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Editorial

EDITORIAL

A organização deste primeiro número da Revista Brasileira de Educação (RBE) do ano de 2013 dá-se logo após a realização da 35ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), que, mais uma vez, se evidenciou ser locus privilegiado para discussão de questões relativas a pesquisas em educação e às políticas públicas de pós-graduação do país, promovendo o debate acadêmico com base em investigações, reflexões e propostas sobre a educação, por meio das diversas atividades que integraram a programação do evento: conferências, sessões especiais, sessões-conversa, minicursos, exposições, mostras de filmes e vídeos, lançamentos de livros e encontros de associações congêneres. Vale destacar a cerimônia de homenagem a Paulo Freire, iniciativa da Associação que teve grande receptividade por parte da comunidade acadêmica, ao conceder a estatueta Paulo Freire a professores de destacada trajetória e contribuições para a educação e para a ANPEd.

Também merece registro a criação do Fórum de Editores de Periódicos da Área da Educação (FEPAE), no âmbito da ANPEd, que tem o propósito de promover o intercâmbio entre editores de periódicos da área da educação, estimulando a cooperação e a solidariedade institucional, com vistas a impulsionar a melhoria da produção científica brasileira e a política de publicação nesse campo.

Vinculado ao compromisso de apoiar o aprimoramento dos periódicos da área da educação, há que se registrar o trabalho de caráter pedagógico empreendido pela Comissão de Avaliação de Periódicos da Área da Educação, instituída pela ANPEd. Para além de aspectos quantitativos e da classificação em estratos, a comissão fez uma cuidadosa avaliação qualitativa de boa parcela dos periódicos científicos da área da educação que, certamente, subsidiará o processo de melhoria da qualidade dessas publicações. A RBE tem aproveitado esses momentos de avaliação da produção científica do país para também se avaliar, num processo constante de busca de qualidade e de excelência, por meio de relações transparentes com os leitores e pesquisadores. Nessa direção, registramos a divulgação na RBE 50 de dois documentos que tratam de elementos constitutivos da origem e percurso da associação, apresentam análises sobre sua configuração recente e esboçam expectativas e desafios futuros. Com a intenção de debater esses dados com os seus leitores, integrou a programação da 35ª Reunião Anual da ANPEd atividade de lançamento da edição comemorativa, que é o número 50 da revista.

O número 52 da RBE, que ora está sendo socializado, inaugura a alteração na periodicidade de publicação da revista, que passa a ser trimestral. Neste número, os anpedianos contam com textos que tratam de temáticas variadas, cujos aportes contribuem para redirecionamento de ações no campo educacional; ao mesmo tempo, suscitam questões merecedoras de aprofundamentos em pesquisas futuras. Entre os textos, há convergência em torno de considerações relativas à profissão docente, tema que tem ocupado centralidade neste início do século XXI, quando se trata de proposições relativas à qualidade da educação. As contribuições apresentadas pelos autores abordam algumas facetas desse complexo e multifacetado debate.

O primeiro artigo, de Gideon Borges dos Santos, intitulado "Usos e limites da imagem da docência como profissão", analisa questões relacionadas à formação humana, em especial as singularidades dessa atividade. Segundo o autor, o processo formativo destaca-se por lidar diretamente com a subjetividade humana, sendo, portanto, singular e interminável. Essa peculiaridade confere ao ato formativo características que não podem ser reduzidas à mera transmissão de conhecimentos ou ao desenvolvimento de habilidades cognitivas, sendo arriscado, portanto, atribuí-la a um especialista, ainda que tenha sido indispensável em determinado momento.

De autoria de Carlos Marcelo, o artigo "Las tecnologías para la innovación y la práctica docente" destaca a importância de as tecnologias integrarem o processo de formação de professores. Para o autor, as mudanças tecnológicas têm avançado na direção de uma sociedade em rede, com livre acesso à informação, aumentando o protagonismo e o papel inovador dos sujeitos. Ressalta a ação inovadora dos docentes no contexto da sala de aula, por meio de seus conhecimentos, que devem ser também tecnológicos, como forma de assumir esse papel transformador.

O artigo de Lucíola Licínio de Castro Paixão Santos e Regina Lúcia ­Cerqueira Dias, "Trajetórias escolares e prática profissional de docentes das camadas populares", é o resultado de uma pesquisa qualitativa sobre os docentes oriundos das camadas populares e que conseguem, por meio de uma trajetória de sucesso escolar, chegar aos cursos de formação de professores de nível superior. A pesquisa traça a trajetória desses profissionais destacando as estratégias familiares e os habitus adquiridos, de forma que garanta a longevidade escolar e sua repercussão no desempenho da profissão docente. Ainda na temática da profissão docente, Marilice de Oliveira e Nogueira apresenta os resultados de uma pesquisa sobre as práticas educativas de famílias em que um dos progenitores exerce a profissão de professor, no artigo "Efeito pai professor: o impacto da profissão docente na vida escolar dos filhos". A intenção da pesquisadora foi identificar e problematizar as diferentes estratégias dos pais professores na vida escolar de seus filhos, como forma de garantir o sucesso na instituição escolar.

Elaine Conte, no artigo "Aporias da performance na educação", faz uma reflexão sobre o papel da linguagem na expressividade humana, sob a perspectiva filosófica da ação comunicativa. A autora apoia-se na teoria da comunicação de Habermas para destacar o caráter performático da linguagem, suas dimensões artísticas e filosóficas, como parte da formação pedagógica e ainda como estratégia para evitar a excessiva pedagogização da área.

Com o objetivo de problematizar as políticas públicas de educação especial na perspectiva da inclusão, o artigo de Rosalba Maria Cardoso Garcia analisa quatro teses sobre a formação docente, no período de 2001 a 2010. As informações analisadas pela autora subsidiam, entre outras constatações, a afirmação de que persiste a carência de debates pedagógicos a respeito do trabalho do professor e sobre qual educação especial seria necessária à educação nacional.

Também na esteira do tema da docência, Amarildo Luiz Trevisan, Maiane Liana Hatschbach Ourique, André Luiz de Oliveira Fagundes e Eliana Regina Fritzen Pedroso analisam os trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho Filosofia da Educação (GT-17), da ANPEd, no período de 2005 a 2008, que trataram da temática da formação. A intenção foi articular a dimensão filosófica da formação às imagens da docência e do professor nos trabalhos analisados. Os autores destacam duas imagens predominantes, a do professor alquimista e a do professor viajante, com implicações distintas para o exercício da docência e assinalam como positivo o fato de a temática estar recebendo especial atenção no campo da filosofia da educação.

No artigo de Selma Garrido Pimenta, José Cerchi Fusari, Maria Isabel de Almeida e Maria Amélia do Rosário Santoro Franco, intitulado "A construção da didática no GT Didática – análise de seus referenciais", os leitores encontrarão uma reflexão sobre as pesquisas do GT-04, da ANPEd, desenvolvidas nos últimos vinte anos. Os autores detectaram certa dispersão no foco dos trabalhos. Essa dispersão é vista como um aspecto positivo, na medida em que reafirma a preocupação com os processos de ensino e aprendizagem e a complexidade do campo da didática.

Seguindo a preocupação com os processos de ensino e de aprendizagem, Celina Tenreiro-Vieira e Rui Marques Vieira desenvolveram seu artigo focando no ensino de ciências e matemática, destacando a importância de articular esses dois campos de conhecimento educacional ao pensamento crítico, no artigo intitulado "Literacia e pensamento crítico: um referencial para a educação em ciências e em matemática".

O texto de Eva Gamarnikow tem origem em exposição feita na 34ª Reunião Anual da ANPEd, que teve como tema "Educação e Justiça Social". A autora tece considerações sobre justiça social e direitos humanos e afirma que, apesar do crescimento econômico recente, o Brasil permanece com alto índice de desigualdade social, afetando a distribuição de renda e a educação no contexto do turbocapitalismo e do neoliberalismo. Para finalizar, destaca o lugar privilegiado da educação no ensino dos direitos humanos e a construção de um novo tipo de sociedade.

Este número da RBE conta também com uma entrevista, realizada por ­Valéria De Bettio Mattos, com o sociólogo francês Didier Demazière, do Centro Nacional de Pesquisa Científica e do Centro de Sociologia das Organizações do Instituto de Ciências Políticas da França. O pesquisador relata sua trajetória científica e como se tornou sociólogo do campo do desemprego no contexto francês, destacando as pesquisas recentes que vem desenvolvendo.

Na seção Espaço Aberto, Marcos Villela Pereira apresenta uma reflexão a respeito dos rumos que certos trabalhos acadêmicos estão seguindo, ao tentarem associar a linguagem literária à linguagem acadêmica. O autor aponta os riscos do pedantismo metafórico e do esvaziamento das análises, em nome de uma retórica que se basta em si mesma, estabelecendo interlocuções pobres com o campo de conhecimento pretendido, caindo no vazio.

Alicia Maria Catalano de Bonamino, na seção Resenha, apresenta o livro intitulado Marcos históricos na reforma da educação, de Nigel Brooke. A obra é um tratado sobre a política educacional desenvolvida em diferentes países nos últimos cinquenta anos. A resenha destaca a importância dessa leitura para os pesquisadores que procuram fontes primárias no campo das políticas educacionais.

A Comissão Editorial encerra a apresentação deste número da RBE lembrando que se iniciam as atividades preparatórias da Conferência Nacional de Educação 2014 (CONAE/2014). Visando à realização da conferência e à promoção da participação de múltiplos atores sociais e políticos em propostas e ações relativas às políticas de Estado de educação básica e superior, o Fórum Nacional de Educação (FNE) divulgou recentemente o documento-referência intitulado O PNE na articulação do Sistema Nacional de Educação: participação popular, cooperação federativa e regime de colaboração. Esse documento, disponibilizado na página do Ministério da Educação (MEC), busca contribuir "com diferentes formas de mobilização e debate, especialmente nas conferências municipais, intermunicipais, distritais e estaduais que antecederão a Conae". O debate se inicia!

A Comissão Editorial

Rio de Janeiro, janeiro de 2013

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Mar 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 2013
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