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Preditores de resultados neonatais na insuficiência placentária de início precoce

PANORAMA INTERNACIONAL

OBSTETRÍCIA

Preditores de resultados neonatais na insuficiência placentária de início precoce

Seizo Miyadahira; Rossana Pulcineli Vieira Francisco; Marcelo Zugaib

Em um estudo prospectivo e multicêntrico1, abrangendo 12 centros europeus e americanos, os autores estudam uma casuística de 604 pacientes que tiveram partos pré-termos (de 24 a 32 semanas), recém-nascidos vivos e com restrição de crescimento. Foram analisados os seguintes parâmetros perinatais: Doppler arterial e venoso, idade gestacional, peso de nascimento, estado ácido-básico e índices de Apgar. Esses dados foram cotejados com: complicações neonatais maiores (broncodisplasia pulmonar, hemorragia intraventricular e enterocolite necrozante), morte neonatal e recém-nascidos intactos. A indicação da intervenção obstétrica foi estabelecida pelos testes de avaliação da vitalidade fetal não tranqüilizadores e feita por via abdominal em 97,4% dos casos. Quase todas as pacientes (87,8%) receberam corticoterapia. A morbidade maior ocorreu em 35,9% (n=217) dos casos; a mortalidade neonatal em 21,5% (n=130) e declinou de 56,6% (com 24 semanas) para 10,5% (32 semanas). Quanto aos recém-nascidos intactos, totalizaram 58,3% (352 casos). A idade gestacional foi o parâmetro preditor mais importante da sobrevivência total até 26 6/7 semanas e sobreviventes intactos até 29 2/7 semanas. Após essa idade gestacional associado ao peso de nascimento >600 gramas, a dopplervelocimetria do ducto venoso e o pH da artéria umbilical foram os melhores preditores da mortalidade neonatal. A dopplervelocimetria do ducto venoso, isoladamente, pode predizer os RN intactos.

Comentário

É inegável a importância de se reconhecer a validade da dopplervelocimetria umbilical no seguimento de gestações que evoluem com restrição do crescimento fetal, notadamente aquelas que cursam com insuficiência placentária, com nível de evidência I, como enfatiza Maulik, 20062. Muito mais relevante quando o exame dopplervelocimétrico revelar insuficiência placentária grave (diástole zero ou reversa). Este estudo, pautado em casuística encorpada, demonstra de forma bastante clara a importância da análise da hemodinâmica fetal e fetoplacentária na condução das gestações que apresentam comprometimento da função placentária precocemente. Embora não recomende conduta diferenciada, como o fazem Francisco et al, 20063, por meio dos resultados da dopplervelocimetria do ducto venoso, confirma, igualmente, a validade de se incorporar o estudo da função cardíaca fetal por meio da dopplervelocimetria desse vaso do compartimento venoso fetal, ao demonstrar que esse exame constitui um fator cardiovascular primário na predição de resultados neonatais1,3. Não obstante, a idade gestacional e o peso de nascimento sejam variáveis de peso extremo no prognóstico neonatal, vale a lembrança de que esses parâmetros são de difícil ponderação, ao passo que os dados de avaliação da vitalidade fetal admitem interpretações das mais variada em cada exame utilizado. A propósito disso, vale salientar que a utilização da dopplervelocimetria do ducto venoso, constituinte do protocolo de assistência na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP, tem demonstrado resultados animadores porque aponta o momento oportuno de se instituir a administração de corticóide e posterior resolução3.

  • 1. Baschat AA, Cosmi E, Bilardo CM, Wolf H, Berg C, Rigano S, et al. Predictors of neonatal outcome in early-onset placental dysfunction. Obstet Gynecol. 2007;109:253-61.
  • 2. Maulik D. Management of fetal growth restriction: an evidence-based approach. Clin Obstet Gynecol. 2006;49:320-34.
  • 3. Francisco, RPV; Miyadahira, S; Zugaib, M. Predicting pH at birth in absent or reversed end-diastolic velocity in the umbilical arteries. Obstet Gynecol. 2006;107:1042-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    2007
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