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Método prático para o cultivo de espécies silvestres do gênero Oryza

Practical method to grow wild species of the genus Oryza

Resumos

É descrito um método simples e prático para o cultivo de plantas das espécies silvestres do gênero Oryza, em vasos com solo orgânico, submersos em "piscinas" com água. Este método proporciona às plantas uma condição similar ao habitat natural da maioria das espécies, favorecendo assim o desenvolvimento e a prolificidade dos genótipos.

Oryza; arroz silvestre


A simple and practical method is described to conduct experiments with wild species of genus Oryza, in pots filled with organic soil submerged in a shallow pool. This method provides a natural habitat, similar to those where the majority of wild rice species are found, favoring their development and prolificacy.

Oryza; wild rice


Método prático para o cultivo de espécies silvestres do gênero Oryza

Edson Ferreira da Silva1; Akihiko Ando2*; Ricardo Montalván3; Augusto Tulmann Neto4

1Pós-Graduando do Depto. de Genética - ESALQ/USP.

2Depto. de Genética - ESALQ/USP, C.P. 83 - CEP: 13400-970 - Piracicaba, SP.

3Depto. de Agronomia - UNIOESTE, C.P. 91 - CEP: 85960-000 - Marechal Cândido Rondon, PR.

4Laboratório de Melhoramento de Plantas - CENA/USP, C.P. 96 - CEP: 13400-970 - Piracicaba, SP.

*e-mail: ando@cena.usp.br

RESUMO: É descrito um método simples e prático para o cultivo de plantas das espécies silvestres do gênero Oryza, em vasos com solo orgânico, submersos em "piscinas" com água. Este método proporciona às plantas uma condição similar ao habitat natural da maioria das espécies, favorecendo assim o desenvolvimento e a prolificidade dos genótipos.

Palavras-chaves: Oryza, arroz silvestre

Practical method to grow wild species of the genus Oryza

ABSTRACT: A simple and practical method is described to conduct experiments with wild species of genus Oryza, in pots filled with organic soil submerged in a shallow pool. This method provides a natural habitat, similar to those where the majority of wild rice species are found, favoring their development and prolificacy.

Key words:Oryza, wild rice

A definição da metodologia a ser utilizada para o cultivo de plantas até a fase reprodutiva é uma das primeiras etapas a serem estabelecidas em projetos que se objetivam realizar cruzamentos e/ou renovação de germoplasmas de espécies exóticas do gênero Oryza. Via de regra, quando não se dispõe de bibliografia que descreve como cultivar plantas de uma determinada espécie exótica em ambiente artificial, o procedimento mais lógico é proporcionar às espécies condições mais próximas possíveis do habitat natural, porém, em alguns casos faltam estas informações devido a dificuldade da realização de observações periódicas da espécie in situ.

O gênero Oryza tem 22 espécies (Vaughan, 1989), sendo duas cultivadas; O. sativa em todo mundo e O. glaberrima em algumas regiões do Oeste da África, e 20 espécies silvestres, das quais quatro ocorrem no Brasil; O. latifolia, O. alta, O. grandiglumis e O. glumaepatula. A distribuição geográfica destas espécies no Brasil é relatada por Oliveira (1994) e Shimamoto et al. (1994). A distribuição do gênero Oryza no mundo é documentada por Vaughan (1994). Todas as espécies deste gênero, principalmente as espécies diplóides de genoma AA, como as cultivadas, têm grande potencialidade para serem aproveitadas em programas de melhoramento do arroz através da introgressão genética, o que ressalta a importância da preservação das mesmas.

Por serem plantas hidrófitas, as espécies do gênero Oryza possuem adaptabilidade a ambientes aquáticos, embora algumas espécies, como por exemplo O. latifolia seja capaz de completar o ciclo em solo úmido ou com inundações temporárias. O plantio em vasos ou em canteiros com irrigações periódicas é a metodologia mais utilizada para o cultivo destas espécies em ambientes artificiais. No entanto, algumas espécies, principalmente as mais adaptadas a ambientes com inundação permanente, não apresentam um desenvolvimento adequado nestas condições, e em conseqüência produzem poucas flores e sementes.

A metodologia proposta consiste no cultivo das plantas em vasos, submersos em "piscinas" de água (Figura 1). A formação da lâmina de água cobrindo os vasos proporciona condição similar ao ambiente natural para a maioria das espécies, favorecendo o desenvolvimento e a prolificidade das plantas, e facilita assim a renovação de germoplasma e/ou realização de cruzamentos, além de eliminar os trabalhos de irrigação periódicas. As "piscinas" podem ser construídas abaixo ou acima do nível do solo, e nas paredes podem ser utilizadas alvenaria, tábua ou os próprios barrancos da escavação quando construídas abaixo do nível do solo. A altura da "piscina" deve ser superior a dos vasos, para que a elevação do nível da água proporcione a formação da lâmina de água sobre os vasos. A impermeabilização da "piscina" pode ser feita utilizando plástico inteiriço dobrado ou duplo. Quando se objetiva assegurar a uniformidade da lâmina de água para todos os tratamento, o fundo da "piscina" deve ser nivelado, e recomenda-se a utilização de vasos com mesmo tamanho e com igual quantidade de terra. As plantas podem ser cultivadas em vasos de barro, alumínio, plástico ou ainda em sacos plástico apropriados. O tamanho do vaso dependerá da capacidade de crescimento e perfilhamento das plantas. As espécies O. latifolia, O. glandiglumis e O. alta podem atingir até 4 m de altura em ambientes artificiais, e portanto, devem ser conduzidas em vasos maiores. A criação de peixes como tilápia (gênero Tilapia) e/ou guaru (gênero Poecilia) na "piscina" evitam a proliferação de algas e mosquitos, tornando desnecessário o esvaziamento periódico das "piscinas".


Esta metodologia está sendo utilizada em casa de vegetação do Departamento de Genética da ESALQ/USP em Piracicaba desde 1994, tendo sido ralizados experimentos com as seguintes espécies: O. glumaepatula, O. latifolia, O. alta, O. glandiglumis, O. pnuctata, O. officinalis, O. rufipogon, O. minuta, O. barthii, e O. granulata, além das duas espécies cultivadas e plantas F1 do cruzamento entre O. sativa e O. glumaepatula. Todas as espécies tiveram bom desenvolvimento e boa prolificidade em vasos com capacidade de 5 a 8 kg de solo. A semeadura foi realizada entre os meses de outubro e novembro e o florescimento ocorreu de fevereiro a maio.

A renovação do solo dos vasos e a poda das plantas no final do ciclo propicia a rebrota, o que possibilita a condução dos genótipos por vários ciclos, tornando favorável o estudo e preservação dos mesmos.

Recebido para publicação em 27.10.98

Aceito para publicação em 28.06.99

  • SHIMAMOTO, Y.; OHARA, M.; AKIMOTO, M. Habitat conditions and plant characters of wild rice in the Central Amazon, In: MORISHIMA, H.; MARTINS, P.S. Investigations of plant genetic resources in the Amazon Basin with the emphasis on the genus Oryza Mishima: MISR, 1994. p.16-37.
  • OLIVEIRA, G.C.X. Observations on wild rice: Geographic distribution of wild Oryza species in Brazil. In: MORISHIMA, H.; MARTINS, P.S. Investigations of plant genetic resources in the Amazon Basin with the emphasis on the genus Oryza Mishima: MISR, 1994. p.10-15.
  • VAUGHAN, D.A. The genus Oryza L. Current status of taxonomy Manila: IRRI, 1989. 21p.
  • VAUGHAN, D.A. The wild relatives of rice Manila: IRRI, 1994. 137p. (Genetic Resources Handbook)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jan 2000
  • Data do Fascículo
    Out 1999

Histórico

  • Aceito
    28 Jun 1999
  • Recebido
    27 Out 1998
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