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Arte na enfermagem: iniciando um diálogo reflexivo

Art in nursing: initiating a reflexive dialogue

El arte en la enfermería: iniciando un diálogo reflexivo

Resumos

Este artigo tem a intenção de iniciar um diálogo reflexivo sobre a enfermagem como ciência e como arte, contidas nas atividades dos enfermeiros, sejam elas de assistência, pesquisa e ensino. Baseado na ética e arte como forma de exercício do cuidar de enfermagem para a ação humana, este tem como objetivo contribuir para uma reflexão do "saber fazer" profissional de modo contextualizado, integralizado e atual.

Enfermagem; Arte; Ética


This article has the intention of initiating a reflexive dialogue of the nursing, science and art contained in nurses' activities, whether assistance, research and/or teaching. Based on the ethics and art as way of care practice of nursing for the human action, it has the objective of contributing to a reflection of professional practical knowledge in a contextualized, integrated and modern way.

Nursing; Art; Ethics


Este artículo tiene el propósito de iniciar un diálogo reflexivo sobre la enfermería como una ciencia y un arte contenidas en las actividades de los enfermeros, tanto en la asistencia, la investigación y en la educación. Sustentado en la ética y el arte como una forma del ejercicio de la enfermería para la acción humana, este trabajo tiene como objetivo contribuir con una reflexión sobre el "saber quehacer" profesional de manera contextual, integral y actualizada.

Enfermería; Arte; Ètica


REFLEXÃO

Arte na enfermagem: iniciando um diálogo reflexivo

Art in nursing: initiating a reflexive dialogue

El arte en la enfermería: iniciando un diálogo reflexivo

Luzia Wilma Santana da SilvaI; Nazaré Otília NazárioII; Danuzia Santana da SilvaIII; Cleusa Rios MartinsIV

IEnfermeira. Professora Assistente do Departamento de Saúde - Área Fundamentos da Assistência da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB/BA. Mestre em Enfermagem pela UNIRIO/UESB. Doutoranda em Enfermagem e Filosofia PEN/UFSC. Membro do GESPI-PEN/UFSC. Bolsista da CAPES

IIEnfermeira. Professora da UNISUL. Mestre em Enfermagem pela PEN/UFSC. Doutoranda em Enfermagem e Filosofia -PEN/UFSC

IIIEstudante do VI Semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/BA. Membro do Núcleo de Educação Permanente em Saúde Mental - NEPSM

IVEnfermeira. Professora. Doutora em Enfermagem. Prof. Voluntária do Depto de Enfermagem/UFSC. Coordenadora do Grupo de Inventos e Tecnologia de Enfermagem/GIATE

Endereço Endereço: Luzia Wilma Santana da Silva Rua Abílio Procópio Ferreira, 343 45200-000 - Centro - Jequié, BA E-mail: luziawilma@bol.com.br

RESUMO

Este artigo tem a intenção de iniciar um diálogo reflexivo sobre a enfermagem como ciência e como arte, contidas nas atividades dos enfermeiros, sejam elas de assistência, pesquisa e ensino. Baseado na ética e arte como forma de exercício do cuidar de enfermagem para a ação humana, este tem como objetivo contribuir para uma reflexão do "saber fazer" profissional de modo contextualizado, integralizado e atual.

Palavras-chave: Enfermagem. Arte. Ética.

ABSTRACT

This article has the intention of initiating a reflexive dialogue of the nursing, science and art contained in nurses' activities, whether assistance, research and/or teaching. Based on the ethics and art as way of care practice of nursing for the human action, it has the objective of contributing to a reflection of professional practical knowledge in a contextualized, integrated and modern way.

Keywords: Nursing. Art. Ethics.

RESUMEN

Este artículo tiene el propósito de iniciar un diálogo reflexivo sobre la enfermería como una ciencia y un arte contenidas en las actividades de los enfermeros, tanto en la asistencia, la investigación y en la educación. Sustentado en la ética y el arte como una forma del ejercicio de la enfermería para la acción humana, este trabajo tiene como objetivo contribuir con una reflexión sobre el "saber quehacer" profesional de manera contextual, integral y actualizada.

Palabras clave: Enfermería. Arte. Ètica.

INTRODUÇÃO

A busca de produção de conhecimento sobre o cuidado em enfermagem, compreendido como arte e ciência de pessoas que convivem e cuidam de outras, em uma profissão dinâmica, sujeita a transformações permanentes, que continuamente incorpora reflexões sobre novos temas, problemas e ações, uma vez que seu princípio ético é manter ou restaurar a dignidade do corpo em todos os âmbitos da vida.1 Nesta perspectiva, buscamos refletir sobre a Enfermagem enquanto ciência e arte; a primeira, como uma informação organizada e técnica e a segunda, como intuição e criatividade, as quais convergem para a ética.

Arte, por definição, é o ato de utilizar um conjunto de preceitos para a perfeita execução de qualquer coisa, execução prática de uma idéia, ou ainda, "perícia em usar os meios para atingir um resultado."2:667 Uma atividade humana de sensações e/ou sentimentos criativos, um estado de espírito, em geral de caráter estético carregado de experiência íntima e profunda, de criação e/ou renovação contínua. Ainda percebe-se a arte, como possuidora de qualidade transcendental que encanta, seduz, envolve-nos em seu mundo artístico, estético e ético, proporcionando estados de ação e/ou reação, aceitação ou denúncia, alegria e/ou tristeza, mudanças, novos modelos sociais, artísticos e culturais.

Neste sentido, almejamos enxergar mais do que se apresenta a compreensão da palavra ARTE, numa tentativa ousada de ir além de manter ou restaurar a dignidade do corpo, para buscar então entender o sujeito do nosso cuidar a partir de uma perspectiva ética permeada não apenas na Lei ou norma, mas com a expansão verdadeira de pessoa a pessoa e, conseqüentemente, englobando a sociedade como forma de expressão de "Arte". E, nesta compreensão, enxergar o cuidar de enfermagem ao sujeito-cidadão de seu cuidar como ser humano de relações com o mundo que o envolve em todo o contexto biopsicossocial, cultural, espiritual e ecológico, vendo-nos assim como profissionais do cuidado, num processo de relações de cuidados entre humanos, uns com os outros.

No dia-a-dia, procuramos respaldar o cuidado de enfermagem através do respeito ao ser humano na sua dimensionalidade moral, ética, ambiental, cultural, política e econômica. Na intenção de refletir sobre este cuidado há que se considerar que vivemos um processo de globalização que confere uma nova cartografia à cultura e um novo desenho dos continentes, com a eliminação das fronteiras que, ao invés de aproximar os homens, evidenciou os contrastes sociais. Neste retrato da sociedade atual, é necessário que passemos a refletir sobre a perda do sentido moral do indivíduo que relativiza o certo e o errado, o justo e o injusto.3 E, neste sentido, ir "para além da moral estreita do dever - ser, existe um imoralismo dinâmico, que traduz uma profunda exigência ética, cujo único sentido, não nos esqueçamos, é o de viver junto coletivamente [...]. Não se deve esperar a realização da existência em manhãs que cantam, em outros mundos quaisquer ou em profundezas particulares. A sabedoria dos limites que se encontra na massa, ensina que é preciso encontrá-la no presente.4:99

Ao falarmos em moral, estamos buscando a adesão de um consenso para partilha de sentimentos que envolvam o cotidiano do cuidar em Enfermagem, revestindo-se de poder de criação - "Arte", e que chamamos de "ética de sentimentos".

Esta ética, aqui vista como "Arte", "difundida através das técnicas, não anula a sua associação à ciência, pois ao lançar mão de um conjunto de preceitos científicos para o seu desenvolvimento, estaria conferindo ao cuidar uma característica ampla e inconfundível",5:120 no qual o espaço da ética é o espaço do corpo histórico e de liberdade. Nesta perspectiva, apoiamo-nos na ética para "re (criar)" arte e fazermos algumas considerações sobre o cuidar, cuja reflexão abordamos numa ótica da Ética através da "Arte".

O cuidado de enfermagem é histórico, sofrendo, no entanto, mudanças ao longo do tempo. Percebemos um destaque substancial a partir da década de 80, que parece refletir a revalorização de uma prática social, política, ética e estética na sociedade, como se pode observar no número crescente de literatura nacional e internacional sobre o tema.

Desta forma, sentimo-nos confortáveis para dizer que o cuidar em Enfermagem é "Luz e Energia". Luz porque o cuidado tem sido considerado por sua função primordial na sobrevivência de todo ser vivo, especialmente do ser humano, pois tudo que existe e vive precisa de cuidados para continuar a existir e viver.6 Então, "cuidar é e será sempre indispensável, não apenas à vida dos indivíduos, mas à perenidade de todo o grupo social".7:14

Energia, porque na relação de cuidar, a enfermagem se fortalece. Poderíamos dizer ainda que é a energia que corre pelas veias e artérias, impulsionada pelo ritmo cadenciado do coração que alimenta a alma do ser cuidado e do cuidador, fortalecendo-os, na compreensão de que ser é cuidar, e nas várias formas de estar no mundo, que são diferentes formas de cuidado.8 Assim, o cuidar é energia que alimenta e também mantém o ser humano vivo, uma vez que é mais que um ato, é uma atitude, um momento de atenção, zelo e desvelo, ou seja, uma atitude de ocupação, preocupação, de envolvimento afetivo, que pertence à atitude do cuidado, que está na raiz do ser humano, por ser ele próprio, cuidado singular, na sua essência do existir.9

O cuidar em Enfermagem envolve a cordialidade consigo e com o outro, envolve o enxergar com o coração, envolve o tocar a natureza (homem) em toda a sua essência e plenitude, transcender e plasmar.

Também é possível afirmar que cuidar implica em intimidade, em acolhimento, em respeito e segurança. É estar em sintonia com o outro, afinando-se com ele. Cuidar envolve ainda a compreensão de dois significados básicos colhidos da filologia que confirmam que o cuidado é mais do que um ato singular ou uma virtude ao lado de outras. É um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura e se realiza no mundo com outros.9

Ainda, o cuidado envolve o enxergar a terra no contexto do universo. Na enfermagem, este cuidado é arte que emana do ser e envolve a relação no contexto holístico, do qual a enfermagem vem se utilizando em seus discursos, não como o significado da soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una e diversa, em suas partes, articuladas dentro da totalidade, constituindo-a.3

Sendo assim, uma forma de existir e co-existir, de estar presente, de relacionar-se com todas as coisas do mundo, cuidando e se cuidando. O cuidado, então, guarda íntima relação com nossas experiências de ser cuidado e de cuidar, envolve todos os sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar e percepção), mantendo-os em alerta e vigília para não permitir que o desenvolvimento de nossa capacidade de cuidar/cuidar-se, ou seja, da relação enfermeira(o)/sujeito do cuidado e da comunhão-interação com o universo de relações de cuidado e ética do cuidar, vá para o "Buraco Negro no Cosmo".

Em outras palavras, que a relação, no cuidado humano, não se desumanize e que, sobretudo, sejam os sujeitos das relações de cuidados vistos e percebidos em seu todo, para além da compreensão da ciência.10 Não que a ciência não tenha o seu lugar para responder a determinados problemas, mas que é preciso uma dialética, uma convivência entre ciência, como modelo de fazer e explicar os fatos, e a arte como modo de expressar significados; não como formas excludentes, mas como formas compatíveis.11

A ciência e a arte são as molduras da ética na enfermagem. Elas enriquecem e embelezam o cuidado, valorizando a essência do "Ser" no contexto da complexidade do existir, em respeito ao principio norteador que a moraliza - a Ética. No entanto, é preciso enxergar/percebendo, escutar/perscrutando e tocar/sentindo o outro em todo o seu contexto bio-psico-socio-cultural-ambiental-espiritual-ecológico e cósmico.12

Cabe assinalar ainda, que este cuidar envolve buscar saber: "quem sou eu? Quem é o cliente/paciente que assisto? Como é o seu ambiente, seu mundo? Onde, com quem e como vive? Compreender as condições que influenciam no processo saúde-doença. Ainda se faz necessário utilizar os sentidos para fazer uma abordagem de qualidade, entre outros, saber comunicar-se, saber tocar, saber ouvir, saber sentir, ter emoção e ser intuitivo. Também ter conhecimento de que o ambiente preparado pela enfermeira poderá ser estimulante, afetivo e desencadeador de bem-estar."12:14

Esta reflexão preliminar reforça-se na medida em que buscamos "olhar, enxergando... o outro dentro de mim; ouvir, escutando... ao outro e a mim mesma; observar, percebendo... o outro e me percebendo na situação; cuidar, cuidando... do outro e de mim mesmo; sentir, enfatizando... para que ambos, cliente e enfermeira (o), sejam fortalecidos durante um Encontro de Enfermagem."10:3

Podemos perceber, assim, que somos seres de relação, compartilhando o estar-no-mundo com o outro, e este compartilhar exige inquietude na busca do conhecimento. Este conhecimento exige, inicialmente, uma introspecção reflexiva sobre o cuidar, que necessita perpassar pelos aspectos da intersubjetividade, interação pessoal, empatia, amar a si e ao outro, responsabilidade, unicidade, integralidade, sensibilidade, satisfação, crescimento pessoal, estética, ética, respeito, carinho...

E, então, desta forma, despertaremos para a solicitude da vida, em que "a arte e a ética não são apenas uma forma de expressão necessária para representar a dimensão interna do indivíduo. (grifo nosso)".11:11 Mas traduz-se como a sensibilidade humana para nos percebermos, percebendo o outro como seres humanos sensíveis.

REFLEXÕES FINAIS

A tradicional visão cartesiana de que apenas a ciência é soberana no entendimento do indivíduo em seu processo saúde-doença contribuiu, sobremaneira, para que a enfermagem priorizasse o cuidado técnico (ciência) em detrimento do humano (arte). Sendo que um dos pretextos que os intelectuais utilizaram para não abordar este assunto tão polêmico, é a afirmação de que ciência e arte se separam, uma apontando para a racionalidades e outra para a criatividade e expressivi-dades do ser humano. Neste sentido, não há estímulo para a criatividade e sim para a improvisação; não há espaço para a integração e sim para as normas. O "fazer com prazer" tornou-se utópico e o alcance da criatividade passou a ser fantástico.11

A arte, então, mais que urgentemente, precisa ser compreendida em sua finalidade, ainda que pesem os valores simbólicos, individuais ou coletivos das diferentes formas, pois nela reside a essência, a imanência e a transcendência do cuidado de enfermagem.

A reflexão realizada até o momento, remete-nos à necessidade de novos questionamentos sobre os temas aqui colocados, a arte e a ciência articuladas para o agir em enfermagem como uma possibilidade de vir-a-ser um cuidado em sua concretude holística e ética.

Artigo original: Reflexão

Recebido em: 15 de agosto de 2004

Aprovação final: 16 de dezembro de 2004

  • 1 Lima MJ de. O que é enfermagem. 2a ed. São Paulo: Brasiliense; 1994.
  • 2 Nascentes A. Dicionário de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Bloch; 1988. Arte; p. 667.
  • 3 Shiratori K, Figueiredo NMA, Porto F, Silva CSI, Teixeira MS. O sentido de ser humano: uma base reflexiva para o cuidado de enfermagem. Rev Enferm UERJ. 2003 Maio-Ago; 11(2): 212-6.
  • 4 Maffesoli M. A conquista do presente. Rio de janeiro: Rocco; 1984.
  • 5 Nascimento MA de L. Da ciência e arte na enfermagem à tecnologia e industrialização. Rev Enferm UERJ.1996 Out; 119-21.
  • 6 Boff L. Ética da vida. Brasília-DF: Letraviva; 1999.
  • 7 Colliére MF. Promover a vida. Lisboa: Sindicato dos Enfermeiros Portugueses; 1989.
  • 8 Heidegger M. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes; 1998.
  • 9 Boff L. A arte de cuidar. Petrópolis: Vozes; 1999.
  • 10 Radünz V. Cuidando e se cuidando: fortalecendo o self do cliente oncológico e o self da enfermeira. 2a ed. Goiânia: AB; 1999.
  • 11 Leopardi MT. Ciência e arte: um diálogo possível. Texto Contexto Enferm.1996 Jan-Jun;5(1): 11-7.
  • 12 Silva LWS da. Cuidando com cuidado da saúde das crianças portadoras de infecção estreptocócica: a importância da consulta de enfermagem [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): UNIRIO/UESB; 1998.
  • Endereço:
    Luzia Wilma Santana da Silva
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Mar 2009
    • Data do Fascículo
      Mar 2005

    Histórico

    • Aceito
      16 Dez 2004
    • Recebido
      15 Ago 2004
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