Visibilidade da enfermagem nas mídias impressa e online

Resumos

OBJETIVO:

descrever a cobertura noticiosa da profissão de enfermagem nas mídias portuguesas - sítios informativos da Internet e imprensa escrita.

MÉTODOS:

foram colhidas 1.271 notícias de saúde nos meses de setembro e outubro de 2011 (956 notícias online e 325 provenientes da resenha de imprensa da Ordem dos Enfermeiros Portugueses) e recorreu-se à análise estatística para caracterizar as variáveis definidas.

RESULTADOS:

os enfermeiros constituíram-se como fontes de informação em 6,6% dos casos, o que sugere baixa visibilidade mediática. As notícias de saúde colhidas são caracterizadas por produção noticiosa baseada em fontes de informação pouco variadas, oficiais e de gênero masculino, em informação divulgada por agências noticiosas e focada em questões econômicas e políticas da saúde.

CONCLUSãO:

a presença dos enfermeiros nas notícias de saúde é reduzida. Sugere-se que esses desenvolvam competências de comunicação pública, que visem a divulgação da importância da profissão para a sociedade e a relação com as mídias.

Enfermagem; Notícias; Internet

OBJECTIVE:

to describe the coverage of news concerning the nursing profession in the Portuguese media: informative sites on the Internet and in print media.

METHOD:

a total of 1,271 health news items were collected in September and October of 2011 (956 online news items and 325 news items originating from the press review of the Portuguese Order of Nurses). Statistical analysis was used to characterize the variables.

RESULTS:

nurses were the sources of information in 6.6% of cases, suggesting limited media exposure. The health news collected is characterized by a production based on limited information sources, that is, male and official sources, on information disseminated by news agencies focused on economic and political issues in the health field.

CONCLUSION:

the presence of nurses in the news concerning nursing health is reduced. We suggest that nurses develop public communication skills to disseminate the importance of their profession in society and their relationship with the media.

Nursing; News; Internet

OBJETIVO:

describir la cobertura noticiosa de la profesión de enfermería en los medios de comunicación portugueses: a) sitios informativos de la Internet e b) prensa escrita.

MÉTODOS:

fueron recolectadas 1.271 noticias de salud en los meses de Septiembre y Octubre de 2011 (956 noticias online y 325 provenientes de reseñas del periódico de la Orden de los Enfermeros Portugueses); recurrió al análisis estadístico para caracterizar las variables definidas.

RESULTADOS:

los enfermeros se constituyeron en fuentes de información en 6,6% de los casos, lo que sugiere una baja visibilidad mediática. Las noticias de salud recolectadas se caracterizan por una producción noticiosa basada en fuentes de información poco variadas, oficiales y de género masculino; esta información es divulgada por agencias noticiosas y se enfocan en cuestiones económicas y políticas de la salud.

CONCLUSIÓN:

la presencia de los enfermeros en las noticias de salud es reducida. Se sugiere que éstos desarrollen competencias de comunicación pública, que objetive la divulgación de la importancia de la profesión para la sociedad y la relación con los medios de comunicación.

Enfermería; Notícias; Internet

Introdução

Os enfermeiros portugueses representam o maior grupo profissional na área da saúde, sendo responsáveis por prestar cuidados de enfermagem seguros e de qualidade. A importância desses profissionais tem sido reforçada pela produção de evidência científica, que comprova a ligação entre os cuidados de enfermagem e a diminuição das taxas de infecção associada aos cuidados de saúde, de úlceras de pressão, quedas, trombose venosa profunda, e de outros indicadores de morbilidade e mortalidade^{( 1 - 2 )}.

Os cuidados prestados por enfermeiros, no entanto, tendem a se diluir na prestação global de cuidados de saúde, permanecendo quase invisíveis aos olhos da sociedade^{( 3 - 4 )}. Condicionantes históricos, sociais e culturais têm induzido os enfermeiros a não divulgar, adequadamente, o valor dos cuidados prestados, o que se traduz em baixa participação desses profissionais no espaço público (no que concerne a programas de entretenimento, notícias de saúde e debates sobre o sistema e cuidados de saúde). A produção científica revela que a baixa visibilidade da enfermagem não se limita a Portugal, uma vez que em países como Inglaterra, Estados Unidos da América, Espanha e Irlanda essa realidade também se verifica^{( 3 - 5 )}.

A baixa visibilidade tende a acentuar a ambiguidade existente entre a imagem social da enfermagem e o seu desenvolvimento recente. A dificuldade dos enfermeiros em falar em público é evidenciada e os jornalistas aparentam desconhecer a profissão, estabelecendo poucos contatos com os mesmos^{( 6 - 7 )}. Adicionalmente, o desconhecimento e a manutenção de estereótipos sobre os enfermeiros e a enfermagem impedem que a sociedade valorize e reconheça o trabalho desempenhado por esses profissionais. Esse desconhecimento poderá repercutir-se, negativamente, no financiamento da investigação e prática profissional e, consequentemente, na saúde dos cidadãos^{( 7 )}. Reconhecendo essa problemática, vários autores defendem que os enfermeiros devem desenvolver competências de comunicação pública, de forma a afirmar o valor e importância dos cuidados que concebem, investigam e prestam^{( 8 - 9 )}.

A visibilidade dos enfermeiros nos meios de comunicação social, particularmente no domínio da produção de notícias de saúde em Portugal, é objeto de estudo que tem sido alvo de pouca atenção. Alguns autores defendem que o futuro da enfermagem está em perigo se os enfermeiros não forem capazes de se comunicar com a população e que, consequentemente, a saúde das pessoas estará em risco, por falta de cuidados adequados^{( 7 - 10 )}. Uma vez que as notícias de saúde constituem um veículo de informação que pode influenciar as escolhas dos cidadãos em matérias de saúde, torna-se pertinente caracterizar a presença dos enfermeiros nas referidas notícias.

Objetivos

Descrever a cobertura noticiosa da profissão de enfermagem nas mídias portugueses: sítios informativos da Internet e imprensa escrita.

Métodos

Esta investigação, do tipo histórico-documental, compreendeu um estudo descritivo e pretendeu descrever a cobertura noticiosa da enfermagem num passado histórico recente. Realizou-se pesquisa documental, tendo sido utilizadas, como fontes primárias, as notícias de saúde publicadas nas mídias online e na imprensa escrita (por meio da Resenha de Imprensa da Ordem dos Enfermeiros Portugueses - OEP).

A coleta de dados decorreu durante o período de 1 de setembro a 20 de outubro de 2011, em semanas alternadas, num total de 30 dias.

Numa fase inicial, foram selecionados nove meios de comunicação, cujos sites na Internet foram os mais visitados no semestre anterior à coleta de dados. Para além do acesso e da capacidade de armazenamento, que fazem da Internet uma das mídia privilegiadas para coleta de dados, verifica-se que as edições online apresentam muitas semelhanças com as suas versões tradicionais^{( 11 )}.

A contagem fez-se por meio do Netscope, um sistema site centric de medição de acesso à Internet. Os sites de mídia que tiveram mais visitas no semestre visado foram: Jornal Público (jornal nacional com periodicidade diária); Jornal Expresso (jornal nacional com periodicidade semanal); Jornal Destak (jornal diário gratuito); Revista Visão (revista de informação noticiosa, com periodicidade semanal); RTP (Rádio e Televisão de Portugal, canal televisivo, cujo site junta as notícias produzidas pela RTP e RTP-Notícias); TVI 24 (Televisão Independente, canal televisivo, cujo site congrega as notícias da TVI e TVI 24); SIC On-line (Sociedade Independente de Comunicação, canal televisivo cujo site junta as notícias produzidas pela SIC e SIC Notícias); Rádio Renascença e TSF (Telefonia sem Fios, sendo esses últimos rádios de base informativa). Depois de selecionadas as mídias, foram recolhidas todas as notícias cujo tema estivesse relacionado à saúde, em formato escrito. Devido a restrições temporais e metodológicas, não foram incluídas as notícias em formato áudio e vídeo.

O referencial teórico desta investigação decorreu do trabalho de experts na área^{( 12 - 13 )}. As variáveis das notícias de saúde online foram definidas com base nesse trabalho e num método de triangulação com um painel de peritos, obtendo-se as seguintes: tema (que motivou a publicação da notícia); gênero jornalístico (notícia, entrevista, reportagem e notícia breve); profissão da fonte de informação; gênero da fonte de informação e assinatura/autoria (profissional ou instituição/organização que assina como autor do artigo). Definiram-se, também, as variáveis das notícias sobre enfermagem online: tipo de mídia (onde foi publicado o artigo); secção de informação (na qual foi publicado o artigo); tema; gênero jornalístico; gênero da fonte de informação; assinatura/autoria (profissional ou instituição/organização que assina como autor do artigo); número de fontes por notícia (de enfermagem) e número de notícias (de enfermagem, publicadas por dia, expressa em notícias/dia).

Uma vez que em Portugal nem toda a população tem acesso à Internet e que mais de 70% dos portugueses leem jornais ou revistas^{( 14 )}, considerou-se importante alargar o espectro da investigação. Em consonância, um estudo realizado pelo Observatório da Comunicação refere que a percentagem de leitores de jornais online é significativamente reduzida, quando comparada com a percentagem de leitores dos formatos impressos^{( 15 )}. Desse modo, definiu-se e aplicou-se uma segunda estratégia de pesquisa que garantisse representatividade das notícias de enfermagem que são publicadas na imprensa escrita. Essas foram obtidas por meio da resenha de imprensa da OEP, disponível no site da organização.

No mesmo período de tempo em que foram recolhidas as notícias online, consultou-se a resenha de imprensa, disponível no site da OEP (no separador Informação - Resenha de Imprensa). A resenha de imprensa é obtida por meio dos artigos disponibilizados pela empresa de clipping (imagem digitalizada do segmento de imprensa em questão). Depois de recebidos, os artigos são triados e organizados pelo Gabinete de Comunicação e Imagem (GCI) da OEP. Para efeitos desta investigação, foram apenas selecionados os artigos associados à expressão "Ordem dos Enfermeiros Portugueses".

Nesse âmbito, foi definido um conjunto de variáveis passíveis de caracterizar essas notícias de saúde: tema; tipo de comunicação; número de fontes e número de notícias. À semelhança das notícias online, a escolha baseou-se na literatura consultada e teve por base o processo de triangulação descrito anteriormente. Foram consideradas as variáveis definidas pela própria empresa de clipping: tipo de mídia e âmbito da publicação.

Os dados foram tratados no programa informático IBM-SPSS Statistics (Statistical Package for Social Sciences), versão 19. Por meio desse programa, foi possível gerar duas bases de dados (correspondentes às duas estratégias de pesquisa), nas quais se introduziram todas as variáveis previamente descritas, assim como os dados relativos a cada notícia de saúde.

Uma vez que esta investigação se baseou na análise de notícias de saúde, as considerações éticas que envolvem o estudo de seres humanos não estão colocadas em causa.

Resultados

Foram recolhidas 946 notícias de saúde online. Dessas, 57,3% (n=542) abordaram as questões da "Política, Gestão e Economia da Saúde", 18,4% (n=174) incidiram na "Investigação e Pesquisa Científica" e 8,9% (n=84) em questões de "Saúde Pública". Os temas menos referidos foram "Prática Profissional" (7,6%, n=72), "Outros" (temas isolados que representam 3,5%, n=33), "Profissão" (2,4%, n=23), "Educação" (1,6%, n=15) e "Qualidade" (0,3%, n=3).

Os médicos (22,5%, n=229) e os políticos (21,3%, n=217) constituíram as principais fontes de informação das notícias de saúde online, como se pode observar na Tabela 1. Os enfermeiros ocuparam o sexto lugar como fontes dominantes de informação, com 6,6% das referências (n=67). Foram criadas as categorias "outro profissional da saúde" e "outro profissional que não da saúde", de forma a agrupar profissões com pouca expressão nas notícias de saúde. Algumas notícias de saúde tiveram mais do que uma profissão como fonte de informação, pelo que o total de citações de profissionais (n=1.017) é superior ao das notícias de saúde (n=946).

Tabela 1
Distribuição absoluta e percentual da profissão da fonte dominante de informação das notícias online. Coimbra, Portugal, 2012

Profissão da fonte de informação	n	%
Médico	229	22,5
Político	217	21,3
Não há profissão referida	193	19,0
Investigador	94	9,2
Gestor/administrador	85	8,4
Enfermeiro	67	6,6
Farmacêutico	51	5,0
Outro profissional que não da saúde	44	4,3
Outro profissional de saúde	32	3,2
Jornalista	5	0,5
Total	1.017	100

No que diz respeito ao gênero das fontes de informação, observou-se que mais de metade dessas era do sexo masculino (60%, n=562). As mulheres foram referidas em 13% das notícias isoladamente (n=126) e 3% das vezes em conjunto com os homens (n=31). O gênero jornalístico mais frequente foi a notícia (67,9%, n=642), seguida da breve (notícia que ocupa no máximo meia página ou três parágrafos) com 32,1% (n=304). As notícias de saúde online foram assinadas por agências de notícias (em 43% dos casos, n=410), seguindo-se a própria media em que a notícia foi publicada (36%, n=341) e o jornalista que redigiu o artigo (21% dos casos, n=195).

Com relação às notícias online sobre enfermeiros e enfermagem, consideraram-se apenas 61, tendo sido rejeitadas seis notícias (cujas referências à profissão impossibilitaram a descrição pelas variáveis definidas). Dessas, 52,5% foram publicadas nos sites da imprensa escrita (n=32), 39,3% nos da televisão (n=24) e 8,2% nos da rádio (n=5). As notícias sobre enfermagem foram publicadas com maior frequência nas secções "sociedade" (36,1%, n=22), "saúde" (18%, n=11) e "página inicial e última" (16,4%, n=10). Quanto ao tema, observou-se que as notícias de enfermagem incidem, sobretudo, nas questões da "política, gestão e economia da saúde" (65%, n=40), seguindo-se as notícias sobre a profissão (15%, n=9) e sobre investigação com 11% (n=7). O gênero noticioso mais usado é a notícia (65,6%, n=40), seguindo-se a breve com 34,4% (n=21). Em 22 notícias sobre enfermagem (36%) não é possível diferenciar o gênero da fonte de informação, sendo que os jornalistas tendem a basear-se em comunicados de imprensa. Apesar disso, verifica-se que os homens mantêm-se como a principal fonte de informação (33%, n=20), mesmo numa profissão composta maioritariamente por mulheres (26%, n=16). As agências noticiosas constituem as autoras mais frequentes das notícias sobre enfermagem (55,7%, n=34), depois da própria mídia (24,6%, n=15) e dos jornalistas (19,7%, n=12). Observou-se o recurso a um reduzido número de fontes de informação nas notícias de enfermagem, sendo a média de 1,41 fontes por notícia, à qual se associa um dp (desvio-padrão) de 0,64 fontes por notícia. Quanto ao número de notícias publicadas por dia, constatou-se média de 3,59 notícias por dia sobre enfermagem, com um dp de 2,4 notícias por dia.

As 325 notícias sobre enfermagem, recolhidas por meio da resenha de imprensa da OEP (nas mesmas datas que as notícias online), englobam parte das publicações online e da imprensa escrita. Cerca de metade das notícias da resenha foram publicadas em jornais regionais (49,5%, n=161), destacando-se os nacionais (23,7%, n=77), os online (23,7%, n=47) e outras publicações (8,3%, n=27). Com relação ao âmbito de publicação, mais de metade dos artigos sobre enfermagem pertenceu às mídias de âmbito regional (51,1%, n=166), seguindo-se os de informação geral (21,5%, n=70) e os online (18,8%, n=61).

As notícias da resenha de imprensa incidiram com maior frequência nas questões laborais e do mercado de trabalho (19,1%, n=62) e também nos cortes financeiros na saúde (10,8%, n=35). As questões da educação na enfermagem (10,8%, n=35) e educação para a saúde (8,6%, n=28) estiveram também presentes. Metade das comunicações dos enfermeiros consistiu em declarações dos órgãos profissionais e de enfermeiros a título individual (49,5%, n=161). Dessas, a maioria foi efetuada pela OEP e pelos Sindicatos. Seguiram-se as citações breves da profissão/profissional (28,6% dos casos, n=93) e os artigos escritos por enfermeiros.

Ainda nas notícias de enfermagem, obtidas por meio da resenha de imprensa da OEP, observou-se média de 1,46 fontes por notícia com um dp de 0, 86 fontes por notícia, variando essas entre um mínimo de uma a cinco fontes usadas. Com relação ao número de notícias por dia, observou-se média de 10,83 notícias publicadas por dia, com um dp de 6,59 notícias por dia.

Discussão

A literatura evidencia a reduzida visibilidade mediática dos enfermeiros em diversos países (Inglaterra, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália e Turquia) e que o discurso dos enfermeiros nas notícias de saúde é frequentemente relegado para segundo plano ou tornado invisível aos olhos do público^{( 3 , 7 , 9 , 16 )}.

Os achados desta investigação são concordantes com a literatura, na medida em que sugerem a baixa visibilidade mediática dos enfermeiros portugueses. Esses profissionais posicionam-se como a sexta fonte de informação das notícias de saúde (com 6,6% do total de referências, n=67). Em consonância, em estudo publicado em 1999, obtiveram-se conclusões semelhantes, evidenciando que os enfermeiros foram citados em apenas 4% dos artigos de saúde (sendo-o apenas em 1% no caso específico das revistas e das publicações de indústria)^{( 12 )}. A investigação que compreendeu a análise de 2.781 artigos da imprensa escrita portuguesa, entre 1990 e 2004, revelou que os enfermeiros surgiram em 4,4% dos títulos (em 1,7% de forma personalizada) e que foram fontes de informação em apenas 1,1% dos artigos de saúde^{( 17 )}. Por último, reforçando os achados previamente referidos, investigações realizadas sobre fontes de informação em saúde evidenciaram que os jornalistas manifestam desinteresse pelos enfermeiros e que esses quase nunca são citados individualmente ou como organização^{( 13 , 18 - 19 )}.

O presente estudo sugere o médico como o principal informador de notícias de saúde (com 22,5% das referências, n=229), achado esse semelhante aos de um estudo que analisou quatro jornais espanhóis, em 2008. A autora revelou que as fontes mais citadas nos artigos de saúde eram oficiais ou especializadas institucionais, nomeadamente médicos^{( 20 )}.

As mulheres foram citadas 13% das vezes, face a 60% de citações masculinas, dado concordante com um estudo português, no qual os homens eram mais citados que as mulheres^{( 13 )}. Nesse âmbito, diversos autores descrevem a manutenção da hegemonia masculina no discurso das mídias, como explicação para a reduzida participação feminina^{( 13 , 18 )}. O gênero jornalístico mais usado foi a notícia (67,9%, n=642), prática que pode estar condicionada pela fraca evolução das mídias informativos portugueses da Internet (fraca utilização de hipermídia e aposta em notícias de última hora)^{( 11 )}.

As notícias de enfermagem revelam aspectos similares aos da globalidade de notícias de saúde, em relação à temática, gênero jornalístico, gênero das fontes de informação e autoria das notícias de saúde. A investigação científica é abordada em apenas sete notícias de enfermagem, o que poderá impedir a sociedade de compreender que o exercício profissional se baseia nos resultados de estudos científicos^{( 7 )}.

O gênero jornalístico mais usado nas notícias de enfermagem é a notícia (em 65,6% das vezes, n=40) e os homens mantêm-se como preferidos como fontes de informação. Salienta-se que, apesar do fato de estarem inscritos na OEP 50.841 mulheres e 11.725 homens, são esses últimos os mais citados (33%, n=20) nas notícias online (contra 26% de citações de mulheres, n=16)^{( 21 )}.

As notícias sobre saúde e doença tendem a ser replicadas de agências de comunicação e de órgãos internacionais, ao invés de serem trabalhados pelas mídias que publicam esses artigos^{( 13 )}. O uso de poucas fontes por notícia (média de 1,41) nas notícias de enfermagem sugere pouca profundidade na investigação no decurso do processo noticioso e é reflexo do recurso sistemático a agências noticiosas como fonte de artigos de saúde.

As notícias da resenha de imprensa da OEP agregaram 325 artigos sobre enfermagem, publicados na imprensa escrita regional e nacional, revistas, bem como alguns portais online. A publicação deu-se com maior frequência em jornais regionais (49,5%, n=161) e nacionais (23,7%, n=77), o que poderá ser explicado pelas parcerias criadas entre a OEP e alguns desses jornais. Essas notícias retrataram com maior frequência o mercado de trabalho e as questões laborais da enfermagem (19,1%, n=62), a reação aos cortes financeiros na saúde (10,8%, n=35) e a política de saúde (9,5%, n=31). A maior incidência nessas temáticas poderá estar relacionada ao ambiente sociopolítico da fase de coleta de dados e é condizente com outros estudos, em que os tópicos sobre enfermagem que são mediatizados se focam essencialmente em questões-problema^{( 10 )}.

Cerca de metade das citações sobre enfermagem foram feitas com base em declarações de órgãos profissionais, nomeadamente OEP, sindicatos e escolas de enfermagem, o que é corroborado por estudos que demonstram a preferência dos jornalistas por fontes de informação oficiais e especializadas^{( 13 , 19 )}.

A média de 1,46 fontes/notícia (com um dp de 0,86 fontes/notícia), nos artigos da resenha de imprensa da OEP, representa um valor não muito distante do das notícias online sobre enfermagem. Esses dados sugerem pouca confrontação entre pontos de vista opostos e abrem o questionamento sobre a importância atribuída e tempo disponível dos jornalistas para se dedicarem aos temas que envolvem a profissão.

Apesar do número de notícias de saúde analisadas (1.271), deve-se ter prudência na generalização dos achados, uma vez que essas notícias dizem respeito a um período singular da história portuguesa. Os acontecimentos sociais num dado período representam fatores que em muito influenciam a produção noticiosa e os que foram observados durante a pesquisa poderão ter condicionado esses achados^{( 22 )}.

Conclusão

A cobertura noticiosa da enfermagem em Portugal, em sítios informativos da Internet e na imprensa escrita, sugere baixa visibilidade mediática. Os enfermeiros são pouco citados como fontes de informação, verificando-se a preferência por elementos do gênero masculino, provenientes de instituições oficiais, como a OEP e os sindicatos. Essa investigação comporta limitações que implicam a reflexão crítica dos achados: a triagem efetuada pela OEP antes da publicação da resenha de imprensa, a definição de descritores de pesquisa pouco abrangentes e os condicionantes históricos e sociais ao período de coleta de dados. Novas investigações que incluam outras mídias e que analisem a perceção de profissionais de comunicação social e de enfermeiros sobre a noticiabilidade da enfermagem poderão reforçar esses achados.

O foco nas questões políticas da saúde, em detrimento da investigação e do valor associado aos cuidados de enfermagem, poderá manter o desconhecimento da sociedade sobre o contributo fundamental desses profissionais para a manutenção e melhoria da saúde, prevenção de complicações e redução de custos econômicos.

Os enfermeiros devem quebrar a espiral de silêncio e desenvolver competências comunicacionais com vista à melhoria da sua participação no espaço público. Só assim a sociedade poderá conhecer os avanços da profissão, a sua missão social e os ganhos em saúde que gera e, por conseguinte, potenciar o crescimento de uma disciplina fundamental para o setor da Saúde.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Jan-Feb 2014

Histórico

• Recebido
  18 Fev 2013
• Aceito
  30 Set 2013