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EDITORIAL

Este número da Revista Brasileira de Educação reúne contribuições de pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, oriundas de demandas espontâneas e de trabalhos apresentados na 34ª Reunião Anual da ANPEd, sendo que alguns artigos remetem ao debate de temas comuns, resguardando, no entanto, especificidades no seu tratamento.

Os dois textos iniciais trazem aportes sobre a pesquisa biográfica. Christine Delory-Momberger, em "Abordagens metodológicas na pesquisa biográfica", e Anne Dizerbo, no artigo "Experiências escolares e dispositivo de biografização: rumo à construção de competências biográficas", proporcionam consistente suporte para as discussões metodológicas nessa abordagem investigativa. O primeiro discorre sobre fundamentos teóricos e metodológicos da pesquisa biográfica, e o segundo apresenta resultados de pesquisa que se pautou por tal abordagem.

Três artigos estão focados em um tema que tem tido centralidade nos estudos e políticas educacionais no Brasil, qual seja, avaliação. O primeiro, "Políticas de avaliação da alfabetização: discutindo a Provinha Brasil ",de Artur Gomes de Morais, versa sobre o processo de avaliação baseado na Provinha Brasil em três redes públicas e mostra a necessidade de mais discussão sobre o tema, em virtude da disparidade de resultados e das habilidades trabalhadas nas escolas, pouco relacionadas com a exigência do exame. Maria Teresa Esteban prossegue com a discussão sobre a avaliação da alfabetização no texto "Considerações sobre a política de avaliação da alfabetização: pensando a partir do cotidiano escolar". Tendo como base a Provinha Brasil, a autora analisa os significados e os sentidos que a avaliação vem adquirindo no contexto escolar, pondo em questionamento as políticas de avaliação em larga escala e a sua efetividade no processo de alfabetização das crianças das classes populares. O terceiro artigo sobre o tema, de Gabriela Portugal, intitulado "Uma proposta de avaliação alternativa e 'autêntica' em educação pré-escolar: o Sistema de Acompanhamento das Crianças (SAC)", apresenta uma proposta de avaliação para a educação pré-escolar em Portugal. A autora descreve uma experiência de prática de avaliação alternativa como forma de acompanhamento da educação infantil, que se concretiza por meio de um procedimento denominado Sistema de Acompanhamento das Crianças.

Também voltado para a educação infantil é o artigo de autoria de Mércia de Figueiredo Noronha Pinto, Adriana Maria Cancella Duarte e Lívia Maria Fraga Vieira, "O trabalho docente na educação infantil pública em Belo Horizonte". Com base na pesquisa sobre o trabalho docente na rede pública de educação infantil do município de Belo Horizonte, realça, entre outras evidências, que a expansão dessa etapa da educação básica no município em análise ocorreu mediante a criação do cargo de educador infantil, em condições diferenciadas dos professores que atuam nas outras etapas da educação básica.

A agenda educacional do século XXI tem colocado no centro dos debates aspectos relativos à diversidade cultural, o que se pode expressar em variados aspectos, tais como gênero, infância, participação comunitária ou, entre muitos outros, os aspectos étnico-raciais. O artigo de Constantina Xavier Filha, intitulado "A menina e o menino que brincavam de ser...: representações de gênero e sexualidade em pesquisa com crianças", propicia uma problematização sobre essas representações, que foram coletadas e analisadas por meio de pesquisa-ação desenvolvida com alunos do 5º ano do ensino fundamental de uma escola pública municipal.

Com outro enfoque, o artigo de Carin Klein, "Educação de mulheres-mães pobres para uma 'infância melhor'", com base em uma análise de políticas públicas em saúde direcionadas a famílias pobres, trata de como as mulheres são posicionadas como mães-educadoras: "[...] mães amorosas, educadoras e nutrizes 'naturais' e culturais das crianças, responsabilizando-as, quase de forma integral, pela prevenção e cuidado da saúde da família, assim como pela geração da 'infância melhor'".

O tema da educação infantil, da diversidade étnico-racial e da formação docente é tratado no artigo de Lucimar Rosa Dias, com a finalidade de compreender as formas como as professoras da primeira infância se apropriaram dos conhecimentos nas atividades de formação continuada, voltadas para a inclusão de práticas pedagógicas criativas e alternativas, no intuito de contemplar a diversidade étnico-racial. Com o título "Formação de professores, educação infantil e diversidade étnico-racial: saberes e fazeres nesse processo", o texto relaciona práticas sociais, construção de estratégias educacionais e respeito com a diversidade.

Finalizam essa seção dois textos de abordagem histórica: respectivamente, "Uma abordagem histórica da psicologia nos cursos de formação de professores: em foco os programas da disciplina em uma escola catarinense na década de 1930", de Diana Carvalho de Carvalho, Maria das Dores Daros e Ana Paola Sganderla, e "Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do Brasil colonial", de Amarilio Ferreira Jr. e Marisa Bittar. O primeiro investiga os programas das disciplinas de psicologia educacional e pedagogia de um curso de formação de professores na década de 1930, evidenciando o caráter científico que tais disciplinas foram assumindo, com preocupações crescentes para as fases do desenvolvimento infantil. O segundo, com base documental relativa à Companhia de Jesus no ­Brasil, examina a relação entre a prática pedagógica no sentido da articulação entre o ensino das humanidades e a instrução dos ofícios manuais. O artigo discute as imbricações entre artes liberais e mecânicas, o que de alguma forma justifica a necessidade de criação de oficinas anexas no período escravista, e evidencia como as práticas pedagógicas da educação jesuítica extrapolaram as determinações oficiais da própria corporação.

Na seção Espaço Aberto, Alice Casimiro Lopes e Hugo Heleno Camilo Costa, com o texto "A produção bibliográfica em coautoria na área de educação", trazem ao debate aspectos relativos à produção em coautoria na área de educação. Os autores interpretam essa tendência como expressão da organização dos programas de pós-graduação em linhas e grupos de pesquisa e destacam suas potencialidades.

Ainda como parte deste número 51 da Revista Brasileira de Educação, são publicadas duas resenhas. Alessandra Chaves Zen apresenta o livro Jovens e cotidiano: trânsitos pelas culturas juvenis e pela escola da vida, que trata dos movimentos de jovens entre escolas e das escolas entre jovens, mostrando como a ampliação do sistema escolar tem tido dificuldade de atender às migrações de algumas camadas sociais. A autora da resenha aborda a forma como o livro trata do tema juventude e escola e destaca a importância da obra para os profissionais da educação. Rita de Cássia Ventura Pattaro apresenta o livro de Sérgio Castanho, Teoria da história e história da educação, que discute a perspectiva de uma história cultural não culturalista, como define o autor do livro. Segundo a autora da resenha, com base em uma abordagem marxista, o livro discute a historiografia e a perspectiva da história cultural em relação à história da educação, constituindo-se em obra singular para o debate no campo da história da educação.

Com a apresentação sumária dos textos publicados neste número da Revista Brasileira de Educação, espera-se ter aproximado o leitor dos temas em análise, que se constituem presentes no debate contemporâneo da educação brasileira.

Ao trazer a público o número 51 da Revista Brasileira de Educação, a Comissão Editorial não poderia deixar de registrar que sua organização ocorreu no período em que acontecia a mais longa greve da história da educação superior no Brasil, que envolveu 59 universidades públicas federais e 38 institutos federais. A diretoria da ANPEd, em nota pública divulgada nacionalmente, manifestou seu entendimento de que as greves estavam inseridas "num amplo movimento nacional" que luta pela garantia de "condições necessárias para a implantação de um projeto de Educação Superior pública, gratuita, de qualidade e acessível a todos". Além disso, a ANPEd reafirmou alguns de seus compromissos históricos, como o "fortalecimento da pós-graduação e da pesquisa"; a "democratização e melhoria da qualidade da educação no Brasil" e a luta pela aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso Nacional.

A Comissão Editorial

Rio de Janeiro, setembro de 2012

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Dez 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2012
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