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Editorial

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É com satisfação que vimos apresentar o número 84 da revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, o terceiro do ano de 2014. O número ora apresentado traz 10 artigos, buscando sempre dar conta da diversidade tão característica do nosso país. Busca também manter e consolidar o diálogo com profissionais de educação de universidades estrangeiras, principalmente latino-americanas, que servem como um bom parâmetro para avaliarmos o nosso sistema educacional e, assim, melhorá-lo.

O primeiro artigo deste número traz uma contribuição internacional. De autoria dos portugueses A. M Rochete, Helena Arcanjo Martins e António Gomes Ferreira, tem como título "As cartas educativas municipais e o reordenamento da rede escolar no Centro de Portugal: das condições demográficas às decisões políticas." No artigo em questão, os autores analisam a Carta Educativa que, desde 2005, funciona como instrumento para legitimar o planejamento estratégico das redes educativas municipais. Como principal efeito do dito instrumento, os autores identificam o fim de inúmeras escolas de ensino primário. Em contrapartida, verificou-se a construção de centenas de Centros Escolares. Nesse sentido, baseia-se em investigação com alguns municípios na região central de Portugal, buscando identificar e analisar as principais tendências do reordenamento provocado pelas Cartas Educativas. Tal investigação gerou uma interpretação que levou em conta como todo o processo foi encarado e planejado. Assim, a passagem de um planejamento centralizador para um estratégico possibilitou o reordenamento da rede escolar, com novas lógicas que se traduziram em diferentes respostas dos munícipios envolvidos na investigação.

A seguir, Márcio Rodrigo de Araújo Souza e Monique Menezes, ambos com raízes na Universidade Federal do Piauí, brindam-nos com uma contribuição sobre o PROUNI, o Programa Universidade para Todos, criado pelo governo federal, em 2004. Já no título propõem instigantes questões: quem ganha o quê, como e quando? É, portanto, a partir destes questionamentos que os autores desenvolvem sua análise. Ao utilizarem o arcabouço teórico de Lasswell, procuram justamente entender a dinâmica da política pública, isto é: quais são os atores sociais que ganham com essa política, o que ganham e como. Neste sentido, desenvolvem a hipótese de que as instituições de ensino superior privadas passaram, de certa forma, a pressionar o governo, objetivando o acesso aos recursos do programa. Na esteira desta hipótese, os autores buscam lançar luz sobre os critérios de acesso, os tipos de bolsa, as exigências em termos de qualidade de ensino, bem como os mecanismos de controle criados pelas instituições para acompanhar a implementação da política. Como conclusão, demonstram como as instituições privadas lograram êxito em influenciar as decisões do governo federal.

O terceiro artigo que compõe este número também aborda o Ensino Superior. Produzido por Maria Beatriz Luce, Caterine Vila Fagundes – ambas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – em parceria com o espanhol Sebastián Rodriguez Espinar tem como título "O Desempenho Acadêmico como Indicador de Qualidade da Transição Ensino Médio-Educação Superior". O artigo contempla todas as fases percorridas pela pesquisa. Os autores demonstram domínio do arcabouço teórico com qual estão trabalhando, deixando isto claro para o leitor. Deve-se destacar também que o artigo em questão é um meio de divulgação, além de um exemplo da aplicação da teoria da transição acadêmica desenvolvida na Universidade de Barcelona à realidade brasileira, no caso a UFRGS. Fica claro ao longo da leitura do mesmo, que o tema em questão é extremamente importante e carece de mais pesquisas, pesquisas estas capazes de produzir dados e conhecimento que viabilizem a construção de políticas públicas visando melhorar não só o ensino superior, mas também a educação básica.

A educação básica é o assunto do quarto artigo deste número. Sob o título "Índice socioeconômico das escolas de Educação Básica Brasileiras" é resultado de pesquisa realizada por um grupo de professores da Universidade Federal de Minas Gerais liderado pelo professor José Francisco Soares. Os dados apresentados no trabalho são provenientes de questionários contextuais aos quais os alunos responderam nas avaliações educacionais feitas pelo governo federal. Assim, foram consideradas válidas algumas milhares de respostas de alunos que foram inseridas em 21 bases de dados. Nesse sentido, para estimar o índice, foi empregado um modelo de Teoria de Resposta ao Item. A pesquisa chegou a resultados bastante fidedignos, como poderá ser comprovado pela leitura atenta do artigo.

"Nem tudo que reluz é ouro: um caso de mudança curricular no ensino médio" é o título do quinto artigo da Ensaio 84. Janete Palazzo, Gabriela Sousa Rêgo Pimentel e Cândido Alberto Gomes, autores do artigo em questão, privilegiam em sua análise a forma como o ensino da língua espanhola foi inserido no currículo do ensino médio brasileiro, bem como o perfil do professor. A pesquisa levou os autores a concluírem, justamente, que "nem tudo que reluz é ouro". Isto é, apesar de ter-se tornado disciplina obrigatória, grande parte das escolas não têm condições de oferecê-la, posto que não existe ainda um número satisfatório de docentes preparados para a tal função. Mais grave ainda, segundo os autores, é o fato de que tal mudança curricular torna evidente que nem sempre é possível pôr em prática a teoria. No caso do ensino de língua espanhola, um exemplo claro de tentativa de adequar o currículo escolar brasileiro aos novos equilíbrios geopolíticos não logrou o sucesso esperado.

O ensino superior volta a ser o tema principal do sexto artigo que compõe este número. Desta feita, Kaizô Iwakami Beltrão e Mônica Mandarino, em artigo intitulado "Evidências do ENADE – mudanças no perfil do matemático graduado", utilizam dados do INEP e do IBGE para fazer um diagnóstico da forma como a oferta de cursos evoluiu, traçar o perfil dos futuros matemáticos, bem como a sua colocação no mercado de trabalho. Outra fonte fundamental para os autores foi o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes do Ensino Superior, o ENADE, do período de 2004 a 2011.

A seguir Marilene Zampiri e Ângelo Souza evidenciam logo no título de seu artigo o seu objetivo principal. Denominado "O direito ao Ensino Fundamental em uma leitura dos resultados do IDEB e da política educacional em Curitiba-PR, o trabalho busca discutir o papel desempenhado pelo Estado Brasileiro na garantia do direito à educação. Para tanto, fazem uso do arcabouço teórico Max Weber e Pierre Bourdieu, além de recorrerem aos dados do IDEB, de modo a demonstrar como o ensino fundamental não é priorizado pelo poder público brasileiro.

A oitava contribuição para este número da revista Ensaio vem do Rio de Janeiro e é de autoria de Jair Cláudio Franco de Araújo e Lígia Leite. Com o título "Avaliação da Política de apoio ao estudante desenvolvida pela UNIRIO: o projeto de bolsa permanência. No artigo em questão, os autores buscam avaliar uma modalidade de auxílio concedido pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro aos estudantes de baixa renda, a chamada bolsa permanência. A pesquisa foi desenvolvida através de aplicação de questionários e de um roteiro de entrevista. Os dados obtidos por estes meios foram analisados através de estatística descritiva. Os resultados identificaram convergências e possíveis divergências entre a visão dos bolsistas e a proposta da administração da universidade. No entanto, apontam para a viabilidade da bolsa permanência atingir os seus propósitos iniciais.

"Avaliação da aprendizagem em tempos de progressão continuada: o que mudou? Um estudo de teses e dissertações sobre o tema (2000-2010)" é título do último artigo deste número. Trabalho fundamentalmente de revisão bibliográfica, nele, Márcia Aparecida Jacomini analisa 22 teses e dissertações produzidas entre 2000 e 2010 cujo tema principal foi a avaliação escolar, especificamente, no regime de progressão continuada. Nesse sentido, a autora identificou pouco diálogo entre os trabalhos o que acarretou também pouco desenvolvimento das pesquisas nessa área específica. Neste sentido, o trabalho ora apresentado tem sua relevância justamente ao mapear essa produção e apontar novos caminhos para o desenvolvimento das pesquisas na área.

Por fim, apresentamos a já tradicional "Página Aberta" que, neste número, ficou a cargo do Professor Cláudio de Moura Castro, e que nos aproxima do interessante sistema educacional sul-coreano. Segundo o renomado Professor, trata-se de um caso de transformação radical que veio acompanhado de um desenvolvimento econômico. Por tudo isso, sugere a instigante questão: Por que não fazemos como a Coreia? Vale a leitura para saber a resposta.

Apresentados os artigos que compõem a Ensaio 84, convidamos o leitor a desfrutar da leitura desejando que o seu conteúdo forneça material para reflexão e desenvolvimento de futuras pesquisas, sempre visando ao objetivo principal da nossa publicação: contribuir de alguma forma para a melhoria do sistema educacional brasileiro.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Set 2014
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