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EDITORIAL

EDITORIAL

A educação de todos os níveis – e aqui nos dedicamos mais particularmente à de nível superior – vem adquirindo cada vez mais centralidade na agenda global de transformações sobretudo econômicas e também culturais das últimas três décadas. Os ajustes e projetos de transformação da economia e do estado têm na educação um instrumento fundamental, especialmente em função da crença de que o conhecimento de matriz técnico-científica é o motor do desenvolvimento econômico e que este corresponde necessariamente a desenvolvimento social e aumento de competitividade. É nesse quadro que se desenham as políticas setoriais propostas como reformas. Como nenhum país hoje pode isolar-se e construir a direção de seus movimentos sem levar em conta os processos que se desenvolvem em nível global, ganham importância também as formulações que buscam as convergências internacionais regionais. Para além, dos blocos econômicos e políticos, buscam-se construir espaços de colaboração e, no limite, de homogeneização da educação superior nos diversos Continentes do mundo. Assim é que a União Europeia está consolidando seu Espaço Europeu de Educação Superior, por meio do conhecido Processo de Bolonha. Por sua vez, a América Latina e o Caribe buscam conformar o seu Espaço Latinoamericano de Educação Superior. Lá como cá e entre lá e cá existem vários programas comuns e redes, todos operando no sentido da colaboração internacional e interregional no campo da educação superior inserida nos contextos de afirmação da globalização da economia e, por outro lado, dos esforços de consolidação dos projetos nacionais em articulação com os projetos de integração e fortalecimento regional.

Norberto Fernández Lamarra trata desse tema de grande atualidade na agenda de educação superior, relativamente ao nosso Continente. O autor tem consciência das dificuldades de conformação de um espaço de convergência iberoamericano e caribenho. Em parte pela diversidade e fragmentação regionais, pelos distintos graus de desenvolvimento, etapas diferentes nos processos culturais, econômicos e políticos. São enormes os desafios, porém, o mais importante é evitar de todas as maneiras que essa convergência venha a reintroduzir uma situação de caráter neocolonial a nossos países. O artigo traz um balanço da educação superior na América Latina e apresenta alguns organismos, programas, projetos, como estudos do Mercosul, da Comissão Europeia, do IESALC, da OEI, da OUI e da RIACES, além de algumas outras redes universitárias. Wagner Bandeira Andriola e Laura Alves de Souza apresentam uma análise da cultura de avaliação na UFC a partir das representações sociais dos gestores e dos técnico-administrativos. Concluem os autores que as representações de cada segmento são específicas das condições em que se produzem e se reproduzem e guardam relação com a inserção social e interesses de cada segmento. Rodrigo Rosistolato traz os resultados de uma pesquisa sobre os significados de cultura, realizada a partir do ponto de vista de estudantes ingressantes em um curso de Direito de uma faculdade particular. O quarto artigo é de Maria Aparecida dos Santos Crisostomo e Marcos Antonio dos Santos Reigota. Os autores analisam a condição de mulheres negras, docentes no ensino superior em universidades privadas de Sorocaba. Através das trajetórias e narrativas pessoais das entrevistadas, examinam a inserção social da professora negra, articulando três aspectos: gênero, raça e escolaridade. A análise levou a concluir que é de exclusão a condição da professora universitária negra, o que autoriza os autores a falar da existência de um neo-racismo brasileiro. Porém, confiam em que ocorrendo uma afirmação social e profissional mais ampla da mulher negra produzirá identidades diversificadas que contribuirão para a consolidação de uma sociedade plural. A seguir, Víctor Manuel Alvarado Hernández e Martin Manjarrez Betancourt apresentam um conceito de antropoética. Segundo os autores, em educação é necessário conciliar matéria e espírito, natureza e cultura, propiciando um reencontro entre a tecnologia e o humanismo. A partir dessa premissa, abordam as dificuldades e desafios da implementação no México da Reforma Integral da Educação Média Superior, especialmente no nível do bacharelado. Peterson Marco de Oliveira Andrade analisa as diretrizes curriculares nacionais relativas ao curso de fisioterapia à luz da perspectiva biopsicossocial da Organização Mundial da Saúde e elabora um instrumento tendo em vista a avaliação da atuação dos futuros egressos, atendendo tanto as exigências do MEC como a abordagem preconizada pela OMS. No sétimo artigo desta edição, Daniela Munerato Piccolo Arroyo e Maria Silvia Pinto de Moura Librandi da Rocha examinam um programa de extensão universitária voltado à inclusão social de pessoas com necessidades especiais, numa perspectiva interdisciplinar. A meta-avaliação que realizam objetiva identificar os aspectos avaliativos que podem contribuir para a formação dos estudantes que participam desse programa de extensão. Marcelo Moreira Antunes, Marcos Doerdelein Polito e Helder Guerra de Resende, em seu artigo, buscam identificar os aspectos que interferem na qualidade do processo de formação acadêmico-profissional de um Curso de Educação Física, segundo as percepções dos estudantes. Dentre os mais negativos, citam a biblioteca e o laboratório de informática. Entretanto, segundo os discentes, no curso há mais aspectos positivos que negativos. Claudia Regina Flores, Edel Ern, Inder Jeet Taneja e Tatiana da Silva refletem sobre um programa de avaliação de cursos de licenciatura em física e matemática a distância, de responsabilidade da UFSC. O tema tem grande interesse, especialmente se considerarmos a escassez de programas de avaliação de cursos a distância. Fecha esta edição o artigo de Eunice Maria Lima Soriano de Alencar e Denise de Souza Fleith sobre inibidores da criatividade na educação superior, segundo percepções de 338 professores que responderam a pesquisa. Dentre as dificuldades mais recorrentes, citam-se desinteresse do aluno pelo conteúdo, poucas oportunidades para discussão, número elevado de alunos por sala etc. Também se verificaram diferenças entre instituições públicas e privadas.

O leitor tem nesta 54ª edição da revista Avaliação estudos e reflexões de aspectos mais amplos, relacionados com políticas públicas, temas de interesse social, alguns textos que se referem a especificidades de determinados cursos, percepções de estudantes e professores sobre temas do cotidiano universitário etc. Esperamos estarmos apresentando matérias ricas para novas análise e futuros aprofundamentos. Boa leitura!

José Dias Sobrinho

- editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Mar 2012
  • Data do Fascículo
    Jul 2010
Publicação da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de Sorocaba (UNISO). Rodovia Raposo Tavares, km. 92,5, CEP 18023-000 Sorocaba - São Paulo, Fone: (55 15) 2101-7016 , Fax : (55 15) 2101-7112 - Sorocaba - SP - Brazil
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