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Editorial

EDITORIAL

Como já dissemos em outro editorial, a revista de uma associação deve refletir a vida dessa associação, em particular, divulgando a produção acadêmico-científica de seus associados. Ao mesmo tempo, deve estar aberta a contribuições que complementem essa produção e abram novos caminhos para reflexões e análises.

Este número da Revista Brasileira de Educação pretende realizar este duplo movimento. Inicia com artigo produzido a partir do relato de Charles Darwin, em 1832, sobre viagem pela Serra da Tiririca, no litoral do Rio de Janeiro. Este relato é parte do diário escrito por Darwin a bordo do navio Beagle e as autoras o exploram no entrecruzamento da biologia com a história, tomando-o como tema gerador de uma atividade realizada com professores e alunos do ensino superior, inclusive de pós-graduação, e da escola básica. Se para os professores essa atividade foi motivadora de debates de questões de ecologia, para os alunos constituiu-se na (re)descoberta de uma região e oportunidade de discussão das mudanças nela ocorridas.

Por sua vez, através de artigo de Juan Casassus, perito da Unesco, apresentada em sessão especial realizada durante a 24ª Reunião Anual, abre-se espaço para a discussão das mudanças paradigmáticas que estão ocorrendo na educação, em plano mundial. A partir dos conceitos de qualidade e de identidade pedagógica, o autor considera dois paradigmas em transformação. O primeiro, determinado pela evolução dos marcos típicos de gestão desenvolvidos a partir dos anos de 1950, teria dado origem a dois tipos de representação do contexto educacional: técnico/linear/racionalista e holístico/não-linear/emotivo. O segundo seria relativo à ordem cognitiva, representada pela passagem do "condutivismo" ao "construtivismo", que condiciona as mudanças nas teorias de aprendizagem, nos currículos e, sobretudo, na avaliação.

No que diz respeito à produção derivada de pesquisas, este número publica quatro artigos: de Antônio Augusto Gomes Batista, Ana Maria de Oliveira Galvão e Karina Klinke, sobre livros escolares de leitura, abrangendo o longo período de 1866 a 1956; de Marisa Vorraber Costa, sobre as lições de Bambuluá, controvertido programa de televisão para crianças, apresentado pela Rede Globo de Televisão; de Rosa Maria Bueno Fischer, abordando as pesquisas sobre mídia e educação; e de Ana Lúcia Silva Ratto, explorando cenários criminosos e pecaminosos identificados nos livros de ocorrência de uma escola pública.

Dois outros artigos debatem questões teóricas: Maria da Graça Jacintho Setton faz uma leitura contemporânea do conceito de habitus na obra do sociólogo Pierre Bourdieu, e Alessandra Arce apresenta a concepção de educação infantil de Friedrich Froebel, com base na pedagogia dos jardins-de-infância por ele criados.

Na seção "Espaço Aberto", destinada à abordagem de temas polêmicos com defesa de posicionamentos, é publicada a crítica de Nelson De Luca Pretto sobre as atuais iniciativas de formação de professores em rede.

Seção relativamente rara na revista, reaparece neste número: entrevista de José Paulo Serralheiro, concedida a Inês Barbosa de Oliveira. Um dos fundadores do Sindicato dos Professores do Norte de Portugal, esse educador relata passagens de sua vida e, em particular, explica a função de A Página da Educação, jornal distribuído entre os associados do sindicato e outros professores da região. Por ele editado há mais de dez anos, esse periódico aborda não só questões educacionais, mas também temas relativos à cultura, a questões sociais, à política e à ciência, objetivando contribuir para a formação ampla de professores e sua instrumentalização para as lutas na sociedade e frente ao Estado.

Publicam-se, finalmente, como de praxe, resenhas e notas de leitura sobre livros. Nas resenhas, Edil Vasconcelos de Paiva analisa a obra Investigar a arte de ensinar, de Peter Woods; Eveline Algebaile, Democracia e construção do público no pensamento educacional brasileiro, organizado por Osmar Fávero e Giovanni Semeraro; Rossano André Dal-Farra, Animals& modern cultures, de Adrian Franklin. Nas notas de leitura, Haydée da Graça Ferreira de Figueiredo apresenta quatro coletâneas sobre Gustavo Capanema, editados em 2000 e 2001 como parte das comemorações do centenário de nascimento de um dos personagens mais importantes da educação brasileira, ministro durante todo o Estado Novo: a segunda edição de Tempos de Capanema, de Simon Schwartzman, Helena Bomeny e Vanda Maria Ribeiro Costa; Arquivo Gustavo Capanema: inventário analítico, organizado por Regina da Luz Moreira; Capanema: o ministro e seu ministério, de Ângela de Castro Gomes, e Constelação Capanema: intelectuais e políticas, de Helena Bomeny.

Esperamos, mais um vez, que o esforço de produção deste número da Revista Brasileira de Educação cumpra os objetivos a que a revista e a Anped se propõem, e contribua para ampliar e enriquecer os debates no campo da Educação.

A Comissão Editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Abr 2011
  • Data do Fascículo
    Ago 2002
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