Acessibilidade / Reportar erro

A mediação das emoções em professores alfabetizadores

AZEVEDO, Cleomar. . A mediação das emoções em professores alfabetizadores.São Paulo: Appris, 2015. 208 p.

Cleomar Azevedo é mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, com pós-doutorado em Ciências Sociais também pela mesma instituição). É professora do programa de Mestrado em Psicologia Educacional e Pesquisadora do Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco - São Paulo (FIEO/SP). Suas pesquisas envolvem a questão da aprendizagem, em especial relacionadas à leitura e escrita. Atua na área de Psicologia Educacional, com ênfase em Alfabetização.

Em sua produção científica, os termos mais encontrados são: Psicologia Educacional; Psicologia Social; Psicopedagogia; Aprendizagem; Alfabetização; Escrita; Leitura; Diagnóstico; Intervenção; Jogos; Psicanálise e Autoestima. Além da obra analisada, “A mediação das emoções em professores alfabetizadores”, de 2015, a autora tem outras publicadas. As mais recentes são: “Reflexões sobre o fazer do educador e do docente” (2015); “A práxis do professor alfabetizador e a aprendizagem” (2012), além de artigos em revistas científicas; em jornais; participação em bancas examinadoras e em eventos, como encontros e congressos.

O objetivo da autora na obra em questão é investigar o que diferencia o professor que obtém êxito na alfabetização daquele que apresenta dificuldade nesse processo. No livro “A mediação das emoções em professores alfabetizadores”, a autora aborda o papel das emoções na alfabetização de crianças, com a problemática central: “quem é o professor alfabetizador e por que mesmo diante de variáveis que interferem negativamente nesse processo, consegue êxito na alfabetização?”.

Nesse enfoque, Azevedo defende a ideia de que as emoções exercem função fundamental na prática do bom professor alfabetizador. Para a autora, o bom professor alfabetizador é um profissional com características especiais, que estabelece com o sujeito uma relação saudável e é a convivência com o aluno que leva o professor ao desenvolvimento de uma relação de afetividade, companheirismo e respeito.

A autora ressalta ainda que só o domínio de técnicas de ensino não é suficiente para um ensino eficaz. É preciso estar comprometido com a tarefa de atuar sobre a sociedade. Assim, defende que as questões voltadas à relação professor-aluno são permeadas pela mediação que implica o conhecimento, a realidade, as relações afetivas e o contexto social. Desta forma, Azevedo afirma a importância de se estabelecer afetividade na relação ensinante-aprendente, porque é através dela que se dá a construção do conhecimento, que envolve a linguagem e a escrita como meios de formação da consciência humana.

A obra “A mediação das emoções em professores alfabetizadores” está dividida em cinco capítulos. No capítulo 1, a autora aborda a relação entre conhecimento, leitura e escrita. Utiliza principalmente os autores Vigotsky e Luria para apontar a importância da leitura e escrita como meio de acesso aos recursos culturais. No capítulo 2, Azevedo apresenta principalmente a concepção de Vigotsky, Piaget e Wallon sobre a linguagem. Detalha os apontamentos de cada um dos teóricos sobre a linguagem. Neste capítulo, a autora aborda a linguagem sob a perspectiva de Vigotsky, como meio que interfere na formação e no funcionamento de todos os processos psíquicos, mas que exerce no pensamento implicações fundamentais e decisivas.

Não falta no capítulo 2 a abordagem de Piaget, em que a autora pontua que a linguagem é considerada manifestação simbólica. Aponta a concepção de Piaget, sobre a relação recíproca entre a linguagem e o pensamento, em que entende a inteligência como anterior à linguagem. Sob a perspectiva de Wallon, Azevedo apresenta a linguagem como instrumento e suporte necessários ao progresso do pensamento. Ela estrutura e exprime o pensamento.

No capítulo 3 a autora aborda a importância da afetividade para o desenvolvimento e aprendizagem da criança e o quanto é importante entender a emoção como um elo que liga a vida orgânica à vida psíquica. No mesmo capítulo apresenta as abordagens sobre emoção nas perspectivas de Wallon, Vigotsky e Piaget, expondo o que cada um desses autores apresenta sobre emoção e afetividade dentro de suas linhas teóricas. No capítulo 4, apresenta os procedimentos metodológicos utilizados em seu livro, constituídos por entrevistas com professores alfabetizadores e respectivas análises.

A autora escolheu a técnica de “análise gráfica do discurso”, com o objetivo de não fragmentar o discurso do sujeito, por considerá-lo produto da interação entre pensamento e linguagem e propiciar a originalidade da fala do entrevistado. Dessa forma, foram realizadas 18 entrevistas com professoras alfabetizadoras. O critério para escolha das entrevistadas foi a indicação por sucesso na atuação, como “bom alfabetizador”. Essas indicações foram feitas por professores, coordenadores, diretores, supervisores de ensino, familiares de alunos. As entrevistas foram gravadas e transcritas.

Das 18 entrevistadas, foram selecionadas sete, de acordo com os critérios de seleção, que foram: sujeito significativo para a pesquisa; verbalização espontânea; história de vida; grau de satisfação; experiência e envolvimento com o processo de alfabetização. Tais critérios, segundo a autora, justificados pela necessidade de indicadores do que pudesse ser considerado como significativo. No entanto, para que os dados pudessem ser analisados de forma mais aprofundada e coerente, a autora escolheu duas entrevistas para verificar a importância das emoções no processo de alfabetização e na atuação docente.

No capítulo 5, em que detalha o desenvolvimento e análise da pesquisa, a autora aponta as representações sociais das entrevistadas a partir das respostas de cada questão. A cada resposta das entrevistadas a autora faz uma análise dos temas, verificando as representações sociais. Assim, apresenta as considerações sobre cada uma das respostas, seguidas por embasamentos teóricos. Azevedo aponta, por meio da análise das entrevistas, aspectos consideráveis, principalmente nas falas das professoras, que direcionam a reflexão sobre as implicações existentes entre emoção, afeto e sentimento e a importância desses aspectos na atuação do docente comprometido com o desenvolvimento do aprendente.

A autora finaliza a obra apontando a importância da história familiar de cada professor para a sua atuação ativa. Azevedo acredita e afirma que a história da formação do professor começa antes dos cursos de Magistério ou Pedagogia. Inicia-se a partir dos contatos estabelecidos nos núcleos familiares. Aponta que durante a entrevista as professoras demonstraram boa percepção sobre sua atuação e demonstraram que nas suas atuações existem fortes vínculos de manifestação afetiva.

Para a autora, as manifestações afetivas estão presentes em todas as questões respondidas pelas professoras, principalmente nas que envolvem a sensação de bem-estar de seus alunos. Para Azevedo, essas experiências resultam em um sentimento afetivo positivo com relação à alfabetização. Com relação à escola, a aponta como um espaço que promove a apropriação da cultura acumulada e que deve considerar os aspectos cognitivos como indissociáveis e, a partir daí, favorecer o desenvolvimento integral do indivíduo. Finaliza enfatizando que toda aprendizagem está impregnada de afetividade, especialmente no processo de alfabetização.

A autora apresenta uma abordagem interessante que começa direcionando o leitor a rever os conceitos de pensamento, linguagem e emoção sob as perspectivas de Vigotsky, Piaget e Wallon, entre outros. Nas entrevistas, emergem situações que se assemelham às diversas que assistimos ou temos conhecimento em nossa prática docente ou núcleo familiar, o que nos leva a perceber o quanto a afetividade permeia as relações que estabelecemos nos diversos ambientes, inclusive em sala de aula, e que é necessário aprendermos a mediar as emoções em nosso trabalho de professor.

Obra recomendada especialmente aos professores alfabetizadores, pois propõe uma quebra do paradigma de que cognição e emoção são aspectos dissociados. É preciso estudar o fenômeno da emoção, concedendo-lhe a devida importância dentro do processo de ensino-aprendizagem. As abordagens sob as perspectivas dos teóricos Vigotsky, Piaget e Wallon, entre outros, fundamentam a obra, o que leva o professor, principalmente o alfabetizador, a refletir sobre a afetividade (expressa através da emoção), sob o ponto de vista científico e a relevância de utilizar o afeto, como principal instrumento para o alcance dos objetivos pedagógicos.

Para os gestores, pode ser considerada uma leitura relevante, pois pode facilitar a orientação aos professores diante de situações inerentes ao processo de ensino-aprendizagem. Aos futuros docentes, a leitura propicia um novo olhar sobre o papel da emoção na prática pedagógica e a necessidade de um olhar diferenciado em relação à criança, sobretudo àquelas em fase de alfabetização. Uma obra imprescindível ao professor alfabetizador que está sempre em busca de conhecimentos para melhorar sua prática.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    09 Fev 2017
  • Aceito
    18 Fev 2017
Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Educar em Revista, Setor de Educação - Campus Rebouças - UFPR, Rua Rockefeller, nº 57, 2.º andar - Sala 202 , Rebouças - Curitiba - Paraná - Brasil, CEP 80230-130 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: educar@ufpr.br