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EDITORIAL

A Revista Brasileira de Educação (RBE) espelha o movimento de produção do conhecimento em educação, por meio de contribuições oriundas de estudos de autoria de pesquisadores nacionais e internacionais. Uma apreciação dos artigos e debates nela divulgados, desde a sua criação em 1995, revela a pluralidade de temas e de abordagens teórico-metodológicas presentes na produção de conhecimento e, desse modo, permite o resgate de fases e questões que demarcam a área nos últimos quinze anos.

O reconhecimento adquirido pela Revista é uma das expressões do processo de crescimento e consolidação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), como entidade que congrega professores, alunos e programas de pós-graduação em educação.

A Comissão Editorial decidiu passar a utilizar as fotos de capa como registro de momentos e fatos relevantes da história da ANPEd, assim, convidamos os associados de diferentes gerações a somarem-se a nós nesse esforço de reconstrução de nossa memória, encaminhando materiais (fotos e documentos) que estejam sob sua guarda e que possam ser explorados nessa direção, a fim de darmos continuidade aos registros que ilustram o caminho que a ANPEd vem trilhando. Esta iniciativa foi inaugurada no n. 44, com a imagem do balneário do Parque das Águas de Caxambu, interior de Minas Gerais, cidade de realização de 18 das 33 reuniões anuais da Associação.

O presente número traz como capa foto de participantes da reunião realizada em maio de 1978, em Curitiba (PR), na qual se deu a discussão e aprovação da ata de constituição da Associação, em encontro ocorrido no IESAE/FGV-Rio de Janeiro (RJ), em março de 1978, cedida pelo professor Jacques Therrien, da Universidade Federal do Ceará. Ainda nessa Reunião foi aprovado o Estatuto da Associação. A ata dessa reunião está reproduzida neste número da Revista, na Seção Documentos.

Este número da RBE é composto por artigos que contribuem para a análise da educação em sua complexidade, debatendo desde fundamentos teóricos e metodológicos que têm pautado pesquisas na área, passando por críticas às políticas educacionais contemporâneas e, ainda, apresentando textos que problematizam perspectivas de investigação presentes de modo dominante no tratamento de determinadas temáticas.

Dermeval Saviani e Newton Duarte, tratando da formação humana, esboçam uma fenomenologia da época atual, constatando que as ideias hegemônicas na educação se centram na crítica à razão e às noções de verdade e de objetividade. No artigo intitulado "A formação humana na perspectiva histórico-ontológica", contrapõem a essa tendência o pensamento de Marx como uma filosofia historicizadora, na qual estão em causa os indivíduos reais, sujeitos históricos que se constituem como síntese de relações sociais. Por sua vez, Jacques Revel, em "Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado", discute a oposição entre a micro e a macro análise como abordagens de pesquisa, realçando os limites dessa visão dual e apontando para uma perspectiva analítica que afirma a necessidade de se cotejar a multiplicidade de determinações dos processos sócio-históricos, o que requer a consideração de elementos de diversos níveis, do local ao global.

Seguem-se artigos que se inscrevem no campo das políticas educacionais, abarcando diferentes focos. "Políticas educacionais contemporâneas: tecnologias, imaginários e regimes éticos", de Maria Manuela Alves Garcia, com base na análise de documentos oficiais, traz à tona a racionalidade que tem pautado as atuais reformas educacionais, destacando iniciativas de governo e suas relações com a produção de imaginários sociais e regimes éticos dos indivíduos, além de problematizar o caráter híbrido presente em discursos educacionais oficiais no Brasil. Em "Paradigmas e cognições no campo da administração educacional: das políticas de avaliação à avaliação como política", José Alberto Correia, ao reconhecer a centralidade que os dispositivos de avaliação assumem na administração da educação, admite que a avaliação "produz o campo que avalia", o que se evidencia nos níveis político, cognitivo e institucional. A partir da configuração de tendências atuais, apresenta referenciais susceptíveis de configurarem um paradigma alternativo que valoriza as mediações epistemológicas, institucionais e cognitivas. Fátima Antunes e Virgínio Sá, em "Estado, escolas e famílias: públicos escolares e regulação da educação", apoiando-se em informações coletadas em unidades escolares que oferecem ensino secundário, situadas ao norte de Portugal, discutem processos de (multi)regulação da educação, explorando dinâmicas vigentes entre medidas de política educativa e ações desenvolvidas por escolas, famílias e jovens.

O artigo "Os efeitos das diferentes formas de capital no desempenho escolar", de Alicia Bonamino, Sibele Cazelli, Fátima Alves e Creso Franco, à luz de contribuições de Bourdieu e Coleman, analisam o desempenho em leitura dos estudantes brasileiros participantes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, ano 2000, explorando o potencial explicativo do capital econômico, social e cultural na análise dos resultados obtidos.

Buscando compreender se as características referentes ao clima e prestígio escolares podem vir a influenciar o trabalho docente realizado em escolas, em "Práticas e percepções docentes e suas relações com o prestígio e clima escolar das escolas públicas do município do Rio de Janeiro", Márcia Brito e Marcio Costa explora resultados de pesquisa que evidenciam ser a atuação dos professores influenciada pela reputação das escolas em que atuam e pelas imagens que constroem acerca de seu alunado. Em suas análises, observa o potencial da escola para promover ou acentuar as desigualdades escolares entre os alunos e o risco à tendência de que estas instituições se tornem ambientes relativamente homogêneos.

Em "Jovens e adultos trabalhadores pouco escolarizados no Brasil e em Portugal", Sonia Rummert e Natália Alves analisam políticas educacionais implementadas nesses dois países, focalizando suas considerações, respectivamente, no "ProJovem" e no "Programa Novas Oportunidades". Discutem propósitos e delineamentos destes programas, trazendo elementos sobre sua receptividade às determinações emanadas de organizações supranacionais.

Elionaldo Julião, no artigo intitulado "Impacto da educação e do trabalho como programas de reinserção social na política de execução penal do Rio de Janeiro", traz elementos que permitem compreender como vêm funcionando programas educativos e laborativos no sistema penitenciário brasileiro, direcionando suas considerações para a apreciação do impacto da educação e do trabalho na ressocialização dos detentos.

Com abordagens peculiares, os dois artigos seguintes tratam da docência. No texto "Performances da docência: compreensão das dimensões filosóficas da formação", Maiane Ourique faz um mapeamento da produção sobre a temática da formação, difundida, nos anos de 2007 a 2009, no Grupo de Trabalho Filosofia da ANPEd. Aborda dimensões filosóficas da formação docente, procurando entender em que direção essas pesquisas estão caminhando. Demonstra preocupação com a performance da docência como um campo promissor para o debate sobre as confluências entre Filosofia e Educação. Marcelo Pereira discute "A dimensão performativa do gesto na prática docente". Discorrendo sobre o sentido do gesto em geral e na prática educativa, infere que a dimensão performativa, e, portanto, expressiva do gesto, permite criar um espaço de experimentação e construção do saber qualitativamente distinto do ordinário, não regulado por fins de ordem meramente biológica, cognitiva ou instrumental.

Finalmente, em "Promoção de habilidades cognitivas e educação: um modelo de análise de programas de desenvolvimento cognitivo", Teresa Gonçalves recorre a referenciais das teorias do desenvolvimento e da cognição, emergentes das neurociências cognitivas e da biologia evolutiva, integradas no paradigma da complexidade, para apresentar um modelo de análise de programas de desenvolvimento cognitivo.

Em seu conjunto, os artigos deste número da Revista apresentam temas e expressam questões que se entrecruzam na agenda de debates do campo educacional. Vale o registro de que quatro dos textos aqui divulgados foram encaminhados para publicação pelo Comitê Científico da ANPEd, a partir da avaliação dos trabalhos selecionados para a 33ª Reunião Anual/2010.

A seção Resenhas traz leituras de dois livros: Linguagem, gênero, sexualidade, organizado por Ana Cristina Ostermann e Beatriz Fontana, escrita por Tatiana Meirelles e Educação e federalismo no Brasil: combater as desigualdades, garantir a diversidade, organizado por Romualdo Oliveira e Wagner Santana, de autoria de Cleiton de Oliveira. Encerra o número a indicação dos que colaboraram com a Revista no ano de 2010, por meio da emissão de pareceres, a quem expressamos aqui nossos agradecimentos.

Finalizamos este Editorial compartilhando com os leitores a alegria da renovação da indexação da Revista Brasileira de Educação na Redalyc Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal. A RBE está inserida desde 2003 na Redalyc, coordenada pela Universidad Autónoma del Estado de México (UAEM), que tem o objetivo de contribuir com a difusão da atividade científica editorial que se produz na e sobre a região ibero-americana. O certificado que ratifica, por um período de três anos, a indexação do nosso periódico, expressa o reconhecimento do atendimento aos critérios de qualidade editorial adotados por essa Rede.

Os Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Dez 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2010
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