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TOLERÂNCIA AO ALUMÍNIO E CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS EM POPULAÇÕES HÍBRIDAS DE TRIGO: ESTIMATIVAS DE VARIÂNCIA, HERDABILIDADE E CORRELAÇÕES

TOLERANCE TO ALUMINUM AND AGRONOMIC CHARACTERISTICS IN WHEAT HYBRID POPULATIONS: VARIANCE, HERITABILITY AND CORRELATIONS

Resumos

Visando estimar a herdabilidade em sentido restrito para a tolerância ao Al3+, altura das plantas, comprimento da espiga, comprimento do internódio da raque e produção de grãos, bem como as correlações entre essas características, foram efetuados cruzamentos, em forma dialélica entre os cultivares 'BH-1146', tolerante ao Al3+ e de porte alto; 'IAC-161' e 'Anahuac' ambos de porte semi-anão, com média tolerância e sensibilidade à toxicidade de Al3+, respectivamente. Plântulas representando os pais, as gerações F1 e F2 e os retrocruzamentos para ambos os pais, foram testadas para a reação a 6 mg/L de Al3+ em solução nutritiva. As plantas, devidamente identificadas, foram transplantadas para vasos localizados no telado. Os valores da herdabilidade em sentido restrito para a tolerância ao Al3+ foram médios (0,409 a 0,593) e para altura de planta foram médios a altos (0,638 a 0,860) para os três híbridos avaliados. Em relação ao comprimento da espiga, os valores foram médios para os híbridos 'BH-1146' x 'IAC-161' (0,390) e 'BH-1146' x 'Anahuac' (0,522) e alto para Anahuac x IAC-161 (0,851). Valores baixos a médios da herdabilidade em sentido restrito foram estimados para os caracteres comprimento do internódio da raque (0,090 a 0,595) e produção de grãos (0,054 a 0,463). As correlações fenotípicas entre a tolerância ao Al3+ somente foram associadas significativamente com altura de planta, comprimento do internódio da raque e produção de grãos em um dos híbridos estudados e as correlações fenotípicas entre altura da planta com produção de grãos e comprimento da espiga, e entre comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque foram positivas e significativas em todos os cruzamentos, mostrando haver associação entre esses caracteres, portanto, o estudo de grandes populações F2 seria de interesse para proporcionar maior freqüência de recombinantes desejáveis.

trigo; herdabilidade; correlação; tolerância ao alumínio; características agronômicas


Diallel crosses were made involving the cultivars: 'BH-1146', aluminum tolerant; 'IAC-161', moderately aluminum tolerant, and 'Anahuac', aluminum sensitive. Parents, F1s, F2s and reciprocal backcrosses were tested for their seedling reaction to 6 mg/L of Al3+ in nutrient solution, in laboratory conditions, and evaluated for grain yield, plant height, head length and rachis internode length at maturity, in pots, under screen house conditions in Campinas, SP, Brazil. Narrow sense heritability estimates were moderate to high for plant height (0.638 - 0.860), moderate for aluminum tolerance (0.409 - 0.593) and head length (0.390 - 0.522) except for the hybrid 'Anahuac' x 'IAC-161', which presented a high value (0.851), and low to moderate for grain yield (0.054 - 0.463) and rachis internode length (0.090 - 0.595). Phenotypic correlations between tolerance to Al3+ and plant height, rachis internode length and grain yield were only significant for one of the hybrids. Phenotypic correlations between plant height with grain yield and head length, and between head length with rachis internode length were positive and significant for all crosses, showing association between these characters. Results suggest that it would be possible to select desirable plants from eventual recombinations if large segregating populations are used.

wheat; heritability; correlation; aluminum tolerance; agronomic characteristics


TOLERÂNCIA AO ALUMÍNIO E CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS EM POPULAÇÕES HÍBRIDAS DE TRIGO: ESTIMATIVAS DE VARIÂNCIA, HERDABILIDADE E CORRELAÇÕES

Carlos Eduardo de Oliveira Camargo1,2*; Antonio Wilson Penteado Ferreira Filho1

1Instituto Agronômico de Campinas, C.P.28 - CEP:13001-970 - Campinas,SP.

2Bolsista do CNPq.

*e-mail: ccamargo@cec.iac.br

RESUMO: Visando estimar a herdabilidade em sentido restrito para a tolerância ao Al3+, altura das plantas, comprimento da espiga, comprimento do internódio da raque e produção de grãos, bem como as correlações entre essas características, foram efetuados cruzamentos, em forma dialélica entre os cultivares 'BH-1146', tolerante ao Al3+ e de porte alto; 'IAC-161' e 'Anahuac' ambos de porte semi-anão, com média tolerância e sensibilidade à toxicidade de Al3+, respectivamente. Plântulas representando os pais, as gerações F1 e F2 e os retrocruzamentos para ambos os pais, foram testadas para a reação a 6 mg/L de Al3+ em solução nutritiva. As plantas, devidamente identificadas, foram transplantadas para vasos localizados no telado. Os valores da herdabilidade em sentido restrito para a tolerância ao Al3+ foram médios (0,409 a 0,593) e para altura de planta foram médios a altos (0,638 a 0,860) para os três híbridos avaliados. Em relação ao comprimento da espiga, os valores foram médios para os híbridos 'BH-1146' x 'IAC-161' (0,390) e 'BH-1146' x 'Anahuac' (0,522) e alto para Anahuac x IAC-161 (0,851). Valores baixos a médios da herdabilidade em sentido restrito foram estimados para os caracteres comprimento do internódio da raque (0,090 a 0,595) e produção de grãos (0,054 a 0,463). As correlações fenotípicas entre a tolerância ao Al3+ somente foram associadas significativamente com altura de planta, comprimento do internódio da raque e produção de grãos em um dos híbridos estudados e as correlações fenotípicas entre altura da planta com produção de grãos e comprimento da espiga, e entre comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque foram positivas e significativas em todos os cruzamentos, mostrando haver associação entre esses caracteres, portanto, o estudo de grandes populações F2 seria de interesse para proporcionar maior freqüência de recombinantes desejáveis.

Palavras-chave: trigo, herdabilidade, correlação, tolerância ao alumínio, características agronômicas

TOLERANCE TO ALUMINUM AND AGRONOMIC CHARACTERISTICS IN WHEAT HYBRID POPULATIONS: VARIANCE, HERITABILITY AND CORRELATIONS

ABSTRACT: Diallel crosses were made involving the cultivars: 'BH-1146', aluminum tolerant; 'IAC-161', moderately aluminum tolerant, and 'Anahuac', aluminum sensitive. Parents, F1s, F2s and reciprocal backcrosses were tested for their seedling reaction to 6 mg/L of Al3+ in nutrient solution, in laboratory conditions, and evaluated for grain yield, plant height, head length and rachis internode length at maturity, in pots, under screen house conditions in Campinas, SP, Brazil. Narrow sense heritability estimates were moderate to high for plant height (0.638 - 0.860), moderate for aluminum tolerance (0.409 - 0.593) and head length (0.390 - 0.522) except for the hybrid 'Anahuac' x 'IAC-161', which presented a high value (0.851), and low to moderate for grain yield (0.054 - 0.463) and rachis internode length (0.090 - 0.595). Phenotypic correlations between tolerance to Al3+ and plant height, rachis internode length and grain yield were only significant for one of the hybrids. Phenotypic correlations between plant height with grain yield and head length, and between head length with rachis internode length were positive and significant for all crosses, showing association between these characters. Results suggest that it would be possible to select desirable plants from eventual recombinations if large segregating populations are used.

Key words: wheat, heritability, correlation, aluminum tolerance, agronomic characteristics

INTRODUÇÃO

A área cultivada com trigo no Estado de São Paulo decresceu de 219.650 ha, em 1989 para cerca de 18.000 ha, em 1996, devido, em parte, a competitividade reduzida do trigo nacional em relação ao estrangeiro. Uma das maneiras para reverter esta situação seria aumentar a produtividade e reduzir o custo de produção da cultura do trigo visando torna-la lucrativa e portanto atrativa para os agricultores.

Para o desenvolvimento de um programa de melhoramento eficiente, há necessidade de conhecer a herança e o tipo de ação gênica envolvida nos caracteres estudados, bem como a natureza da associação entre eles (Ibrahim et al., 1983).

Embora a tolerância à toxicidade do alumínio, tão importante em solos ácidos, seja geralmente considerada como devida aos fatores genéticos dominantes, a ação aditiva de genes tem sido enfatizada por vários autores (Aniol, 1984; Campbell & Lafever, 1981; Bona et al., 1994; Camargo, 1987 e Camargo et al., 1992). Valores altos de herdabilidade em sentido restrito para altura da planta de trigo foram obtidos por Kronstad & Foote (1964), Fonseca & Patterson (1968), Carvalho et al. (1981), Camargo (1989) e Vieira (1990); para comprimento da espiga foram descritos por Johnson et al. (1966), Vieira (1990) e Camargo (1987) e para comprimento do internódio da raque foi citado por Ferreira Filho (1996), indicando a existência de efeitos aditivos na expressão genética desses caracteres. A herdabilidade em sentido restrito para produção de grãos tem sido estimada com valores médios a baixos (Fonseca & Patterson, 1968; Camargo & Oliveira, 1983 e Ferreira Filho, 1996) sugerindo que a seleção para esse caráter seria efetiva nas últimas gerações segregantes, onde o valor genético da progênie seria determinado mais precisamente.

Correlações fenotípicas positivas e altamente significativas foram obtidas para produção de grãos com altura da planta, comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque em cruzamentos envolvendo o cultivar IAC-5, de porte alto e as fontes genéticas de nanismo Siete Cerros e Tordo (Camargo & Oliveira, 1983). Camargo (1987) não verificou associações entre produção de grãos e tolerância à toxicidade do alumínio em populações híbridas provindas de cruzamentos envolvendo os cultivares BH-1146, IAC-17 e Alondra-S-46. Correlações positivas e significativas entre produção de grãos e altura da planta com tolerância à toxicidade do alumínio foram detectadas para o cruzamento BH-1146 x IAC-24 (Camargo et al., 1992).

O presente trabalho visou determinar a herdabilidade da produção de grãos, tolerância à toxicidade de alumínio e outras características agronômicas, além das suas associações, em populações originárias de cruzamentos em forma dialélica envolvendo três cultivares de trigo.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram estudados os seguintes cultivares: BH-1146 (P1), Anahuac (P2) e IAC-161 (P3). O 'BH-1146' , de porte alto, é tolerante à toxicidade do Al3+, o 'Anahuac', de porte baixo, é sensível e o 'IAC-161', de porte baixo, mostra reação de média tolerância a essa toxicidade (Camargo et al. 1987).

Foram obtidas as sementes F1 e F2 dos cruzamentos (P1 x P2), (P1 x P3) e (P2 x P3) e também as sementes dos seguintes retrocruzamentos: (P1 x P2) x P1, (P1 x P2) x P2, (P1 x P3) x P1, (P1 x P3) x P3, (P2 x P3) x P2 e (P2 x P3) x P3.

Os parentais, F1s , F2s , RC1s e RC2s , foram testados para tolerância a 6 mg/L de alumínio em solução nutritiva, conforme método descrito a seguir: as sementes das quinze populações estudadas foram cuidadosamente lavadas com uma solução de hipoclorito de sódio a 10% e colocadas para germinar em caixas de Petri por 72 horas em refrigerador com temperatura de 12oC. Após esse tempo, as radículas estavam iniciando a emergência.

Escolheram-se 80 sementes uniformes de cada cultivar utilizado como genitor; 80 sementes de cada cruzamento em geração F1; 400 sementes de cada cruzamento em geração F2 e 96 sementes de cada retrocruzamento, as quais foram divididas em quatro grupos iguais, sendo cada uma delas disposta sobre o topo de uma tela de náilon. Utilizaram-se, portanto, quatro telas de náilon contendo as sementes das 15 populações, as quais foram colocadas em contacto com a solução nutritiva completa em quatro vasilhas plásticas com 8,3 litros de capacidade cada uma.

A concentração final da solução nutritiva completa foi a seguinte: Ca(NO3)2 4mM; MgSO4 2mM; KNO3 4 mM; (NH4)2SO4 0,435 mM; KH2PO4 0,5 mM; MnSO4 2mM; CuSO4 0,3mM; ZnSO4 0,8mM; NaCl 30mM; Fe-CYDTA 10mM; Na2MoO4 0,1 mM e H3BO3 10mM. O nível das soluções nas vasilhas plásticas tocava o lado inferior da tela de náilon, de maneira que as sementes foram mantidas úmidas e as radículas emergentes tiveram um pronto suprimento de água e nutrientes. O pH da solução foi previamente ajustado para 4,0, com uma solução de H2SO4 1N. As soluções foram arejadas continuamente e as vasilhas foram colocadas em banho-maria, com temperatura de 25± 1oC dentro do laboratório. O experimento foi mantido com luz fluorescente em sua totalidade, desenvolvendo-se as plantas nessas condições por 48 horas. Após esse período, cada plântula apresentava três raízes primárias, uma mais longa, com cerca de 4,5cm, e duas mais curtas, localizadas lateralmente à primeira. As quatro telas foram transferidas para soluções com tratamento contendo 6 mg/L de Al3+, na forma de Al2 (SO4)3 18 H2O. A concentração foi escolhida com base em estudos que mostraram ser esse nível eficiente para a separação de plantas tolerantes e sensíveis ao Al3+ (Camargo & Oliveira, 1981 e Camargo et al., 1987).

A composição da solução tratamento foi de um décimo da solução nutritiva completa, exceto para o fósforo que foi omitido e o ferro, que foi adicionado em quantidade equivalente como FeCl3 , no lugar do Fe-CYDTA. O fósforo foi omitido para evitar-se a possível precipitação do alumínio. Por causa da precipitação do alumínio como Al(OH)3 foi dada especial atenção a esse ponto. Antes das telas serem transferidas para as soluções com tratamento, adicionou-se solução de H2SO4 1N suficiente para trazer o pH para cerca de 4,2, colocando-se, então, a quantidade necessária de alumínio como Al2(SO4)3.18H 2O, visando obter soluções com 6 mg/L de Al3+. O pH final foi ajustado para 4,0 com uma solução de H2SO4 1N, evitando-se adicionar NaOH, que poderia causar a precipitação do alumínio pelo menos no local de queda da gota. As plântulas ficaram crescendo por 48 horas nas soluções com tratamento. No final desse período, transferiram-se as quatro telas contendo as plântulas dos 15 genótipos de volta para as vasilhas contendo soluções nutritivas completas, onde cresceram as primeiras 48 horas.

As plântulas cresceram nas soluções completas por 72 horas. O crescimento da raiz, após 72 horas na solução completa, depende da severidade da ação prévia da solução com tratamento. Devido à quantidade tóxica de alumínio para um determinado genótipo, as raízes primárias não cresceram mais e permaneceram grossas, mostrando no ápice uma injúria típica com descoloramento. O crescimento da raiz foi determinada, medindo-se o crescimento da raiz de cada plântula, no final de 72 horas na solução nutritiva completa e, subtraíndo-se seu comprimento inicial medido ao final do crescimento na solução com tratamento.

Após a medição das raízes, transplantaram-se as plântulas, devidamente identificadas, para vasos preenchidos com solo adubado e sem alumínio trocável, colocando-os no telado (proteção contra o ataque de pássaros) do Centro Experimental de Campinas.

O delineamento estatístico foi de blocos ao acaso com 15 tratamentos, os quais incluem os 3 parentais, os 3 F1s , os 3 F2s , os 3 RC1s e os 3 RC2s , com quatro repetições. Cada repetição foi constituída por 5 vasos com quatro plantas para os pais e F1s ; por 25 vasos para os F2s , e por 6 vasos para os RCs. O conjunto das quatro repetições foi constituído de 564 vasos de plástico preto de aproximadamente 25 cm de altura e 20 cm de diâmetro. Os vasos foram distribuídos distantes um do outro na linha de 10 cm e nas entre linhas de 40 cm. Foi plantada uma linha adicional de vasos contornando o experimento, visando minimizar os efeitos de bordadura.

Os parâmetros coletados nas plantas individuais são:

Tolerância ao alumínio - considerada como o comprimento, em milímetros, da raiz primária central, após 72 horas de crescimento na solução nutritiva completa, que se seguiu a um tratamento de 48 horas em solução nutritiva contendo 6 mg/L de Al3+.

Altura da planta - medida, em centímetros, da superfície do solo até o ápice do colmo mais alto, excluíndo-se as aristas.

Comprimento da espiga - medida, em centímetros, da espiga do colmo principal, excluíndo-se as aristas.

Comprimento do internódio da raque - calculado pela relação entre o comprimento, em centímetros, da espiga do colmo principal, excluíndo-se as aristas e o número de espiguetas da espiga do colmo principal.

Produção de grãos - peso, em gramas, da produção total de grãos de cada planta.

Todos os caracteres estudados foram submetidos a análise de variância, sendo o teste F utilizado para determinar os efeitos significativos. Considerou-se a média de cada genótipo em cada repetição. Os efeitos de geração na análise de variância foram divididos em componentes, para detectar-se diferenças dentro e entre gerações.

A estimativa da herdabilidade em sentido restrito - h2r - (proporção entre a variância genética aditiva e a variância fenotípica) foi calculada para os cinco caracteres em estudo para os cruzamentos, pelo método de WARNER (1952), utilizando-se os resultados das plantas individuais. O erro-padrão para a h2r foi obtido conforme Ketata et al. (1976).

As correlações fenotípicas, genéticas e ambientais foram usadas para estimar o grau de associação entre os quatro caracteres agronômicos em estudo para cada população, mediante os resultados das plantas individuais. Calcularam-se também as correlações fenotípicas, genéticas e ambientais entre a tolerância a 6 mg/L de Al3+ e quatro caracteres agronômicos para as três populações. Como foi sugerido por Falconer (1960), as correlações usando os resultados de F1 foram consideradas ambientais e aquelas com os resultados de F2, fenotípicas. As correlações genotípicas foram calculadas pela seguinte fórmula:

rA = (rF - eX eY rE) / hX hY

onde:

rF = correlação fenotípica entre os caracteres x e y; rA = correlação genética entre x e y; rE = correlação ambiental entre x e y; hX e hY = raiz quadrada da herdabilidade em sentido restrito para os caracteres x e y respectivamente, considerando separadamente cada cruzamento;

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na TABELA 1, encontram-se as análises da variância para comprimento da raiz (tolerância a 6 mg/L de Al3+), altura da planta, comprimento da espiga, comprimento do internódio da raque e produção de grãos e, na TABELA 2, as médias de cada genótipo para cada um dos caracteres estudados.

Aplicando-se o teste de Tukey ao nível de probabilidade de 5% para a comparação entre o comprimento da raiz, após 72 horas em solução nutritiva completa, que se seguiu a um crescimento de 48 horas em soluções contendo 6 mg/L de Al3+, verificou-se que o 'BH-1146' foi tolerante a essa concentração, diferindo significativamente dos cultivares Anahuac e IAC-161, que por sua vez não diferiram entre si, conforme resultados de Camargo et al., 1987. O híbrido BH-1146 x IAC-161, em gerações F1 e F2 apresentou o maior comprimento da raiz, diferindo somente do híbrido Anahuac x IAC-161, nas duas gerações consideradas. Os retrocruzamentos (BH-1146 x Anahuac) x BH-1146 e (BH-1146 x IAC-161) x BH-1146 mostraram os maiores crescimentos radiculares diferindo do (Anahuac x IAC-161) x Anahuac. Considerando-se os RC2s, verificou-se não haver diferenças significativas entre os híbridos.

Esses resultados evidenciam que o 'BH-1146' mostrou-se promissor em transmitir, para as suas progênies, o caráter "maior tolerância à toxicidade de alumínio" confirmando resultados anteriores (Camargo, 1981 e Camargo et al., 1992).

O 'BH-1146' apresentou a maior altura, diferindo significativamente dos cultivares Anahuac e IAC-161, que não diferiram entre si. Os híbridos BH-1146 x Anahuac e BH-1146 x IAC-161, em gerações F1 e F2 , tiveram as plantas mais altas, não diferindo entre si, porém somente do híbrido Anahuac x IAC-161. Considerando-se os RC1s , os híbridos (BH-1146 x Anahuac) x BH-1146 e (BH-1146 x IAC-161) x BH-1146, com plantas de maior estatura, não diferiram entre si mas só do (Anahuac x IAC-161) x Anahuac. Entre os RC2s foram verificadas diferenças entre o híbrido (Anahuac x IAC-161) x IAC-161 e os outros dois, que por sua vez não diferiram entre si em relação à altura da planta.

Considerando o comprimento da espiga, observou-se, através da média dos parentais, que o 'Anahuac' revelou as espigas mais compridas e o 'BH-1146' as mais curtas, ambos diferindo entre si e do 'IAC-161'. A população F1 do híbrido Anahuac x IAC-161 produziu as espigas mais compridas, diferindo estatisticamente dos demais. As espigas dos híbridos BH-1146 x Anahuac e Anahuac x IAC-161, em geração F2 foram as mais compridas, não diferindo entre si porém do híbrido BH-1146 x IAC-161. A população do retrocruzamento (Anahuac x IAC-161) x Anahuac apresentou as espigas mais compridas, diferindo dos demais. Em relação aos RC2s , o genótipo (BH-1146 x Anahuac) x Anahuac mostrou as espigas mais compridas, diferindo dos demais. Pelos resultados, o 'Anahuac' constituiu-se em fonte genética para um programa de melhoramento, quando o objetivo for o aumento do comprimento da espiga, pois foi eficiente em transmitir essa característica a suas progênies.

Quando considerou-se o caráter comprimento do internódio da raque, não foram observadas diferenças significativas entre os parentais e os híbridos, em geração F1 e F2. Em relação aos RC1s, o híbrido (Anahuac x IAC-161) x Anahuac apresentou as espigas menos densas, diferindo somente do híbrido (BH-1146 x IAC-161) x BH-1146. Os híbridos (BH-1146 x IAC-161) x IAC-161 e (Anahuac x IAC-161) x IAC-161 mostraram as espigas mais densas diferindo do híbrido (BH-1146 x Anahuac) x Anahuac.

Em relação à média de produção de grãos, o cultivar BH-1146 apresentou os maiores valores, somente diferindo do 'IAC-161'. Não se detectaram diferenças significativas entre as populações híbridas, em geração F1 , em relação à produção de grãos. Os híbridos BH-1146 x Anahuac e BH-1146 x IAC-161, em geração F2 foram os mais produtivos, diferindo significativamente do Anahuac x IAC-161. Considerando-se os RC1s, o híbrido (BH-1146 x IAC-161) x BH-1146, com as plantas mais produtivas, somente diferiu do híbrido (Anahuac x IAC-161) x Anahuac. Entre os RC2s , o híbrido (BH-1146 x Anahuac) x Anahuac exibiu os maiores valores em relação à média de produção de grãos, diferindo significativamente dos demais.

As estimativas da herdabilidade em sentido restrito para os cinco caracteres estudados, derivados de resultados obtidos nas gerações F2s e retrocruzamentos das três populações híbridas, encontram-se na TABELA 3.

Os valores da herdabilidade em sentido restrito para comprimento da raiz, após um tratamento em soluções contendo 6 mg/L de Al3+, foram médias (0,409 a 0,593) e para altura de planta foram médias a altas (0,638 a 0,860) para os três híbridos avaliados. Em relação ao comprimento da espiga, os valores foram médios para os híbridos BH-1146 x IAC-161 (0,390) e BH-1146 x Anahuac (0,522) e alto para Anahuac x IAC-161 (0,851). Valores baixos a médios da herdabilidade em sentido restrito foram estimados para os caracteres comprimento do internódio da raque (0,090 a 0,595) e produção de grãos (0,054 a 0,463). Valores médios a altos para a herdabilidade em sentido restrito foram também estimados para comprimento da raiz (Camargo et al., 1992), para altura da planta (Johnson et al., 1966), para comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque (Ferreira Filho, 1996). Valores médios a baixos para produção de grãos foram citados também por Camargo (1989) e Ketata et al. (1976).

Médias a altas estimativas para a herdabilidade em sentido restrito indicam que grande parte da variabilidade genética total é devida a genes que se comportam de uma maneira aditiva. Para esses caracteres, onde os efeitos aditivos foram a principal fonte de variação, as seleções deveriam ser realizadas nas primeiras gerações segregantes dos híbridos. Para os caracteres que exibiram baixa herdabilidade em sentido restrito, indicando ser de origem ambiental elevada, parte da variação total das populações estudadas, a seleção para esses caracteres deveria ser efetuada nas últimas gerações, quando o valor genético da progênie poderia ser determinado mais precisamente.

Na TABELA 4, encontram-se as correlações ambientais ( rE ), fenotípicas ( rF ) e genéticas ( rA ) entre produção de grãos, altura da planta, comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque, para cada um dos três cruzamentos considerados.

As correlações genéticas, calculadas entre a produção de grãos e a altura da planta, o comprimento da espiga e o comprimento do internódio da raque, entre a altura de planta e o comprimento da espiga e o comprimento do internódio da raque e entre o comprimento da espiga e o comprimento do internódio da raque, concordaram em geral, com as obtidas para as correlações fenotípicas para os três cruzamentos.

As correlações fenotípicas entre produção de grãos e altura das plantas foram positivas e altamente significativas para todos os cruzamentos. Esses resultados demonstraram a tendência das plantas mais altas serem as mais produtivas, confirmando os resultados de Camargo et al. (1980) e Camargo & Ramos (1989).

As plantas com espigas mais compridas tenderam a ser mais produtivas para os três cruzamentos, considerando as correlações fenotípicas que foram todas positivas, porém somente a correlação do cruzamento BH-1146 x Anahuac não foi significativa. Esses resultados concordam com os obtidos por Camargo & Oliveira (1983). A correlação genotípica entre produção de grãos e comprimento da espiga foi negativa para o híbrido BH-1146 x IAC-161 indicando haver tendência das plantas mais produtivas exibirem espigas curtas. Observações semelhantes foram feitas por Ferreira Filho (1996).

As correlações fenotípicas entre produção de grãos e comprimento do internódio da raque foram não significativas exceto para o cruzamento Anahuac x IAC-161 que foi positiva e significativa, mostrando que as plantas apresentando maior comprimento do internódio da raque foram as que tiveram maior produção de grãos.

As plantas mais altas tenderam a apresentar as espigas mais compridas nas tres populações híbridas estudadas, considerando-se as correlações fenotípicas, corroborando os resultados obtidos por Camargo & Oliveira (1983) e Ferreira Filho (1996).

Plantas altas associaram-se significativamente com menor comprimento do internódio da raque na população BH-1146 x Anahuac (rF = -0,158**) e com maior comprimento do internódio da raque na população Anahuac x IAC-161 (rF = 0,199**). Ferreira Filho (1996) encontrou em tres populações híbridas avaliadas, associações positivas e significativas, entre altura da planta e comprimento do internódio da raque.

Nas três populações híbridas foram obtidas correlações positivas e altamente significativas entre comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque, concordando com resultados obtidos por Camargo & Oliveira (1983).

Na TABELA 5 são apresentadas as correlações ambientes, fenotípicas e genéticas entre o comprimento de raízes testadas em soluções nutritivas contendo 6 mg/L de Al3+ e quatro caracteres agronômicos estudados em cruzamentos envolvendo os cultivares BH-1146, Anahuac e IAC-161.

Nos cruzamentos estudados, a tolerância a 6 mg/L de Al3+ não foi associada com altura da planta (com exceção do híbrido Anahuac x IAC-161 - rF = 0,157*), comprimento da espiga, comprimento do internódio da raque (com exceção do híbrido BH-1146 x Anahuac - rF = -0,116*) e produção de grãos (com exceção do híbrido BH-1146 x IAC-161 - rF = 0,146*).

Considerando as associações positivas entre plantas altas com produção de grãos e comprimento da espiga e as demais associações estimadas entre os caracteres, verifica-se que seria possível selecionar, nas populações segregantes em estudo, plantas tolerantes ao alumínio, de porte semi-anão, de alto potencial produtivo apresentando espigas compridas e densas, que seriam adaptadas ao cultivo em solos ácidos, desde que sejam utilizadas grandes populações F2 e F3 para serem obtidos os recombinantes desejados.

CONCLUSÕES

• Seleções para as características altura da planta, comprimento da raiz (tolerância a 6mg/L de Al3+), comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque (com exceção do híbrido Anahuac x IAC-161) seriam efetivas nas gerações segregantes iniciais de cada cruzamento, em razão da grandeza dos valores estimados para a herdabilidade em sentido restrito.

• Os valores da herdabilidade no sentido restrito para produção de grãos, com exceção do híbrido BH-1146 x Anahuac, sugere que a seleção para esse caráter deveria ser postergada para gerações mais avançadas, onde testes de progênies poderiam ser realizados .

• As correlações fenotípicas entre a tolerância a 6 mg/L de Al3+ somente foi associada significativamente com altura da planta, comprimento do internódio da raque e produção de grãos em um dos híbridos estudados, e as correlações fenotípicas entre altura da planta com produção de grãos e comprimento da espiga e entre comprimento da espiga e comprimento do internódio da raque foram positivas e significativas em todos os cruzamentos, mostrando haver associações entre esses caracteres, portanto, o estudo de grandes populações F2 seria de interesse para proporcionar maior freqüência de recombinantes desejáveis.

Recebido para publicação em 19.06.98

Aceito para publicação em 27.10.98

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jul 1999
  • Data do Fascículo
    1999

Histórico

  • Aceito
    27 Out 1998
  • Recebido
    19 Jun 1998
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