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Qual é a conduta atual no óbito fetal?

Àbeira do leito

Obstetrícia

QUAL É A CONDUTA ATUAL NO ÓBITO FETAL?

Considerando-se que o produto da concepção se define como feto a partir de 10 semanas de gestação, o óbito fetal (OF) seria toda a morte a partir desta idade gestacional. A Organização Mundial da Saúde define o OF como a "morte do feto antes da completa expulsão ou extração do produto da concepção do corpo da mãe, independente da duração da gravidez". O Centro Nacional de Estatística da Saúde dos Estados Unidos conceitua morte fetal aquela ocorrida a partir de 20 semanas de gestação. Da mesma forma, para acomodar os interesses burocráticos, a maioria das estatísticas nacionais sobre o assunto preferem defini-lo a partir de 20 semanas de gestação ou peso no nascimento maior que 500 gramas. A incidência é muito variável nos diversos serviços universitários, oscilando entre 0,2% a 4,5%. Em estudo realizado no Hospital das Clínicas da FMUSP, Schupp et al., 2000, observaram incidência de 4,5% no período de 1993 a 1998. A assistência obstétrica, nesses casos, abarca atenção global à paciente em virtude de envolver intensamente os aspectos emocionais, um luto a ser elaborado. Inclui também a busca da etiologia que se faz necessária, uma vez que existe grande multiplicidade de fatores predisponentes e desencadeantes desse infausto acontecimento. Dessa forma, as perspectivas futuras do provir obstétrico podem ser clarificadas à luz de investigações individualizadas, com respaldo em conhecimentos teóricos/científicos consolidados. Quanto à resolução dos casos, embora 75% a 90% das gestantes com diagnóstico de óbito fetal evoluírem para parto espontâneo em duas semanas, poucas pacientes aceitam aguardar passivamente o evento, solicitando ao médico uma conduta ativa para uma abreviação rápida do quadro. Nessa situação, é indispensável ponderar os riscos e os benefícios oriundos de uma intervenção ativa, no intuito de se otimizar os resultados, com mínimas seqüelas, orgânicas e emocionais. A complexidade na resolução reside na eficácia dos métodos disponíveis, pois geralmente o OF ocorre durante o segundo ou início do terceiro trimestre da gestação, quando a cérvix está ainda imatura. Em gestantes sem cicatriz uterina prévia e com uma altura uterina de até 26 cm, utilizamos misoprostol 200µg via oral e 200µg via vaginal de ataque e após 200µg via vaginal a cada 4 horas até o parto, com índice de sucesso de 90% e tempo médio de indução de 17,7 horas com desvio padrão de 14,2 horas. Se a gestante apresentar uma cicatriz uterina prévia, utilizamos o mesmo esquema, porém com a dose de misoprostol pela metade, isto é 100µg. Nos casos com idade gestacional mais avançada, constatado por uma altura uterina acima de 26 cm, utilizamos para indução do parto a ocitocina em dosagem semelhante à indução de um parto normal, com tempo médio de indução de 39,9 horas, com desvio padrão de 50,2 horas. Já nos casos em que a paciente apresenta mais de uma cicatriz uterina prévia, temos conduta personalizada para cada caso. Após o parto sempre há a necessidade de avaliar se ainda existem restos ovulares e nos casos em que isso ocorre deve ser realizada a curetagem uterina. Nos casos em que se adota a conduta expectante, é importante a monitorização de coagulopatia, um evento que aparece na incidência de até 25% após quatro semanas do óbito.

TÂNIA REGINA SCHUPP

SEIZO MIYADAHIRA

MARCELO ZUGAIB

Referências

1. Chiswick ML. Commentary on current World Health Organization definitions used in perinatal statistics. Br J Obstet Gynaecol 1986; 93:1236-8.

2. Tricomi V, Kohl SG. Fetal death in utero. Am J Obstet Gynecol 1957; 74:1092-7.

3. Bugalho A, Bique C, Machungo F, Faundes A. Induction of labor with intravaginal misoprostol in intrauterine fetal death. Am J Obstet Gynecol 1990; 163:540-2.

4. Schupp TR, Miyadahira S, Kahhale S, Zugaib M. Management of pregnancy in a university hospital: a 6-year study. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo 2000; 55:137-44.

5. Zugaib M, Bittar RE. Protocolos Assistencias da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo: Atheneu; 1996. p.189-91.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jan 2003
  • Data do Fascículo
    Dez 2002
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