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Apresentação

APRESENTAÇÃO

Apresentação

A relação controversa entre a mídia e a educação é tema constante seja na própria mídia, seja nos debates sobre os processos educativos. Em geral, o tema é focado sob dois principais aspectos: a contribuição do impacto das novas tecnologias midiáticas para a didática da sala de aula, ou então o discurso de demonização da mídia, responsabilizando-a pelo incitamento à violência, à erotização da infância e a uma série de outros comportamentos considerados "socialmente inadequados".

Esse dossiê propõe pensarmos a relação mídia e educação sob novos prismas. A partir das contribuições dos Estudos Culturais, novos problemaspassaram a ser debatidos na relação entre a mídia e a educação. À medida que os recursos midiáticos estão envolvidos em processos de produção das subjetividades, devem ser analisados com o mesmo peso com que têm sido analisados os mecanismos inerentes à instituição escolar. Ou seja, a partir das contribuições dos Estudos Culturais, entendemos cultura como qualquer sistema de conhecimento que produza significações. Na modernidade, a mídia tornase um elemento de formação cultural com igual ou maior presença do que a formação escolar, fazendo-se necessária a perspectiva de novos trabalhos que possam analisar estes novos códigos semióticos de subjetivação.

Tal análise amplia, por exemplo, nossos conceitos de currículo e de pedagogia, pois como destacam autores como Green e Bigum (1995, p. 214):

...não se trata apenas da crescente penetração da mídia no processo de escolarização, mas também, de forma geral, da importância da mídia e da cultura de informação para escolarização e para formas cambiantes de currículo e de alfabetismo, com todos os problemas daí decorrentes (...) o currículo tende a se desvincular da escola, o que impõe uma reconceptualização tanto do currículo quanto da escola, uma reconceptualização que seja feita de acordo com as condições modernas e para as condições pós-modernas.

Utilizando como intercessores as imagens da televisão, do cinema, da publicidade, das revistas e da internet, as autoras e autores deste dossiê procuram pensar essas novas relações entre a mídia e a educação. Os signos televisivos são objeto de estudo no artigo "Mídia e educação: em cena, modos de existência jovem", no qual Rosa Maria Bueno Fischer, instrumentada nos estudos foucautianos, analisa a produção da idéia de sujeito jovem no discurso televisivo em contraponto com o depoimento de jovens sobre sua relação com a cultura midiática. E Suzana Feldens Schwertner, em "Ficção e realidade no programa Cidade dos Homens: elementos para pensar sobre mídia e pedagogia das imagens", estuda, nos signos televisivos da conhecida microsérie global, a produção da idéia de autenticidade na educação ética e estética dos sujeitos contemporâneos.

O conceito de autenticidade também é analisado por Wenceslao Machado de Oliveira Jr. em "O exemplo de Agrado: imagem, técnica e autenticidade", buscando na personagem Agrado, do filme Tudo sobre minha mãe, inspiração para pensar a produção contemporânea dos corpos por meio da educação do olhar das imagens cinematográficas. E os signos do cinema também aparecem em "Educação, cinema e alteridade", artigo de minha autoria, no qual discuto a educação para alteridade nas imagens do cinema, provocado por alguns conceitos deleuzianos.

Os artigos seguintes analisam a linguagem das revistas e da publicidade. Em "Dispositivo da maternidade: mídia e a produção pedagógica de sujeitos, práticas e normas", Fabiana Amorim Marcello, apoiada nas análises de Foucault, debruça-se sobre o conceito de dispositivo da maternidade produzido pela linguagem normativa de algumas revistas de grande circulação nacional. E Flailda Brito Garboggini, em "O homem na publicidade da última década: uma cultura em mutação?", analisa a produção do modelo masculino nos signos atuais da publicidade.

A internet é objeto de estudo de Alysson Ramos Artuso, em "Subjetivação e a educação através da internet", que analisa os mecanismos de poder e subjetivação que se fazem presentes no processo de ensino-aprendizagem por meio da internet. A internet também é objeto de análise de Ângela Correia Dias em "Processos comunicacionais da cultura jovem na rede social do ciberespaço", onde enfoca o site Bocada Forte tentando entender novos processos de comunicação, plurais e polifônicos, que desafiam a educação

Fechando o dossiê, encontra-se o artigo de Tania Stoltz, "Mídia, cognição e educação", que estuda processos cognitivos envolvidos na compreensão de mensagens midiáticas. E "Anéis de prata: alunos e professores na sociedade da comunicação", de Heloisa Pait, que ensaia uma tipologia das diferentes formas de relação entre o professor e os recursos midiáticos.

Por fim, quero agradecer o trabalho de todas as autoras e autores e deixar um agradecimento especial às professoras Liane Maria Bertucci-Martins, Maria Rita de Assis César e Cristina Azra Barrenechea, que também colaboraram, de diferentes formas e em diferentes momentos, para o andamento deste dossiê. Esperamos que ele possa contribuir para incentivar novas discussões sobre a relação mídia e educação e seu impacto na produção de novos sujeitos e novas pedagogias.

Boa leitura!

Nilson Fernandes Dinis

  • GREEN, B; BIGUM, C. Alienígenas na sala de aula. In: SILVA, T. T. (Org.). Alienígena na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 208-243.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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