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Felicidade, casamento e satisfação conjugal: contribuições aos dilemas contemporâneos

RESENHAS

Felicidade, casamento e satisfação conjugal: contribuições aos dilemas contemporâneos

Laura Vilela e Souza

Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba-MG, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Laura Vilela e Souza Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais. Departamento de Psicologia Clínica e Sociedade. Av. Getúlio Guaritá, 159, Centro Educacional/Sala 320. CEP 38.025-440. Uberaba-MG, Brasil. E-mail: lauravilelasouza@gmail.com

Fabio Scorsolini-Comin e Manoel Antônio dos Santos escolheram Guimarães Rosa, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector e Adélia Prado para se inspirarem e transpirarem poesia no livro que publicaram, intitulado: Casamento e Satisfação Conjugal: Um Olhar da Psicologia Positiva. Os autores selecionaram trechos da obra desses escritores para apresentarem os capítulos que compõem o livro publicado pela editora Annablume, com apoio das agências de fomento FAPESP e CNPq.

É com essa inspiração poética que os autores apresentam para o público acadêmico e não acadêmico o relato de pesquisa científica original, que aborda temática tão instigante quanto contemporânea. Na atualidade, a escrita científica tem sido pensada, especialmente por autores pós-modernos (Gergen & Gergen, 2003), a partir de seus efeitos pragmáticos na promoção de transformações sociais relevantes. Nesse sentido, o cuidado na escrita remete à busca dos pesquisadores de se engajarem com diferentes públicos, de alcançarem diferentes audiências e de se fazerem inteligíveis a um público leigo. Esse parece ser o esforço empreendido pelos autores de Casamento e Satisfação Conjugal, ao produzirem um texto que apresenta, de forma palatável, os resultados de uma pesquisa quantitativa de fôlego, que articula complexos conceitos psicológicos, tais como: conjugalidade, satisfação conjugal e bem-estar subjetivo.

Este livro é fruto da dissertação de Mestrado defendida pelo primeiro autor, sob orientação do segundo, junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Para sua publicação, os autores convidaram as renomadas pesquisadoras Terezinha Féres-Carneiro e Sílvia Helena Koller, expoentes na área de família e desenvolvimento, para comporem o prefácio e a apresentação desta obra, respectivamente. No capítulo denominado Introdução, o primeiro autor conta o percurso acadêmico que motivou seu interesse pela pesquisa em questão. Nesse ponto, ressalta a influência da professora doutora Zélia Maria Mendes Biasoli-Alves, do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, na escolha por trabalhar com a perspectiva da Psicologia Positiva, pouco explorada no cenário brasileiro (Féres-Carneiro, 2011). No capítulo seguinte Percursos deste Livro, os autores apresentam o modo como a obra foi composta e oferecem um guia que auxilia o leitor a se localizar em suas diferentes partes.

O próximo capítulo, Percursos pela Temática deste Livro, é a oportunidade do leitor conhecer com maior profundidade os conceitos trabalhados pelos autores. Amor, satisfação, bem-estar, conjugalidade e casamento são definidos garantindo-se a possibilidade de coexistência de múltiplas conceituações. No capítulo subsequente, Falando em Felicidade: A Noção de Bem-estar Subjetivo, os autores esclarecem o uso que fazem do termo felicidade, explicam pormenorizadamente o referencial do bem-estar subjetivo (BES), os limites de sua conceituação e seu uso nas pesquisas internacionais e nacionais. Além disso, apresentam o estado da arte das possibilidades de mensuração do BES e delineiam os principais instrumentos psicométricos utilizados na atualidade. Por fim, discutem de que forma o BES pode ser correlacionado com outras variáveis mensuráveis, como cultura, personalidade, sexo, idade, situação socioeconômica e estado civil.

No capítulo seguinte, Uma Questão de Conjugalidade, os autores resgatam a construção histórica do casamento e suas transformações ao longo do tempo. Além disso, apontam, na literatura da área, o conceito de conjugalidade a partir de diferentes autores. Destaca-se, neste capítulo, a menção às formas de relacionamento amoroso na pós-modernidade, com o privilégio da satisfação individual como fator relevante para a decisão de continuar ou não a se relacionar de forma íntima com alguém (Diniz-Neto & Féres-Carneiro, 2005).

Esse panorama promove a seguinte indagação dos autores ao término do capítulo: "a partir da configuração de uma conjugalidade, qual a percepção do par acerca da mesma?" (Scorsolini-Comin & Santos, 2011, p. 49). Esta é uma das questões que buscam ser respondidas no capítulo seguinte, intitulado: Bem-estar no Casal: Apontamentos sobre a Satisfação Conjugal. Neste capítulo, os autores apresentam os dados estatísticos relativos aos casamentos no Brasil e discutem a relação existente entre casamento e satisfação conjugal. Alertam para a dificuldade de conceituação do que pode ser considerado um casamento satisfatório, apresentam os principais instrumentos de avaliação da satisfação conjugal e discutem de que forma esse conceito se articula na contemporaneidade.

Esses capítulos oferecem a sustentação teórica para a apresentação da pesquisa empírica realizada, que será detalhada no capítulo O Estudo Empírico com os Casais, no qual são esclarecidos os objetivos da pesquisa, as hipóteses levantadas, participantes e instrumentos aplicados, os passos metodológicos adotados e os procedimentos de análise. De maneira geral, os autores buscaram, em suas palavras, "compreender como a vivência conjugal (...) impacta, problematiza, ressignifica ou interfere na percepção de felicidade (BES) do indíviduo" (Scorsolini-Comin & Santos p. 25). Para tanto, investigam as relações entre "as medidas dos fatores dos construtos bem-estar subjetivo, conjugalidade e satisfação conjugal em pessoas casadas" (p. 61).

A justificativa dos autores para o uso da perspectiva da Psicologia Positiva no estudo realizado parte da aposta no potencial de pesquisas que valorizem o foco nas qualidades positivas das pessoas e seus relacionamentos. Esse enfoque teórico faz contraponto a uma tradição em pesquisa na Psicologia que mantém o foco no déficit e naquilo que é disfuncional e problemático no ser humano e em suas relações (Souza, McNamee, & Santos, 2010). Nesse mesmo capítulo, os principais resultados da pesquisa são apresentados e discutidos. Os autores ressaltam as correlações encontradas entre os fatores dos constructos avaliados, a saber: BES, satisfação conjugal e ajustamento diádico. A análise dos resultados produzidos informa a reflexão empreendida pelos autores ao término do capítulo, relacionada à importância de se contar com um instrumento único para medir a conjugalidade.

Por fim, em Conclusões, as hipóteses da pesquisa realizada são discutidas, considerando-se sua confirmação ou refutação. Retomando a pergunta realizada no início do livro "(...) casar seria um sinônimo de ser feliz?" (Scorsolini-Comin & Santos, 2011, p. 120), os autores finalizam com considerações úteis a serem levadas em conta por estudos futuros a serem desenvolvidos na área, como, por exemplo, a importância do relacionamento afetivo e da conjugalidade na avaliação do BES das pessoas casadas, a possibilidade de se considerar um BES do casal e a avaliação de sua relação com o conceito de satisfação conjugal.

Considerando-se o interesse do público leigo e não leigo pela temática da felicidade no casamento, o livro em questão deverá despertar a curiosidade não apenas de outros pesquisadores na área, como do público em geral. Tanto em uma como em outra audiência, sua leitura deverá provocar uma irresistível tendência à autoavaliação de seus próprios relacionamentos afetivos e um desejo de entender um pouco mais dessa misteriosa composição de sentidos que convencionamos designar como amor.

Recebido: 29/04/2012

1ª revisão: 15/06/2012

Aceite final: 21/07/2012

Laura Vilela e Souza é Professora Adjunta do Departamento de Psicologia Clínica e Sociedade do Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

  • Diniz Neto, O., & Férez-Carneiro, T. (2005). Psicoterapia de casal na pós-modernidade: Rupturas e possibilidades. Estudos de Psicologia, 22(2), 133-141. doi: 10.1590/S0103-166X2005000200003.
  • Féres-Carneiro, T. (2011). Prefácio. In F. Scorsolini-Comin & M. A. Santos (Orgs.), Casamento e satisfação conjugal: Um olhar da Psicologia Positiva (pp.13-15). São Paulo: Annablume, FAPESP. Brasília, CNPq.
  • Gergen, M. M., & Gergen, K. J. (2003). Qualitative Inquiry: Tensions and transformations. In N. Denzin & Y. Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research (2nd ed., pp. 1025-1046). Thousand Oaks, CA: Sage.
  • Souza, L. V., MCNamee, S., & Santos, M. A. (2010). Avaliação como construção social: Investigação apreciativa. Psicologia e Sociedade, 22(3), 598-607. doi: 10.1590/S0102-71822010000300020.
  • Endereço para correspondência:
    Laura Vilela e Souza
    Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
    Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais.
    Departamento de Psicologia Clínica e Sociedade.
    Av. Getúlio Guaritá, 159, Centro Educacional/Sala 320.
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Dez 2012
    • Data do Fascículo
      Ago 2012
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