da legitimidade necessita de uma ação coletiva orquestrada dos pares, em que se reconhece que é preciso haver uma ação multilateral que construa tanto os arranjos sociais quanto os próprios atores, tarefa facilitada pela ação de lideranças no campo (Thomas & Ritala, 2022Thomas, L. D. W., & Ritala, P. (2022). Ecosystem legitimacy emergence: A collective action view. Journal of Management, 48(3), 515-541. https://doi.org/10.1177/0149206320986617
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).

Em busca de uma compreensão sobre o porquê deste reduzido uso do método fotográfico dentre os métodos qualitativos, defende-se aqui que a principal razão é o comportamento mimético (Dimaggio & Powell, 1983Dimaggio, P. J., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited: Institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48(2), 147-160. https://doi.org/10.2307/2095101
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), e o fato de que acadêmicos reproduzem automaticamente determinados procedimentos dados como certos, sem refletir sobre eles (Bispo, 2017Bispo, M. de S. (2017). Educating qualitative researchers in management: Toward performative judgements. Revista de Administração de Empresas, 57(2), 158-169. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020170205
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). Como o método fotográfico não é muito utilizado em pesquisas publicadas nos principais periódicos do campo organizacional (Bluhm, Harman, Lee, & Mitchell, 2011Bluhm, D. J., Harman, W., Lee, T.W., & Mitchell, T. R. (2011), Qualitative research in management: A decade of progress. Journal of Management Studies, 48(8), 1866-1891. https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00972.x
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), há uma reprodução mimética e acrítica de seu não uso, sem maior reflexão de suas potencialidades e de o quanto ele pode ser um método capaz de produzir evidências robustas, a partir de uma perspectiva distinta do mainstream. Uma evidência disto aparece em um estudo de revisão com 198 estudos que aplicaram múltiplos métodos qualitativos, entre 1999 e 2008, em importantes periódicos norte-americanos e europeus no campo organizacional. Dentre os artigos, 168 (84%) utilizaram entrevistas, 90 (45%) usaram documentos, 80 (40%) adotaram a observação, e 26 (13%) aplicaram questionários. Foram ainda utilizados grupos focais, conversação informal e diários, contudo, a fotografia não foi utilizada (Bluhm et al., 2011).

Especificamente, não há uma única estratégia que garantiria a ampliação da legitimidade da fotografia como fonte de evidência em pesquisas no campo organizacional. Mais uma vez, sem pretensões prescritivas, destacam-se exemplos que podem ser realizados nos mais diversos canais acadêmicos e não acadêmicos, tais como: (a) reconhecer que o significado que busca ser elucidado é propenso a ambiguidades e interpretações subjetivas (Greenwood et al., 2019Greenwood, M., Jack, G., & Haylock, B. (2019). Toward a methodology for analyzing visual rhetoric in corporate reports. Organizational Research Methods, 22(3), 798-827. https://doi.org/10.1177/1094428118765942
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), bem como que a fotografia possui um conteúdo polissêmico (Pain, 2012Pain, H. (2012). A literature review to evaluate the choice and use of visual methods. International Journal of Qualitative Methods, 11(4), 303-319. https://doi.org/10.1177/160940691201100401
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); (b) defender que a fotografia não é apenas um mero meio ilustrativo ou complementar de outros métodos, mas sim um método passível de centralidade ou de um protagonismo em triangulações; (c) propagar que o método possui mais acurácia do que outros métodos, como a entrevista (Ray & Smith, 2012Ray, J. L., & Smith, A. D. (2012). Using photographs to research organizations: Evidence, considerations, and application in a field study. Organizational Research Methods, 2(15), 288-315. https://doi.org/10.1177/1094428111431110
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); (d) corroborar o argumento de que é pertinente superar a oposição binária entre a escrita e o visual e valorizar o uso combinado destas duas perspectivas no nível epistemológico (Bell & Davison, 2013Bell, E., & Davison, J. (2013). Visual management studies: Empirical and theoretical approaches. International Journal of Management Reviews, 15(2), 167-184. https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2012.00342.x
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); (e) difundir que o método permite a construção de registro e memória que facilitam o processo analítico recursivo, possibilita as descrições narrativas das práticas organizacionais e permite o acesso ampliado da realidade para construção coletiva de interpretação.

Em relação aos canais de difusão deste processo de convencimento, os periódicos são um meio natural. Neste caso, editores podem ampliar a disponibilidade de seções e de chamadas especiais, além de possibilitar o uso de repositórios que comportem os registros fotográficos vinculados aos artigos publicados. Para além dos periódicos, pode ser ampliado o acesso a públicos diversos por meio de sites baseados em projetos (Bell & Davison, 2013Bell, E., & Davison, J. (2013). Visual management studies: Empirical and theoretical approaches. International Journal of Management Reviews, 15(2), 167-184. https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2012.00342.x
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). É possível ainda a oferta de tracks em eventos do campo organizacional, bem como a realização de palestras ou de oficinas para aprimoramento, difusão e incentivo do uso do método.

Assim como em outros campos de conhecimento, a legitimação também está associada a ações de gatekeepers. Produções teóricas, metodológicas e empíricas destes atores sobre ou com o método fotográfico possuem a capacidade de indução a atores que não ocupam posições centrais no campo.

Outro aspecto basilar é a questão ética. A observância das legislações e convenções sociais é um comportamento convergente com a legitimação. Por exemplo, o respeito a distintas leis internacionais sobre proteção de dados pessoais e a submissão a comitês de ética, quando necessário, são práticas que colaboram para o método ser legitimado.

Por fim, outro viés de ação poderia ocorrer ainda na formação de docentes pesquisadores por meio de um ensino amplo e eficaz de metodologia qualitativa no nível de doutoramento, o que vai além do simples treinamento sobre métodos e suas regras, e inclui uma educação que possibilite ao doutorando um julgamento com criticidade sobre a aplicabilidade e as limitações dos métodos, com a possibilidade de extrapolar padrões vigentes (Bispo, 2017Bispo, M. de S. (2017). Educating qualitative researchers in management: Toward performative judgements. Revista de Administração de Empresas, 57(2), 158-169. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020170205
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). Neste caminho, o uso mais legitimado do método fotográfico passaria também pela formação de pesquisadores a partir de um reconhecimento crítico sobre as virtudes e as limitações do método fotográfico diante de seu objeto de estudo, superando a simples mimética escolha por métodos tradicionais no campo.

Em resumo, a legitimidade do método fotográfico como produtor de evidências no campo organizacional é um processo em construção (Greenwood et al., 2019Greenwood, M., Jack, G., & Haylock, B. (2019). Toward a methodology for analyzing visual rhetoric in corporate reports. Organizational Research Methods, 22(3), 798-827. https://doi.org/10.1177/1094428118765942
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; Shortt, 2015Shortt, H. (2015). Liminality, space and the importance of ‘transitory dwelling places’ at work. Human Relations, 68(4), 633-658. https://doi.org/10.1177/0018726714536938
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) que ainda requer ações dos atores do campo para se consolidar. Para além de questões técnicas ou da observância das características do método, a construção coletiva de um novo estágio de legitimidade requer formação adequada, intensidade de seu uso, ampliação dos meios de difusão, valorização de suas potencialidades e observância de aspectos éticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo defendeu que o uso do método fotográfico, aquém de seu potencial nos estudos organizacionais, ocorre mais em razão de legitimidade do que por características do método. Para sustentar esta posição, foi desenvolvido um argumento no qual tal legitimidade pode ser consolidada por práticas e cuidados relacionados à análise fotográfica e a limitações do método, bem como por ações de convencimento pelos atores do campo.

O contexto social contemporâneo é marcado por um largo uso de imagens, principalmente pela capacidade da propagação digital (Bell & Davison, 2013Bell, E., & Davison, J. (2013). Visual management studies: Empirical and theoretical approaches. International Journal of Management Reviews, 15(2), 167-184. https://doi.org/10.1111/j.1468-2370.2012.00342.x
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; Soares & Storm, 2022Soares, J. S., & Storm, B. C. (2022). Exploring functions of and recollections with photos in the age of smartphone cameras. Memory Studies, 15(2), 1-17. https://doi.org/10.1177/17506980211044712
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). No contexto organizacional, esta valorização do imagético pode ser usada para ampliar o uso do visual em pesquisas (Byrne et al., 2021Byrne, Z. S., Cave, K. A., & Raymer, S. D. (2021). Using a generalizable photo-coding methodology for assessing organizational culture artifacts. Journal of Business and Psychololy. https://doi.org/10.1007/s10869-021-09773-0
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). O fato de os dados verbais ou escritos possuírem elevado poder explicativo das nuances organizacionais de forma alguma invalida o uso da fotografia para o mesmo fim, ao contrário, o seu uso e o de outros métodos visuais podem ser estimulados e ganhar maior legitimidade no campo em relação à compreensão organizacional.

Este ensaio corrobora Meyer et al. (2013Meyer, R. E., Höllerer, M. A., Jancsary, D., & van Leeuwen, T. (2013). The visual dimension in organizing, organization, and organization research: Core ideas, current developments, and promising avenues. The Academy of Management Annals, 7(1), 489-555. https://doi.org/10.1080/19416520.2013.781867
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), os quais afirmam que é necessário ampliar o número de pesquisas organizacionais que fazem uso da fotografia, e que, além disso, é necessário ampliar seu escopo em distintos approaches metodológicos e teóricos. Assim, defende-se aqui que a agenda de pesquisa não deve se deter em temas específicos. Diante da referida pluralidade teórica e metodológica, parece fazer mais sentido instigar o uso da fotografia em maior escala, pois vários fenômenos organizacionais podem ser captados e compreendidos por meios visuais em geral e pela fotografia em particular.

Os desafios postos ao campo organizacional em possibilitar um impacto positivo para a sociedade, a preocupação dos estudos de gestão em atender aos grandes anseios da sociedade contemporânea e a oferta de respostas pelos pesquisadores às pretensões dos gestores por eficiência organizacional são demandas que podem ser atendidas, complementarmente, com o apoio dos registros fotográficos e isto passa pela valorização do método e maior legitimidade entre os pares. Discussões que aqui foram tratadas podem contribuir com estes intentos.

A aplicação mais efetiva do método fotográfico descortina possibilidades que podem evidenciar novas práticas gerenciais ou suportar teorias emergentes, contribuindo com transformações sociais positivas para um amplo escopo social. Portanto, este artigo defende que pesquisas contemporâneas em administração podem se valer do método fotográfico como um meio robusto de evidenciar o cotidiano organizacional e suas práticas. Isto ocorre em razão de sua capacidade de reproduzir a realidade organizacional de maneira sintética e fidedigna para subsidiar a interpretação do pesquisador. Sua aplicação deve ocorrer sob o reconhecimento de sua capacidade de contribuir para avanços teóricos e práticos, bem como para um novo status da pesquisa organizacional qualitativa.

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Editado por

Editor-chefe:

Marcelo de Souza Bispo (Universidade Federal da Paraíba, PPGA, Brasil)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Jan 2022
  • Revisado
    20 Abr 2022
  • Aceito
    25 Abr 2022
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