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EDITORIAL

As responsabilidades e expectativas que estão conectadas com a presença e a atuação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) no contexto da educação brasileira e em sua articulação com contextos mais amplos, tal como demanda a nova ordem mundial, exigem afirmar posições e envidar esforços para a construção de uma sociedade na qual direitos fundamentais sejam conquistados e cada vez mais respeitados. Exigem, igualmente, que os deveres sejam assumidos e cumpridos, por todos indistintamente, na direção de uma sociedade na qual a igualdade deixe de ser apenas um desejo, um preceito formal. No nosso caso, como sabemos, este preceito encontra-se impresso na Constituição alcunhada de "cidadã". São amplas e diversificadas as frentes de luta e de ação, requerendo o melhor dos esforços de cada um e do coletivo.

Utilizando outras palavras e a partir do apoio em uma série de dados, esse propósito é afirmado no teor da carta assinada pela presidência da Associação e enviada aos associados, na qual se faz um balanço das conquistas do ano que se encerrou e se conclama todos e todas às responsabilidades e ao enfrentamento dos desafios referentes ao ano que se inicia e aos próximos, seja no campo específico da Educação, seja dos provenientes das conexões deste com os compromissos mais amplos com os quais uma Associação como a ANPEd é instada a assumir (Cf. Correspondência da diretoria da ANPEd, 20/12/2011, disponível no site da Associação). E para ter-se uma ideia do quanto é desafiador o que temos pela frente, basta ter presente a imperiosa necessidade de a Associação posicionar-se como uma das protagonistas da elaboração do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020), bem como se inserir propositivamente no debate a respeito de temas e questões cruciais que estão sendo fortemente problematizadas, a exemplo do mestrado profissionalizante, das novas regras para constituição e manutenção de universidades, das políticas educacionais do novo governo, entre outros.

Dentre o muito que se fez nesses 34 anos de existência da ANPEd, a Revista Brasileira de Educação (RBE), nesses 46 números publicados, ocupa lugar privilegiado, por ser um dos espaços no qual a memória da Associação vai sendo garantida e veiculada. Parte desta história, que teve início nos anos finais da década de 1970, pode ser observada no Documento presente no número 45 da RBE, publicado no ano de 2010, que reproduz "Ata da segunda reunião" dos seus sócios fundadores.

Mas, para além da memória, se lançarmos mão de uma expressão de Olga Duhart (cf. Tiempo y escritura. Santiago de Chile: Editorial Universitária, 2009) aplicada a outro contexto, apreenderemos a RBE como uma espécie de "espelho de tinta", "onde o sujeito se olha" (p. 23). Em outras palavras, diríamos que os associados da ANPEd e os leitores em geral da nossa Revista, além de poderem ver-se e reconhecer-se ou não nesse "espelho" da produção e veiculação do conhecimento, encontram um farto material para detectar liames de uma rede que se tece coletivamente e que tem em seus artigos e demais sessões relatos de parcerias e meios de estabelecer vínculos entre suas pesquisas e de outros investigadores do Brasil e do exterior.

O número aqui apresentado, além de dar continuidade à utilização da capa como mais um dos espaços que pode suscitar reflexões sobre aspectos e momentos, seja da dinâmica da ANPEd, seja da própria RBE, traz a reprodução de uma fotografia do TUCA - Teatro da PUC/SP -, espaço no qual foram abrigadas iniciativas significativas de resistência ao regime de exceção imperante no Brasil por longos anos e de protagonismo em tantos outros acontecimentos da cultura e da educação, inclusive tendo sido sede de uma das nossas Reuniões Anuais. Damos, assim, continuidade à utilização deste espaço para o resgate de momentos, episódios, fatos da história da Associação, aspecto para o qual solicitamos a colaboração e o engajamento dos Associados para o envio de fotografias ou outros registros que possam ajudar a organizar essa espécie de painel histórico da ANPEd, seja via capa da RBE, como ocorreu com o número anterior, na qual se reproduz fotografia da reunião de fundação da Associação em 1978, ou algum documento, como a cópia da "Ata da Segunda Reunião" de fundação da Associação, reproduzida também no citado número.

Como os Associados devem ter percebido, a partir deste número 46, a Revista Brasileira de Educação passa por modificações no seu projeto gráfico. Há uma disposição no sentido de experimentar e verificar se o novo formato, com tamanho reduzido, preserva a leitura confortável da Revista, ao tempo em que atende à demanda de associados e à redução de custos de manutenção da Associação.

No que se refere aos artigos/textos, este número está organizado em três blocos: a) textos de cunho mais histórico-filosófico e de educação comparada (Jaison José Bassani e Alexandre Fernandez Vaz; Claudio Almir Dalbosco; Roberto Gutiérrez Laboy; Ângela Maria Martins). Os textos deste bloco resultam de trabalhos de demanda contínua, encaminhados para avaliação via SciELO. Em relação a este primeiro conjunto, cabe destacar a análise da trajetória e de contribuições do filósofo, educador e sociólogo porto-riquenho Eugenio María de Hostos (1839-1903), pouco conhecido no Brasil, como de resto na América Latina.

Constituindo-se em espaço privilegiado de difusão das reflexões e dos estudos de pesquisadores da Associação, um segundo bloco conta com trabalhos cuja origem está vinculada à realização da 33ª Reunião Anual (RA) da ANPEd, e que atenderam a três requisitos para serem publicados: trabalho encomendado por GTs, recomendado pelo Comitê Científico e apresentado em Sessão Especial. O primeiro é o trabalho de Marília Pinto de Carvalho, que focaliza analiticamente o "conceito de gênero", tendo como base teórico-empírica os trabalhos do GT14 - Sociologia da Educação, no período compreendido entre 1999 e 2009. Também na condição de balanço da produção, o segundo texto, de autoria de Isabel Cristina de Moura Carvalho e Carmen Roselaine de Oliveira Farias, traz uma espécie de estado da arte da "produção científica em educação ambiental", abrangendo o período que vai de 2001 a 2009. A base empírica do texto são os resumos dos trabalhos apresentados na RA da ANPEd, na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (ANPPAS) e no Encontro Paranaense de Educação Ambiental (EPEA). O terceiro texto, de Pedro Roberto Jacobi et al., traz um trabalho resultante de uma Sessão Especial, com qualificadas contribuições em relação ao papel da educação no que diz respeito às "mudanças climáticas globais". No conjunto, estes trabalhos de mapeamento, divulgação, proposições e reflexão, trazem uma contribuição importante, uma vez que esta é uma temática pouco explorada na área de educação, aspecto corroborado pelo fato de o GT "Educação Ambiental" ser o de número 22 da ANPEd, portanto, um dos mais recentes a alcançar essa categoria na Associação.

Um terceiro bloco agrega os quatro textos premiados no concurso nacional de artigos científicos e ensaios teóricos sobre Educação para a diversidade e enfrentamento às desigualdades no contexto brasileiro, promovido por meio de convênio firmado pela ANPEd com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC - Edital ANPEd n. 01/2010). Conforme o edital, os artigos mais bem colocados, por área temática, selecionados por uma Comissão Julgadora nomeada pela Diretoria da ANPEd, especificamente criada para essa finalidade, seriam publicados na RBE. Os trabalhos de Lourdes Helena da Silva et al.; de Andréa Borges de Medeiros; de Aura Helena Ramos e de Viviane Potenza Guimarães Pinheiro foram, respectivamente, os selecionados nas áreas temáticas Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, Educação e Pobreza, Educação para Direitos Humanos e Educação e Diversidade.

Na condição de "Documento" deste número da RBE insere-se a publicação integral da conferência de abertura da 33ª RA da Associação, cuja temática "Os circuitos da história e o balanço da educação no Brasil na primeira década do século XXI" esteve sob a responsabilidade do pesquisador e educador Gaudêncio Frigotto. A instigante análise de pressupostos e das opções e dos embates em torno do projeto societário que marcaram a conjuntura da década e sua articulação com respeito à educação, e particularmente a pesquisa e a pós-graduação na área, foi fator que muito contribuiu para que sua intervenção pautasse os debates da RA. Seu artigo poderá ser útil para aqueles que lerão o texto pela primeira vez, bem como para aqueles que, tendo ouvido a conferência, terão a oportunidade de retomar as reflexões que foram suscitadas na abertura da RA de 2010.

O fecho deste número da RBE ficou a cargo de Alessandra Martinez de Schueler, que resenhou o livro Clássicos da Educação Brasileira, organizado por Maria do Carmo Xavier. Fica explícito que, em seu primeiro volume, é uma obra atual e necessária, preenchendo um importante espaço no espectro da literatura educacional brasileira.

Por fim, resta agradecer a imprescindível contribuição de tantos colegas para que mais este número da RBE fosse disponibilizado, quer como autores, quer como mediadores para que os textos chegassem ao Comitê Editorial. Um agradecimento especial a Osmar Fávero, editor da RBE desde o n. 14 e que a partir deste número deixa de compor a Comissão Editorial. Registramos o agradecimento por sua contribuição para a consolidação e o reconhecimento nacional e internacional da RBE, esperando poder contar com sua inestimável colaboração para garantir a excelente qualificação e a projeção científica que a Revista adquiriu nos últimos anos.

A Comissão Editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Maio 2011
  • Data do Fascículo
    Abr 2011
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