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Reconstrução mamária pós-câncer de mama: há como reduzir a morbidade?

PANORAMA INTERNACIONAL

GINECOLOGIA

Reconstrução mamária pós-câncer de mama: há como reduzir a morbidade?

Alexandre Mendonça Munhoz; José Mendes Aldrighi

Clough et al.1 relataram a experiência em 531 casos de reconstrução mamária com o emprego de tecidos autógenos (retalhos músculo-cutâneos) e de tecidos aloplásticos (expansores de tecido e implantes mamários de silicone gel)1. Na avaliação prospectiva de longo prazo, os tecidos autógenos apresentaram melhor resultado estético, além de menores índices de reoperações e complicações, quando comparados aos tecidos aloplásticos.

Comentário

Na reconstrução da mama com o emprego de tecidos autógenos, é fundamental não apenas a qualidade estética da reconstrução, mas também a minimização da morbidade na área doadora dos retalhos empregados. Quando comparados aos tecidos aloplásticos, os tecidos autógenos apresentam as vantagens de serem uma reconstrução definitiva, a qualidade superior da reparação e o custo menor. Porém, há as limitações inerentes à ressecção muscular e, portanto, à maior morbidade. Nos últimos anos, tem-se observado o aprimoramento das técnicas que visam a menor ressecção muscular e, por conseguinte, a menor incidência de alterações funcionais2. Entre estas, merece destaque a aplicação da microcirurgia no processo de transferência do retalho. Apesar dos benefícios auferidos pela microcirurgia com a menor ressecção muscular ou mesmo a sua completa preservação, como ocorre no emprego dos retalhos perfurantes, estas técnicas ainda apresentam um certo grau de complexidade2,3. Há a necessidade de treinamento prévio (experimental e clínico), bem como a utilização de instrumental específico e aparelhos ópticos de aumento. Em geral, por serem vasos de pequeno calibre, demanda paciência e aprimoramento técnico por parte do cirurgião. Detalhes anatômicos na distribuição dos vasos perfurantes na região do abdome4, bem como a qualidade dos vasos receptores para a realização das anastomoses na região torácica5, são também aspectos relevantes na opção por esta modalidade de reconstrução. Estes fatos constituem uma desvantagem em relação aos tradicionais retalhos pediculados, prejudicando assim a reprodutibilidade destes procedimentos.

Em pacientes submetidas a mastectomia, o objetivo maior da cirurgia reconstrutora é a reabilitação estética, retirando-se da paciente o estigma do câncer e da mutilação. O retorno à condição física pré-câncer é fundamental neste processo e a morbidade da retirada da musculatura não é desprezível. A microcirurgia e os retalhos perfurantes constituem mais uma opção para as mulheres mastectomizadas pela menor agressão à parede abdominal e pelo retorno mais precoce às atividades habituais pré-operatórias. A ponderação entre estas vantagens e os riscos inerentes à complexidade do procedimento deve ser aventada, colocando-se assim a melhor opção de tratamento e reabilitação.

Referências

1. Clough KB, O'Donoghue JM, Fitoussi AD, Nos C, Falcou M. Prospective evaluation of late cosmetic results following breast reconstruction: I. Implant reconstruction. Plast Reconstr Surg 2001; 107(7):1702-9.

2. Grotting JC, Urist MM, Madox WA. Conventional TRAM flap versus free TRAM flap for immediate breast reconstruction. Plast Reconstr Surg 1989; 83(8):828-33.

3. Gill PS, Hunt JP, Guerra AB, Dellacroce FJ, Sullivan SK, Boraski J, et al. A 10-year retrospective review of 758 DIEP flaps for breast reconstruction. Plast Reconstr Surg 2004; 113(4):1153-60.

4. Munhoz AM, Ishida LH, Sturtz G, Cunha MS, Montag E, Saito FL, et al. Importance of the lateral row perforator vessels in deep inferior epigastric perforator flap harvesting. Plast Reconstr Surg 2004; 113 (2):517-24.

5. Munhoz AM, Ishida LH, Montag E, Sturtz GP, Saito FL, Rodrigues L, et al. Perforator flap breast reconstruction using internal mammary perforator branches as a recipient site: an anatomical and clinical analysis. Plast Reconstr Surg. 2004; 114(1):62-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2004
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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