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Deve-se utilizar o acesso venoso central pela veia cava inferior em crianças?

À BEIRA DO LEITO

PEDIATRIA

Deve-se utilizar o acesso venoso central pela veia cava inferior em crianças?

Uenis Tannuri

A primeira escolha para acesso venoso central em crianças baseia-se nas veias tributárias da veia cava superior. Entretanto, a extensa experiência clínica tem demonstrado que a utilização dos ramos da veia cava inferior para o acesso venoso central é de fácil execução técnica e se acompanha de índices de complicações infecciosas comparáveis aos observados quando se utiliza o sistema da cava superior. Tal observação prática é surpreendente, dado o fato de que os cateteres são colocados por dissecção da crossa da veia safena ou por punção da veia femoral, ambos procedimentos feitos ao nível da virilha, região naturalmente sujeita a maiores contaminações do que o pescoço ou tórax, locais utilizados para o acesso ao sistema da cava superior1. Por outro lado, as tromboses de veia ilíaca ou cava inferior, conseqüentes ao uso do cateter por tempo prolongado, são freqüentemente assintomáticas, ao contrário das tromboses de cava superior. Em trabalho recentemente publicado por Vegunta et al.2, foi feita análise retrospectiva dos prontuários de 126 recém-nascidos submetidos a 137 colocações de cateteres de longa permanência, sendo 88 cateteres em região cervical, para acesso ao sistema da cava superior, e 49 ao nível da virilha, para acesso ao sistema da cava inferior. Os cateteres foram introduzidos na veia cava superior por punção percutânea ou dissecção venosa, sob anestesia geral em centro cirúrgico, enquanto que o acesso à veia cava inferior foi realizado sob anestesia local, na própria unidade de terapia intensiva, por dissecção da crossa da veia safena. Os parâmetros estudados – tempo de permanência do cateter, trombose venosa e remoção acidental – não mostraram diferenças entre as duas vias de acesso. No entanto, o principal resultado foi a menor incidência de infecção nos cateteres introduzidos no sistema da cava inferior ( p=0,03), fato notável que confirma nossas observações práticas e que definitivamente autoriza a livre utilização da veia cava inferior para cateterização a longo prazo em crianças.

Referências

1.Tannuri U. Vias de Acesso Enterais e Parenterais. In: Telles Jr M, Leite H. Terapia nutricional no paciente pediátrico grave. São Paulo. Atheneu; 2005. p. 113-24.

2.Vegunta R, Loethen P, Wallace LJ, Albert VL, Pearl RH. Differences in the outcome of surgically placed long-term catheters in neonates: neck vs groin placement. J Pediatr Surg 2005; 40(1):47-51.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Ago 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 2005
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