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Implantação da disciplina alfabetização no curso de pedagogia: relatório de pesquisa

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Implantação da disciplina alfabetização no curso de pedagogia: relatório de pesquisa

Nelita Ferraz de Mello Sauner

Professora Adjunta do Departamento de Métodos e Técnicas da Educação e Mestra em Educação pela UFPR

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo avaliar o programa piloto da disciplina Concepções e Métodos de Alfabetização - CMA do Curso de Pedagogia executado nos anos de 1987-88.

Em 1987 foi realizada uma avaliação parcial, pois apenas contava com dados fornecidos pelas expectativas (Pré-testes) dos alunos de 2.º ano e pela percepção (Pós-testes) dos alunos de 3.º ano, egressos da disciplina.

Somente no ano seguinte, procedeu-se a coleta de dados junto aos alunos do 3.º ano que haviam sido pré-testados no ano anterior, caracterizando a pesquisa como quase experimental.

1. DESCRIÇÃO DA PESQUISA

1.1 Procedimento Metodológicos

Considerando-se a importância de que se reveste a disciplina CMA e sendo a primeira vez que essa experiência se realizaria no Curso de Pedagogia, decidiu-se elaborar e desenvolver um programa piloto para garantir a sua efetividade.

Para avaliar o programa em questão utilizaram-se os dados coletados durante o acompanhamento das atividades, das avaliações e reavaliações realizadas ao longo do processo. Estes dados acumulados serviram de base para expressar o rendimento dos alunos da 1ª turma de Pedagogia que cursaram a disciplina CMA. Igual procedimento foi adotado em relação aos alunos das turmas A, B E CD do 3.º ano, em 1988.

Também houve necessidade de se elaborar um instrumento de testagem, de acordo com o programa piloto da disciplina, composto de questões objetivas e subjetivas. (V. Anexo).

O instrumento eglobou questões relacionadas aos objetivos, conteúdos, procedimentos metodológicos, recursos humanos, avaliação e outras, pertinentes à alfabetização.

Em sua fase inicial, o instrumento foi examinado e discutido pelas professoras responsáveis pelas turmas de alfabetização.

Em seguida, foi validado por duas equipes de juízes: professores e alunos da UFPR.

Primeiramente, foi submetido à apreciação de sete consultores, sendo três professores do Departamento de Métodos e Técnicas da Educação, dois do Departamento de Teorias e Fundamentos da Educação e um do Departamento de Planejamento e Administração Escolar do Setor de Educação emais um do Departamento de Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, com a finalidade de obter dos mesmos uma validação em termos de sua organização, abrangência e adequação à avaliação do programa. Alguns examinadores fizeram observações, sugerindo emendas ou modificações, para a melhoria do instrumento que, devidamente examinadas e selecionadas, foram incluídas ou modificadas no original, quando não havia contradições entre os juízes.

Após esta fase, o instrumento foi aplicado a dez alunos do 8º período do Curso de Pedagogia, distribuídos aleatoriamente entre as três habilitações: Supervição Escolar, Orientação Educacional e Administração Escolar, do Curso diurno (2/3) e do noturno (1/3). Voltaram nove instrumentos parcialmente respondidos.

Pelas informações desses alunos, que não tiveram a disciplina em seu currículo (semestral em extinção), verificou-se que também, aos alunos do 2.º ano de Pedagogia, não se poderia aplicar o instrumento completo, ou seja, com os 28 (vinte e oito) itens. Analisadas as respostas, decidiu-se usar somente 18 (dezoito) itens.

O instrumento foi aplicado no final do mês de novembro de 1987 aos alunos de 2.º ano, ainda sem a formação em CMA, mas com expectativas em relação à disciplina para o próximo ano. Na mesma época, o instumento completo foi aplicado aos alunos de 3.º ano que freqüentavam as três turmas da disciplina.

No final do ano de 1988 foi aplicado o instrumento completo aos alunos de 3.º ano (os mesmos sujeitos do 2.º ano de 1987), na condição de pós-teste.

Para a organização deste modelo de pesquisa quantitativa houve a necessidade de se proceder uma adaptação aos modelos propostos por CAMPBELL e STANLEY (1979: 1-138). Segue-se um esquema que foi dividido em dois anos, pela impossibilidade de se ter um pré e pós-testes com os mesmos sujeitos, no mesmo ano de 1987.

Como se observa acima esta pesquisa caracteriza-se, mais especificamente, como quase experimental. considerando-se as suas etapas (1987-88) e na natureza dos grupos inter-dependentes e dependentes.

1.2 Características da Amostra

Para o presente trabalho o universo populacional foi constituído por todos os alunos regularmente matriculados no Curso de Pedagogia, turnos diurno e noturno, semestral ou anual. (1987/88).

Para a amostra tomaram-se os 115 alunos do 2.º ano e os 113 e 118 do 3.º ano de 1987/88 respectivamente, que estavam à época da aplicação do instrumento, freqüentando o Curso de Pedagogia anual, tanto os do período diurno, como os do noturno.

Considerou-se como amostra específica para avaliação do rendimento escolar na disciplina somente os alunos que participaram do programa piloto de CMA, ou seja, os alunos de 30 ano de Pedagogia, integrantes das turmas A e B do período diurno; C e CD do noturno de 1987 e 1988, respectivamente.

2. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Em um primeiro momento, pretende-se demonstrar o desempenho dos alunos das diferentes turmas dos 3.ºs anos de Pedagogia, submetidos ao programa da disciplina CMA.

Em um segundo momento, pretende-se apresentar a interpretação e análise dos dados coletados pelo instrumento relativo às expectativas e percepções dos alunos de 2.º e 3.ºs anos de Pedagogia, respectivamente, em relação a sua formação e ao seu futuro desempenho profissional.

2.1 Rendimento dos alunos na disciplina

Para se verificar o desempenho dos alunos na disciplina tomou-se por base os resultados expressos em notas e percentuais de avaliações e reavaliações (testes, trabalhos de pesquisa, trabalhos de grupo, seminários e outros) realizadas ao longo dos anos de 1987-88.

O rendimento dos alunos de 3.º ano/87, principalmente entre as turmas A e C são bastante próximos, conforme se verifica na tabela à página seguinte:

Tabela 1

Verfica-se que mais da metade (64,5%) dos alunos da turma A, alcançou rendimento entre 7,0 e 7,9, seguido de 22,6% de alunos que atingiram notas entre 8,0 e 8,9.

Na turma B, 43,6% dos alunos alcançaram notas entre 8,0 e 8,9, e em segundo lugar, 41,0% dos alunos situam-se entre 7,0 e 7,9.

A turma C, apesar das características específicas do curso noturno e muito numerosa, apresentou resultados próximos aos da turma A, (período diurno) concentrando 72,1% dos alunos entre as notas 7,0 e 7,9.

No total geral, observa-se que 59,3% dos alunos concentram-se na faixa de 7,0 e 7,9 o que lhe garantiu aprovaçõ por médio, de acordo com as normas da UFPR. Em segundo lugar, encontram-se 26,5% dos alunos que atingiram médias entre 8,0 e 8,9. As notas acima de 9,0 foram alcançadas por um pequeno porcentual.

O rendimento dos alunos do 3º ano de 1988 apresentou melhores índices como se pode verificar na tabela 02.

Naturalmente contou-se com alguns fatores favoráveis, tais como: maior experiência dos professores em relação à prgramação e adequação metodológica, maior contato do professor com os alunos, o que permitiu sentir e sanar imediatamente as dificuldades, redução do número de avaliações e trabalho integrado dos fundamentos teóricos da alfabetização.

Verifica-se qie mais de metade (54,1%) dos alunos da truma A, alcançou rendimento entre 8,0 e 8,9, seguido de 32,4% de alunos que atingiram notas entre 7,0 e 7,9.

Na turma B, 44,5% dos alunos alcançaram notas entre 8,0 e 8,9 e em segundo lugar, 27,8% dos alunos situam-se entre 9,0 e 9,9.

A turma CD, apesar das características específicas do curso noturno e mais numerosa devido ao agrupamento dos alunos, apresentou resultados semelhantes aos das turmas do período diurno: CD com 51,1% entre 8,0 e 8,9.

Deve-se salientar que nesse ano (1988) verificou-se notas máxima em todas as turmas na seguinte ordem: CD com 17,8%; B com 8,3% e A com 5,4%.

No total geral, observa-se que 50% dos alunos concentram-se na faixa de 8,0 e 8,9. Em segundo lugar, encontram-se 23,7% dos sujeitos entre 7,0 e 7,9. Porém, se forem considerados no conjunto os alunos com nota igual ou superior a 9,0, obtem-se um percentual maior nesta faixa, do que na correspondente às notas 7,0 e 7,9. De qualquer forma todos foram aprovados por média.

Apesar dos esforços dos professores no sentido de neutralizar as variáveis parasitas intervenientes de 1987 (trocas de professores no início do período, greve com interrupção de aulas, transposição de parte do programa de 1.º para o 2.º período) ainda permaneceu, em 1988, aquela relacionada à carga horária insuficiente.

Apesar dessa limitação, contudo, pode-se concluir que o programa desenvolvido na disciplina de CMA foi satisfatório, tendo em vista os resultados alcançados pelos alunos nos anos de 1987/88.

Porém deve ficar claro que estes resultados (rendimento expresso em notas e percentuais) não garantem a assimilação do novo conhecimento.

Para tal assimilação seria necessário um tempo, pois o novo sempre implica a mudança de "esquemas assimiladores relativos ao objeto do conhecimento - a língua escrita - e à concepção do processo de aprendizagem das crianças". (FERREIRO, 1990:2) e também dos adultos.

Esse tempo de assimilação do professor é um processo lento, às vezes leva muitos anos. No entanto, deve-se respeitar esse tempo para que ocorra a aprendizagem.** ** A esse respeito consultar a teoria de aprendizagem significativa de Ausubel (MOREIRA & MASINI, 1982).

2.2 A Formação do Professor Alfabetizador: Expectativa x Percepção

No sentido de verificar a expectativa dos alunos de 2.º ano - 87 e a percepção dos de 3.ºs anos 87-88, quanto ao programa da disciplina, em relação à sua formação como professor alfabetizador, tentou-se levantar o que eles trouxeram de conhecimento específico e o que a disciplina lhes proporcionou. Para tal, aplicou-se um instrumento constituído por 28 itens (questões abertas e fechadas), do qual foram selecionados alguns itens que respondessem a essas indagações.

Surpreendentemente, embora mais de 50% dos alunos tivessem passado pela formação para o magistério, a nível de 2.º grau - Escola Normal ou Magistério (item 6, instrumento anexo) a sua grande expectativa era em relação à alfabetização, pois cerca de 80% deles (78,4% - 2.º ano; 88,2% - 3.º/87 e 89,1% - 3.º/88) declararam-se sem condições de alfabetizar. (item 10).

Este assertiva leva a algumas reflexões: provavelmente, esses egressos não se sentem em condições de alfabetizar porque reconhecem que lhes falta um referencial teórico que lhes dê suporte para esse empreendimento. Talvez, tenham constatado que o conhecimento dos processos de alfabetização, ou as "receitas" não garantem sucesso na difícil tarefa de alfabetizar.

De qualquer maneira, é importante que reconheçam a própria fragilidade de seus conhecimentos teóricos e se proponham a um estudo sério e reflexivo, para enfrentar um trabalho de tal monta.

O quadro fica mais agravado diante da constatação de que um percentual significativo da amostra (39,5% - 2.º/87; 53,7% - 3.º/87 e 40,0% - 3.º/88) já teve experiência profissional como alfabetizador, embora essa opção tivesse sido imposta pelas escolas (itens 7 e 7.1).

A esse respeito a pesquisa de PEREIRA (1984), procurou respostas às seguintes indagações: "Por que você é alfabetizadora? Em que a sua formação para o magistério contribuiu para o trabalho de alfabetização que você realiza? Onde e como aprendeu a alfabetizar?"

Tudo indica que o professor aprendeu a ser professor no seu local de trabalho, na escola, especialmente na sala de aula. Nesse espaço tardio em relação ao período de formação, é que verdadeiramente, mas de modo assistemático, ele completerá o seu currículo.

Os alunos sentem essa deficiência na sua formação de 2.º grau, visto que consideram a inexistência da disciplina de alfabetização ou de uma disciplina afim, como a mais grave falha no seu currículo. Por isso, viram com bons olhos a implantação da disciplina CMA no Curso de Pedagogia, pois ela é "necessária, essencial e indispensável à formação não só do alfabetizador, como do pedagogo e do educador", afirmaram alguns. (item 11).

A questão básica para se obter uma boa formação, na visão dos futuros profissionais foi verificada pela análise dos dados relativos aos sete tópicos do conteúdo da disciplina. (item 13).

Em relação ao processo de formação do professor foram analisados aspectos essenciais a esse processo relativos às questões de conteúdo, expresso pela carga horária atribuída a cada tópico e pelo grau de especialização dos responsáveis.

Na seleção e organização dos conteúdos provolegiou-se, com 50% da carga horária total, os fundamentos teóricos da alfabetização: psicológicos, sociológicos e lingüísticos.

Na execução da proposta, em 1987, houve em alguns momentosa participação de especialistas de outros departamentos, setores e da Pós-Graduação em Educação e Lingüística, no sentido de garantir maior eficiência aos aspectos teóricos da alfabetização.

Os alunos do 2.º ano demonstraram grandes expectativas em relação aos conteúdos para formação do professor alfabetizador, conforme se verifica na tabela abaixo:

Tabela 3

Em relação aos alunos de 3.º ano, os resultados podem ser observados na tabela à página seguinte.

Tabela 4

Os conteúdos com baixo percentual (68,0%, 72,0% e 74,0%) serviram de referência para reflexão e tomada de decisão para o ano seguinte.

Quanto à percepção dos alunos de 3.º ano/88, os resultados estão expressos na tabela abaixo.

Para análise da Tabela 05, verfica-se que há homogeneidade em todos os conteúdos. Dos fundamentos teóricos da alfabetização, o cognitivismo de Ausubel aparece com 81,4% e os aspectos psicológicos com 89,7% sendo os percentuais mínimo e máximo, respectivamente.

A formação interferiu, significativamente, nos resultados desses alunos, uma vez que eles determinaram que os conteúdos abordados foram suficientes para preparar os futuros professores em alfabetização.

Da análise dos tópicos dos conteúdos conclui-se que:

Os alunso dos 3.ºs anos de 1987-88 comparados entre si e também com os alunos de 2.º ano de 1987 confirmaram a propriedade destes conteúdos e a conseqüente eficiência do programa piloto para a formação do professor alfabetizador.

2.3 O Desempenho Profissional: Expectativa X Percepção

No sentido de verificar a expectativa dos alunos de 2.º ano e a percepção dos de 3.º ano de Pedagogia, quanto ao seu futuro desempenho profissional, em relação ao programa desenvolvido na disciplina CMA foram analisados os itens 25 e 26 do instrumento. (V. anexo). O primeiro, quanto ao desempenho a nível de professor de 2.º grau da disciplina de Alfabetização e o segundo, seria um reforço ao Curso de Magistério, pois indagava do desempenho como professor alfabetizador, a nível de 1.º grau.

Em termos de profissionalização, mais de 50% dos entrevistados já estão inseridos na força de trabalho. Dentre esses, muitos (62,9% - 2.º/87; 76,3% - 3.º/87 e 63,9% - 3.º/88) atuam em escola de 1.º grau e muitos alunos de 2.º e 3.ºs anos já tiveram experiência em classe de alfabetização, como se viu no tópico anterior, sem ter recebido, conforme informaram, a devida preparação. Tal preparo ocorreu na prática, segundo os informantes, e comprovado na pesquisa de PERREIRA (1984: 142).

Daí, a grande expectativa dos alunos de Pedagogia, em relação à disciplina CMA.

Os alunos de 2º ano, segundo a Tabela 06, apresentaram alta expectativa em relação ao seu futuro desempenho profissional a nível de 2º grau.

Tais afirmativas dos alunos se baseiam no conteúdo programático da disciplina que, segundo as declarações "está completo", "engloba aspectos abrangentes, gerais e necessários à formação do professor alfabetizador, porque dá um bom embassamento teórico, apesar de não haver prática". "Nós e que devemos aprofundar durante a vida inteira".

Os alunos de 3.º ano/87 de Pedagogia não se mostraram tão otimistas quanto ao seu fututo desempenho profissional, como se observa na tabela 07. Apresentaram como justificativas a "pouca ou flata de prática", a "necessidade de maior aprofundamento dos conteúdos" e a "pouca carga horária".

Igualmente, os alunos do 3.º ano/88 também não se mostraram tão otimistas quanto ao seu futuro desempenho profissional, conforme se verifica na tabela a seguir.

Tabela 8

A rigor, podem-se reduzir a três questões bádicas as justificativas das três turmas de 1988 para a não validação do programa da disciplina CMA: tempo, conteúdo (embassamento teórico) e prática.

Este tempo refere-se a exigüidade da carga horária da disciplina, insuficiente para trabalhar e aprofundar adequadamente os conteúdos propostos. Mas também está intimamente ligado à questão do tempo de assimilação para que o aluno posso adotar a nova concepção proposta. Faltando-lhe este tempo, surge a insegurança e o receio de não conseguir atuar coerentemente com os novos princípios teóricos e fracassar em seu trabalho profissional.

O conteúdo foi estruturado tendo em vista as experiências positivas acumuladas e o êxito no emprego do conhecimento psicogenético, como capaz de reverter a situação da alfabetização, já comprovado em muitos países, além da América Latina.

Deve-se salientar que esta disciplina é de caráter teórico. A prática deverá ser feita em disciplina específica, ou seja, Prática de Ensino de 1.º e 2.º graus, em um trabalho conjunto dos professores. No entanto, este assunto pode e deve ser discutido com os professores destas duas disciplinas, a fim de sanar ou minimizar tal deficiência.

Ressalte-se que tentativas foram feitas nesse sentido: "Observação da prática pedagógica do professor alfabetizador em escola da comunidade" e discussão dessa prática, face aos métodos estudados "criticamente" e a prática feita pelos alunos, no sentido de comprovar os dados levantados nas pesquisas de FERREIRO & TEBEROSKI (1986), com crianças da comunidade de Curitiba.

Portanto, a expectativa dos alunos de 2.º ano de 1987 não correspondeu à percepção dos mesmos, quando egressos do 3.º ano, em 1988.

A grande diferença entre as turmas indica que a disciplina ainda não prepara, convenientemente, os alunos para o exercício profissional. Esta constatação pode ser explicada pela natureza e pelas características das próprias turmas, acrescidas de um conjunto de variáveis como: o consenso de diversos especialistas com abordagens metodológicas diferenciadas e a falta de tempo para a integração das novas propostas.

Assim se justifica, em parte, a imagem negativa da disciplina para a formação completa dos profissionais, embora as médias dos percentuais dos rendimentos nos conteúdos trabalhados nos anos de 1987-88, indicassem um bom aproveitamento.

Pela comparação dos resultados dos dois 3.ºs anos (1987-88) verifica-se que não houve diferença significativa entre ambos, isto é, os resultados foram semelhantes. Isto quer dizer que, assim como o programa não foi eficiente na percepção dos egressos de 1987, também não foi na dos de 1988.

Em resumo, verificou-se que a disciplina ministrada apresentou características reais inferiores à pretensão (expectativa) desses alunos.

Portanto, é perfeitamente natural e compreensível a insegurança dos alunos para enfrentar o trabalho com adolescentes, diante das novidades no embassamento teórico. Porém, pela análise de outros itens, o que esses egressos necessitam é de um aprofundamento nos conteúdos trabalhados, a partir das fontes indicadas e tempo adequado à assimilação dos conhecimentos, reflexão e reelaboração para que possam administrar o seu processo de mudanças.

Os alunos de Pedagogia precisam entender que a disciplina de CMA não pretende ser um receituário e sim uma reflexão crítica sobre a alfabetização, capaz de encaminhá-los a uma prática mais consciente e desafiadora.

Quanto ao item (nº26) relativo ao desempenho do pedagogo como alfabetizador, os alunos do 2.º ano, segundo a Tabela 09, acreditam no seu futuro desempenho como alfabetizadores, a partir dos ensinamentos que receberão na disciplina de CMA.

Em relação ao 3.º ano/87 pela tabela abaixo, apenas a turma A invalidou o programa da disciplina. As outras duas validaram-no com baixo percentual. No geral foi validado, porém com apenas 51,0%.

Tabela 10

Como justificativa para tal procedimento apareceram expressões como: "faltou prática" ou "observação em classe", "mais embassamento teórico e metodológico ligado à prática" e "falta de tempo".

A Tabela 11 seguinte expressa a percepção dos alunos de 3.º ano de 1988 em relação ao seu preparo como alfabetizador.

Apesar dos dados pouco animadores, no geral, o 3.º ano/88 apresentou 45,6% de respostas afirmativas contra 43,5% de negativas. O não preparo ao desempenho profissional está ligado a falta de "tempo para maior embassamento, mais aprofundamento e aperfeiçoamento que garantisse o domínio necessário dos conteúdos estudados", "inexistência de prática", pois só "viver a teoria não é o suficiente", e "não se dá experiência vivida com a criança" e ainda "falta de tempo".

Pela comparação dos resultados do pré e pós-testes dos mesmos sujeitos (2.º/87 e 3.º/88) quanto à formação do pedagogo como alfabetizador, verifica-se que no geral houve diferença significativa. A diferença evidencia que houve superioridade dos dados da expectativa sobre os da percepção e que o programa não capacitou o pedagogo a assumir uma classe de alfabetização a nível de 1.º grau.

Em relação às turmas separadamente, somente a turma B não apresentou diferença significativa, isto é, houve uma aproximação dos percentuais entre expectativa e perepção e que o programa capacitou somente os pedagogos dessa turma (B).

Comparando-se os pós-testes dos alunos de 3.º ano de 1987-88, verifica-se que não houve diferença significativa nas turmas, isoladamente, e nem no geral, quanto à formação do alfabetizador. Em outras palavras, as respostas demonstram a equivalência da percepção de ambos os grupos, já submetidos ao programa piloto de CMA.

A diferença significativa encontrada na comparação dos grupos (2.º x 3.º) era esperada. Explica-se pelas características das próprias turmas, pois os alunos do 2.º ano estavam altamente motivados, esperando o máximo possível da disciplina CMA.

Os 3.ºs anos de 1987-88 já tendo cursado a disciplina, constataram uma realidade modificada face a algumas variáveis intervinientes: especialistas, disciplinas de cunho teórico e falta de prática, carga horária insuficiente, fazendo cair a expectativa em favor de uma concepção mais realística.

Constatando-se diferença entre expectativa e percepção é de se inferir que esses alunos se tenham tornado mais conscientes e conseqüentemente mais exigentes no que se refere ao exercício profissional em alfabetização.

3. CONCLUSÕES

A partir da coleta e interpretação dos resultados do instrumento e dos demais dados, conclui-se que:

- O conteúdo programático proposto para a disciplina CMA corresponde não só às expectativas, como também à percepção dos alunos de 1987-88 em relação à sua formação profissional.

O programa piloto de CMA corresponde às expectativas e à percepção dos egressos da disciplina, (com algumas ressalvas) quanto ao seu futuro desempenho profissional, como professor alfabetizador, mas não corresponde como professor da disciplina de alfabetização, a nível de 2.º grau.

A partir dessas conclusões, deve-se concentra esforços em estudar e investigar o processo de assimilação do professor PALACIO (1990: 8-9) afirma que "o professor tem que primeiro desaprender, para depois voltar a aprender. Temos que saber bem como se desaprende e como se pode voltar a aprender".

Esse caminho ainda está por construir. É o desafio que ainda se tem que assumir na disciplina de CMA.

Clique para ampliar

  • 1. CAMPBELL, D. T. & STANLEY, J. Delineamentos experimentais e quase experimentais de pesquisa São Paulo, EPU: EDUSP, 1979. 138 p.
  • 2. FERREIRO, E. Os filhos do analfabetismo: Propostas para a alfabetização escolar na América Latina. Porto Alegre, Artes Médicas, 1990. 107 p.
  • 3. _______ & TEREBOSKI, A. Psicogênese da língua escrita Porto Alegre, Artes Médicas, 1986. 284 p.
  • 4. MOREIRA, M. A. & MASINI, E. F. S. Aprendizagem significativa; a teoria de David Ausubel. São Paulo, Moraes, 1982. 112 p.
  • 5. PALACIO, M. G. In: FERREIRO, E. Os filhos do analfabetismo: Propostas para a alfabetização escolar na América Latina. Porto Alegre, Artes Médicas, 1990. 107 p.
  • 6. PEREIRA, D. B. G. A qualificação do Professor Alfabetizador e o fracasso escolar - um estudo de caso Curitiba, 1984. 198 p. (Dissertação de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Paraná
  • *
    CONVENÇÃO
    G = Grupo
    X = Programa Piloto CMA
    01 = Pré-teste
    02 = Pós-teste
  • **
    A esse respeito consultar a teoria de aprendizagem significativa de Ausubel (MOREIRA & MASINI, 1982).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Mar 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 1989
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