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Recidivas e recorrências de carcinomas basocelulares da face

Resumos

Para avaliar fatores relacionados ao seguimento oncológico dos carcinomas basocelulares da face, foi realizada a análise de série de casos. Avaliaram-se 465 pacientes, com 834 carcinomas basocelulares de face; 3,1% apresentaram recidivas. Nos tumores incompletamente excisados, a recidiva foi 14,7% contra 2,3% dos tumores, com margens livres. Ocorreram mais na região nasal. As taxas de recorrência evidenciaram risco cumulativo. Estes achados reforçam a importância do seguimento oncológico após a cirurgia do carcinoma basocelular.

Carcinoma basocelular; Cirurgia geral; Neoplasias cutâneas; Patologia; Recidiva local de neoplasia


To evaluate factors related to oncological follow-up of basal cell face carcinomas it was carried out the analysis of a series of cases. Four hundred sixty-five patients with 834 basal cell face carcinomas were evaluated; 3,1% presented recurrences. There was 14.7% of recurrence in incompletely excised tumors against 2.3% of the tumors with clear margins. Recurrences were more prevalent on the nose. Relapse rates showed a cumulative risk. These findings reinforce the importance of oncological follow-up after surgery of basal cell carcinoma.

Carcinoma, basal cell; General surgery; Neoplasm recurrence, local; Pathology; skin neoplasms


COMUNICAÇÃO

Recidivas e recorrências de carcinomas basocelulares da face* * Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil.

Juliana Polizel OcanhaI; Juliana Tedesco DiasI; Hélio Amante MiotII; Hamilton Ometto StolfII; Mariângela Esther Alencar MarquesIII; Luciana Patricia Fernandes AbbadeII

IEstudante do sexto ano de graduação de Medicina. Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) - Botucatu (SP) Brasil

IIDoutor (a) - Professor (a) Assistente Doutor (a). Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) - Botucatu (SP) Brasil

IIILivre docente - Professora Adjunta. Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) - Botucatu (SP) Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Luciana Patrícia Fernandes Abbade Departamento de Dermatologia e Radioterapia Faculdade de Medicina de Botucatu/ Universidade Julio de Mesquita Filho - (UNESP) Distrito Rubião Jr./ SN 18618-000 Botucatu, SP Tel/Fax: (14) 38116015 Email: lfabbade@fmb.unesp.br

RESUMO

Para avaliar fatores relacionados ao seguimento oncológico dos carcinomas basocelulares da face, foi realizada a análise de série de casos. Avaliaram-se 465 pacientes, com 834 carcinomas basocelulares de face; 3,1% apresentaram recidivas. Nos tumores incompletamente excisados, a recidiva foi 14,7% contra 2,3% dos tumores, com margens livres. Ocorreram mais na região nasal. As taxas de recorrência evidenciaram risco cumulativo. Estes achados reforçam a importância do seguimento oncológico após a cirurgia do carcinoma basocelular.

Palavras-chave: Carcinoma basocelular; Cirurgia geral; Neoplasias cutâneas; Patologia; Recidiva local de neoplasia

As recidivas e as recorrências do carcinoma basocelular (CBC) são problemas no acompanhamento dos pacientes.1,2 Para dimensionar esse aspecto, foi realizada a análise de série de casos dos pacientes com CBCs faciais. As variáveis clínicas, demográficas e histopatológicas foram obtidas dos prontuários. Dados categóricos foram comparados bivariadamente pelo teste G (de Willians) e análise de resíduos. Posteriormente, as variáveis foram ajustadas por um modelo de regressão logística múltipla. Foi considerado como significativo valor de p<0,05, bicaudal.

Incluíram-se todos os pacientes provenientes do Hospital das Clínicas da FMB-Unesp, com diagnóstico de CBC facial, confirmados anatomopatologicamente, no período de 1999 a 2005.

Avaliaram-se 465 pacientes com 834 CBCs de face, 727 deles tiveram seguimento (87,2%), com tempo médio de 33,2 meses.

Dados gerais dos pacientes estão dispostos na tabela 1, evidenciando prevalência feminina e surgimento do primeiro CBC entre 38 e 84 anos (95% dos casos). Houve recidiva de 25 tumores (3,1%) e as características relacionadas às margens cirúrgicas são expostas na tabela 2, sendo significativa associação entre o acometimento da margem lateral pelo tumor (p<0,01), assim como lateral e profundo (p<0,01). Quando considerados todos os 34 tumores com margens comprometidas (laterais e/ou profundas), a taxa de recidiva foi de 14,7% (IC 95% 2,4% a 27,1%) (p<0,01). O tempo médio até a recidiva foi de 2,4 anos, variando de dois meses a seis anos (Tabela 1). Recidivas ocorreram, mais frequentemente, nas áreas de risco da face (Tabela 2). Houve proporção significante, na região nasal (p<0,05), e ausência de recidivas, na região zigomática/malar. Não houve diferença significante entre recidivas e o tipo histológico do CBC nessa amostra (Tabela 2). A análise multivariada demonstrou que o comprometimento de margem se associou significativamente com o risco de recidiva, independentemente do tipo histológico e topografia (p<0,05).

O risco de ter múltiplos tumores foi cumulativamente maior (Tabela 1), à medida que surgiram novas lesões, sendo que 65,5% dos pacientes apresentaram lesão única.

A taxa de recidiva foi próxima a de outros trabalhos, em que se observaram índices de 1,3% a 3,8%.3-5 O tempo de recidiva ocorreu em, até seis anos, o que reforça a necessidade de seguimento prolongado para evitar complicações, decorrentes da própria recidiva ou da necessidade de nova excisão ampla. Outros trabalhos também recomendam seguimento longo, apesar de não haver consenso sobre esse tema.3,6,7 Além disso, o seguimento anual posterior favorece a detecção de novos CBCs, em estágios menos avançados.

Nas recidivas, a segunda lesão ocorre em uma área até um centímetro da lesão primária, o que reflete a dificuldade de se diferenciar de uma lesão "de novo" na vizinhança fotoexposta.4

As lesões incompletamente excisadas corresponderam a 4,2% do total de tumores, valor comparável à literatura, que varia de 4% a 16,6%.5,8,9 Nestes tumores, verificaram-se 14,7% de recidivas, e 15,4%, nos tumores com margem exígua (menor que 1 mm) contra 2,3% dos tumores com margens livres. Estas informações mostram a importância do seguimento e a relevância do exame anatomopatológico quanto ao prognóstico.

Em alguns estudos, a taxa de recidiva nos tumores, com margens comprometidas, varia de 19,8 a 67%.4,5,8Alguns especialistas recomendam a reabordagem cirúrgica imediata nestes casos, o que ainda é alvo de discussão.4,5,8 Observou-se que grande parte das lesões com margens comprometidas não recidivaram, e muitas vezes, estas lesões ocorreram em áreas de difícil reabordagem. Mesmo as lesões com margens livres podem recidivar, mas isso não ocorre na maioria dos casos, e reforça a necessidade de seguimento oncológico.

A maioria das recidivas ocorreu nas áreas nasal e perilabial, não sendo encontradas na região zigomático-malar. A região nasal é susceptível à recidiva,8,10provavelmente, pela dificuldade de se obter margens adequadas pela anatomia dessa região. Por outro lado, a região zigomática não apresentou recidivas, o que pode ser explicado pela conformação anatômica, que não impõe tantos obstáculos à abordagem cirúrgica inicial.

Não houve relação significativa entre o tipo histológico e recidiva de tumor, o que contraria outros estudos10 que mostram que os tipos infiltrativo e micronodular estão mais associados a recidivas. Isso pode ter ocorrido por conta do pequeno número de tumores com estas classificações neste estudo.

As taxas de recorrência de CBC evidenciaram risco cumulativo. Quanto mais lesões uma pessoa teve, maior a probabilidade de novo tumor. Estes dados reiteram a importância do acompanhamento oncológico, bem como a educação em saúde dos mesmos, promovendo medidas de fotoproteção e autoexame.

Finalmente, os dados avaliados se referem a CBCs faciais excisados e, submetidos ao controle histopatológico, não se podendo extrapolar para as demais terapêuticas e outras topografias.

Recebido em 28.10.2009.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 11.03.10.

Conflito de interesse: Nenhum

Suporte financeiro: Projeto submetido a financiamento FAPESP Processos: 2008/54627-6 e 2008/55565-4

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  • Endereço para correspondência:
    Luciana Patrícia Fernandes Abbade
    Departamento de Dermatologia e Radioterapia Faculdade de Medicina de Botucatu/ Universidade Julio de Mesquita Filho - (UNESP)
    Distrito Rubião Jr./ SN
    18618-000 Botucatu, SP
    Tel/Fax: (14) 38116015
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    Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Abr 2011

    Histórico

    • Recebido
      28 Out 2009
    • Aceito
      11 Mar 2010
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