Acessibilidade / Reportar erro

Princípios básicos da pesquisa relacional, dialógica e colaborativa 1 1 Editor responsável: Adriana Varani. https://orcid.org/0000-0002-7480-4998 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Luan Maitan – revisao@tikinet.com.br

Resumo

Este artigo, baseando-se na perspectiva construcionista social, visa apresentar uma possibilidade metodológica para pesquisas fundamentadas em princípios relacionais, de colaboração e diálogo. O texto apresenta as bases teóricas desta perspectiva e suas influências na realização de uma pesquisa científica. Uma pesquisa relacional, que também pode ser definida como dialógica ou colaborativa, tem como centro de suas preocupações as relações entre as pessoas, o diálogo e o trabalho colaborativo. Embora seus princípios possam ser úteis para vários tipos de investigações, tendemos a considerar que dizem muito mais respeito a pesquisas que envolvem seres humanos, especialmente no âmbito das Ciências Sociais e Humanas. Teoricamente, essas pesquisas se fundamentam em perspectivas chamadas pós-modernas, que tem por características a crítica aos fundamentos da Ciência Moderna e também os estudos construcionistas sociais que partem do princípio de que qualquer conhecimento é construído socialmente. Essas pesquisas não trazem propostas metodológicas pré-definidas e estabelecidas, pelo contrário, convidam os pesquisadores a se abrirem a novos diálogos com seus sujeitos de pesquisa, convidando-os a tornarem-se co-construtores da investigação, criando espaços de inclusão e diversidade dentro dos estudos científicos.

Palavras-chave
pesquisa relacional; pesquisa colaborativa; diálogo; construcionismo social

Abstract

This articleessay, based on the social construcionist perspective, aims to present a methodological possibility for research based on relational, collaboration and dialogue principles. The text presents the theoretical bases of this perspective and is influences in carrying out scientific research. A relational research, that can also be defined as dialogic or collaborative, has as its center of attention the relationships between people, dialogue and collaborative work. Although its principles may be useful for various types of research, we tend to consider them to be much more concerned with research involving human beings, especially in the Social Sciences and Humanities. Theoretically, these researches are based on so-called postmodern perspectives that have as characteristics the criticism to the foundations of Modern Science as well as the social constructionism studies that assume that any knowledge is socially constructed. On the contrary, they invite researchers to open up new dialogues with their research subjects, inviting them to become co-constructors of research, creating spaces of inclusion and diversity within of scientific studies.

Keywords
relational research; collaborative research; dialogue; social constructionism

Este artigo3 3 Este artigo é parte de uma pesquisa de pós-doutorado que está sendo realizada no Instituto Kanankil na cidade de Mérida, no México. Agradeço às valiosas contribuições de María del Rocío Chaveste Gutierrez y Papusa – María Luisa Molina López para o artigo através de leituras e conversas agradáveis de muito aprendizado. Agradeço também aos participantes do Grupo de Estudos sobre construcionismo social e colaboradores na realização deste trabalho: Rita, Uyrá, Pedro, Jaqueline, Luana e Márcia. tem por objetivo apresentar os princípios básicos de uma pesquisa relacional, que também pode ser definida como dialógica ou colaborativa4 4 Indagação social colaborativa também é o nome de um tipo de pesquisa que: “… fue desarrollado por Janice DeFehr (2008), el cual es un enfoque que proviene de la comunidad internacional de prácticas colaborativas, está inspirado en Harlene Anderson y sus colegas colaborativos” (Infante, 2013, p. 7). , e que tem como centro de suas preocupações o que os seus próprios nomes indicam, ou seja, as relações entre as pessoas, o diálogo e o trabalho colaborativo. Embora seus princípios podem ser úteis para vários tipos de investigações, tendemos a considerar que dizem muito mais respeito a pesquisas que envolvem seres humanos, especialmente no âmbito das Ciências Sociais e Humanas. Apresentamos aqui as bases teóricas desses princípios e suas influências na realização de uma pesquisa científica, a partir de uma revisão bibliográfica sobre o assunto.

Este tipo de pesquisa parte da perspectiva pós-moderna que definimos aqui como um conjunto de estudos que questionam a possibilidade de que o conhecimento seja universal e passível de generalização, pois toda explicação da realidade é sempre local e parcial. Por mais organicidade, sistematicidade e validade que tenha o conhecimento científico, trata-se de um conhecimento válido dentro de um conjunto de princípios, paradigmas e circunstâncias específicos e não necessariamente melhor ou mais verdadeiro que os demais.

A tradição de pesquisa dominante surgiu dentro de uma visão de mundo modernista. O modernismo pressupõe que, com as ferramentas e técnicas adequadas, seremos capazes de descobrir a realidade. Naturalmente, parte e parcela dessa suposição é a crença de que existe uma realidade a ser descoberta. … O pós-modernismo, por outro lado, desafia a noção de que existe uma realidade a ser descoberta. Em vez disso, os teóricos pós-modernos propõem que nossos modos de conversar e relacionar uns com os outros e com o mundo sejam o foco do estudo e, portanto, a ideia de múltiplas verdades, múltiplas realidades e múltiplos métodos de exploração dessas realidades é primordial5 5 Como forma de facilitar a compreensão do texto, fiz traduções das citações originalmente em inglês e coloquei a citação no idioma de origem em nota de rodapé.

(McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 74)6 6 “The dominant research tradition has emerged within a modernist worldview. Modernism assumes that, with the proper tools and techniques, we will be able to discover reality. Of course, part and parcel of this assumption is the belief that there is a reality to be discovered. […] Postmodernism, in the other hand, challenges the notion that there is one reality to be discovered. Instead, postmodern theorists proposes that our ways of talking and relating to each other and the world should be the focus of the study and therefore, the idea of multiple truths, multiple realities, and multiple methods for exploration such realities is paramount.” (McNamee, 2014, p. 74) .

Além disso, para alguns autores, na ânsia por tornar os fenômenos sociais objetivos, quantificáveis e verificáveis visando obter o status de ciência, as ciências humanas e sociais precisam ocultar os aspectos relacionais dos fenômenos vivos, e a consequência disso é a perda dos elementos centrais de sua investigação. Segundo John Shotter “… ninguna de las ‘ciencias llamadas sociales’ llega a cumplir con estos requisitos [básicos da ciência moderna, como objetividade, abstração, sistematicidade e previsibilidade]” (2012, p. 22), e Kenneth Gergen argumenta que:

… la psicología social es primariamente una investigación histórica. A diferencia de las ciencias naturales, trata con hechos en gran medida irrepetibles y que fluctúan marcadamente a través del tiempo. Los principios de la interacción humana no se pueden desarrollar fácilmente con el paso del tiempo porque se basan en hechos que generalmente no permanecen estables. El conocimiento no se puede acumular en el sentido científico usual porque dicho conocimiento generalmente no trasciende los límites históricos

(Gergen, 1973/2008Gergen, K. J. (2008). A psicologia social como história. Psicologia & Sociedade, 20(3): 475-484. (O texto original foi publicado em 1973, no Journal of Personality and Social Psychology, 26(2), 309-320.), p. 5).

“A falta de uniformidade ao longo da pesquisa qualitativa é, portanto, inerentemente necessária, não problemática” (McNamee, 2008Mcnamee, S. (2015, november, 15) Presencia radical: alternativas para el estado terapéutico. European Journal of Psychotherapy and Counselling, 17(4), 1-10., p. 73). Comentando Wittgenstein, Sheila McNamee defende que é um engano tentar sistematizar o que não é sistemático e classifica as pesquisas existentes em três categorias: quantitativas (diagnósticas), qualitativas (interpretativas) e relacionais (orientadas ao processo) e define as principais características de cada uma.

Quadro 1
Características das pesquisas quantitativas, qualitativas e relacionais7 7 Este quadro é uma tradução adaptada da “Table 1 – Understanding Consistency and Inconsistency across Research Words” (McNamee, 2014, p. 77).

Para McNamee (2008), três princípios marcam uma pesquisa relacional: a mudança da ênfase do individual para o relacional; o entendimento de que tudo que falamos é uma construção social e que não há possibilidade de descobrir uma verdade absoluta, universal, pois ela é sempre uma criação a partir de determinados pontos de vista; e a terceira é de que a linguagem não representa o mundo, mas o constitui, o cria. Muitas dessas pesquisas estão fundamentadas em uma metateoria denominada construcionismo social, que parte do pressuposto de que nossa percepção do mundo é sempre construída socialmente, não vemos o mundo como ele é, mas como aprendemos a ver, a partir dos nossos contextos sociais8 8 Para maiores informações sobre o construcionismo social, confira Gergen (2007) e Gergen e Gergen (2011). . De acordo com a autora, não se trata de invalidar outros tipos de pesquisa e considerar que a pesquisa relacional deve substituir uma visão moderna de ciência. Cada pesquisa tem a sua contribuição para o conhecimento e será ainda maior se for reconhecida como uma forma de explicar o mundo, e não a única ou a melhor.

Definir um determinado conhecimento como superior oculta interesses de dominação e poder, como nos adverte Foucault: “O poder produz saber …, não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder” (2010, p. 30). Portanto, uma relação dialógica, a princípio, necessita de um reconhecimento do outro, dos seus saberes, do seu jeito de ser e estar no mundo.

Moacir Gadotti, Paulo Freire e Sérgio Guimarães (1995)Gadotti, M., Freire, P., Guimarães, S. (1995). Educar, ler, escrever e contar + ouvir, falar e gritar. In Pedagogia: diálogo e conflito. 4a ed. São Paulo: Cortez. afirmam que o respeito à diferença é muito importante para a educação popular, o que estendemos aqui para uma ciência que seja também geradora de conhecimentos úteis a todos. “Hoje percebemos com muita clareza que a diferença não deve apenas ser respeitada. Ela é a riqueza da humanidade, base de uma filosofia do diálogo” (p. 1). No entanto, para os autores: “… o diálogo só dá entre iguais e diferentes, nunca entre antagônicos” (p. 94). Creio que, quando dizem do antagonismo, os autores chamam a atenção para aquele tipo de fala que visa convencer ou ganhar a opinião do outro. Nesse caso, não se trata de uma verdadeira escuta do outro, mas de um embate, de um jogo de ganha ou perde. Quando se vai para o diálogo com uma perspectiva de que há um conhecimento mais adequado ou verdadeiro, tende-se a um embate de ideias, e não um verdadeiro diálogo.

E o que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança. Por isso, só o diálogo comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então, uma relação de empatia entre ambos. Só aí há comunicação

(Freire, 1967Freire, P. (1967). Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 107).

A definição de Paulo Freire sobre antidiálogo também nos ajuda a pensar como, em geral, realizamos nossas atividades de pesquisa:

O antidiálogo, que implica numa relação vertical de A sobre B, é o oposto a tudo isso. É desamoroso. É acrítico e não gera criticidade, exatamente porque desamoroso. Não é humildade. É desesperançoso. Arrogante. Autossuficiente. No antidiálogo quebra-se aquela relação de “simpatia” entre seus pólos, que caracteriza o diálogo. Por tudo isso, o antidiálogo não comunica. Faz comunicados

(Freire, 1967Freire, P. (1967). Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 107-8).

Os pesquisadores vão a campo de fato para ouvir e dialogar com os sujeitos de pesquisa, para conhecer, compreender ou simplesmente para obter dados para a pesquisa? É possível fazer pesquisa dialógica quando os sujeitos da pesquisa são considerados ignorantes, quando seus saberes são menos reconhecidos ou validados?

As imagens a seguir mostram, de maneira criativa e divertida, como tendemos a nos considerar moralmente superiores aos demais, o que, afinal, pode significar também como pensamos que nossos conhecimentos, nossa forma de ver o mundo é mais correta e adequada que as demais, o que nos impede ou dificulta ouvir e considerar os pontos de vistas alheios e contrários aos nossos com a devida atenção e respeito. Atualmente, as redes sociais permitem bloquear e excluir aqueles que se opõem às nossas ideias, mas na vida cotidiana, como as imagens indicam, frequentemente, tendemos a menosprezar opiniões diferentes das nossas, considerando-as imaturas, parciais, equivocadas ou falsas. Subestimar e ridicularizar a percepção do outro não favorece o diálogo. As imagens a seguir expõem o quanto esse comportamento é arrogante. Na certeza de que nossa opinião é a melhor, deixamos de ouvir e considerar possibilidades de ver e compreender o mundo de maneiras distintas, que não são necessariamente melhores ou piores, mas são outros pontos de vista9 9 Ao estudar comunicação interpessoal, Theodor Newcomb, em 1950, publicou o modelo ABX, no qual busca explicar como duas pessoas A e B se comportam em relação a um fato, assunto ou ação X tendendo ao consenso ou ao dissenso. Cf. Martino, 2017. .

Figura 1
Pirâmide de la Superioridad Moral

De acordo com DeFehr: “Quando entendemos dialogicamente, nos abrimos para a influência formativa do outro e da alteridade; nos permitimos ser capturados, presos, possuídos por coisas fora de nós mesmos”10 10 “When we understand dialogically, we open ourselves to the formative influence of the other and of otherness; we allow ourselves to be captured, imprisoned, possessed by things outside ourselves” (DeFeher, 2008, p. 66). (2008, p. 66). Nas pesquisas relacionais, o pesquisador abre mão do controle, na medida em que convida os seus parceiros conversacionais como participantes nos processos de investigação. Considerando que as pesquisas que aqui tratamos partem das premissas já discutidas, discutiremos os aspectos metodológicos que envolvem uma pesquisa relacional.

Pesquisa relacional e procedimentos metodológicos

“La indagación dialógica colaborativa, como método de investigación,

es inherentemente generativa y transformadora,

así como es en la vida cotidiana.”

(DeFehr, s.d, p. 5)

Como fazer uma pesquisa relacional? Que tipo de metodologias utilizam este tipo de pesquisa? Começamos por afirmar que pesquisas dessa natureza não apresentam métodos específicos com técnicas definidas a serem seguidas pelo investigador, justamente porque seu enfoque central não é sua metodologia, seu referencial teórico ou seus objetivos, mas as pessoas. “O método, na prática da terapia colaborativa, está sempre ‘a caminho’, sempre ‘uma vez’ e irrepetível, sempre uma primeira ‘estreia’ que surge de uma situação dialógica histórica particular” (DeFeher, 2008, p. XVI)11 11 “Method, in collaborative therapy practice, is always ‘on the way’, always ‘once off’ and unrepeatable, always a first time ‘premiere’ arising out of particular, historical dialogical situation” (DeFehr, 2008, p. XVI). . São pesquisas que visam conhecer as pessoas e estudar os fenômenos humanos e sociais da maneira mais relacional e colaborativa possível.

Ao fazer uma pesquisa relacional, o pesquisador deve estar sempre atento, visando construir uma pesquisa “com” e não “sobre” os seus sujeitos de pesquisa, a ponto de haver uma diluição de papéis, em que os sujeitos participantes são convidados, sempre que possível, a tomar decisões e participar ativamente da pesquisa. É, portanto, um tipo de trabalho não dirigido ou controlado pelo pesquisador. Claro que em nenhuma pesquisa há liberdade total. Há vários limitantes: o tempo, os recursos financeiros e pessoais, o resultado que se espera do trabalho: um artigo, uma tese, uma dissertação, um relatório, seja o que for. A partir desses fatores que, de alguma forma, vão, por si sós, definir o que é preciso e o que é possível ou não ser feito, o pesquisador deve buscar envolver o máximo possível os participantes na pesquisa em todas as fases do processo.

É muito frequente que o pesquisador, nas pesquisas que envolvem seres humanos, defina o que quer pesquisar, os seus objetivos, elege as teorias que podem ajudar na análise dos dados, escolhe os sujeitos ideais para obter os dados que precisa e define os métodos mais adequados para coletar aquelas informações. Feito isso, vai a campo, coleta o máximo de dados que consegue, retorna para analisar e relatar o que encontrou, finalizando o trabalho com uma ou mais publicações que, em algumas situações, nem chegam ao conhecimento daquelas pessoas que efetivamente participaram do processo de investigação. O objetivo desta pesquisa é aumentar o conhecimento científico sobre um determinado assunto, e seus resultados são publicados para um público específico, que está nas universidades, que lê artigos científicos ou frequenta congressos acadêmicos. Este é o modelo de pesquisa tradicional centrado na metodologia científica, e não nas pessoas que produzem o conhecimento.

Tomar, desde o início, esse envolvimento com os pesquisados significa envolver os participantes desde antes da elaboração da pesquisa em si mesma, já que o ideal é que o estudo seja de interesse do grupo, e não apenas do pesquisador. De acordo com Janice DeFehr, para se fazer uma pesquisa com as pessoas e não sobre elas, as perguntas de pesquisa precisam ser pensadas de forma diferente do que costumeiramente fazemos, devendo ser:

… una indagación que tenga sentido, urgencia y relevancia para personas y comunidades. Las preguntas de investigación tienen historias personales, sociales y políticas. La indagación colaborativa es motivada por preguntas que importan y hacen una diferencia para los participantes de la investigación, en vez de ser preguntas que aparentemente derivan de la astucia individual de un individuo investigador

(DeFehr, s.d.Defehr, J. (s.d). Investigación de acción dialógica: el fenómeno de agencia democrática y transformativa de la habilidad de respuesta. Mimeo., p. 8).

Quando não se conhece bem o grupo com o qual se vai trabalhar, é importante, sempre que possível, aproximar-se, fazer visitas, acercar-se, conhecer um pouco da realidade, do seu contexto, do universo o qual se pretende investigar ou onde situam as pessoas pesquisadas. Shotter (2012)Shotter, J. (2012) Más que la fría razón: “pensar com” o “pensamiento sistémico” y “pensar acerca de sistemas”. International Journal of Colaborative Practices. 3(1), p. 14-27. também sugere que, em vez de começarmos por teorias, comecemos nossas investigações a partir de nossas observações do cotidiano.

As questões da pesquisa, a própria metodologia e os principais conteúdos do trabalho podem ser construídos em conjunto com os participantes. Se essas pessoas não podem, por algum motivo, participar diretamente da construção dos processos, é importante que o pesquisador, de alguma forma, considere o que lhe parece ser importante e, se der conta de que, em algum momento, o que está fazendo não interessa ao grupo, esteja disposto a fazer mudanças, ou pelo menos a tentar aproximar-se dos interesses do grupo e, se não for possível, em última instância, que tenha clareza disso também.

O conceito de não-saber, desenvolvido por Harlene Anderson e Harry Goolishian (2008) ao abordarem a prática terapêutica, também é útil ao investigador, dentro dessa perspectiva. A proposta do não-saber tem por objetivo manter o terapeuta ou o pesquisador profundamente interessado e aberto a ouvir o outro. Quando o pesquisador vai a campo cheio de hipóteses, tende mais a considerar o que já imagina que vai encontrar do que, de fato, está aberto para ouvir plenamente o outro. Quando não se sabe, é a curiosidade, a pergunta que domina. Nesse sentido, o pesquisador está muito mais disponível para acolher perspectivas, ideias, projetos que nunca tinha imaginado anteriormente. “Harlene Anderson y Harry Goolishan, innovadores de la postura colaborativa en la práctica terapéutica introdujeron por primera vez el término ‘no saber’ a principles de los anõs 90” (DeFeher, Amam, Barros, & Wai, 2012Defehr J., Adam, O., Barros, C., Rodriguez, S., & Wai, S. B. (2012, june 14). El “no saber” y “asumir” en los servicios sociales para refugiados e inmigrantes en Canadá: una investigación conversacional sobre la postura del terapeuta. International Journal of Collaborative Practices, 3(1), p. 89-103., p. 92). Aqueles que praticam o não-saber: “Sin embargo, reconocen que los profesionistas, sin importar cuan experimentados sean, no pueden saber mejor que otros como deben vivir sus vidas” (DeFeher, Amam, Barros, & Wai, 2012Defehr J., Adam, O., Barros, C., Rodriguez, S., & Wai, S. B. (2012, june 14). El “no saber” y “asumir” en los servicios sociales para refugiados e inmigrantes en Canadá: una investigación conversacional sobre la postura del terapeuta. International Journal of Collaborative Practices, 3(1), p. 89-103., p. 92). Ao abordar a terapia colaborativa, Cynthia Infante afirma:

… cliente y terapeuta son socios conversacionales comprometidos en una relación colaborativa y en una conversación dialógica; el cliente es experto en su propia vida y el terapeuta es el experto en crear un espacio conversacional; el cliente y el terapeuta se unen en una indagación mutua; el terapeuta trabaja desde la postura del no-conocer, la cual es una postura escéptica y tentativa acerca del conocimiento, es una actitud en que la se cree que nunca se puede comprender plenamente a una persona, se tiene la necesidad de estar siendo informado constantemente…

(Infante, 2013Infante, C. L. S. (2003) Ser mujer: diálogos intergeneracionales. Tesis de Maestria. Instituto Kanankil. Mérida, México., p. 14).

Fazendo uma transposição do contexto terapêutico para o contexto da investigação científica, podemos afirmar que o investigador relacional deve saber provocar o diálogo, criar e manter uma conversação respeitosa em que todas as vozes podem ser ouvidas:

Também ficamos curiosos de quem é mais generativo. Isso também convida a pesquisa do construcionismo a fazer perguntas sobre quais vozes são silenciadas, que práticas estão sendo privilegiadas e que ordens morais estamos criando em nossa pesquisa. Em outras palavras, a pesquisa do construcionismo é convidada para um espaço reflexivo onde a deliberação e a curiosidade são apresentadas

(McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 82)12 12 “We also became curious from whom it is most generative. This also invites the constructionism research to ask questions concern whose voices are silenced, what practices are being privileged, and what moral orders we are creating in our research. In other words, the constructionism research is invited into a reflexive space where deliberation and curiosity are featured.” (McNamee, 2014, p. 82) .

Uma das principais características desse tipo de pesquisa é a sua proposta em justamente considerar o que, geralmente, está fora dos padrões, da norma, ouvindo falas dissonantes, menos visíveis, ampliando o contexto de compreensão da temática pesquisada.

Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver ou encarnar essa constatação evidente, enquanto educador ou educadora, significa reconhecer nos outros - não importa se alfabetizandos ou participantes de cursos universitários; se alunos de escolas de primeiro grau ou membros de uma assembleia popular − o direito de dizer a sua palavra. De escutá-lo corretamente, com a convicção de quem cumpre um dever e não com a malícia de quem faz um favor para receber muito mais em troca. Mas, como escutar implica falar também, ao dever de escutá-los corresponde também o direito de falar a eles. Escutá-los no sentido acima referido é, no fundo, falar com eles, enquanto simplesmente falar a eles seria uma forma de não os ouvir. Dizer-lhes sempre as nossas palavras, sem jamais nos expormos e nos oferecermos à deles, arrogantemente convencidos de que estamos aqui para salvá-los, é uma boa maneira que temos de afirmar o nosso elitismo, sempre autoritário. Este não pode ser o modo de atuar de uma educadora ou de um educador cuja opção é libertadora

(Freire, 1989Freire, P. (1989). A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23a ed. São Paulo: Cortez., p. 17).

Como a linguagem científica é exclusiva de um grupo restrito, uma das primeiras preocupações de um pesquisador que quer integrar diversas vozes à sua investigação é uma aproximação à linguagem do grupo pesquisado. O uso de uma linguagem comum e cotidiana aproxima o investigador das pessoas que contribuem para a pesquisa:

Cada parte del evento de investigación cambia cuando la indagación se conduce por los métodos de indagación dialógicamente familiares a sus miembros. La pregunta de investigación emerge colectivamente desde los participantes de la investigación. Los participantes los libres de comunicarse en sus formas usuales, familiares y dialógicas de hablar y escribir. Es investigador se une con los participantes en el papel de co-respondiente, en vez de analista o intérprete posicionado encima y fuera de los expresado por los participantes (DeFehr, s.d.Defehr, J. (s.d). Investigación de acción dialógica: el fenómeno de agencia democrática y transformativa de la habilidad de respuesta. Mimeo., p. 21).

Como a ideia é aproximar-se o máximo possível do universo cotidiano dos pesquisados, sugere-se o uso de formas conhecidas de relação e obtenção de conhecimentos, e a principal e mais básica de todas é o diálogo. O diálogo é muito mais familiar à maioria das pessoas do que entrevistas, questionários, preenchimento de formulários etc. Em relação à entrevista, DeFehr afirma que, por esta ser planejada, definida e conduzida pelo pesquisador, que guia o entrevistado com suas ideias pré-concebidas em relação ao que quer saber e do que espera que o participante contribua, esta, por menos estruturada que seja, dá muito menos chance de envolvimento aos participantes, cujo papel se reduz a responder às perguntas que lhes são feitas.

Determinado el orden y el contenido de lo que se preguntará, el modo de entrevista contiene el discurso del respondiente dentro de parámetros pre-establecidos. Las preguntas de la entrevista implican sus respuestas; las respuestas nunca se alejan de las preguntas que las preceden

(DeFehr, s.d, p. 7).

DeFehr cita o linguista Roger Shuy (2003) para diferenciar entrevista e diálogo. Segundo o autor (citado por DeFehr, 2008), a entrevista é uma conversa com uma série de perguntas e respostas conduzidas e organizadas pelo entrevistador. No caso do diálogo, há uma simetria entre os participantes e a conversa é livre, havendo possibilidade de mudar o conteúdo, introduzir tópicos, como se faz em uma conversa cotidiana. Para ele, numa entrevista há uma clara desigualdade de poder, em que o entrevistado tem o poder de conduzir as falas, enquanto no diálogo favorece uma interação mútua e uma horizontalidade de relações.

Ninguém sabe, ao iniciar um diálogo, que pontos exatamente vai se falar daquele assunto. Quando o pesquisador chega com um questionário, ele já tem o mapa da conversação traçado, só lhe falta completar com os dados que o entrevistado lhe traz. No diálogo, tanto o conteúdo quanto o caminho se fazem juntos, com a participação de pesquisador e pesquisado e, quanto mais diluídos forem estes posicionamentos, melhor, já que se dissolvem as hierarquias e ambos passam a ser parceiros na conversação.

O diálogo é uma ação conjunta, depende de todas as pessoas envolvidas: “Nossas expressões e respostas de conversação não estão sozinhas como resultados de nossos próprios esforços independentes de intenções, separados da influência externa”13 13 “Our conversational expressions and responses do not stand alone as outcomes of our own independent efforts of intentions, separate from outside influence” (DeFehr, 2008, p. 28). (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 28). A autora cita Gadamer (2004), dizendo que, para este autor, é mais correto dizer que a conversa conduz os participantes, que estes a conduzem. A conversação genuína, para o autor, tem um fluxo próprio e envolve as pessoas dentro dele que interagem e participam neste processo, mas não necessariamente conduzem ou controlam o que vai acontecer.

Assim como o próprio diálogo desdobramento molda nossa participação dentro dele, a influência da ação conjunta derrama além dos parâmetros de uma conversa particular, à medida que nos muda em nossos modos de estar no mundo. Atitudes, identidades, desejos, prioridades e relacionamentos nos deslocam como resultado não intencional do engajamento dialógico entre eles

(DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 30)14 14 “Just as unfolding dialogue itself shapes our participation within it, the influence of joint action spills beyond the parameters of a particular conversation, as it changes us in our ways of being in the world. Attitudes, identities, desires, priorities, and relationships shift us as unintended result of dialogic engagement with each other” (DeFehr, 2008, p. 30). .

A autora sugere que o diálogo é uma ação conjunta. O diálogo nasce do encontro, mas não se sabe quando termina, é um processo aberto. Mesmo que tenhamos saído de uma conversação, podemos continuar este diálogo por muitos dias, meses ou anos. Para DeFehr: “Abertura, participação e resposta, em vez de consenso ou acordo, são fatores cruciais em cada situação de diálogo” (2008, p.26)15 15 “Openness, participation, and response, rather than consensus or agreement, are crucial factors in each dialogue situation” (DeFehr, 2008, p. 26). .

A espontaneidade e a corporeidade são algumas das características desta pesquisa para DeFehr (s.d)Defehr, J. (s.d). Investigación de acción dialógica: el fenómeno de agencia democrática y transformativa de la habilidad de respuesta. Mimeo.: a primeira, porque não há um planejamento exato do que vai acontecer, já que o pesquisador depende da participação dos sujeitos da pesquisa. Juntos, eles vão dar um rumo ao conteúdo pesquisado. A segunda, porque a construção da pesquisa é não apenas cognitiva, racional, mas envolve as sensações corporais. Estar com o outro não apenas com a escuta, mas com uma presença radical, percebendo o outro também em sua integralidade.

Sin embargo, no hay una técnica, un método o una estrategia específica que acompañe la presencia radical. En vez de eso, hay una forma en la que uno se posiciona en el mundo. … Mi posición (mi terreno) es cambiado en virtud de considerar al tuyo. Ya no es mi punto de vista y yo contra tu punto de vista y vos. Es mi punto de vista en relación a tu punto de vista. Diálogo, como una forma de presencia radical, alienta la curiosidad por lo diferente, apertura a la formación de nuevas comprensiones, y un movimiento que se aleja del acuerdo o de la adjudicación de perspectivas

(NcNamee, 2015Mcnamee, S. (2015, november, 15) Presencia radical: alternativas para el estado terapéutico. European Journal of Psychotherapy and Counselling, 17(4), 1-10., p. 4).

Para iniciar o trabalho dialógico, é fundamental que as pessoas estejam cômodas, confortáveis, participem voluntariamente e que tenham o desejo de estar ali. O pesquisador deve estar atento para ser um bom anfitrião, ser cordial, tirar as dúvidas, criar e manter um espaço de livre conversação, criando um clima de confiança, de boa vontade, de liberdade e aceitação incondicional das pessoas. Deve-se criar um momento inicial para que as pessoas se conheçam, se apresentem, tenham a oportunidade de saber com quem vão dividir suas ideias e opiniões e se sentirem à vontade para expressar-se, discordar e argumentar.

Para DeFehr, o investigador, neste tipo de pesquisa, nunca deve se afastar do seu grupo de investigação, mantendo-se sincronizado com os participantes. Diferentemente da metodologia tradicional de pesquisas qualitativas, o pesquisador, uma vez tendo coletado os dados que precisava para sua pesquisa, não se retira, analisando os dados, selecionando, destacando, eliminando com vistas a construir seu trabalho de pesquisa. Na pesquisa dialógico-colaborativa, o pesquisador está sempre em contato, discutindo, dividindo suas dúvidas, suas percepções, suas conclusões com os seus parceiros conversacionais, considerando que a autoria de sua pesquisa é dividida com os participantes deste processo.

DeFehr defende a necessidade de uma resposta no diálogo. Para ela, nada pior do que a não resposta, que sugere indiferença, quando o outro não participa da interação. Ademais, a escuta deve ser integral, ou seja, não apenas racional, mas envolver todo o corpo, todos os sentidos. Quem ouve deve estar inteiro na situação para ser capaz de perceber o outro também integralmente.

El dialogismo también propone el carácter múltiple de la autoría de la generación del sentido. Los puntos de vista filosóficos del autor no ocupan el primer lugar. Los personajes parecen liberarse de la tutela de su creador. Poseen una autoridad ideológica y son independientes. Son personas libres, capaces de encarar a su creador, de no estar de acuerdo con él y hasta de oponersele

(Infante, 2013Infante, C. L. S. (2003) Ser mujer: diálogos intergeneracionales. Tesis de Maestria. Instituto Kanankil. Mérida, México., p. 11).

Na maior parte das pesquisas, o pesquisador vai a campo, coleta seus dados, volta, analisa, discute, interpreta, publica e pode, inclusive, apresentar os dados obtidos à população investigada. No entanto, a pesquisa colaborativa e dialógica nos convida a ir além deste retorno formal e que traz as conclusões finais a que chegou o pesquisador. Uma outra característica da pesquisa colaborativa é buscar que tudo que seja dito, produzido, escrito e publicado pela pesquisa tenham a participação dos participantes. Uma das formas de envolver os participantes como co-construtores da pesquisa é dar-lhes a oportunidade de falar sobre as análises, sobre as produções, antes que estas estejam finalizadas.

Nesse tipo de pesquisa, evita-se, ao máximo, que o pesquisador analise e interprete, sozinho, na frente do seu computador, os dados coletados. Tratando de uma busca por uma autoria compartilhada, é importante que suas reflexões e produções sejam conhecidas e comentadas por seus sujeitos, que são cocriadores da pesquisa. Janice DeFeher, por exemplo, em sua pesquisa de doutorado (2008), após a transcrição da roda de conversa que teve com seus colaboradores de pesquisa, fez alguns comentários sobre pontos específicos da transcrição e os enviou aos participantes, pedindo que comentassem o que lhes parecia, e estes lhe enviavam novos comentários sobre o diálogo. Ou seja, eram diálogos sobre diálogos. Ela também lhes pediu que enviassem, por escrito, reflexões sobre o seu trabalho, os quais ela comentava e devolvia, recebendo mais comentários. Infante (2003)Infante, C. L. S. (2003) Ser mujer: diálogos intergeneracionales. Tesis de Maestria. Instituto Kanankil. Mérida, México. também, em sua dissertação de Mestrado, transcreveu suas entrevistas e as devolveu para que as participantes de sua pesquisa comentassem o que lhes parecia e gerassem novas conversações. Esses diálogos sobre diálogos podem ser infinitos, mas, claro, não o serão quando o propósito é divulgar os resultados de uma pesquisa.

Não necessariamente é preciso fazer desta forma, mas o que se destaca aqui são as tentativas de manter sempre o grupo investigado não somente a par do que se passa na pesquisa, mas dando-lhe poder para acrescentar, retirar, sugerir, alterar, ou seja, realmente participar como co-construtor daquela investigação, e não como um mero fornecedores de informações a serem discutidas unicamente pelas lentes do pesquisador. Se o grupo não é alfabetizado, como é possível fazer para que os participantes conheçam e discutam, de alguma forma, os dados da pesquisa? Além disso, é importante pensar como os sujeitos podem participar do seu resultado final. Como é possível levar esses resultados ao grupo que gerou os principais dados da pesquisa? Essa é uma preocupação que caracteriza um tipo de pesquisa dialógica, já que muitos provavelmente não têm interesse em ler ou facilidade para ler um artigo científico, uma dissertação ou tese.

Segundo John Shotter:

Los resultados de nuestras investigaciones no se miden en términos de sus puntos finales − en términos de sus resultados objetivos − sino en términos de qué es lo que aprendemos en el camino, durante el transcurso del despliegue de los movimientos que nos incitaron a hacer

(Shotter, 2012Shotter, J. (2012) Más que la fría razón: “pensar com” o “pensamiento sistémico” y “pensar acerca de sistemas”. International Journal of Colaborative Practices. 3(1), p. 14-27., p. 14).

Uma boa metáfora sobre este tipo de investigação é pensá-la como uma dança coletiva ou em pares, em que uma pessoa pode convidar a outra, sugerir determinados passos de acordo com o som da música, com o momento, com o espaço, com a intimidade que tenha ou não com seu(s) parceiro(s) de dança. Quando as pessoas dançam juntas, de maneira espontânea e não como uma coreografia planejada, elas se complementam, participam conjuntamente da elaboração da dança. Mesmo que sigam algum passo proposto, não há uma imposição, cada um pode adaptar a proposta ao seu modo, ao que lhe parece mais interessante ou adequado, ou ao que consegue realizar.

Ser dialógico como filosofia de vida

DeFeher afirma que o diálogo também pode ser compreendido como uma filosofia de vida: “Ser é ser no diálogo”16 16 “To be is to be in dialogue” (Nikulin, 2006, p. 253, citado por DeFehr, 2008, p. 31). (Nikulin, 2006, p. 253, citado por DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 31). Como seres sociais que somos, somos sempre através dos outros, com os outros. O ser humano, por suas próprias características, dificilmente consegue sobreviver sozinho e, se consegue, incorpora comportamentos de outros animais que observa e interage17 17 Obviamente é muito difícil saber como é um ser humano que nunca interagiu com outras pessoas. Existem alguns casos documentados de crianças chamadas “selvagens” que, ao que parece, foram encontradas depois de longo tempo sem contato com outros seres humanos. Estes casos mostravam crianças ou adolescentes que não tinham adquirido linguagem verbal e que, mesmo com muitos esforços, não conseguiram adquirir um uso da linguagem de maneira fluente, por mais que tenham avançado na aquisição e compreensão de palavras. São casos pouco comuns, mas que podem apontar para a necessidade de uma interação humana para a aquisição de funções psíquicas superiores, como a capacidade de planejamento e a própria linguagem verbal. Vigostki foi um dos autores que defenderam que estas características humanas não se desenvolvem sem a participação de outros seres humanos, ou seja, podemos dizer, sem ações dialógicas. . “Como seres vivos, nós continuamente encontramos e interagimos com os outros e com a alteridade, estamos em contínuo diálogo com o nosso mundo”18 18 “As livings beings, we continually encounter and interact with others and with otherness, we are in continual dialogue with our world” (DeFehr, 2008, p. 32). (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 32).

Citando Bakthin, DeFehr enfatiza que o conhecimento se dá entre as pessoas, e não é algo interno a cada ser humano. A compreensão é dialógica, compreender ou não compreender é fazer parte de um diálogo. As palavras podem ter sentidos diferentes e, muitas vezes, é preciso saber o contexto em que estão sendo utilizadas para se compreender a conversação. Fazem parte do diálogo também a não compreensão, a tentativa de conduzir a conversa para outro rumo, o silêncio, a negativa da resposta, enfim, não dizer também é dizer.

Fazer trabalho em equipe não significa ser colaborativo. Nem sempre é fácil o trabalho horizontal e, inclusive, pode ser mais difícil, até porque nos trabalhos em grupos não estamos acostumados a um trabalho igualitário. Os grupos podem ser construídos de forma autoritária, excludente, desrespeitosa, invalidando algumas falas e pessoas. Algumas pessoas no grupo podem não ser ouvidas, consideradas, terem suas ideias menosprezadas ou ridicularizadas.

Ser colaborativo e dialógico, portanto, não é estar em grupo. Quando estamos sós, podemos ser colaborativos e dialógicos, e, estando em grupo, podemos ser individualistas e competitivos. Trata-se de uma postura, uma maneira de existir, uma filosofia que nos acompanha onde estivermos.

Los cambios innovadores genuinos en las instituciones y organizaciones son cambios ‘profundos’ en el sentido de que son cambios en nuestras ‘maneras’ de pensar, escuchar, de ‘hacer conexiones’ entre acontecimientos, ‘maneras’ de hablar, etc. - en síntesis, son cambios en nuestras ‘maneras’ de ser alguien, cambios en el tipo de persona que somos, cambios en nuestra identidad

(Shotter, 2012Shotter, J. (2012) Más que la fría razón: “pensar com” o “pensamiento sistémico” y “pensar acerca de sistemas”. International Journal of Colaborative Practices. 3(1), p. 14-27., p. 21).

De acordo com Shotter, essas mudanças não são planejadas, definidas por protocolos ou procedimentos intelectualmente concedidos. Também não é algo que venha de fora para dentro, através de um convencimento, uma exortação. É um processo que envolve aspectos profundos de escolhas de vida, de valores e concepções pessoais e sociais.

A pesquisa colaborativa e dialógica considera também fazer pesquisa (como qualquer outra atividade), envolve uma decisão e um posicionamento político. Toda ação implica efeitos no mundo. Fazemos escolhas ao realizar nossas pesquisas. Decidimos o que estudar e como, portanto, também podemos nos perguntar que tipos de diálogos e de relações queremos criar, fomentar e favorecer com nossas pesquisas e, a partir dessas reflexões, decidir como realizar a pesquisa. Daí que McNamee afirma que:

As questões mais importantes dentro de todos os mundos de pesquisa são: De que maneira essa pesquisa é útil? Isso gera novas formas de compreensão e, portanto, novas maneiras de “continuar juntos?” E, mais importante, devemos lembrar que a pesquisa em si é uma prática − uma forma de prática profissional, se você quiser. Assim, a divisão pesquisa/profissional não é uma divisão, mas uma questão de entrar em diversas comunidades discursivas. Qualquer forma ou prática (por exemplo, educação, psicoterapia, desenvolvimento organizacional, construção de comunidades, etc.) é uma forma de investigação

(McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 93)19 19 “The most important questions within all research worlds are: In what ways is this inquiry useful? Does it generate new forms of understanding and thus new ways of ‘going on together?’ And most important, we must remember that research itself is a practice - a form of professional practice, if you will. Thus, the research/practitioner divide is not a divide at all but a matter of stepping into diverse discourse communities. Any form or practice (e.g., education, psychotherapy, organizational development, community building, etc.) is a form of inquiry” (McNamee, 2014, p. 93). .

Ser dialógico não diz respeito especificamente a um trabalho de investigação, uma escolha exclusiva para um trabalho temporário e definido. Trata-se de uma postura, de uma filosofia de vida, de uma maneira de ser e estar no mundo. Esta atitude pode ser a referência principal para atividades diversas, como educação, pesquisa, terapia20 20 Há um grupo que surgiu no contexto da psicologia familiar e sistêmica que defende propostas terapêuticas relacionais e dialógicas (Anderson, 1997). .

Considerações finais

Chamamos aqui de pesquisas relacionais, colaborativas, dialógicas, aquelas que tem por principal característica o envolvimento com os grupos pesquisados, não como fornecedores de informações, mas como co-construtores do trabalho investigativo. Muitas pesquisas podem caber nessa denominação, algumas mais, outras menos.

Este tipo de pesquisa não tem uma metodologia específica, necessária ou característica. Algumas metodologias vão favorecer um processo investigativo dialógico, e outras não. Por isso, é importante que um pesquisador que vise realizar esse tipo de trabalho esteja sempre consciente de suas escolhas, ponderando em que medida estas o aproximam ou não de atividades que sejam verdadeiramente colaborativas e relacionais. Não há um único caminho, há muitos, há a possibilidade de criar os próprios caminhos segundo o contexto e as relações que se criam ao longo da pesquisa.

Não acredito que exista uma medida exata que defina se uma pesquisa foi ou não relacional. O que propriamente vai constituir uma como pesquisa colaborativa e dialógica é menos um método do que uma intenção, um processo que busca, a todo momento, envolver as pessoas pesquisadas na construção da investigação. É um processo que envolve confiança, diálogo, troca, respeito, democracia, ética e, acima de tudo, cuidado com o ser humano. Envolve um otimismo de que é possível fazer diferente e de que, juntos, fazemos melhor. Este tipo de pesquisa baseia-se numa crença fundamental de que, no diálogo, construiremos formas melhores de ser e estar no mundo. A crença de que, se nos reunirmos, nos olharmos e nos escutarmos, podemos produzir uma ciência mais horizontalizada, inclusiva e, propriamente, humana.

  • 2
    Normalização, preparação e revisão textual: Luan Maitan – revisao@tikinet.com.br
  • 3
    Este artigo é parte de uma pesquisa de pós-doutorado que está sendo realizada no Instituto Kanankil na cidade de Mérida, no México. Agradeço às valiosas contribuições de María del Rocío Chaveste Gutierrez y Papusa – María Luisa Molina López para o artigo através de leituras e conversas agradáveis de muito aprendizado. Agradeço também aos participantes do Grupo de Estudos sobre construcionismo social e colaboradores na realização deste trabalho: Rita, Uyrá, Pedro, Jaqueline, Luana e Márcia.
  • 4
    Indagação social colaborativa também é o nome de um tipo de pesquisa que: “… fue desarrollado por Janice DeFehr (2008)Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., el cual es un enfoque que proviene de la comunidad internacional de prácticas colaborativas, está inspirado en Harlene Anderson y sus colegas colaborativos” (Infante, 2013Infante, C. L. S. (2003) Ser mujer: diálogos intergeneracionales. Tesis de Maestria. Instituto Kanankil. Mérida, México., p. 7).
  • 5
    Como forma de facilitar a compreensão do texto, fiz traduções das citações originalmente em inglês e coloquei a citação no idioma de origem em nota de rodapé.
  • 6
    “The dominant research tradition has emerged within a modernist worldview. Modernism assumes that, with the proper tools and techniques, we will be able to discover reality. Of course, part and parcel of this assumption is the belief that there is a reality to be discovered. […] Postmodernism, in the other hand, challenges the notion that there is one reality to be discovered. Instead, postmodern theorists proposes that our ways of talking and relating to each other and the world should be the focus of the study and therefore, the idea of multiple truths, multiple realities, and multiple methods for exploration such realities is paramount.” (McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 74)
  • 7
    Este quadro é uma tradução adaptada da “Table 1 – Understanding Consistency and Inconsistency across Research Words” (McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 77).
  • 8
    Para maiores informações sobre o construcionismo social, confira Gergen (2007)Gergen, K. J. (2007) Construccionismo social: aportes para el debate y la práctica. Bogotá: Universidad de los Andes, Facultad de Ciencias Sociales, Departamento de Psicología, CESO, Ediciones Uniandes. e Gergen e Gergen (2011)Gergen, K. J.; Gergen, M. (2011) Reflexiones sobre la construcción social. Barcelona, Buenos Aires, México: Paidós..
  • 9
    Ao estudar comunicação interpessoal, Theodor Newcomb, em 1950, publicou o modelo ABX, no qual busca explicar como duas pessoas A e B se comportam em relação a um fato, assunto ou ação X tendendo ao consenso ou ao dissenso. Cf. Martino, 2017Martino, L. M. S. (2017) Teoria da comunicação: ideias, conceitos e métodos. Petrópolis: Vozes..
  • 10
    “When we understand dialogically, we open ourselves to the formative influence of the other and of otherness; we allow ourselves to be captured, imprisoned, possessed by things outside ourselves” (DeFeher, 2008, p. 66).
  • 11
    “Method, in collaborative therapy practice, is always ‘on the way’, always ‘once off’ and unrepeatable, always a first time ‘premiere’ arising out of particular, historical dialogical situation” (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. XVI).
  • 12
    “We also became curious from whom it is most generative. This also invites the constructionism research to ask questions concern whose voices are silenced, what practices are being privileged, and what moral orders we are creating in our research. In other words, the constructionism research is invited into a reflexive space where deliberation and curiosity are featured.” (McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 82)
  • 13
    “Our conversational expressions and responses do not stand alone as outcomes of our own independent efforts of intentions, separate from outside influence” (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 28).
  • 14
    “Just as unfolding dialogue itself shapes our participation within it, the influence of joint action spills beyond the parameters of a particular conversation, as it changes us in our ways of being in the world. Attitudes, identities, desires, priorities, and relationships shift us as unintended result of dialogic engagement with each other” (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 30).
  • 15
    “Openness, participation, and response, rather than consensus or agreement, are crucial factors in each dialogue situation” (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 26).
  • 16
    “To be is to be in dialogue” (Nikulin, 2006, p. 253, citado por DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 31).
  • 17
    Obviamente é muito difícil saber como é um ser humano que nunca interagiu com outras pessoas. Existem alguns casos documentados de crianças chamadas “selvagens” que, ao que parece, foram encontradas depois de longo tempo sem contato com outros seres humanos. Estes casos mostravam crianças ou adolescentes que não tinham adquirido linguagem verbal e que, mesmo com muitos esforços, não conseguiram adquirir um uso da linguagem de maneira fluente, por mais que tenham avançado na aquisição e compreensão de palavras. São casos pouco comuns, mas que podem apontar para a necessidade de uma interação humana para a aquisição de funções psíquicas superiores, como a capacidade de planejamento e a própria linguagem verbal. Vigostki foi um dos autores que defenderam que estas características humanas não se desenvolvem sem a participação de outros seres humanos, ou seja, podemos dizer, sem ações dialógicas.
  • 18
    “As livings beings, we continually encounter and interact with others and with otherness, we are in continual dialogue with our world” (DeFehr, 2008Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners. Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands., p. 32).
  • 19
    “The most important questions within all research worlds are: In what ways is this inquiry useful? Does it generate new forms of understanding and thus new ways of ‘going on together?’ And most important, we must remember that research itself is a practice - a form of professional practice, if you will. Thus, the research/practitioner divide is not a divide at all but a matter of stepping into diverse discourse communities. Any form or practice (e.g., education, psychotherapy, organizational development, community building, etc.) is a form of inquiry” (McNamee, 2014Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94., p. 93).
  • 20
    Há um grupo que surgiu no contexto da psicologia familiar e sistêmica que defende propostas terapêuticas relacionais e dialógicas (Anderson, 1997Anderson, H. (1999). Conversaciones, lenguaje y posibilidades: un enfoque posmoderno en la terapia. Buenos Aires: Amorrortu Editores.).

Referências

  • Anderson, H. (1999). Conversaciones, lenguaje y posibilidades: un enfoque posmoderno en la terapia Buenos Aires: Amorrortu Editores.
  • Defehr, J. N. (2008). Transforming encounters and interactions: a dialogical inquiry into the influence of collaborative therapy in the lives of its practitioners Dissertation. Tilburg University, in Tilburg, the Netherlands.
  • Defehr, J. (s.d). Investigación de acción dialógica: el fenómeno de agencia democrática y transformativa de la habilidad de respuesta Mimeo.
  • Defehr J., Adam, O., Barros, C., Rodriguez, S., & Wai, S. B. (2012, june 14). El “no saber” y “asumir” en los servicios sociales para refugiados e inmigrantes en Canadá: una investigación conversacional sobre la postura del terapeuta. International Journal of Collaborative Practices, 3(1), p. 89-103.
  • Freire, P. (1967). Educação como prática da liberdade Rio de Janeiro: Paz e Terra.
  • Freire, P. (1989). A importância do ato de ler: em três artigos que se completam 23a ed. São Paulo: Cortez.
  • Gadotti, M., Freire, P., Guimarães, S. (1995). Educar, ler, escrever e contar + ouvir, falar e gritar. In Pedagogia: diálogo e conflito 4a ed. São Paulo: Cortez.
  • Gergen, K. J. (2008). A psicologia social como história. Psicologia & Sociedade, 20(3): 475-484. (O texto original foi publicado em 1973, no Journal of Personality and Social Psychology, 26(2), 309-320.)
  • Gergen, K. J. (2007) Construccionismo social: aportes para el debate y la práctica. Bogotá: Universidad de los Andes, Facultad de Ciencias Sociales, Departamento de Psicología, CESO, Ediciones Uniandes.
  • Gergen, K. J.; Gergen, M. (2011) Reflexiones sobre la construcción social. Barcelona, Buenos Aires, México: Paidós.
  • Infante, C. L. S. (2003) Ser mujer: diálogos intergeneracionales. Tesis de Maestria. Instituto Kanankil. Mérida, México.
  • Martino, L. M. S. (2017) Teoria da comunicação: ideias, conceitos e métodos. Petrópolis: Vozes.
  • Mcnamee, S. (2015, november, 15) Presencia radical: alternativas para el estado terapéutico. European Journal of Psychotherapy and Counselling, 17(4), 1-10.
  • Mcnamee, S. (2014) Research as a relational practice. In Simon, G; Chard, A. (Eds.). Systemic inquiry: innovations in reflexive practice research. London: Everything is connected Press, 74-94.
  • Piramide de la Superioridad Moral. Recuperado de https://evolucionyneurociencias.blogspot.com/2016/12/la-ilusion-de-superioridad-moral.html Acesso em 18 nov. 2020 29 set. 2018.
    » https://evolucionyneurociencias.blogspot.com/2016/12/la-ilusion-de-superioridad-moral.html
  • Shotter, J. (2012) Más que la fría razón: “pensar com” o “pensamiento sistémico” y “pensar acerca de sistemas”. International Journal of Colaborative Practices. 3(1), p. 14-27.
1
Editor responsável: Adriana Varani. https://orcid.org/0000-0002-7480-4998

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    22 Out 2018
  • Revisado
    28 Abr 2020
  • Aceito
    13 Jul 2020
UNICAMP - Faculdade de Educação Av Bertrand Russel, 801, 13083-865 - Campinas SP/ Brasil, Tel.: (55 19) 3521-6707 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: proposic@unicamp.br