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SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton (Orgs.). Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2012. 184p. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo)

SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton. Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2012. 184p. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo

A obra Pedagogia histórico-crítica e a luta de classes na educação escolar foi organizada por dois grandes autores, os professores Dermeval Saviani e Newton Duarte.

O professor Saviani é doutor em educação pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (1971) e livre-docente em história da educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (1986). Condecorado com a Medalha de Mérito Educacional do Ministério da Educação, recebeu da UNICAMP o Prêmio Zeferino Vaz de Produção Científica e, em 2012, recebeu pelo Grupo de Trabalho "História da Educação", da ANPEd, a Estatueta Paulo Freire, homenagem dedicada aos pesquisados indicados pelos GTs. Com muitas obras publicadas, atualmente é professor emérito da UNICAMP e coordenador geral do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil" (HISTEDBR).

O professor Newton Duarte é doutor em educação pela UNICAMP e livre-docente e professor titular pelo departamento de psicologia da educação da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP).

Em maio de 2012, foi publicada a primeira edição de Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar. O livro é composto de sete capítulos, nos quais a autoria é intercalada entre Dermeval Saviani e Newton Duarte, com exceção do quarto capítulo, que, além de Duarte, inclui mais três outros autores. O prefácio,assinado pelos autores em março de 2012, situa a crise da sociedade capitalista e,diante desse contexto, abre discussões sobre a educação enquanto plano estratégico de ação. Nesse sentido, a tese central do livro é a assertiva de que a luta pela escola pública é também a luta pelo socialismo. O prefácio apresenta ainda a estrutura geral da obra, bem como um breve relato sobre cada capítulo.

O propósito desse livro é aprofundar alguns pontos de vista relativos à educação sob a luz do referencial marxista. Ou, de outro modo, os autores buscam responder a algumas contradições presentes no interior do campo marxista. Com essa finalidade, a obra foi elaborada apresentando quatro eixos temáticos, tendo como ponto de partida a concepção de homem por uma perspectiva histórico-ontológica,mais especificamente abordando a relação entre a ontologia do ser e a pedagogia histórico-crítica, bem como as relações entre o marxismo, a educação e a pedagogia.Uma vez apresentadas as concepções de homem e de sociedade, os autores buscam explicitar questões polêmicas levantadas contra suas próprias posições.

Uma das preocupações dos autores é justificar que nunca se pretendeu fazer da educação um modelo universal em pleno capitalismo, porque admitir isso seria o mesmo que admitir que os bens pudessem ser divididos de igual forma sem que se altere o sistema. O que eles buscam salientar é que há uma grande diferença entre admitir essa ilusão e lutar para que se efetive o quanto possível o ensino de conteúdos científicos, artísticos e filosóficos. A educação, sozinha, não é redentora da sociedade, mas não se pode negar sua importância no processo de emancipação do homem.

O primeiro capítulo, "A formação humana na perspectiva histórico-ontológica", redigido por Saviani e Duarte, explicita a perspectiva ontológica e histórica sobre a formação do homem que se encontra ao longo das obras de Marx. Detendo-se quanto à maneira que se objetiva, quer dizer, de concretizar-se, o homem se faz, se constrói e se mantém como tal por meio de seu trabalho. E esse trabalho acontece na mente do homem e também nos objetos, pois ele planeja e executa o que planejou. Assim, entende-se que essa é a maneira de o homem se formar e se desenvolver, porque ele não se apropria apenas do que é produzido materialmente, no que diz respeito à cultura, realizando-se em sua individualidade por meio do trabalho.

O segundo capítulo, "Lukács e Saviani: a ontologia do ser social e a pedagogia histórico-crítica", da autoria de Newton Duarte, mostra que um dos desafios postos para uma educação marxista é justamente a construção de uma educação ontológica, incorporando a concepção de Lukács de que a sociedade é um complexo composto de complexos. Duarte, assim, encara a educação como um dos complexos que constitui a sociedade. Também aponta, quanto à pedagogia histórico-crítica, que uma das bases dos trabalhos de Saviani é a busca da superação da dualidade entre essência e historicidade, características que colocam o pensamento do referido autor em destaque entre as teorias críticas sobre educação. Assim, os elementos para uma ontologia da educação na obra de Saviani são seus posicionamentos afirmativos sobre a essência do ato educativo, principalmente sua definição de trabalho educativo. Mas há que se levar em conta a história dessa sociedade em que se encontra a escola, o que significa dizer que a escola tende a buscar a raiz histórica do processo de formação dos homens.

No terceiro capítulo, "Marxismo, educação e pedagogia", Saviani traz à tona a questão de que, para elaborar uma concepção de educação calcada no materialismo histórico e dialético, é necessário não se deter apenas nas passagens das obras de Marx e de outros autores que o sucederam. Nesse sentido, pode-se pensar que uma pedagogia socialista esteja vinculada à concepção de conhecimento que se sustenta em Marx, que é, simultaneamente, indutivo e dedutivo, analítico e sintético, abstrato e concreto, lógico e histórico, em uma relação dinâmica, dialética. E cabe, nessa circunstância, a influência vista na pedagogia histórico-crítica.

O capítulo seguinte, elaborado por vários autores - Newton Duarte, Benedito J. P. Ferreira, Julia Malanchen e Hermann V. O. Muller -, tem por título "A pedagogia histórico-crítica e o marxismo: equívocos de (mais) uma crítica à obra de Dermeval Saviani". Nesse capítulo, em específico, são desfeitos alguns equívocos da análise de Lessa e Lazarini. O capítulo desenvolve uma resposta à obra de Ademir Quintilio Lazarini (2010)Lazarini, A. Q. A relação entre capital e educação escolar na obra de Dermeval Saviani:apontamentos críticos. 528p. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010., A relação entre capital e educação escolar na obra de Dermeval Saviani: apontamentos críticos, tese defendida na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e à obra de Sérgio Lessa (2007)Lessa, S. Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Cortez, 2007., Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo. A tese de Lazarini propõe-se a mostrar que a obra de Saviani e a pedagogia histórico-crítica apresentam equívocos como proposta de uma pedagogia marxista.

No quinto capítulo, "Debate sobre educação, formação humana e ontologia a partir da questão do método dialético", Saviani dedica-se a responder a algumas críticas de Lessa e Lazarini. O autor retoma questões relativas ao método em Marx, sobretudo no que diz respeito ao concreto pensado, que nada mais é do que a síntese de relações e determinantes, ponto de chegada, e não ponto de partida. Torna claro, outrossim, que pensamento e prática devem estar sempre correlacionados, pois do contrário as discussões tornam-se meramente escolásticas.

No sexto capítulo, "Luta de classes, educação e revolução", Duarte responde, em uma entrevista, a questões mais polêmicas, discorrendo sob uma perspectiva atual dessa temática. O autor afirma que muitos autores marxistas defendem que a educação não pode ser considerada como trabalho, já que essa educação não produz nada de concreto. Isso acabaria por resultar na distinção entre trabalho manual e intelectual. Em contrapartida, defende a escola como um instrumento necessário de luta em favor da disseminação do saber, com a finalidade de se alcançar o socialismo.

No sétimo e último capítulo, "História, trabalho e educação: comentário sobre as controvérsias internas ao campo marxista", Saviani discorre sobre as divergências em torno do marxismo. Retomando Marx, explica que a educação está intrinsecamente relacionada com os meios de produção capitalista e que, contraditoriamente, nela há elementos para a transformação do capital. Reforça também que várias das críticas de que ele é objeto deveriam ser direcionadas a seus autores de fato, isto é, Gramsci e Marx, pois estes constituem a sustentação teórica que se busca na defesa da educação como espaço de disputa.

Com isso, pode-se concluir que as discussões quanto a uma pedagogia de cunho socialista vêm tornando-se cada vez mais enfáticas, e, ao contrário do que se pensa, são os próprios teóricos da área educacional e de referencial marxista que fazem a crítica a essa educação. Como colocado por Saviani, em tempos de crise, as discussões filosóficas encontram campo fértil com vistas a responder aos problemas da sociedade. É certo que vivemos em tempos de crise de paradigmas. O próprio referencial marxista encontra-se em conflito, mas disso devemos tirar algumas conclusões para solucionar os problemas educacionais. É o que compete a nós como intelectuais da educação.

Por fim, o livro ao qual nos referimos torna-se válido e de extrema importância para os educadores que tenham interesse em entender e pensar a escola enquanto um ambiente de embate ideológico e político e que vislumbrem outro tipo de sociedade. Esse trabalho apresenta, portanto, indagações cruciais para que possamos construir uma pedagogia que atinja esse fim.

REFERÊNCIAS

  • Lazarini, A. Q. A relação entre capital e educação escolar na obra de Dermeval Saviani:apontamentos críticos. 528p. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
  • Lessa, S. Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo São Paulo: Cortez, 2007.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    Ago 2013
  • Aceito
    Set 2014
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