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A epistemologia genética em pesquisas sobre o fracasso escolar realizadas na década de 80

Resumo

O principal objetivo deste artigo é analisar as pesquisas piagetianas sobre o fracasso escolar, realizadas na década de 80. As análises de tais estudos sugerem que, embora haja uma fidelidade ao pensamento de Piaget, os pesquisadores enfatizam aspectos distintos ao tentarem explicar o fracasso escolar das crianças marginalizadas.

aprendizagem; conhecimento; epistemologia genética; fracasso escolar


ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

A epistemologia genética em pesquisas sobre o fracasso escolar realizadas na década de 80

Solange Franci R. Yaegashi

Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação, Universidade Estadual de Maringá

RESUMO

O principal objetivo deste artigo é analisar as pesquisas piagetianas sobre o fracasso escolar, realizadas na década de 80. As análises de tais estudos sugerem que, embora haja uma fidelidade ao pensamento de Piaget, os pesquisadores enfatizam aspectos distintos ao tentarem explicar o fracasso escolar das crianças marginalizadas.

Palavras-chave: aprendizagem; conhecimento; epistemologia genética; fracasso escolar.

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1 De acordo com Chauí (1981), passou-se à afirmação da existência não tanto de raças inferiores ou indivíduos constitucionalmente inferiores, mas de culturas inferiores ou diferentes.

2 Em algumas pesquisas tais mecanismos foram denominados de fatores intra-escolares.

3 Por conhecimento fugurativo a autora entende a forma de cognição que aparece como uma cópia do real.

4 Isto pode ser observado quando surge no adolescente a vontade de mudar, de transformar o mundo, de experimentar outras possibilidades.

5 Foram aplicadas as seguintes provas: conservação de quantidade (massa e líquido), inclusão de classe (animais e frutas), seriação de bastonetes, correspondência termo-a-termo e classificação de objetos. O estudo da construção do real foi realizado através de oito provas: passar objetos através de uma grade, construir uma bola de futebol, pular de diferentes alturas, fazer fogueira, reconhecer o efeito do vento em função do peso dos objetos, guardar objetos dentro de uma caixa, flutuar objetos dentro de uma bacia e construir uma ponte.

6 Participaram da amostra 39 crianças entre 7 e 8 anos, 25 entre 9 e 10 anos e 21 entre 11 e 12 anos.

7 Maria Aparecida Moysés e Gerson Z. de Lima (1982), médicos-pediatras do Instituto da Criança da USP, chegaram a estas mesmas conclusões após uma longa experiência de exame neurológico evolutivo de crianças de nível sócio-econômico desfavorecido pertencentes a escolas públicas de periferia.

8 Cerca de 98% dos problemas formulados nesta situação foram adequadamente resolvidos.

9 Como exemplos destes métodos podem-se citar os seguintes: armar a conta no papel, vai um, abaixar o zero, multiplicar começando pela unidade, etc.

10 Foram aplicadas as seguintes tarefas piagetianas: conservação, seriação, inclusão de classes, correspondência, inversão e representação simbólica de quantidades. As tarefas de matemática, baseadas nos conteúdos previstos nos guias curriculares de Pernambuco, foram: escrita e leitura de números, resolução de adições e subtrações e resolução de problemas simples que requerem adição e subtração.

11 Foram aplicadas provas nas quais forma utilizadas substâncias contínuas e descontínuas.

12 Foi utilizada uma única tarefa de ordenação de bastões, em três momentos experimentais: a) ordenação da metade dos bastões; b) intercalação da outra metade dos bastões, tomados numa ordem casual e c) introdução de um anteparo e construção da ordenação de todos os bastões pela criança.

13 Foram utilizadas 8 provas: agrupamento exaustivo, quantificação intensiva, classificação múltipla, negação, união de classes, agrupamento horizontal, subdivisão de classes e quantificação da inclusão e da intersecção. O material utilizado foi: 4 tipos diferentes de doces, de cores distintas e de 2 tamanhos diversos.

14 Nesta tarefa foram utilizados 2 tipos de frutas da região.

15 De acordo com Piaget, o realismo nominal lógico caracteriza-se pela confusão que a criança faz entre palavra falada e o objeto ou significado que ela representa.

16 A crítica que comumente é feita a esta teoria, refere-se ao fato de que a mesma postula a equivalência funcional das estruturas cognitivas das crianças pertencentes a diferentes classes sociais, encobrindo assim, os efeitos deletérios que as condições materiais de vida, resultantes da exploração e da dominação, podem ter sobre o desenvolvimento humano.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1994
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