Acessibilidade / Reportar erro

Levantamento de insetos associados à batata-doce, Ipomoea batatas, com uso de armadilhas d'água, em Ituporanga, SC

Survey of insects associated with sweet potato, Ipomoea batatas, with water traps, in Ituporanga, Santa Catarina

Resumo

Insects associated with sweet potato, Ipomoea batatas were surveyed at Ituporanga Experimental Station, EPAGRI S.A., Santa Catarina State, Brazil, from 1991 to 1994. Astylus variegatus Germ. (Coleoptera: Dasytidae) and Chaetocnema apricaria Suffr. (Coleoptera: Chrysomelidae) were abundant throughout the crop cycle. The complex of Homoptera (Aphididae: Pemphigida e and Cicadellidae), Diabrotica speciosa Germ., and Typophorus nigritus versutus Lef. (Coleoptera: Chrysomelidae) were constantly present but at lower levels than A. variegatus and C. apricaria. Systena sp. (Coleoptera: Chrysomeliadae) and Lagria villosa Fabr. (Coleoptera: Lagriidae), were casual and occurred at low frequency.

Insecta; survey; occurrence


Insecta; survey; occurrence

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Levantamento de insetos associados à batata-doce, Ipomoea batatas, com uso de armadilhas d'água, em Ituporanga, SC

Survey of insects associated with sweet potato, Ipomoea batatas, with water traps, in Ituporanga, Santa Catarina

Paulo A.S. Gonçalves

EPAGRI S.A., Caixa postal 121, CEP 88400-000, Ituporanga, SC

ABSTRACT

Insects associated with sweet potato, Ipomoea batatas were surveyed at Ituporanga Experimental Station, EPAGRI S.A., Santa Catarina State, Brazil, from 1991 to 1994. Astylus variegatus Germ. (Coleoptera: Dasytidae) and Chaetocnema apricaria Suffr. (Coleoptera: Chrysomelidae) were abundant throughout the crop cycle. The complex of Homoptera (Aphididae: Pemphigida e and Cicadellidae), Diabrotica speciosa Germ., and Typophorus nigritus versutus Lef. (Coleoptera: Chrysomelidae) were constantly present but at lower levels than A. variegatus and C. apricaria. Systena sp. (Coleoptera: Chrysomeliadae) and Lagria villosa Fabr. (Coleoptera: Lagriidae), were casual and occurred at low frequency.

Key words: Insecta, survey, occurrence.

Santa Catarina foi o segundo produtor nacional de batata-doce, Ipomoea batatas, em 1992, com uma quantidade produzida de 75.785 t (IBGE 1994). Na Estação Experimental de Ituporanga (EPAGRI - SC), avaliações agro nômicas de clones de batata-doce vem sendo conduzidas desde 1990. Boff et al. (1992) rea lizaram levantamento das principais espécies de insetos associados a batata-doce na região do Alto Vale do Itajaí, SC. Entretanto, há ne cessidade de um maior volume de informações quanto a possíveis pragas ao sistema foliar e hastes de batata-doce, pois geralmente são apontados como limitantes à cultura apenas insetos que se alimentam das raízes. O objetivo do trabalho foi avaliar a entomofauna daninha da parte aérea de batata-doce.

O trabalho foi realizado na Estação Experi mental de Ituporanga, EEITU, EPAGRI, SC, situada a 475 m de altitude, durante os anos de 1991 a 1994. A área experimental utilizada foi de 2000 m2 correspondente a coleção de clones de batata-doce. Armadilhas d'água plásticas (51 x 42 x 8 cm) amarelas internamente e marrom externamente foram utilizadas para a captura dos insetos. O número de bandejas na área experimental foi cinco (1991) e quatro (1992,1993 e 1994). As coletas foram semanais, quando renovou-se a água das bandejas. A época de plantio foi da segunda quinzena de outubro a primeira de novembro, espaçados 1,0 m entre linhas e 40 cm entre plantas. As avaliações foram realizadas de janeiro até maio de cada ano.

Foram determinados índices faunísticos de freqüência e constância (Silveira Neto et al. 1976). Os grupos taxanômicos foram classificados de acordo com a constância segundo Bodenheimer( 195 5) citado por Silveira Neto et al. (1976) em: constantes, acessórias e acidentais, quando presentes respectivamente em mais de 50% das coletas, entre 25-50% das coletas, e em menos de 25% das coletas.

As espécies que se destacaram foram Astylus variegatus Germ. e Chaetocnema apricaria Suffr., apresentando-se como constantes e níveis de freqüência respectivamente de 65,6 e 21,8% (1991), 70,4 e 19,0% (1992), 23,0 e 41,7% (1 993), 47,5 e 34,4% (1994-Tabela 1). A. variegatus não é citado em associação a cultura da batata-doce (Miranda et al. 1984, Gallo et al. 1988, Jatala & Raman 1988,Chalfant et al. 1990, Boff et al. 1992, Amalin & Vasquez 1993). Segundo Matioli et al. (1990) os adultos de A. variegatus se alimentam de pólen, sendo freqüentemente encontrados em flores, as larvas destroem sementes de milho antes da germinação e geralmente não têm sido relatados como pragas. Os adultos de A. variegatus encontravam-se dentro das flores de batata-doce, provavelmente alimentando-se de pólen. A alta freqüência de A. variegatus também podem ser atribuída a cor amarelo brilhante das armadilhas que facilita a captura destes insetos (Matioli et al. 1990), além do fornecimento de pólen por milho e espécies nativas que se encontravam próximo a área experimental. Chalfant et al. (1990) cita uma outra espécie de Chaectonema associada a batata-doce, C. confinis (Crotch); segundo esses autores trata se de um inseto polífago, que alimenta-se de folhas de batata-doce, causando perfurações estreitas e ataca as raízes, com galerias sob a periderme. Boff et al. (1992) em levantamento realizado em Ituporanga, SC, observou a presença de C. apricaria na fase adulta danificando principalmente folhas novas, porém os prejuízos foram inexpressivos.

O complexo de Homoptera (Aphididae, Pemphigidae e Cicadeilidae), Diabrotica speciosa Germ., Typophorus nigritus versutus Lef. (Coleoptera: Chrysomelidae) foram constantes, porém apresentaram níveis de freqüência inferiores a A. variegatus e C. apricaria (Tabela 1). Foram considerados os pulgões, Myzus persicae Suiz., Dactynotus sp. (Aphididae) e Geopemphigus floccosus Moreira (Pemphigidae). No complexo Homoptera-Cicadellidae foram capturados os seguintes taxons: Typhocibinae, espécie não indentificada, Protalebrella brasiliensis Baker, Agallia sp. e Bucephalogonia xanthophis Berg. Os pulgões e cigarrinhas são pragas secundárias na cultura da batata-doce (Miranda et al. 1984, 1989, Boff et al. 1992). Dentre as espécies de pulgões encontradas apenas M. persicae é citada associada a batata-doce sendo responsável pela transmissão de viroses (Chiu et al. 1982, Amalin Vasquez 1993). Quanto aos cicadelídeos no Brasil é citada Empoasca sp. associada a batata-doce (Gallo et al. 1988, Boff et al. 1992), podendo causar deformações foliares devido a sucção de seiva. Há espécies de Diabrotica consideradas como pragas importantes de bata-doce, principalmente na fase larval causando danos às raízes, caracterizando-se por pequenos furos superficiais e cavando galerias irregulares sob a epiderme (Chalfant et al. 1990). No Brasil D. speciosa é a espécie principal, sendo também encontrada D. bivitula (Miranda et al. 1984, Miranda et al. 1989, Boff et al. 1992,Fernández 1991). D. balteata LeConte foi encontrada apenas em 1991 como espécie acidental (Tabela 1). São citadas algumas espécies de Typophorus causando danos a batata-doce tais como T. nigritus nitiduius, T. n. viridicyaneus (Chalfant et al. 1990, Fernández 1991), no Brasil é citada T. n. versutus (Boff et al. 1992). Os adultos de Typophorus spp. podem causar inúmeras perfurações irregulares às folhas, as larvas podem causar túneis superficiais nas raízes (Chalfant et al. 1990, Fernández 1991, Boff et al. 1992). Apesar da alta freqüência de adultos de Typophorus sp. observados a campo esses não foram capturados expressivamente (Tabela 1).

Systena sp. apresentou-se com baixa freqüência, foi constante em 1991,1994 e acessória em 1992,1993 (Tabela 1). Os danos causados por Systena sp. a batata-doce são semelhantes aos causados por Diabrotica spp., porém raramente realizam galerias dentro das raízes, e os túneis cavados são superficiais e irregulares, enquanto que em Diabrotica os mesmos são de forma circular (Chalfant et al. 1990).

Lagria villosa Fabr. apresentou baixa freqüência e foi acidental (Tabela 1), geralmente este inseto é citado como praga de cafeeiro, Coffea arabica, feijoeiro, Phaseolus vulgaris, alface, Lactuca sativa e soja, Glycine max (Zucchi et al. 1993). A campo não foi observada desfolha causada pelos adultos de L. villosa. Geralmente foi observado larvas de L. villosa sobre o solo, abaixo da massa foliar de batata-doce, pois preferem locais úmidos (Zucchi et al. 1993), provavelmente favorecidas pelo microclima criado pelo sombreamento foliar.

Cerotoma sp. ocorreu, em 1991 e 1994, com baixa freqüência e foi acidental (Tabela 1), sendo encontrado causando danos a soja e feijoeiro (Zucchi et al. 1993), C. ruficornis é citado associado a batata-doce (Fernández 1991).

Agradecimentos

Aos taxonomistas R.W. Poole, R. E. White, G.L. Miller, Systematic Entomology Laboratory, USDA, Beltsville, Maryland, EUA, Keti M. R. Zanol, Rodney Cavichioli e C. Campaner, CIIF, Curitiba, PR, pelo auxílio na identificação dos insetos. Aos laboratoristas Adilson L. Petry, Adriana M.S.Campos, Luciane A. L. Lehmkhul, e ao técnico agrícola José D. Petri e sua equipe, pelo apoio na condução do trabalho.

Literatura Citada

Recebido em 05/06/96. Aceito em 17/02/97.

  • Amalin, D.M. & E.A.Vasquez. 1993. A handbook on Philippine Sweet Potato Arthropod Pests and their natural enemies. International Potato Center, Los Banos, Laguna, Philippines, 82 p.
  • Boff, M.I.C., P. Boff& L.F. Thomazelli. 1992. Insetos associados à cultura da batatadoce no Alto Vale do Itajaí, SC. Agrop. Catarinense 5: 54-57.
  • Chalfant, R.B., R.K. Jansson, D.R. Seal & J.M. Schalk. 1990. Ecology and mana- gement of sweet potato insects. Annu. Rev Entomol. 35: 157-180.
  • Chiu, R. J., C. H. Liao & M. L. Chung. 1982. Sweet potato virus dieases and meristem culture a means of disease control in Taiwan. p, 169 -176. In R.L. Viliareal, T.D. Griggs (eds.) Sweet Potato Proceedings of the First International Symposium, 1, Shanhua, Tainan, Taiwan, China, 481 p.
  • Fernández, P.G.A. 1991. Plagas de Ias plantas tuberosas tropicales, manual de manejo integrado. Santiago, FAO, 104 p.
  • IBGE. 1994. Anu. Estat. Brasil., Rio de Janeiro, v. 54, p. 3-28-3-29.
  • Gallo, D., O. Nakano, S. Silveira Neto, R. P. L. Carvalho, G. C. Batista, E. Berti Filho, J. R. P. Parra, R. A. Zucchi, S. B.Alves & J. D. Vendramin. 1988. Manual de entomologia agrícola, 2 ed. São Paulo, Ceres, 649 p.
  • Jatala, P. & K. Raman. 1988. Major insect and nematode pests of sweet potatoes and recommendations for transfer of pest free germplasm. p. 319 - 321. In. Int. Potato Center. Exploration, maintenance, and utilization of sweet potato genetic resources. Rep. First Sweet Potato Planning Conf. 1987, 1, Lima, 369 p.
  • Matioli, J. C., M.M. Rossi & C. F. Carvalho, 1990. Ocorrência e distribuição mensal de Astylus variegatus Germar, (1824) e A. sexmaculatus (Perty, 1830) (Coleoptera: Dasytidae) em alguns municípios do estado de Minas Gerais. An. Soc. Entomol. Brasil 19:373-382.
  • Miranda, J. E. C., F. H. França,A. O. Carrijo, A. F. Souza & J. A. E. Aguilar. 1984. Cultivo de batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam). Brasília, EMBRAPA, Instr.Téc., 7, 8 p.
  • Miranda, J. E. C., F. H. França, O.A. Carrijo, A. F. Souza, W. Pereira & C. A. Lopes. 1989. Batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.) Brasília, EMBRAPA, Circ. Téc., 3, 20 p.
  • Silveira Neto, S., O. Nakano, D. Barbin & N. A. V. Nova. 1976. Manual de ecologia dos insetos. São Paulo, Ed. Agronômica Ceres, 419 p.
  • Zucchi, R. A., S. S. Neto & O. Nakano. 1993. Guia de identificação de pragas agrícolas. Piracicaba, FEAEQ, 139 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 1997

Histórico

  • Aceito
    17 Fev 1997
  • Recebido
    05 Jun 1996
Sociedade Entomológica do Brasil Caixa postal 481 - CEP 86001-970, Londrina - PR - Brasil, Fone:(43) 3376 2262, Fax: (43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: suemart@sercomtel.com.br