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A dopplervelocimetria para a predição de resultado de gravidez com diminuição de movimentos fetais

OBSTETRÍCIA

A dopplervelocimetria para a predição de resultado de gravidez com diminuição de movimentos fetais

Seizo Miyadahira; Marcelo Zugaib

A convicção da validade da monitorização dos movimentos fetais (MF) remonta a mais de um século, sendo esta atividade biofísica fetal reconhecida como o primeiro sinal de vida observado pela gestante. O método que emprega a percepção materna de MF regulares, utilizando-se de diferentes recursos técnicos e critérios de interpretação, é considerado a melhor forma de se avaliar, continuamente, em nível ambulatorial, o bem-estar fetal. A redução dos MF referida pela gestante tem sido denominada de "sinal de alarme dos MF", requerendo, nessa eventualidade, cuidados adicionais com a instituição de propedêutica complementar, a qual, desde há muito tempo, está bastante arraigada e muito difundida no seio obstétrico. Ela é constituída, via de regra, pela avaliação de outras atividades biofísicas por meio de dispositivos próprios. As características da freqüência cardíaca fetal são avaliadas pelo cardiotocógrafo e outras variáveis são examinadas pelo ultrasonógrafo. Como novidade emergente, ainda não incorporada na rotina obstétrica, especialmente nos Estados Unidos da América, é a dopplervelocimetria obstétrica. Entretanto, os centros de pesquisa europeus têm observado vasto campo de aplicação dessa nova tecnologia ultra-sonográfica, ao obter resultados encorajadores em diversas situações obstétricas. Korszun et al., 20021, estudam 888 pacientes com gestações de baixo risco, que apresentavam diminuição de MF (excluídos os casos com óbito fetal), realizando dopplervelocimetria das artérias uterinas e umbilicais, além da cardiotocografia basal (rotineira). Desse grupo de pacientes, 753 não foram admitidas no hospital porque apresentaram exames normais e tiveram o parto com intervalo maior do que dois dias. Os 135 casos remanescentes, considerados de risco para o sofrimento fetal, deram à luz no mesmo dia ou em até dois dias após. No grupo de parto após período >2dias, houve maior freqüência de resultados de dopplervelocimetria de artérias uterinas anormais que no grupo de parto no intervalo de dois dias (p<0,0007). Quando analisados de forma qualitativa, os resultados dopplervelocimétricos anormais tanto das artérias umbilicais (p<0,0003), quanto das artérias uterinas também foram significativamente mais freqüentes no grupo que parturiu no período de até dois dias (p<0,02). Da mesma forma, a taxa de cesáreas de emergência foram significativamente maior nesse grupo (p<0,03) e partos operatórios (p<0,05).

Comentário

Embora não haja justificativa plausível para a utilização de método tão oneroso em casos aparentemente corriqueiros, a dopplervelocimetria obstétrica, ao possibilitar o estudo da hemodinâmica útero-placentária, feto-placentária e fetal, tem brindado os obstetras com novidades muito alvissareiras, fruto dos invejáveis resultados que gradativamente vêm ao nosso conhecimento, por meio de publicações na mídia científica. Indicada exaustivamente, pela comunidade vanguardeira na avaliação da vitalidade fetal, como um recurso auxiliar, quase imprescindível na assistência a casos graves (restrição do crescimento fetal e prematuridade extrema)2, o trabalho de Korszun et al., 20021, demonstra, de forma inequívoca, sua utilidade também em gestações de baixo risco, surpreendidas por intercorrências não prognosticadas.

Referências

1. Korszun P, Dubiel M, Kudla M, Gudmundsson S. Doppler velocimetry for predicting outcome of prenancies with decreased fetal movements. Acta Obstet Gyenecol Scand 2002; 81: 926-30.

2. Gramellini D, Piantelli G, Fieni S, Chiaie LD, Kaihura C. Doppler velocimetry and non stress test in severe growth restriction. Clin Exp Obstet Gynecol 2001; 28:33-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2003
  • Data do Fascículo
    Jun 2003
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