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Utilização de corticóide na hipotensão refratária do recém-nascido

PANORAMA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

Utilização de corticóide na hipotensão refratária do recém-nascido

Ronaldo Arkader; Werther B. de Carvalho

A utilização de corticóide em recém-nascidos (RN) e crianças com quadro de instabilidade hemodinâmica tem sido objeto de algumas pesquisas.

Fernandez et al. (2005), em estudo retrospectivo, analisaram a utilização de hidrocortisona (HC) (1 a 2 mg/kg/dia) em RN com quadro de hipotensão refratária à terapêutica com vasopressores1. Previamente a administração de HC, foi medido o cortisol sérico dos RN a termo e próximo ao termo e os mesmos foram divididos em dois grupos com idades gestacionais semelhantes, sendo que no grupo 1 (n=13) todos apresentavam cortisol sérico < 15µg/dl, e no grupo 2 (n=8) cortisol sérico = 15µg/dl.

A pressão arterial foi mensurada por cateter em artéria umbilical ou periférica. A droga utilizada nesta pesquisa foi a dopamina em concentrações que variaram de 5 a 30 µcg/kg/min. A pressão arterial média (PAM) era similar nos dois grupos.

Durante as primeiras 24 horas após o início da HC, foi possível redução da dopamina com manutenção dos níveis pressóricos. Os RN com cortisol sérico < 15µg/dl necessitaram de uma quantidade menor de infusão de volume após instituição da HC.

Os autores concluíram que há uma função adrenal inadequada nos RN, demonstrando a importância da avaliação da função adrenal e da utilização de corticóide em RN com hipotensão refratária a vasopressores.

Comentário

Estudos em RN de termo e pré-termo demonstraram a existência de graus variados de imaturidade no eixo HHA (hipotálamo-hipófise-adrenal), utilizando testes com estímulo hipotalâmico, diretamente com o emprego de corticotropina e dosagens de cortisol sérico2,3.

Um dos critérios utilizados para o diagnóstico de insuficiência adrenal é a medida do cortisol sérico total. Entretanto, mais de 90% do cortisol circulante estão ligados à proteína, enquanto apenas o cortisol livre é fisiologicamente ativo. Alguns estudos utilizam como valores de corte para determinação de insuficiência adrenal relativa (IAR) uma dosagem sérica de cortisol abaixo de 15µg/dl ou 18µg/dl em qualquer momento, ou abaixo de 20µg/dl no pico3,4.

Outro critério utilizado é a dosagem de cortisol após administração de corticotropina, verificando-se após 30 e 60 minutos que não há elevação acima de 9µg/dl nos valores do cortisol3.

Concluindo, neste momento devemos ser críticos quanto ao uso de corticoterapia no RN com hipotensão refratária.

Após correta ressuscitação volêmica e utilização de drogas, caso haja persistência da hipotensão, deve ser avaliada a instituição de corticoterapia.

Referências

1. Fernandez E, Schrader R, Watterberg K. Prevalence of low cortisol values in term and near-term infants with vasopressor-resistant hypotension. J Perinatol 2005;25(2):114-8.

2. Ng PC, Lee CH, Lam CW, Ma KC, Fok TF, Chan IH, et al. Transient adrenocortical insufficiency of prematurity and systemic hypotension in very low birthweight infants. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2004;89(2):F119-26.

3. Pizarro CF, Troster EJ, Damiani D, Carcillo JA. Absolute and relative adrenal insufficiency in children with septic shock. Crit Care Med 2005;33(4):855-9.

4. Annane D, Briegel J, Sprung CL. Corticosteroid insufficiency in acutely ill patients. N Engl J Med 2003;348(21):2157-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Ago 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 2005
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