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Editorial

Editorial

Ano 17 da revista Avaliação, 59ª edição. Ao que está parecendo, neste complicado ano de 2012 se mantém em alta a competitividade mundial. E para enfrentar essa batalha, as universidades são postas na linha de frente. Veja- se o caso da França. O governo Sarkozy está promovendo uma importante reforma na educação superior. A ideia principal dos projetos que estabelecem as "iniciativas de excelência" (IDEX) é reagrupar 8 grandes universidades, ou seja, criar super- universidades que sejam capazes de atrair os "melhores talentos" e obtenham grande prestígio internacional, isto é, sejam altamente competitivas. Isto em resposta ao fraco desempenho das universidades francesas nas classificações internacionais, especialmente no ranking elaborado pela universidade Jiao Tong de Shangai. Se em muitas outras ocasiões do passado o fracasso em guerras e os interesses belicistas impulsionaram mudanças no ensino e na pesquisa nas universidades, neste caso atual é o choque dos rankings de Shangai e semelhantes que está motivando a reforma da universidade francesa. Os rankings internacionais contribuem para alimentar o prestígio mundial de Harvard, Cambridge, Caltech e outras instituições em sua maioria anglosaxônicas. Indicadores elaborados em algum centro de poder (Shangai, THE etc) incrustado em alguma nação poderosa consagram os conceitos de "excelência" e de "boas práticas". Assim, universidade de excelência (ou de qualidade) seria aquela que cumpre em grau elevado os indicadores de qualidade elaborados por garantidores e classificadores de qualidade. Indicadores se confundem com a qualidade mesma. Sob a ditadura dos indicadores e dos rankings, quanto mais competitiva mundialmente, mais "excelência" possuiria uma universidade. E vice- versa. Mesmo que os indicadores e as boas práticas concebidos abstratamente e impostos para uso genérico não tenham pertinência e qualidade social relativamente às sociedades em que as universidades concretamente se inserem.

Para nações que não se incluem entre os poderosos países industrialmente mais avançados, não são influentes nos organismos multilaterais, nas grandes empresas transnacionais e nos círculos hegemônicos da big science, mais importante e urgente que ostentar números robustos de prêmios Nobel e quantidades de publicações nas revistas que se arvoram donas da verdadeira ciência – que constituem os principais indicadores de Shangai e Times – é superar as sérias deficiências na educação básica, produzir conhecimentos que sejam significativos para as populações e ajudem a construção e o desenvolvimento de sociedades mais justas e igualitárias. Analfabetismo, crianças e jovens fora de escolas, defasagens em aprendizagem, formação pedagógica deficiente dos professores, baixos salários, currículos inadequados, pobreza, desigualdades sociais e muitos outros problemas impõem aos países em desenvolvimento algumas urgências distintas das realidades e demandas dos países ricos, de seus sistemas educacionais, de suas universidades e de suas estruturas de pesquisa. Oxalá as políticas de educação superior que vierem a ser impulsionadas pelo Ministério de Educação, agora na gestão de um novo ministro, saibam harmonizar as necessidades de inserção internacional do ensino e das pesquisas, de inovação e novas tecnologias que se desenvolvem nas universidades brasileiras com os critérios de pertinência e qualidade social.

Todos os 59 números da revista Avaliação publicados até este momento (março de 2012) estão disponíveis eletronicamente, graças às iniciativas de duas organizações que vêm oferecendo contribuições importantíssimas às publicações científicas: Scielo (www.scielo.br/aval) e o Educ@ da Fundação Carlos Chagas. Através desses e de outros indexadores internacionais, Avaliação alcança leitores e pesquisadores dedicados aos estudos de educação superior de vários países e continentes. Isto nos anima a seguir.

Neste número, como tem ocorrido em números anteriores, apresentamos trabalhos de pesquisadores brasileiros e de outros países da América Latina, de Portugal e de Espanha. São trabalhos que resultam de projetos de pesquisa, de teses ou constituem reflexões sobre alguns temas relevantes da educação superior. Abrimos a revista com o artigo de Sueli P. da Luz e Newton C. Balzan, que trata da importância de programas dedicados à formação continuada de docentes de educação superior. Seguimos com Larissa C. dos Santos e Oscar C. Vásquez. Os autores refletem sobre a importância da avaliação institucional na educação superior e, mais especificamente, discutem a questão da pertinência da investigação de clima organizacional como suporte do processo de avaliação. Márcia Zampieri Grohmann e Márcio Sampedro Ramos apresentam um estudo sobre a percepção de mestrandos de administração a respeito das competências docentes. Tânia Maria Baibich e Luís Henrique Sommer mostram os primeiros resultados de uma investigação que realizam sobre a qualidade do ensino de graduação, tendo como base entrevistas com pró- reitores de doze universidades. O artigo "A aprendizagem universitária pós- graduada e inserção profissional", de António Maria Martins e Yvette Parchão, apresenta alguns resultados de um projeto de investigação mais vasto onde, dizem os autores, foram estudadas mudanças na universidade, em Portugal; nas relações que se estabelecem entre a universidade e a sociedade suporte; nos processos de formação pós- graduada (mestres e doutores) no que respeita aos conteúdos e aos métodos de ensino e de aprendizagem; nos efeitos dessa formação, tanto para os sujeitos como para os sistemas a que estão associados. Diferenças e afinidades entre os processos de avaliação da educação superior do Brasil e de Portugal são abordadas por Antonio Alberto da Silva Monteiro de Freitas. Conclui o autor: "os principais resultados da pesquisa revelam que a avaliação padronizada e estandardizada é que foi sendo gradualmente apontada como um instrumento importante para a implementação da agenda educacional dos dois países, em detrimento da valorização das diferenciações institucionais". Héctor Del- Sol- Flórez apresenta um conjunto de fatores que dificultam o processo de inclusão dos menores migrantes não acompanhados no marco do sistema de instituições de proteção de menores na Espanha. Raphael Schilickmann e Pedro Antônio de Melo, com base em análises de textos, constatam que há uma correlação epistemológica entre Administração Universitária e Administração e concluem que é importante repensar criticamente as teorias administrativas, levando em conta a complexidade das organizações, incluindo as universidades. Juliana Cristina Teixeira, Pâmela Gabriela Oliveira, Nathália Vasconcelos Tavares, Alexandre de Pádua Carrieri e Mônica Carvalho A. Cappelle, de forma exploratória e com apoio em Bourdieu, analisam a dinâmica de distribuição de capitais científicos entre docentes de um programa de pós- graduação stricto sensu de uma universidade pública. Francisco Rodríguez Alveal e Pedro Rodrigo Sandoval Rubilar mostram resultados de uma avaliação realizada com professores de educação básica e alunos de pedagogia. Segundo eles, os resultados evidenciam que professores e estudantes de pedagogia avaliados realizam processos de descodificação abaixo do esperado. Angel Alberto Valdés Cuervo, José Ángel Vera Noriega e Ernesto Alonso Carlos Martínez realizaram um estudo descritivo para estabelecer a estrutura fatorial sustentável do questionário para medir a percepção de docentes sobre o desenvolvimento de competências científicas. Maria Lígia Moreira e Léa Velho analisam a trajetória acadêmica e o destino profissional de 1098 egressos dos cursos de mestrado e doutorado do INPE, titulados entre 1968 e 2009. Segundo as autoras, os resultados mostram a relevância das atividades do INPE para o desenvolvimento da ciência espacial brasileira e a importância dos mecanismos de avaliação de desempenho e impacto para o planejamento e ações de formação de competências.

Boa leitura e um bom 2012!

José Dias Sobrinho, editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 2012
Publicação da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de Sorocaba (UNISO). Rodovia Raposo Tavares, km. 92,5, CEP 18023-000 Sorocaba - São Paulo, Fone: (55 15) 2101-7016 , Fax : (55 15) 2101-7112 - Sorocaba - SP - Brazil
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