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Adaptação e estabilidade de produção de cultivares e linhagens-elite de feijão no Estado do Rio Grande do Sul

Adaptability and yield stability of common bean cultivars and elite lines in the State of Rio Grande do Sul

Resumos

O objetivo deste trabalho foi avaliar a adaptação e a estabilidade da produção de linhagens-elite de feijão para o cultivo no Estado do Rio Grande do Sul (RS). Assim, oito linhagens-elite desenvolvidas a partir de programas de melhoramento de feijão do país e quatro cultivares comerciais foram avaliadas em 12 ambientes, no RS, durante o biênio 2004 e 2005. As estimativas de adaptabilidade e de estabilidade foram obtidas pelos métodos de Eberhart & Russel e de Lin & Binns, modificado por Carneiro. Interação genótipos com ambientes significativa foi observada para a produtividade de grãos, indicando resposta diferenciada dos genótipos aos locais, aos anos e às épocas de semeadura. Os resultados obtidos evidenciaram que as metodologias foram concordantes na identificação de genótipos com estabilidade para a produtividade de grãos ("CHP 99-54" e "SCS 202 Guará"), com adaptação a ambientes favoráveis ("TB 98-20") e a ambientes desfavoráveis ("Guapo Brilhante"). Os genótipos "CHP 99-54" e "SCS 202 Guará" apresentam produtividade de grãos acima da média geral, alta adaptação e estabilidade de produção, sendo indicados ao registro no Registro Nacional de Cultivares (RNC), para o cultivo no RS, pelo programa de melhoramento obtentor da cultivar.

Phaseolus vulgaris L.; interação genótipos com ambientes; rendimento de grãos


The objective of this research was to evaluate the adaptability and yield stability of common bean elite lines in the Rio Grande do Sul State. Eight elite lines of the different breeding programs of Brazil and four comercial cultivars were evaluated in the 12 environment, in the RS, during the biennium 2004 and 2005. The adaptability and stability estimates were obtained for the methods of Eberhart & Russel and Lin & Binns, modified to Carneiro. Significative genotypes with environments interaction was to observated to grain yield showed different response to the locations, years and planting times. The results showed that methods were coincided to identify genotypes with yield stability ('CHP 99-54' and 'SCS 202 Guará'), with adaptability to favorable environment ('TB 98-20') and unfavorable environment ('Guapo Brilhante'). The 'CHP 99-54' and 'SCS 202 Guará' genotypes showed grain yield above general mean, broad adaptability and yield stability, and the genotypes are recommend to register in the RNC, to cultivation in the RS state, for the breeding program obtainment of the common bean cultivar.

Phaseolus vulgaris L.; genotype with environment interaction; grain yield


ARTIGOS CIENTÍFICOS

FITOTECNIA

Adaptação e estabilidade de produção de cultivares e linhagens-elite de feijão no Estado do Rio Grande do Sul

Adaptability and yield stability of common bean cultivars and elite lines in the State of Rio Grande do Sul

Nerinéia Dalfollo RibeiroI,1 1 Autor para correspondência. ; Irajá Ferreira AntunesII; Juarez Fernandes de SouzaIII; Nerison Luis PoerschIV

IDepartamento de Fitotecnia, Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: neiadr@smail.ufsm.br

IIEMBRAPA Clima Temperado, Pelotas, RS, Brasil

IIIFundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), Porto Alegre, RS, Brasil

IVCurso de Agronomia, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a adaptação e a estabilidade da produção de linhagens-elite de feijão para o cultivo no Estado do Rio Grande do Sul (RS). Assim, oito linhagens-elite desenvolvidas a partir de programas de melhoramento de feijão do país e quatro cultivares comerciais foram avaliadas em 12 ambientes, no RS, durante o biênio 2004 e 2005. As estimativas de adaptabilidade e de estabilidade foram obtidas pelos métodos de Eberhart & Russel e de Lin & Binns, modificado por Carneiro. Interação genótipos com ambientes significativa foi observada para a produtividade de grãos, indicando resposta diferenciada dos genótipos aos locais, aos anos e às épocas de semeadura. Os resultados obtidos evidenciaram que as metodologias foram concordantes na identificação de genótipos com estabilidade para a produtividade de grãos (“CHP 99-54” e “SCS 202 Guará”), com adaptação a ambientes favoráveis (“TB 98-20”) e a ambientes desfavoráveis (“Guapo Brilhante”). Os genótipos “CHP 99-54” e “SCS 202 Guarᔠapresentam produtividade de grãos acima da média geral, alta adaptação e estabilidade de produção, sendo indicados ao registro no Registro Nacional de Cultivares (RNC), para o cultivo no RS, pelo programa de melhoramento obtentor da cultivar.

Palavras-chave:Phaseolus vulgaris L., interação genótipos com ambientes, rendimento de grãos.

ABSTRACT

The objective of this research was to evaluate the adaptability and yield stability of common bean elite lines in the Rio Grande do Sul State. Eight elite lines of the different breeding programs of Brazil and four comercial cultivars were evaluated in the 12 environment, in the RS, during the biennium 2004 and 2005. The adaptability and stability estimates were obtained for the methods of Eberhart & Russel and Lin & Binns, modified to Carneiro. Significative genotypes with environments interaction was to observated to grain yield showed different response to the locations, years and planting times. The results showed that methods were coincided to identify genotypes with yield stability ('CHP 99-54' and 'SCS 202 Guará'), with adaptability to favorable environment ('TB 98-20') and unfavorable environment ('Guapo Brilhante'). The 'CHP 99-54' and 'SCS 202 Guará' genotypes showed grain yield above general mean, broad adaptability and yield stability, and the genotypes are recommend to register in the RNC, to cultivation in the RS state, for the breeding program obtainment of the common bean cultivar.

Key words:Phaseolus vulgaris L., genotype with environment interaction, grain yield.

INTRODUÇÃO

O feijão (Phaseolus vulgaris L.) é cultivado no Estado do Rio Grande do Sul em duas épocas: safra e safrinha, com a semeadura realizada em agosto-outubro e em janeiro-março, respectivamente. Assim, a cultura é submetida a diferentes condições de ambiente, especialmente temperatura e precipitação pluvial, e fatores bióticos. Como conseqüência, alteração na produtividade de grãos tem sido constatada em cultivares comerciais e em linhagens-elite de feijão quando cultivadas em diferentes épocas (RAMALHO et al., 1998; CARBONELL & POMPEU, 2000; CARBONELL et al., 2001; RIBEIRO et al., 2004). Por isso, a inscrição das novas cultivares de feijão, no Registro Nacional de Cultivares, no Ministério da Agricultura (RNC-MA), está sendo realizada por época de semeadura (Brasil, 2006) e a seleção será baseada no desempenho em cada sistema de cultivo.

A preferência por cultivares com ampla adaptação aos vários ambientes de cultivo deve ser considerada (CARBONELL et al., 2001). Isso porque a época de semeadura, definida pelo zoneamento ecológico da cultura, é muitas vezes antecipada ou retardada pelos agricultores devido à ocorrência de fatores climáticos. Além disso, a interação de genótipos com ambientes ainda é o principal problema na fase de seleção ou de indicação de cultivares pelo programa de melhoramento. Nesse contexto, a identificação de cultivares de feijão com ampla adaptabilidade e maior estabilidade fenotípica constitui numa alternativa para atenuar os efeitos dessa interação. Nos últimos anos, vários métodos foram desenvolvidos para identificar cultivares com alto desempenho médio nos vários ambientes de cultivo (CRUZ & REGAZZI, 2001; CRUZ & CARNEIRO, 2003).

Na cultura do feijão, as metodologias de EBERHART & RUSSEL (1966) e de LIN & BINNS (1988) têm sido as mais utilizadas (ABREU et al., 1998; COIMBRA et al., 1999; NUNES et al., 1999; PIANA et al., 1999; BORGES et al., 2000; CARBONELL et al., 2001; RIBEIRO et al., 2004; BACKES et al., 2005; CARBONELL et al., 2007; MELO et al., 2007). Isso porque esses métodos são de simples interpretação, pois agregam adaptabilidade, estabilidade e produtividade em uma única estatística. Pelo método de EBERHART & RUSSEL (1966), a cultivar ideal é aquela que apresenta coeficiente de regressão igual à unidade (bi =1), desvio de regressão o menor possível (s2d =0) e alta produtividade média. Essa metodologia pressupõe uma relação linear entre o comportamento individual de um genótipo e o índice ambiental. No entanto, quando essa linearidade falha, o modelo de efeitos aditivos principais e interação multiplicativa (AMMI) é recomendado (ZOBEL et al., 1998).

Por sua vez, o método de LIN & BINNS (1988) mede a estabilidade pela estimativa do índice de superioridade Pi. Assim, são desejáveis as cultivares com menor Pi, pois apresentam menor desvio em relação à produtividade máxima em cada ambiente, isto é, tem desempenho próximo do máximo na maioria dos ambientes.

CARNEIRO (1998) propôs uma modificação na metodologia de LIN & BINNS (1988), ou seja, fez a decomposição do estimador Pi em duas partes Pif (ambientes favoráveis) e em Pid (ambientes desfavoráveis). Desse modo, foi possível identificar germoplasma de feijão com maior estabilidade (<Pi), mais responsivos a ambientes favoráveis (<Pif) e mais adaptados a ambientes desfavoráveis (<Pid) (CARBONELL et al., 2001; MELO et al., 2007).

O objetivo do melhoramento genético é obter cultivares de feijão mais produtivas, com estabilidade de produção e com características adequadas à preferência do consumidor. Nesse contexto, os Programas Públicos de Melhoramento do RS, formados pela Embrapa Clima Temperado, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e pela Fundação de Pesquisa Agronômica (FEPAGRO), decidiram avaliar, de maneira conjunta, as linhagens promissoras desenvolvidas pelos diferentes programas de melhoramento para a inscrição das novas cultivares no RNC-MA. Essas três instituições de pesquisa integram a Comissão Técnica Sul-Brasileira de Feijão (CTSBF), que instituiu, em 2004, o Ensaio de Valor de Cultivo e Uso Sul-Brasileiro de Feijão (EVCU-SB). O EVCU-SB é conduzido, simultaneamente, em quatro Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás. Desse modo, é possível comparar o germoplasma de feijão desenvolvido pelas dez instituições que constituem a CTSBF, na região Sul do Brasil, e fazer a extensão da área indicada para o cultivo das novas cultivares. Ao mesmo tempo, a informação decorrente pode servir de indicativo sobre o desempenho de cultivares para os órgãos de assistência técnica.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a adaptação e a estabilidade da produção de linhagens-elite de feijão do EVCU-SB no Estado do Rio Grande do Sul, no biênio 2004 e 2005, com a finalidade de registrá-las no RNC-MA pelo programa de melhoramento obtentor da cultivar.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos do EVCU-SB do biênio 2004 e 2005, conduzidos no Rio Grande do Sul, foram instalados em Pelotas (52°10'W - 31°70'S), Sobradinho (53°01'W - 29°25'S), Santa Maria (53°43'W - 29°42'S), Maquiné (50°12'W - 29°40'S) e Santo Augusto (53°46'W - 27°51'S). A Embrapa Clima Temperado foi responsável pela condução dos experimentos nos municípios de Pelotas e de Sobradinho. A UFSM foi responsável em Santa Maria e a FEPAGRO em Maquiné e Santo Augusto. Todos os EVCU-SB foram instalados no cultivo de safra, sendo que em Maquiné e Santo Augusto também foi realizado o cultivo de safrinha em 2006.

Os 12 experimentos foram conduzidos no delineamento em blocos ao acaso, com três repetições, seguindo os requisitos mínimos para a determinação do valor de cultivo e uso, para a indicação de cultivares de feijão (BRASIL, 2006). As parcelas foram compostas de quatro fileiras de 4m de comprimento, espaçadas de 0,50m, e a área útil de 3m2. Os tratamentos incluíram a avaliação de quatro cultivares de feijão (“BRS Expedito”, “Guapo Brilhante”, “Pérola” e “Carioca”) e de oito linhagens-elite de diferentes programas de melhoramento obtentores de germoplasma: “TB 96-13” e “TB 98-20”, da EMBRAPA Clima Temperado, RS; “SM 98-09”, da FEPAGRO, RS; “CHP 99-54” e “SCS 202 Guará”, da EPAGRI, SC; “LP 01-51” e “LP 99-79” do IAPAR, PR; “CNFP 7762”, da EMBRAPA Arroz e Feijão, GO.

O solo foi preparado de maneira convencional e a adubação foi realizada de acordo com a interpretação da análise química do solo. O controle de insetos foi efetuado com a aplicação de Metamidofós e o controle de plantas invasoras foi realizado manualmente sempre que necessário, de modo que a cultura não sofresse competição. O controle de doenças não foi realizado.

A colheita e a trilha das plantas foram realizadas manualmente na maturação fisiológica. Após a retirada das impurezas, os grãos foram secados ao sol e em estufa (65 a 70°C) até a umidade média de 13%, quando se determinou o rendimento de grãos.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância individual e conjunta, considerando o efeito de genótipos como fixo e os efeitos de ambientes e de blocos aleatórios. As análises de adaptabilidade e de estabilidade foram realizadas de acordo com os métodos de EBERHART & RUSSELL (1966) e de LIN & BINNS (1988), modificado por CARNEIRO (1998). Os testes estatísticos de Barlett e F máximo (STELL et al., 1997; GOMES, 1990; CRUZ & REGAZZI, 2001) foram aplicados para verificar a homogeneidade das variâncias residuais. As análises estatísticas foram realizadas no programa GENES (CRUZ, 2001) e no aplicativo Office Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A relação entre o maior e o menor quadrado médio do erro (QMr +/QMr -) da análise de variância individual dos 12 experimentos foi superior ao valor (sete) sugerido por GOMES (1990), indicando que as variâncias residuais não foram homogêneas. Por isso, foi realizado o ajuste dos graus de liberdade da interação dos genótipos com ambientes e do erro combinado, conforme descrito em GOMES (1990), para a interpretação correta dos testes de hipóteses e para a apresentação adequada da análise de variância conjunta (Tabela 1).

Interação genótipos com ambientes significativa (P£0,05) foi observada para a produtividade de grãos de feijão, revelando resposta diferenciada dos genótipos em relação às mudanças de ambiente (Tabelas 1 e 2). Essa alteração ocorreu devido às condições edafoclimáticas que foram diferentes nos locais, nos anos e nas épocas de avaliação, conforme também constatada por ABREU et al. (1998), COIMBRA et al. (1999), NUNES et al. (1999), PIANA et al. (1999), BORGES et al. (2000), CARBONELL et al. (2001), RIBEIRO et al. (2004), BACKES et al. (2005), CARBONELL et al. (2007) e MELO et al. (2007). Como a pressão de seleção é variável e não-previsível, a expressão da produtividade de grãos, nas diversas condições de cultivo, não foi concordante, pois essa é uma característica complexa que envolve mecanismos genéticos, fisiológicos e morfológicos (MEKBIB, 2002).

A média obtida para a produtividade de grãos nos experimentos conduzidos em Pelotas (safra 2004), Santo Augusto (safra 2005), Santo Augusto (safrinha 2006) e Pelotas (safra 2005) foi superior à média geral (2097kg ha-1), caracterizando ambientes favoráveis (índices ambientais positivos) (Tabela 2). Os demais experimentos apresentaram índices ambientais negativos, representando ambientes desfavoráveis. Assim, será possível identificar genótipos com adaptação ampla e específica e verificar a sua previsibilidade de comportamento.

As novas linhagens de feijão desenvolvidas pela EMBRAPA (Clima Temperado e Arroz e Feijão), FEPAGRO, EPAGRI e IAPAR apresentaram produtividade de grãos superiores às cultivares testemunhas em cinco ambientes (contrastes significativos) (Tabela 2). Nos demais ambientes, os contrastes não foram significativos e as linhagens apresentaram desempenho médio semelhante à média das testemunhas. Assim, linhagens com produtividade média superior ou similar às cultivares testemunhas – “BRS Expedito”, “Guapo Brilhante”, “Pérola” e “Carioca” – foram avaliadas no EVCU-SB do biênio 2004 e 2005, representando os avanços tecnológicos no desenvolvimento de germoplasma com alto potencial de produtividade de grãos.

Os coeficientes de variação experimental variaram de 6,1% (Santo Augusto – safra 2004) a 26,0% (Sobradinho – safra 2004). Como a instrução normativa número 25, de 23 de maio de 2006, considera que apenas experimentos com coeficiente de variação de 25%, no máximo, sejam aproveitados para a inscrição de cultivares de feijão no RNC-MA (BRASIL, 2006), apenas o experimento de Sobradinho (safra 2004) não será considerado para fins de registro.

A avaliação dos genótipos pelo método de EBERHART & RUSSELL (1966) permitiu identificar a cultivar “Guapo Brilhante” com adaptação específica a ambientes desfavoráveis (bi<1) (Tabela 3). Por sua vez, a linhagem “TB 98-20” e a cultivar “Carioca” apresentaram adaptação a ambientes favoráveis (bi>1). Os demais genótipos foram de adaptação geral às condições de cultivo da região Sul do Brasil, pois o coeficiente bi foi semelhante à unidade (bi=1). Entretanto, apenas as cultivares “SCS 202 Guarᔠe “BRS Expedito” e as linhagens “CHP 99-54”, “SM 98-09” e “LP 01-51” mostraram-se estáveis (desvio da regressão não-significativo). No entanto, a linhagem LP 01-51 obteve produtividade média inferior à média geral.

A linhagem “LP 99-79” pode ser considerada promissora, pois, além de apresentar a maior média de produtividade de grãos (2385kg ha-1), tem ampla adaptabilidade. Porém, sua desvantagem é a baixa previsibilidade de comportamento (s2di # 0), que pode representar prejuízos econômicos ao agricultor, se o cultivo for realizado em condições de ambiente desfavoráveis.

Os genótipos “SCS 202 Guará”, “BRS Expedito”, “CHP 99-54” e “SM 98-09” foram considerados desejáveis, segundo os critérios de EBERHART & RUSSELL (1966), ou seja, apresentaram coeficiente de regressão igual à unidade (ampla adaptabilidade), desvio da regressão igual a zero (estabilidade alta) e produtividade de grãos superior à média geral (2097kg ha-1). Em trabalho conduzido por PIANA et al. (1999), em 23 municípios do RS, entre 1988 e 1994, totalizando 72 ambientes, não foi possível identificar nenhuma cultivar de feijão com estabilidade de produção para o RS. Assim como neste trabalho, a maioria dos genótipos pertencia à Embrapa e à Fepagro e na época não se tinha a tradição de se realizar a avaliação da produtividade em outros Estados. Assim, a pressão de seleção contribuiu para o desenvolvimento de germoplasma com alta adaptação, mas sem estabilidade de produção. O VCU-SB, por sua vez, avaliou linhagens de cinco programas de melhoramento e em quatro Estados. Como conseqüência da maior diversidade de clima, de solo e de fatores bióticos, aliada a ações integradas dos programas de melhoramento genético, foi possível selecionar genótipos de base genética ampla e identificar os mais estáveis para a região Sul do Brasil.

Pelo método de LIN & BINNS (1988), os genótipos que apresentaram menor valor de Pi foram “LP 99-79”, “CHP 99-54” e “SCS 202 Guará”, evidenciando maior estabilidade de produção, além de alta produtividade média nas condições de cultivo na região Sul do Brasil (Tabela 3). Assim, os genótipos com menor Pi são desejáveis, pois apresentaram menor desvio em relação à produtividade máxima em cada ambiente, ou seja, obtiveram desempenho próximo ao máximo na maioria dos ambientes. A metodologia de LIN & BINNS (1988) também possibilitou a identificação de cultivares e de linhagens de feijão com alta estabilidade fenotípica associada ao alto desempenho médio em vários ambientes de cultivo (ABREU et al., 1998; NUNES et al., 1999; BORGES et al., 2000; CARBONELL et al., 2001; BACKES et al., 2005; CARBONELL et al., 2007; MELO et al., 2007).

Considerando a decomposição proposta por CARNEIRO (1998), identificaram-se os genótipos “LP 99-79”, “CHP 99-54” e “TB 98-20” com adaptação a ambientes favoráveis (<Pif) e os genótipos “LP 99-79”, “CHP 99-54” e “Guapo Brilhante” com adaptação a ambientes desfavoráveis (<Pid) (Tabela 3). De modo semelhante, CARBONELL et al. (2001) e MELO et al. (2007) também identificaram germoplasma de feijão com maior estabilidade, mais responsivos a ambientes favoráveis e mais adaptados a ambientes desfavoráveis, utilizando a metodologia de LIN & BINNS (1988), modificada por CARNEIRO (1998).

As metodologias de EBERHART & RUSSELL (1966) e de LIN & BINNS (1988), modificada por CARNEIRO (1998), foram concordantes na identificação de genótipos com estabilidade de produção (“CHP 99-54” e “SCS 202 Guará”), com adaptação a ambientes favoráveis (“TB 98-20”) e a ambientes desfavoráveis (“Guapo Brilhante”).

A linhagem “CHP 99-54” (grãos pretos) e a cultivar “SCS 202 Guarᔠ(grãos tipo carioca) apresentaram alta produtividade de grãos, adaptação e estabilidade de produção para o cultivo no Estado do Rio Grande do Sul. Por isso, elas deverão ser indicadas para o registro no RNC-MA pelo programa obtentor da cultivar. Além disso, a utilização dessas cultivares de feijão deverá ser recomendada pela assistência técnica, pois a estabilidade de produção representará vantagens mercadológicas aos produtores de feijão do RS.

CONCLUSÕES

Os métodos de Eberhart & Russel e de Lins & Binns, modificado por Carneiro, foram concordantes na identificação de germoplasma de feijão com estabilidade fenotípica. Os genótipos “CHP 99-54” e “SCS 202 Guarᔠapresentam produtividade de grãos acima da média geral, alta adaptação e estabilidade de produção, sendo indicados para o registro no RNC-MA, para o cultivo no RS, pelo programa de melhoramento obtentor da cultivar.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa concedida. Aos colegas Guido Renato Sander e Antônio Losso, da FEPAGRO, e Luiz Fernando de Oliveira, da EMATER, pelo auxílio na condução dos experimentos em Maquiné, Santo Augusto e Sobradinho, respectivamente.

Recebido para publicação 24.01.08

Aprovado em 02.05.08

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  • 1
    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2008

    Histórico

    • Recebido
      24 Jan 2008
    • Aceito
      02 Maio 2008
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