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Leitura sobre leitura(s) na Revista Pro-Posições 1 1 Um agradecimento especial a Roberta Pozzuto - funcionária responsável pelo setor de publicações da Faculdadede Educação/Unicamp - pelo envio, sempre pronto e atencioso, das informações sobre a história da revista. 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Leda Farah (farahledamaria@gmail.com) e Vera Bonilha(verabonilha@yahoo.com.br). 3 3 Texto integrante do dossiê especial: “Pro-Posições 30 anos”, organizado pelo Prof. Dr. André Luiz Paulilo. Editor Associado responsável: Prof. Dr. André Luiz Paulilo.

A reading about reading in the Journal Pro-Posições 4 4 English version (abstract): José Pereira Queiroz (ze.pereira.queiroz@gmail.com).

Resumo

A revista Pro-Posições, por ter conquistado, ao longo de seus 30 anos de existência, reconhecimento no meio científico, constitui-se em fonte privilegiada para garimpagem, mapeamento e ordenamento de um conhecimento em torno de práticas e reflexões sobre o ponto de vista com que os pesquisadores buscam divulgar seus estudos. Torna-se espaço que acolhe, entre outras, a leitura como temática central e objeto de estudo dos autores, desde suas primeiras edições. Pretende-se, na escrita deste artigo, indagar: com que formas e movimentos a leitura se configura como objeto de estudo de diferentes pesquisadores? Que facetas e aspectos a revista Pro-Posições tem divulgado sobre o debate da leitura? O corpus de análise foi constituído de 19 artigos publicados no período entre 1990-2018 e disponíveis no portal de periódicos da Unicamp e no site do Scielo. Em um estudo interpretativo e exploratório dos seus títulos, resumos e textos integrais, infere-se que, ao longo dos 30 anos de publicações neste periódico, a leitura potencializou discussões contemporâneas na área e configurou-se atualizada em diferentes vertentes temáticas, teóricas e metodológicas em sua interlocução com a psicologia, a história, a cultura, a linguagem, a educação, as políticas públicas, entre outros campos e áreas de conhecimento. Na Pro-Posições, a leitura tem estado presente junto com outras questões e se mostrado para os autores como um desafio a ser enfrentado em sua complexidade e importância política: na luta pela melhoria das condições de promoção do uso, da criação e da partilha dos textos, numa sociedadeprofundamente desigual, como a nossa.

Palavras-chave
leitura; Pro-Posições; artigos acadêmicos

Abstract

Having achieved, in its 30 years of existence, recognition in the scientific community, the journal Pro-Posições constitutes being a privileged source for searching, mapping, and organizing a knowledge concerning practices and reflections about the perspective from which the researchers have sough to publish their studies. The journal becomes a space which embraces, among others, reading as central theme and as an object of study for its authors since the first volumes. This article proposes the following questions: What are the forms and the movements through which reading is constituted as an object of study for different researchers? Which features and aspects has Pro-Posições spreadregarding the debate on reading? The corpus of the analysis is constituted by 19 articles published from 1990 to 2018 and available on Unicamp’s electronic portal of scientific journals and on Scielo’s website. In an interpretative and exploratory study of the articles’ titles, abstracts, and full texts, the research indicates that, in this journal’s 30 years of publications, reading has empowered contemporary discussions in the field and has updated itself in several thematic, theoretical, and methodological dimensions as it has established a dialogue with psychology, history, culture, language, education, public policies, among other fields and areas of knowledge. In Pro-Posições, reading has been made present with other questions and has presented itself to authors as a challengeto be faced in its political complexity and relevance: in the fight for the betterment of the conditions of promoting the use, the creation, and the sharing of texts in a deeply unequal society, as ours.

Keywords
reading; Pro-Posições; academic articles

Alguns pesquisadores, assim como os curadores de exposições de arte, mobilizam e favorecem a divulgação de uma produção, em um determinado suporte, como ponte para o acesso a ela e para seu o conhecimento pela sociedade em geral e pela própria academia.

Envolvidos com a produção intelectual e artística – muitas vezes “oculta”, dispersa, “esquecida” – de determinados grupos e instituições, pesquisadores criam estratégias para pôr em circulação uma temática específica e um objeto de investigação e animar o debate sobre eles. Com procedimentos próprios da pesquisa, inventariam e garimpam trabalhos produzidos, ao longo do tempo e por diferentes lugares, para expô-los um a um ou agrupá-los segundo diferentes critérios, concebendo diálogos, tecendo fios para a saída dos labirintos, como Ariadne. Percorrem caminhos, constroem uma narrativa inteligível pelas marcas deixadas em cada documento e no conjunto deles; criam uma história coerente, apoiando-se naquilo que produziu todo o “saber” acumulado, enraizado nas condições de sua produção, marcado pelo que está no tempo de quem o fez e de quem escreve a narrativa. “Não há uma ubiquidade inerente a cada objeto” (Manguel, 2009Manguel, A. (2009). Ovos de dragão e plumas de fênix, ou uma defesa do desejo. In A. Manguel, No bosque do espelho [Margarida Santiago, Trad.]. Alfragide, Portugal: Publicações D. Quixote. Recuperado em dezembro de 2018, de <https://books.google.com.br/books?id=r_N3gYEeRsAC&pg=PT115&lpg=PT115&dq=MANGUEL,+A.+Ovos+de>.
https://books.google.com.br/books?id=r_N...
, p. 135). Na construção das sequências, no preenchimento de lacunas, no acercamento do espaço e do tempo, na organização e na ordenação de qualquer coleção aparentemente heterogênea de objetos, de documentos, há “um sistema de categorias que é suspeito” (Manguel, 2009Manguel, A. (2013). Ovos de dragão e plumas de fênix, ou uma defesa do desejo. In A. Manguel, No bosque do espelho. In J. Juva, Curadoria em literatura: Possibilidades Curativas, 23 de agosto. Recuperado em janeiro de 2017, de https://outroscriticos.com/curadoria-em-literatura-possibilidades-curativas/.
https://outroscriticos.com/curadoria-em-...
, p.136). A coerência, a pertinência e a clareza da narrativa são marcadas por quem faz a “coleção”, por quem a nomeia e lhe dá significado.

Alguns sentimentos, como, por exemplo, a sensação de perda de algo, parecem mobilizar este tipo de pesquisa. A dispersão da produção, ao longo do tempo e por diferentes lugares, assim como o acúmulo e o volume de trabalhos, pode criar a ideia de perda de alguma discussão ou do “controle” dos pesquisadores sobre ausências ou redundâncias temáticas, sobre as perspectivas teóricas e metodológicas que vêm sendo desenvolvidas em torno de determinadas problemáticas investigativas, entre outras.

Junta-se a isso a sensação de impotência e de desatualização expressa pelos pesquisadores diante da velocidade e da simultaneidade com que muitos trabalhos têm sido produzidos. Como acompanhar e se inserir em um debate, dando vigor à produção acadêmica em um determinado campo, sem o conhecimento do todo?5 5 Geralmente, as pesquisas contemplam um levantamento bibliográfico (fortuna crítica) para um mapeamento da produção já realizada sobre o objeto de estudo do pesquisador, que o ajuda a pontuar e situar a originalidade e a contribuição do seu trabalho no interior da produção já construída. Há um tipo de pesquisa de outra natureza: seu objeto de investigação é o próprio levantamento bibliográfico, buscando conhecer o processo/movimento da produção acadêmica sobre determinado assunto ou tema, ao longo de um tempo e em diferentes lugares. Ferreira (1999) e Fiorentini (1994) nomeiam este tipo de pesquisa como “estado da arte da pesquisa”; Soares (1989) e Soares e Maciel (2000) como “estado do conhecimento de um determinado campo de estudo”; por fim, Fiorentini, Passos e Lima (2016) como “metanálise”. Em comum, esses pesquisadores estudam o campo de conhecimento, inventariando trabalhos já realizados e produzindo uma leitura interpretativa do corpus selecionado por eles para análise. O que já foi investigado? Por quem e em quais condições? O que ainda precisa ser pensado, problematizado e imaginado, mas ainda não foi suficientemente enfrentado? O que de novo pode ser revisitado, evitando-se redundâncias e repetições desnecessárias? Como compreender um campo de conhecimento já constituído por um volume de trabalhos acadêmicos dispersos ao longo de um tempo?

São questões como essas que todo e qualquer pesquisador se coloca, diante do desejo de estudar determinada temática. São indagações que buscam um desenho da área de conhecimento, a descrição de aspectos ou tendências gerais, a compreensão dos modos investigativos gerados em diferentes instituições e movidos por interesses diversos. Um desafio que aponta para a relevância de situar posições, avanços e recuos na produção acadêmica.6 6 O corpus construído nas pesquisas do tipo estado da arte ou estado do conhecimento pode assumir formas distintas. Fiorentini (1994) e Fiorentini et al. (2016), por exemplo, defendem que o levantamento seja feito com trabalhos completos (dissertações e teses); Ferreira (1999, 2002) trabalha com títulos e resumos de pesquisas. Por outro lado, Soares (1989) tem como fontes as pesquisas completas oriundas dos programas de pós-graduação, assim como os artigos publicados em periódicos e em anais de eventos. Uma outra distinção entre pesquisadores é quanto à abrangência do corpus de análise: um estudo mais inventariante que contempla grande volume de trabalhos, ou outro de natureza qualitativa, envolvendo um número reduzido (Fiorentini et al., 2016).

A revista Pro-Posições, por ter conquistado, ao longo de seus 30 anos de existência, reconhecimento no meio científico, constitui-se em fonte privilegiada para garimpagem, mapeamento e ordenamento de um conhecimento em torno de práticas e reflexões sobre o ponto de vista com que os pesquisadores buscam divulgar seus estudos.

Este periódico acolhe artigos, ensaios e revisões bibliográficas originais, de âmbito nacional e internacional, produzidos especialmente na área das Ciências da Educação, sobre diferentes temáticas, inclusive a leitura, um objeto de pesquisa da autora deste artigo (Ferreira, 1999Ferreira, N. S. de A. (1999). Pesquisa em leitura: um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil, de 1980 a 1995. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2001Ferreira, N. S. de A. (2001). A pesquisa sobre leitura no Brasil: 1980 - 1995. Campinas, SP: Komedi., 2003Ferreira, N. S. de A. (2003). Leitura no Brasil: catálogo analítico de dissertações de mestrado e teses de doutorado: 1980-2000. Campinas: Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas., 2007Ferreira, N. S. de A. (2007, janeiro/abril). Uma apresentação das primeiras pesquisas sobre leitura, no Brasil, 1969-1975. Revista da Educação Pública, 16(30), 29-42., 2011Ferreira, N. S. de A. (2011). Contribuições para história da leitura no Brasil: elementos de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado. In M. do R. L. Mortatti (Org.), Alfabetização no Brasil: uma história de sua história (pp. 142-161). São Paulo: Cultura Acadêmica.), o que justifica o nosso interesse na escrita deste texto.

Sem a pretensão de produzir um artigo que apresente o estado da arte da pesquisa em leitura, pretendemos, neste espaço de escrita, tomar como objeto de reflexão a produção acadêmica sobre leitura, no período de 1990-2018, tendo como fonte de pesquisa um único suporte. Também indagar: com que formas e movimentos a leitura se configura como objeto de estudo de diferentes pesquisadores? Que facetas e aspectos a revista Pro-Posições tem divulgado sobre o debate da leitura?

Caminhos para a composição do corpus de estudo

Para buscar sentidos e refletir sobre como eles se configuram em torno da produção acadêmica sobre leitura, publicada na Revista Pro-Posições, ao longo de seus 30 anos, selecionamos as expressões “leitura”, “ler”, “leitor”, “formação de leitor(es)”, que poderiam estar referenciadas tanto nos títulos, como nas palavras-chave informadas pelos autores dos trabalhos. Enveredamos por dois caminhos distintos e complementares.

No Portal de Periódicos Unicamp

Em um primeiro momento, com a ajuda de um bolsista7 7 Leonardo Quezada C. de Matos, aluno do curso de “Licenciatura Integrada Química/Física” - FE/Unicamp. , fizemos um levantamento de todos os títulos e os resumos de textos (artigos e resenhas), seus autores e respectivas filiações institucionais, número a número, de todos os textos publicados pela Pro-Posições. Até o número 58 (2009), esse bolsista fez o download dos textos que estão disponíveis em acesso aberto na internet, no portal de periódicos da Unicamp: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/index. Foi produzida uma planilha com os números da revista, artigos e resenhas, referentes ao período de 1990 a 2018, do número 1 (1990) ao número 88 (2018) e foram destacados, na cor azul, os títulos dos textos que faziam referência ao tema “leitura”. Do conjunto de textos acessado pelo portal de periódicos da Unicamp ficaram 19 textos, publicados no período de 1990 a 2018.

No Scielo

Em um segundo momento, digitando as mesmas palavras (“leitura”, “ler”, “leitor”, “formação de leitor [es]”) no site do Scielo, que agrega as publicações da revista Pro-Posições e de outros periódicos, pudemos dimensionar a extensão e o volume da produção em periódicos que têm como objeto de estudo a “leitura”. Foi elaborada uma listagem com as seguintes informações: nome(s) do(s) autor(es); títulos dos artigos; nome, edição e data das revistas; instituição responsável pela publicação. Identificamos 681 textos divulgados por diferentes periódicos e disponíveis neste site.

Esses dois levantamentos exigiram, primeiramente, várias leituras dos títulos e dos resumos de cada trabalho acessado e, às vezes, do material na íntegra, para compor um corpus diretamente focado no nosso objeto de estudo: a leitura.8 8 A consulta e a busca foram realizadas de julho de 2018 a janeiro de 2019, sendo várias vezes refeitas para checagem ou complementação de informações, como, por exemplo, recuperação do texto integral.

Excluímos trabalhos em que a presença da palavra “leitura” não tinha o mesmo entendimento da problemática investigada por nós, uma vez que o desenvolvimento dos textos indicava outras orientações. Nesta conferência e no ajuste na composição do corpus para análise, ficaram de fora, por exemplo, as publicações em que a leitura: 1) encontrava-se articulada à escrita, em um processo de aprendizagem da língua (alfabetização ou letramento) nas séries iniciais de escolaridade9 9 Como exemplos, citamos: Souza, I. R. C. S., & Bruno, M. M. G. (2017, março). Ainda não sei ler e escrever: alunos indígenas e o suposto fracasso escolar. Educ. Real., 42(1), 199-213 [76/681]; Silva, E. M. T., Witter, G. P., & Carvalho, P. F. de (2011, dezembro). Leitura e escrita em alunos de escola pública: 3 vol. 4.º ano. Psicol. Esc. Educ., 15(2), 301-309. [149/681]. Entre colchetes, indicamos o número do artigo na lista dos 681 identificados no Scielo. ; 2) estava voltada para a análise de obras de literatura, de natureza da teoria e estudos literários, ou tomava a literatura como fonte de estudo para desenvolver temáticas sobre infância, trabalho, sexualidade, etc.10 10 Excluímos, por exemplo: Caldas Filho, C. R. (2017, dezembro). O midraxe machadiano em “Na arca”. Machado Assis Linha, 10(22), 47-59. [82/681]; Silveira, R. M. H., & Kaercher, G. E. da S. (2013, dezembro). Dois papais, duas mamães: novas famílias na literatura infantil. Educ. Real., 38(4), 1191-1206. [80/681]. ; 3) restringia-se a estudos de autores considerados clássicos, em qualquer área do conhecimento11 11 Também não foram incluídos no corpus trabalhos como: Lima, P. G. Uma leitura sobre Paulo Freire em três eixos articulados: o homem, a educação e uma janela para o mundo ou Fanini, A. M. R. (2015, agosto). Embate dialógico entre leitura e escrita: manifestação de uma ética da ação discursiva a partir do Círculo bakhtiniano. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, 10(2), 17-3. [90/681]. .

Dos 681 artigos localizados no site do Scielo, foram selecionados 353, dos quais o mais antigo publicado data de 1996 e o mais atual, de 2018.

Leitura nos periódicos disponibilizados pelo Scielo

As 353 publicações disponíveis no Scielo apontam para um debate sobre leitura que movimenta discussões de diferentes ordens: pedagógicas, sociais e culturais, tanto no campo das políticas públicas, quanto no da produção acadêmica ou, ainda, da mídia em geral, etc.

Revelam também que o tema da leitura não se desenvolve em uma única direção no tempo, em um único campo de conhecimento ou lugar de produção, nem tem como exclusividade qualquer perspectiva teórica e metodológica ou foco de interesse, que oriente o trabalho dos pesquisadores.

Multifacetada e pouco linear, ela se espalha por diferentes instituições e associações responsáveis pela edição de periódicos que acolhem artigos de campos de conhecimento específicos (Educação, Psicologia, Fonoaudiologia, Teoria Literária, Linguística, Linguística Aplicada, Letras, História, Ciências da Informação e Comunicação, Ciências da Linguagem), mas também na interface com outras áreas afins, como é o caso da própria Pro-Posições.12 12 Os periódicos que compõem o levantamento feito no Scielo e que apresentam no mínimo três publicações sobre leitura são: Alfa: Revista da Linguística; Revista Brasileira de Linguística Aplicada; Trabalhos em Linguística Aplicada; Documentação de estudos em linguística teórica e aplicada – DELTA; Alea, Estudos de literatura brasileira contemporânea; Revista de Estudos do Discurso; Revista Linguagem em (Dis)curso; Revista Pró-Fono Revista de Atualização Científica; Jornal da Sociedade de Fonoaudiologia – JSBFa; Revista da Sociedade de Fonoaudiologia; Revista CEFAC; Revista CoDAS; Revista Audiology - Communication Research – ACR; Arquivos Brasileiros de Oftalmologia; Revista Psicologia: Reflexão e Crítica; Psicologia: Teoria e Pesquisa; Psicologia Escolar e Educacional; Revista Psicologia da USP; Revista Psicologia em Estudo; Revista da Psicologia Social, Revista Psicologia USF; Psicologia: Ciência e Profissão; Fractal: Revista de Psicologia; Paidéia; Estudos de Psicologia; Revista Estudos de Psicologia; Pro-Posições; Revista Brasileira de Educação Especial; Revista Brasileira de Educação; Educação em Revista; Revista Educação e Pesquisa; Revista Ciência & Educação; Cadernos de Pesquisa; Cadernos CEDES; Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências; Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos; Revista História da Educação; Educação & Realidade; Perspectivas em Ciência da Informação; Revista Ciência da Informação; Revista de História.

Na leitura dos títulos dos periódicos que acolhem os artigos sobre leitura, identificamos cinco grandes áreas com uma quantidade de publicações distintas, em revistas igualmente diversas, como demonstra o quadro seguinte:

  1. Psicologia e suas subáreas (educacional, escolar, social, experimental, ensino e aprendizagem, etc.): 130 artigos em 12 periódicos;

  2. Educação, em suas interfaces com Pedagogia, Sociologia, Currículo, História: 86 artigos em 12 periódicos;

  3. Fonoaudiologia/Oftalmologia e Audiologia13 13 Nomeamos as áreas de estudo pelas instituições que produzem esses periódicos, assim como, em alguns casos, pela referência a elas nos títulos das revistas ou no texto de apresentação do periódico pelos editores. Assim, a Revista Psicologia Escolar Educacional, editada pela Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional – ABRAPEE – foi inserida como área de conhecimento “Psicologia”. Na tabela das áreas de conhecimento da CAPES, a área Psicologia Educacional enquadra-se na Educação, e não na Psicologia. Por outro lado, este periódico é editado por uma associação formada por psicólogos para “congregar os estudiosos e profissionais da área, visando o reconhecimento legal da necessidade do psicólogo escolar nas instituições de ensino, bem como estimular e divulgar pesquisas nas áreas de psicologia escolar e educacional” (Recuperado em setembro de 2018, de https://abrapee.com), o que nos inclina a enquadrá-la na “Psicologia”. : 58 artigos em 07 periódicos;

  4. Linguística, Linguística Aplicada, Letras, Ciências da Linguagem: 40 artigos em 08 periódicos; Ciências da Comunicação e Informação e subáreas (Biblioteconomia, Arqueologia, Tecnologia): 20 artigos em apenas 02 periódicos.14 14 Maior ou menor quantidade de artigos publicados nas áreas de conhecimento indica uma tendência que não pode ser tomada como numericamente exata. O volume localizado deve ser relativizado, por exemplo, porque os periódicos têm tempos distintos de existência; alguns foram criados em meados dos anos 1980, outros são mais recentes; alguns, com publicações trimensais, outros semestrais; alguns têm digitalizados seus acervos desde o primeiro número, como o caso da Revista Psicol. Esc. Educ., que disponibiliza o artigo “Avaliação da produção científica sobre leitura na universidade (1989-1994)”, de Geraldina Porto Witter, de 1996.

Esta breve consulta que fizemos ao Scielo destaca a área da Psicologia com o maior número de artigos sobre leitura (130) ao longo do tempo – uma constatação já identificada por nós em outros estudos.

Segundo apontou Ferreira (2003)Ferreira, N. S. de A. (2003). Leitura no Brasil: catálogo analítico de dissertações de mestrado e teses de doutorado: 1980-2000. Campinas: Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas., ao pesquisar dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas de 1965 a 2000 em diferentes programas de pós-graduação de nosso país, a maior parte dos trabalhos está localizada na Psicologia – considerada pioneira nos estudos sobre leitura – e em suas subáreas. Ademais, a Psicologia tem orientado fortemente as políticas públicas educativas neste campo, como podemos constatar na recente Base Nacional Comum Curricular de Língua Portuguesa (Brasil, 2018Brasil. (2017). Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica.).

De fato, em sua dimensão cognitiva, associada ao papel da escola como encarregada de ensinar a ler e a formar leitores competentes e autônomos, a leitura tem se mantido ao longo do tempo,15 15 Penido (2017), ao retomar os trabalhos sobre leitura (Ferreira, 1999, 2001; Martins, 2005; Penido, 2010) reuniu 2.040 dissertações de mestrado e teses de doutorado, concluindo que as áreas de Letras/Linguística (955 trabalhos) e Educação (720) superaram a da Psicologia (116) – que constituía quase que um reduto de produção acadêmica nesta temática. Tal mudança pode ser atribuída, entre outros fatores, ao aumento na quantidade de programas de pós-graduação na última década, em todo o território brasileiro, em outras áreas de conhecimento, bem como à facilidade para acessar pela internet bancos de dados digitalizados da produção originada em programas de pós-graduação os mais longínquos, diferentemente do que ocorria quando das pesquisas de Ferreira (1999, 2001). estendendo-se e cruzando por outras áreas (Fonoaudiologia, Educação, Psicolinguística, Psicopedagogia, etc.). Nesta perspectiva, ela ganha novos contornos, incorporando, além das questões de habilidades e competências individuais, aspectos culturais, familiares, sociais e contextuais que interferem ou acabam por mediar o processo de compreensão da leitura do texto pelo sujeito leitor.

Quais habilidades, competências, estratégias de pensamento são necessárias para se aprender a ler ou compreender o que se lê? Como entender a leitura em seus níveis de dificuldade na relação leitor e texto? São perguntas que vêm orientando a maioria desses trabalhos. O consenso é que a compreensão não pode ser investigada sem levar em conta a diversidade do texto e do leitor no momento da leitura. Há uma história (um contexto e repertório) que interfere e faz a mediação para a multiplicidade de sentidos produzidos na interação entre leitor e texto. Disseminada como preocupação dos pesquisadores, a dimensão cognitiva da leitura pode ser estudada em diferentes níveis e graus de escolaridade (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio ou universitário); campos curriculares (inglês, ciências, literatura, física, etc.); suportes de textos (tela, impresso); gêneros (informativo, literário, religioso, midiático).

Em outras direções, o tema “leitura” também está presente em outros artigos disponíveis no banco de dados Scielo. Além da perspectiva da compreensão ledora, há uma percepção de enraizamento da leitura: por suas concepções, representações e apelo ao imaginário, aspectos esses que permeiam o mundo dos textos dados a ler, dos leitores, dos produtores e da própria leitura; há uma historicidade inscrita na leitura, que põe sob suspeição a sua universalidade e “validade” para todos de qualquer tempo e lugar; há uma diversidade que se inscreve nos sujeitos nela envolvidos (leitores, autores, editores, livreiros, escritores, editores), nos espaços que a põem em movimento (bibliotecas, livrarias, gabinetes, salas de aulas, prisões, rua), nos objetos (pergaminhos, livros, manuscritos, impressos, programas-documentos); há um cruzamento culturalmente tenso, que vai muito além da identificação da classe social e econômica, nível de escolaridade, contexto, ou o fator ser ou não alfabetizado.

Perspectivas metodológicas (pesquisas experimentais, estudos de casos, trabalhos de intervenção ou ação, históricas e biográficas) se avolumam e se diversificam entre muitas facetas da leitura. Praticamente incapaz de ser totalmente decifrável em sua complexidade, ela é inquirida como processo cognitivo, processamento de informações, experiência ou, ainda, prática cultural, entre outras.

De qualquer modo, quase um consenso: em qualquer área, tempo ou modo teórico ou metodológico em que seja tomada como objeto de estudo, a leitura é uma preocupação social e política encarada como solução para as mazelas de um indivíduo, de um país, do mundo. É preciso enfrentá-la, especialmente na escola, espaço privilegiado no ensino da leitura e na formação de leitores diferenciados pelo domínio das competências necessárias à compreensão e das práticas que a colocam em movimento. O valor atribuído ao domínio da leitura (“crítica”) desqualifica e discrimina indivíduos e nações e hierarquiza o acesso ao conhecimento científico e tecnológico. Há muito investimento público e muitas propostas acadêmicas para a compreensão desses aspectos relacionados à leitura, além de tentativas de mudanças daquilo que se apresenta como desfavorável à realização desses pressupostos. A leitura, tema antigo, é pauta que se impõe. Um problema ainda não qualitativamente equacionado em nosso país.

Leitura na revista Pro-Posições

A Pro-Posições é um periódico que foi enquadrado por nós como pertencendo à área da Educação, com base na informação expressa em seu primeiro número. Segundo Bittencourt e Mercuri (2009)Bittencourt, A. B., & Mercuri, E. (2009, setembro/dezembro). Entre capas e letras, embates e crenças - 20 anos de “Pro-Posições”. Pro-Posições, 20(3) [60], 161-178.:

Projetada para publicar a produção de seus professores e estudantes e divulgar as realizações da Faculdade de Educação, foi apresentada como um espaço para o debate de posições divergentes, de formulação de propostas de intervenção na realidade educacional e como um lugar de exposição de idéias e compromissos políticos com a sociedade, como sintetiza seu nome Pro-Posições. Desde o primeiro número inaugurou, ao lado de outros periódicos já existentes, como um canal de debates sobre questões educacionais, (a) firmar posições, propor de forma de interveniência na prática social educativa [ênfases adicionadas]. (p.164)

Na leitura dos títulos dos artigos, resenhas e dossiês, da primeira edição, volume 1, número 1, em 1990, até a mais recente, publicada em 2018, como volume 29, número 3,16 16 Ao longo do tempo, a Revista Pro-Posições foi criando novos projetos editoriais (capas, gêneros e seções distintos foram modificados, extintos, incluídos), adequando-se a padrões de outros periódicos científicos, à medida que a expansão e o aprofundamento do sistema de avaliação (da Capes, do CNPq, da Fapesp, etc.) passaram a controlar/classificar/legitimar a cadeia produtiva acadêmica. é possível configurar um espaço de discussões e reflexões em torno da educação em uma dimensão mais ampliada, que incorpora posições políticas e propostas de intervenção na sociedade.

Ao ler os títulos e os resumos dos textos publicados na Pro-Posições, inferimos temas os mais diversos, inicialmente com autoria expressa por professores e alunos de pós-graduação da FE e depois se estendendo para pesquisadores e grupos de pesquisa de outras instituições e redes de cooperação nacionais e internacionais. Seus leitores pressupostos são os do mundo acadêmico, professores e alunos de pós-graduação, dispostos a conhecer e socializar a produção do conhecimento. Uma leitura com finalidade: estudo, principalmente.

Nos primeiros números dos anos 1990, encontramos artigos em que predominam reflexões de caráter filosófico, da história ou sociologia, sobre a educação no contexto de discussões ideológicas do pensamento marxista e de esquerda, repensando a educação na república brasileira, a construção da escola pública, o desenho do trabalho docente e várias práticas profissionais, o Ensino Superior e os desafios da universidade, entre outros. Ao longo da década de 1990, se fazem presentes propostas de ensino em diferentes campos disciplinares – matemática, alfabetização, saúde, dança, desenho, educação musical, ciências –, assim como em níveis diversos de escolaridade: infantil, pré-escola, ensino fundamental, universidade brasileira ou internacional.

Segundo Bittencourt e Mercuri (2009)Bittencourt, A. B., & Mercuri, E. (2009, setembro/dezembro). Entre capas e letras, embates e crenças - 20 anos de “Pro-Posições”. Pro-Posições, 20(3) [60], 161-178., tendo conquistado e consolidado um lugar no mundo dos periódicos acadêmicos, a Pro-Posições tem acolhido não só autores de outras instituições nacionais e internacionais, mas também outros temas, como: linguagens, imagens, corpo, saúde, educação estética, literatura, teatro, educação do olhar, violência, sexualidade e gênero, juventude e memória, entre outros. A esses juntaram-se os já considerados tradicionais, pela sua constância no debate instaurado nesta Revista: escolarização, ensino superior, reformas de ensino, currículos, educação infantil, etc. Deslocamento, incorporação da diversidade e porosidade que novos temas nos impõem nos compromissos políticos com a sociedade.

Na escrita deste artigo, agrupamos os textos publicados na Revista Pro-Posições em três momentos distintos: 1990-1999; 2000-2009; 2010-2018. A divisão, estritamente cronológica, não obedece a nenhuma linearidade ou sequência no debate sobre leitura. Como sabemos, uma mesma perspectiva – temática, teórica ou metodológica, por exemplo – pode emergir em décadas distintas, assim como um mesmo interesse do pesquisador pode permanecer ao longo do tempo, independente da área de produção do conhecimento.

Nos anos 1990

O primeiro texto que trata a leitura como um objeto de estudo é a resenha de Adriana Laplane feita sobre o livro Dificuldades na aprendizagem da leitura: teoria e prática, dos autores Terezinha Nunes, Lair Buarque e Peter Bryant’, lançado em 199217 17 Neste número, além desta resenha, figuram as seguintes: “Comenius: a persistência da utopia em Educação (Wojciech A Kulesza)”, escrita por Mariano Narodowski; “Desde Nuestra Escuela Paideia (Josefa Martín Luengo)”, de Silvio Gallo; “Administração escolar: uma abordagem crítica do processo administrativo em educação (José do Prado Martins)”, de Luiz Carlos Batista de Moura e Jane Shirley Escodro Pranstretter; “O cotidiano da escola de 1° grau: o sonho e a realidade (José Luiz Domingues)”, de Vani Moreira Kenski; “As Ciências Sociais na escola (Maria Tereza Nidelcofl)”, de Eloisa de Mattos Holfling. .

Essa resenha sobre um livro que destaca possíveis dificuldades de leitura de crianças consideradas disléxicas circula em uma rede de textos (artigos e resenhas) que movimenta preocupações dos autores com a escola pública, dos então denominados primeiro e segundo graus de ensino. São textos que divulgam os modos de pensar (também experiências educacionais), o currículo disciplinar, o cotidiano escolar e a gestão administrativa institucional, articulados a uma abordagem mais coletiva e crítica da educação para alterações necessárias (sonhos e utopias), a fim de que a escola dê conta de seu papel de ensinar e educar com criticidade e qualidade:

Ao mandar seus filhos para a escola, os pais têm uma expectativa clara: meu filho vai aprender a ler. No entanto, uma percentagem significativa de crianças não aprende a ler, contrariando o esperado. As razões para essa decepção pode ser as mais variadas. Uma delas é que a criança pode ter uma dificuldade específica de aprendizagem de leitura.

(Laplane, 1992Laplane, A. (1992). Dificuldades na aprendizagem da leitura: teoria e prática (Terezinha Nunes, Lair Buarque e Peter Bryant). Pro-Posições, 3(3), 64., p. 64)

Esta primeira resenha marca uma preocupação nos estudos sobre leitura que focaliza as dificuldades na aprendizagem situada na aproximação entre a pedagogia e as áreas ligadas à Psicologia (por exemplo, a Psicopedagogia). Ao colocar em foco a leitura no momento de sua aprendizagem pelas crianças, nos anos iniciais de escolaridade, o olhar se volta para a ausência (déficit) de habilidades cognitivas e linguísticas, como a relação auditivo-visual, a consciência fonológica e gramatical, a memória verbal. Dificuldades que, segundo a resenhadora, apoiada na leitura que fez do livro, podem estar relacionadas não apenas às crianças disléxicas, mas a qualquer outra, variando apenas o ritmo ou a quantidade de dificuldades no momento da aprendizagem da leitura, na escola.

Os dois próximos textos, de uma mesma autora (Santos, 1994Santos, A. A. A. (1994). Programas de remediação: uma alternativa para o desenvolvimento da compreensão em leitores adultos. Pro-Posições, 5(1), 115-122. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644342/11761>.
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; Santos, 1997Santos, A. A. A. (1997). Psicopedagogia no 3° grau: avaliação de um programa de remediação em leitura e estudo. Pro-Posições, 8(1), 27-37. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644201>
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), que é professora da FE, podem ser compreendidos sob essa mesma perspectiva no campo da leitura, em que os pesquisadores olham para aspectos interiores da leitura, em níveis de dificuldades motoras e cognitivas, percepção espacial, visual. Em ambos os artigos escritos por Santos (1994Santos, A. A. A. (1994). Programas de remediação: uma alternativa para o desenvolvimento da compreensão em leitores adultos. Pro-Posições, 5(1), 115-122. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644342/11761>.
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, 1997)Santos, A. A. A. (1997). Psicopedagogia no 3° grau: avaliação de um programa de remediação em leitura e estudo. Pro-Posições, 8(1), 27-37. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644201>
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, a autora propõe um programa psicopedagógico que, segundo ela, tem revelado eficácia na remediação da compreensão da leitura de estudantes universitários e na mudança de hábitos de estudo e de usos da biblioteca.

Em questão: as dificuldades de leitura (compreensão equivocada e ausência de hábitos de estudo e de uso de biblioteca) por parte dos jovens universitários. Como possibilidade metodológica de pesquisa, há o estudo experimental e de controle de grupos para comparação dos resultados, previamente divididos pelo desempenho dos estudantes e em resposta à técnica Cloze. Como proposta de intervenção, é proposto um programa de remediação e treino em várias seções, que promoveria mudanças. Como preocupação, destacam-se os leitores de textos impressos (ou xerocados) que têm como lugar de estudo e de consulta livros e periódicos em bibliotecas.

São esses três artigos que “fecham” as publicações da Revista Pro-Posições, nos anos 1990, abordando estudantes de níveis de escolaridade bem distantes. A resenha (Laplane, 1992Laplane, A. (1992). Dificuldades na aprendizagem da leitura: teoria e prática (Terezinha Nunes, Lair Buarque e Peter Bryant). Pro-Posições, 3(3), 64.) trata das questões da leitura ligadas aos anos iniciais de aprendizagem da leitura, na escola, ampliando a discussão para vários outros aspectos que envolvem as dificuldades de compreensão das crianças, disléxicas ou não. Os dois outros artigos (Santos, 1994Santos, A. A. A. (1994). Programas de remediação: uma alternativa para o desenvolvimento da compreensão em leitores adultos. Pro-Posições, 5(1), 115-122. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644342/11761>.
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, 1997), diferentemente, se voltam para o leitor adulto que, na universidade, vem apresentando dificuldades para compreender o que lê e revela ausência de hábitos de estudos e de uso de biblioteca, talvez por estar envolvido com as reproduções (xerox) disponíveis a baixo custo como forma de aquisição do próprio material.

Na primeira década de 2000

Quando o assunto é leitura, localizamos oito artigos publicados nos anos 2000.18 18 São estes os artigos da década de 2000: Suzani Cassiani de Souza e Maria José P. M. de Almeida, 2001; Claudete Amália de Andrade, 2002; Ferreira, 2002; Barreto, 2002; Thiollent, 2004; Nascimento, 2006; Costa, 2006; Ferreira, 2008). O enfoque no que acontece e no que poderia ser feito para melhorar a qualidade do trabalho desenvolvido com a leitura na sala de aula e na escola persiste como preocupação dos autores desses textos. Mas se, na década de 1990, a certeza é de que estudantes têm dificuldades na aprendizagem, no domínio e na compreensão do escrito, nos anos 2000 a leitura está sob suspeita.

O que, como e por que lemos? Ler é apenas uma operação intelectual abstrata? Existe uma única compreensão do texto a ser apreendida pelo leitor ou a ser ensinada na escola? A leitura deve ser obrigatória, ou apenas prazerosa? São questões que vão delineando pesquisas em outras direções.

“Por que tenho de ler literatura, se vou fazer vestibular de engenharia?” - pergunta uma aluna considerada leitora por Claudete Andrade (2002)Andrade, C. A. S. de (2002, março). Leitura e vestibular: novos horizontes. Pro-Posições, 13(2), 35-41. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643951>
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, autora de um dos artigos localizados, ao discorrer sobre os depoimentos coletados com vestibulandos e recém-ingressados na universidade. “Para que serve ler literatura, se ela não tem praticidade e utilidade no mundo das ciências, profissionalmente ou no dia a dia?” - é outra das questões levantadas por esta autora. Por que se deve ler literatura “obrigada” na escola, se a promessa de algum sentido para essa prática é justificada como necessária em um futuro incerto e por uma gratuidade que não traz retorno imediato aos leitores também são também interrogações que orientam a escrita do texto de Andrade (2002)Andrade, C. A. S. de (2002, março). Leitura e vestibular: novos horizontes. Pro-Posições, 13(2), 35-41. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643951>
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Se a ficção na escola/universidade perde o seu caráter gratuito e é questionada a sua função no ensino e aprendizagem e na vida, também os modos de ler são interpretados como diversos, assim como o são os textos dados a ler. A leitura não é uma extração do sentido pretendido pelo autor, e nem sua compreensão é invariável, quando inscrita em um determinado texto/gênero discursivo/suporte e mobilizada por um leitor de carne e osso. A leitura é produção de (muitos) sentidos na e pela linguagem, como afirmam Souza e Almeida (2001)Souza, S. C., & Almeida, M. J. (2001). Leituras na mediação escolar em aulas de Ciências: a fotossíntese em textos originais de cientistas. Pro-Posições, 12(1), 110-125.: “A leitura entendida como atividade cultural foi pensada tendo o fato de ser próprio da linguagem a multiplicidade de sentidos e também a repetição e o deslocamentos ocorridos na leitura” (p.110). A leitura materializada na relação entre texto e leitor, situados histórica e culturalmente, inscrita nas condições de sua produção.

O ensino da leitura ou as propostas para formação de leitores pressupõem mais do que desenvolver determinadas habilidades e atitudes no leitor individualmente, com determinada técnica, treino, programa. A aula de leitura é “um espaço de convivência de experiências culturais, um caminho que seja capaz de animar a leitura literária, ao mesmo tempo que busca fixá-la na memória do aluno, educando-o na leitura da escrita e da imagem” (Ferreira, 2002Ferreira, N. S. de A. (2002, maio/agosto). Dos amores difíceis: uma leitura compartilhada na aula de Língua Portuguesa. Pro-Posições, 13(2) [38], 43-53., p. 43), ou um espaço a ser questionado por imobilizar e restringir os possíveis sentidos dados pelos alunos aos textos e por ignorar que a leitura – uma descoberta individual e histórica dos sentidos – é construída num movimento entre alunos e professor, muito além das competências escolares e das classificações literárias (Barreto, 2002Barreto, P. M. (2002, maio/agosto). Intermédio. Pro-Posições, 13(22) [38], 56-61.). Ensina-se e aprende-se a leitura com outros leitores, mediada por eles e por livros.

Para questões como “ler literatura é importante para todos e por tudo?”, autores defendem a formação de (específicos) leitores de uma linguagem intencionalmente estética na escola, “para que crianças e jovens se autodescubram, sejam capazes de conquistar os bens culturais necessários para atuarem conscientemente na realidade, reordenarem o mundo”, conforme resenha elaborada por Keila Costa (2006, p. 217)Costa, K. M. de M., & Nascimento, T. C. (2006, fevereiro). O leitor em formação: múltiplos caminhos. Pro-Posições, 17(3), 217-219. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643617> Acesso em: 05 fev. 2019.
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Aprendemos sobre o que é a leitura e sobre como e por que formamos leitores; aprendemos as maneiras (herdadas) de ler que se revelam na escola. É possível, pela história, conhecer que a leitura não foi sempre a mesma em todo e qualquer lugar (Darnton, 1992Darnton, R. (1992). História da leitura. In P. Burke (Org.), A escrita da história. Novas perspectivas (pp. 197-236). São Paulo: Unesp.). É possível revisitar e estudar a história da leitura, em um entendimento de que ler, aparentemente, é um gesto idêntico e universal.

O artigo de Thiollent (2004)Thiollent, M. (2004). Releitura de um livro escolar de Charles ab der Halden. Pro-Posições, 15(3), 173-194., por exemplo, destaca a aprendizagem da leitura e da moral por um manual escolar que circulou no período compreendido entre meados da década 30 até os anos 60 do século XX, nas escolas primárias francesas. Discute um projeto de formação de leitores em que a leitura está intimamente associada à aquisição de uma moral (republicana) centrada no esforço individual, no respeito à ordem e ao dever. Já Ferreira (2009)Ferreira, N. S. de A. (2009, agosto). Um estudo das edições de Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles. Pro-Posições, 20(2), 185-203. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-3072009000200012&lng=en&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072009000200012.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, cotejando edições diferentes da obra Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, indaga sobre concepções de leitura e de leitores que distintamente se inscrevem nessas edições, produzindo sentidos e valores ligados à educação do leitor, à tradição literária, às práticas (prazerosas) de leitura. A autora afirma, parodiando Darnton (1992)Darnton, R. (1992). História da leitura. In P. Burke (Org.), A escrita da história. Novas perspectivas (pp. 197-236). São Paulo: Unesp., que os leitores não foram e não são sempre os mesmos em toda e qualquer parte.

Os leitores se formam diversamente, ao longo de suas experiências na família, na escola, na igreja, em comunidades de leitores que moldam os gestos individuais de ler de cada um de nós. Os leitores não são desencarnados do seu tempo, do seu lugar, dos objetos culturais e dos modos (aprendidos) de lidar com eles. É possível interrogá-los, em sua própria voz, sobre as singularidades e as partilhas do ato de ler em diferentes comunidades de leitores (na escola, na família). Conhecê-los exige pesquisas voltadas para indagá-los como narradores de suas histórias, em que a leitura tem centralidade, com práticas e finalidades diversas.

Para Souza e Nascimento (2006)Souza, S. S., & Nascimento, T. G. (2006). Um diálogo com as histórias de leituras de futuros professores de ciências. Pro-Posições, 17(1), 105-135., por exemplo, futuros professores de ciências/estudantes de licenciatura em Ciências Biológicas trazem em seus relatos marcas de modelos de leitura apropriados por eles ao longo de suas vivências com os livros e com outros leitores, expõem modelos aprendidos “que podem influenciar sua prática pedagógica” como professores.

Na primeira década do século XXI, a leitura – produção de múltiplos sentidos – acontece enraizada em determinadas condições nas quais o que, o para que e o por que se lê importam diferentemente para leitores que trazem uma trajetória de vida igualmente distinta. A leitura pode ser investigada na e pela linguagem que acolhe leitores e objetos a serem lidos.

No período de 2011 a 2018

A leitura como capacidade de compreensão a ser dominada pelos leitores em sua relação com textos, fora das condições de produção em que ocorre, está distante do que observamos a partir dos anos 2000.

Neste último período, que reúne oito publicações sobre leitura na revista Pro-Posições, a leitura não é vista como algo produzido por leitores universais que partilham as mesmas relações com o escrito e o fazem com iguais finalidades; tampouco os textos são desligados de qualquer materialidade e gênero, conforme defendem Almeida e Sorpres (2016)Almeida, M. J. P. M., & Sorpres, T. P. (2011, janeiro/abril). Dispositivo analítico para compreensão da leitura de diferentes tipos textuais: exemplos referentes à Física. Pro-Posições, 22(1), 83-95. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643281>.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
; Assoline (2011)Assolini, F. E. P. (2011, abril). Leitura e formação inicial de professores: sentidos, memória e história a partir da perspectiva discursiva. Pro-Posições, 22(1), 33-43. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-3072011000100004&lng=en&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072011000100004.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
; Cassiani, Lisingen e Giraldi(2011)Cassiani, S., Von Linsingen, I., & Giraldi, P. M. (2011, abril). Histórias de leituras: produzindo sentidos sobre ciência e tecnologia. Pro-Posições, 22(1), 59-70. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-3072011000100006&lng=en&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072011000100006.
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; Dresch, Lebedeff e Dickel (2011)Dresch, M., Lebedeff, T. B., & Dickel, A. (2011, abril). Memórias de leitura, lugar de leitor e conhecimento na formação inicial de docentes. Pro-Posições, 22(1), 45-58. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072011000100005&lng=es&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072011000100005.
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, Oliveira (2011)Oliveira, O. de. (2011, janeiro/abril). Em defesa da leitura de textos históricos na formação de professores de ciências. Pro-Posições, 22(1) [64], 71-82.; Payer (2011)Payer, M. O. (2011, abril). O “fato da língua” na materialidade da leitura. Pro-Posições, 22(1), 23-32. ISSN 0103-7307.. Ela pode ser investigada pelas marcas deixadas na linguagem, atravessadas pela história e pela cultura que irremediavelmente estão presentes e movimentam o processo da leitura. (Re)conhecer que ensinamos e aprendemos a ler em determinados lugares e com determinadas pessoas, ao longo do tempo, é indagar pelos modelos que nos formam como leitores, que (en)formam nossa compreensão dos textos, nossos modos de lidar com o escrito, nossas expectativas, intenções e valores dados à leitura.

Para Payer (2011)Payer, M. O. (2011, abril). O “fato da língua” na materialidade da leitura. Pro-Posições, 22(1), 23-32. ISSN 0103-7307., por exemplo, na materialidade da leitura a relação do sujeito-leitor com as formas linguísticas do texto é marcada pelas tensões entre a língua portuguesa – predominantemente como língua nacional e modelo de escrita correta – e outras línguas, silenciadas no domínio público oficial, que guardam a memória da língua materna. A leitura é, assim, atravessada (em tensão) pelas memórias discursivas histórico-culturais que se inscrevem na língua, quer no texto, quer no leitor, ao longo do tempo e por diferentes lugares, o que resulta em leituras múltiplas, singulares e distintas entre os leitores.

A não transparência da linguagem e os modos como ela se tipifica e se apresenta em diferentes gêneros pressupõem levar em consideração que é diversa a compreensão da leitura de um texto histórico da ciência, um texto didático, um de divulgação científica, ou um original produzido por cientistas, porque, como expõem Oliveira (2011)Oliveira, O. de. (2011, janeiro/abril). Em defesa da leitura de textos históricos na formação de professores de ciências. Pro-Posições, 22(1) [64], 71-82. ou Almeida e Sorpres (2011, p.84)Almeida, M. J. P. M., & Sorpres, T. P. (2011, janeiro/abril). Dispositivo analítico para compreensão da leitura de diferentes tipos textuais: exemplos referentes à Física. Pro-Posições, 22(1), 83-95. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643281>.
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, na produção de sentidos, “diferentes interdiscursivos são mobilizados mesmo que sejam realizadas por um mesmo indivíduo, pois supõem diferentes imaginários”

Diferentes discursos povoam nossas leituras de diferentes gêneros de textos, como também modelos culturalmente aprendidos orientam e “controlam” nossa compreensão e nossa formação como leitores. Segundo Assoline (2011)Almeida, M. J. P. M., & Sorpres, T. P. (2011, janeiro/abril). Dispositivo analítico para compreensão da leitura de diferentes tipos textuais: exemplos referentes à Física. Pro-Posições, 22(1), 83-95. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643281>.
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e Dresch, Lebedeff e Dickel (2011)Dresch, M., Lebedeff, T. B., & Dickel, A. (2011, abril). Memórias de leitura, lugar de leitor e conhecimento na formação inicial de docentes. Pro-Posições, 22(1), 45-58. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072011000100005&lng=es&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072011000100005.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, as experiências de leitura dos alunos de Letras e o impacto dessas experiências (aversivas e de desencanto) no processo de formação escolar na primeira infância e na família (densas e afetivas) e, ainda, na universidade (valorizadas e legitimadas com estatuto de prestígio) estão inscritos nas memórias discursivas de professores ou futuros professores. Cassiani, Linsingen e Giraldi (2011)Cassiani, S., Von Linsingen, I., & Giraldi, P. M. (2011, abril). Histórias de leituras: produzindo sentidos sobre ciência e tecnologia. Pro-Posições, 22(1), 59-70. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-3072011000100006&lng=en&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73072011000100006.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, na mesma direção, apontam que diferentes sentidos são construídos sobre ciências, tecnologia e sociedade, porque são distintos as experiências, os conhecimentos e as expectativas relatadas por estudantes do curso de Pedagogia em suas histórias de leitura.

Os últimos artigos localizados, de Amarilha e Silva (2016)Amarilha, M., & Silva, S. F. da. (2016, novembro). Política de leitura na Educação Infantil: da gestão ao leitor. Pro-Posições, 27(2), 93-114. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8647207>.
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e de Ramos e Marangoni (2016)Ramos, F. B., & Marangoni, M. C. T. (2016, agosto). Ecos da poesia no leitor mirim. Pro-Posições, 27(2), 67-92. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072016000200067&lng=en&nrm=iso http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-2015-0113.
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, trazem um enfoque novo em relação aos demais comentados até aqui: os modos como a literatura – presente nos acervos distribuídos pelos programas de incentivo à leitura e de formação dos leitores – se encontra ausente nas escolas. Se nas últimas décadas, vários programas ganharam regularidade e foram fortalecidos pelos governos municipais, estaduais e federal, por outro lado seu funcionamento e sua eficácia precisam ser problematizados, principalmente em relação aos altos custos de financiamento investidos19 19 Penido (2017) destaca que duas tendências investigativas se fortaleceram a partir dos anos 2000, quando se olha para a produção acadêmica sobre leitura. São elas: 1) a discussão das políticas públicas e de diversos programas de leitura organizados por instituições governamentais e não governamentais que trazem à tona estudos como aqueles sobre o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), ou o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE); 2) o debate em torno da aproximação dos suportes tecnológicos em que a leitura estabelece novas relações com os leitores. . Para Ramos e Marangoni (2016)Ramos, F. B., & Marangoni, M. C. T. (2016, agosto). Ecos da poesia no leitor mirim. Pro-Posições, 27(2), 67-92. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072016000200067&lng=en&nrm=iso http://dx.doi.org/10.1590/1980-6248-2015-0113.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, por exemplo, a presença da poesia na sala de aula do Ensino Fundamental “é um desafio para o âmbito educacional e para a criação e manutenção de políticas públicas, especialmente aquela promovida pelo PNBE” (s.p.). Para Amarilha e Silva (2016)Amarilha, M., & Silva, S. F. da. (2016, novembro). Política de leitura na Educação Infantil: da gestão ao leitor. Pro-Posições, 27(2), 93-114. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8647207>.
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: “leitores em rito iniciático passam fome de leitura, ilhados por caixas de tesouros fechadas que têm sido distribuídas pelo PNBE” (s.p.).

Ao longo dos 30 anos

Se a leitura como campo possível de ser pensado, dissociado da escrita, da aquisição da língua e da teoria literária, é um objeto de pesquisa recente (Ferreira, 1999Ferreira, N. S. de A. (1999). Pesquisa em leitura: um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil, de 1980 a 1995. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2007Ferreira, N. S. de A. (2007, janeiro/abril). Uma apresentação das primeiras pesquisas sobre leitura, no Brasil, 1969-1975. Revista da Educação Pública, 16(30), 29-42.), os três períodos marcados pelas publicações sobre esta temática na revista Pro-Posições vão mostrando que as preocupações, as motivações e os interesses dos seus autores, mais do que serem linearmente substituídos e anulados um a um, participam de um campo que se fortalece e se amplia quanto às questões colocadas (Como melhorar o quadro da leitura? Ler o que e para quê? Quais são os “modelos” de leitura? Como e onde os textos se apresentam aos leitores? – entre outras), quanto às abordagens (psicológica, psicolinguística, sociolinguística, discursiva, histórica, cultural), quanto aos leitores – estudantes em diferentes níveis de escolaridade que trazem em suas diversas histórias de vida leituras igualmente distintas.

Ao longo dos 30 anos de publicações na Revista, a leitura é tomada pela ideia de urgência e de importância inquestionáveis. Ela é, ao mesmo tempo, uma aprendizagem particular e um meio para outras aprendizagens. Não dominá-la (bem) põe em perigo toda a escolarização e coloca sob suspeita a formação cultural e a provável participação social dos indivíduos.

Estudá-la e conhecê-la movimenta discussões de diferentes ordens, que envolvem medidas políticas e pedagógicas para a melhoria das condições de promoção do uso e da partilha dos textos, numa sociedade profundamente desigual.

Lado a lado, os três períodos apontam que a leitura – em suas habilidades psicológicas e linguísticas possíveis de serem desenvolvidas, controladas e avaliadas, individualmente, nos leitores – fica restrita apenas ao primeiro momento das publicações. Os dois últimos períodos movimentam uma diversidade de olhares e de reflexões na tentativa de compreender a leitura em sua complexidade de usos, práticas, apropriações e na sua interlocução com a história, com a cultura, com a linguagem, com as políticas públicas, entre outros.

É muito? É pouco? O que a Pro-Posições traz sobre leitura?

Tínhamos como expectativa inicial que a Revista Pro-Posições apresentaria uma significativa quantidade de artigos sobre leitura, considerando que esta temática fomenta políticas públicas na formação do leitor e do livro, problematiza e orienta a formação docente e as práticas pedagógicas, incentivando, ainda, a produção do mercado editorial, quer na publicação de material didático, quer na edição de livros de ficção.

Em sua importância social e política, a leitura impulsiona eventos acadêmicos específicos, como o Congresso de Leitura do Brasil (COLE) e a produção de periódicos como, por exemplo, a revista Leitura: Teoria e Prática (LTP), ambas iniciativas resultantes da criação de uma instituição sem fins lucrativos, a Associação de Leitura do Brasil, além de justificar a existência de diferentes grupos de pesquisa espalhados por todo o país, inclusive o Grupo de Pesquisa “Alfabetização, Leitura e Escrita/ Trabalho Docente e Formação Inicial” – ALLE-AULA, da Faculdade de Educação/Unicamp, que vem produzindo estudos sobre leitura ao longo de mais de 20 anos.

No entanto, na composição do nosso corpus de análise, apenas 19 textos sobre a temática da leitura foram localizados na revista Pro-Posições nos quase 30 anos pesquisados. Pouco, se considerarmos a quantidade de publicações sobre outras temáticas que se espalha ao longo da existência desse periódico. Também pouco, se pontuarmos que essa quantidade representa menos de um por cento em relação ao total encontrado (353 artigos) nos 41 periódicos que identificamos no banco de dados Scielo.

Mas, se considerarmos que a quantidade de artigos pode ser compreendida como a presença de um debate vigoroso de pensamento, talvez nossa percepção seja outra. De fato, na Revista Pro-Posições a leitura potencializa discussões contemporâneas na área e se configura atualizada em diferentes vertentes teóricas e metodológicas. Estimula a fertilidade de Pro-Posições em torno da importância da leitura, da formação de leitores em suas dimensões culturais, pedagógicas, didáticas, políticas. Marca presença, junto com outras questões e problemáticas, em relação à leitura, um tema ainda não resolvido no Brasil, seja em sua dimensão quantitativa, seja qualitativa.

  • 1
    Um agradecimento especial a Roberta Pozzuto - funcionária responsável pelo setor de publicações da Faculdadede Educação/Unicamp - pelo envio, sempre pronto e atencioso, das informações sobre a história da revista.
  • 2
    Normalização, preparação e revisão textual: Leda Farah (farahledamaria@gmail.com) e Vera Bonilha(verabonilha@yahoo.com.br).
  • 3
    Texto integrante do dossiê especial: “Pro-Posições 30 anos”, organizado pelo Prof. Dr. André Luiz Paulilo. Editor Associado responsável: Prof. Dr. André Luiz Paulilo.
  • 4
    English version (abstract): José Pereira Queiroz (ze.pereira.queiroz@gmail.com).
  • 5
    Geralmente, as pesquisas contemplam um levantamento bibliográfico (fortuna crítica) para um mapeamento da produção já realizada sobre o objeto de estudo do pesquisador, que o ajuda a pontuar e situar a originalidade e a contribuição do seu trabalho no interior da produção já construída. Há um tipo de pesquisa de outra natureza: seu objeto de investigação é o próprio levantamento bibliográfico, buscando conhecer o processo/movimento da produção acadêmica sobre determinado assunto ou tema, ao longo de um tempo e em diferentes lugares. Ferreira (1999)Ferreira, N. S. de A. (1999). Pesquisa em leitura: um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil, de 1980 a 1995. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. e Fiorentini (1994)Fiorentini, D. (1994). Rumos da pesquisa brasileira em Educação Matemática: o caso da produção científica em cursos de pós-graduação. Tese de Doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas-SP. nomeiam este tipo de pesquisa como “estado da arte da pesquisa”; Soares (1989)Soares, M. (1989). Alfabetização no Brasil. Brasília-DF: INEP. e Soares e Maciel (2000)Soares, M., & Maciel, F. I. P. (2000). Alfabetização. Brasília-DF: MEC/INEP/COMPED. como “estado do conhecimento de um determinado campo de estudo”; por fim, Fiorentini, Passos e Lima (2016)Fiorentini, D., Passos, C. L. B., & Lima, R. C. R. (2016). Mapeamento da pesquisa acadêmica brasileira sobre o professor que ensina matemática: período 2001-2012. Campinas-SP: Faculdade de Educação, Unicamp. Recuperado em 15 de outubro de 2018, de <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=74355&opt=4>. E-book.
    http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/...
    como “metanálise”. Em comum, esses pesquisadores estudam o campo de conhecimento, inventariando trabalhos já realizados e produzindo uma leitura interpretativa do corpus selecionado por eles para análise.
  • 6
    O corpus construído nas pesquisas do tipo estado da arte ou estado do conhecimento pode assumir formas distintas. Fiorentini (1994)Fiorentini, D. (1994). Rumos da pesquisa brasileira em Educação Matemática: o caso da produção científica em cursos de pós-graduação. Tese de Doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas-SP. e Fiorentini et al. (2016)Fiorentini, D., Passos, C. L. B., & Lima, R. C. R. (2016). Mapeamento da pesquisa acadêmica brasileira sobre o professor que ensina matemática: período 2001-2012. Campinas-SP: Faculdade de Educação, Unicamp. Recuperado em 15 de outubro de 2018, de <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=74355&opt=4>. E-book.
    http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/...
    , por exemplo, defendem que o levantamento seja feito com trabalhos completos (dissertações e teses); Ferreira (1999Ferreira, N. S. de A. (1999). Pesquisa em leitura: um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil, de 1980 a 1995. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2002)Ferreira, N. S. de A. (2002, maio/agosto). Dos amores difíceis: uma leitura compartilhada na aula de Língua Portuguesa. Pro-Posições, 13(2) [38], 43-53. trabalha com títulos e resumos de pesquisas. Por outro lado, Soares (1989)Soares, M. (1989). Alfabetização no Brasil. Brasília-DF: INEP. tem como fontes as pesquisas completas oriundas dos programas de pós-graduação, assim como os artigos publicados em periódicos e em anais de eventos. Uma outra distinção entre pesquisadores é quanto à abrangência do corpus de análise: um estudo mais inventariante que contempla grande volume de trabalhos, ou outro de natureza qualitativa, envolvendo um número reduzido (Fiorentini et al., 2016Fiorentini, D., Passos, C. L. B., & Lima, R. C. R. (2016). Mapeamento da pesquisa acadêmica brasileira sobre o professor que ensina matemática: período 2001-2012. Campinas-SP: Faculdade de Educação, Unicamp. Recuperado em 15 de outubro de 2018, de <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=74355&opt=4>. E-book.
    http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/...
    ).
  • 7
    Leonardo Quezada C. de Matos, aluno do curso de “Licenciatura Integrada Química/Física” - FE/Unicamp.
  • 8
    A consulta e a busca foram realizadas de julho de 2018 a janeiro de 2019, sendo várias vezes refeitas para checagem ou complementação de informações, como, por exemplo, recuperação do texto integral.
  • 9
    Como exemplos, citamos: Souza, I. R. C. S., & Bruno, M. M. G. (2017, março)Souza, S. S., & Nascimento, T. G. (2006). Um diálogo com as histórias de leituras de futuros professores de ciências. Pro-Posições, 17(1), 105-135.. Ainda não sei ler e escrever: alunos indígenas e o suposto fracasso escolar. Educ. Real., 42(1), 199-213 [76/681]; Silva, E. M. T., Witter, G. P., & Carvalho, P. F. de (2011, dezembro). Leitura e escrita em alunos de escola pública: 3 vol. 4.º ano. Psicol. Esc. Educ., 15(2), 301-309. [149/681]. Entre colchetes, indicamos o número do artigo na lista dos 681 identificados no Scielo.
  • 10
    Excluímos, por exemplo: Caldas Filho, C. R. (2017, dezembro). O midraxe machadiano em “Na arca”. Machado Assis Linha, 10(22), 47-59. [82/681]; Silveira, R. M. H., & Kaercher, G. E. da S. (2013, dezembro). Dois papais, duas mamães: novas famílias na literatura infantil. Educ. Real., 38(4), 1191-1206. [80/681].
  • 11
    Também não foram incluídos no corpus trabalhos como: Lima, P. G. Uma leitura sobre Paulo Freire em três eixos articulados: o homem, a educação e uma janela para o mundo ou Fanini, A. M. R. (2015, agosto). Embate dialógico entre leitura e escrita: manifestação de uma ética da ação discursiva a partir do Círculo bakhtiniano. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso, 10(2), 17-3. [90/681].
  • 12
    Os periódicos que compõem o levantamento feito no Scielo e que apresentam no mínimo três publicações sobre leitura são: Alfa: Revista da Linguística; Revista Brasileira de Linguística Aplicada; Trabalhos em Linguística Aplicada; Documentação de estudos em linguística teórica e aplicada – DELTA; Alea, Estudos de literatura brasileira contemporânea; Revista de Estudos do Discurso; Revista Linguagem em (Dis)curso; Revista Pró-Fono Revista de Atualização Científica; Jornal da Sociedade de Fonoaudiologia – JSBFa; Revista da Sociedade de Fonoaudiologia; Revista CEFAC; Revista CoDAS; Revista Audiology - Communication Research – ACR; Arquivos Brasileiros de Oftalmologia; Revista Psicologia: Reflexão e Crítica; Psicologia: Teoria e Pesquisa; Psicologia Escolar e Educacional; Revista Psicologia da USP; Revista Psicologia em Estudo; Revista da Psicologia Social, Revista Psicologia USF; Psicologia: Ciência e Profissão; Fractal: Revista de Psicologia; Paidéia; Estudos de Psicologia; Revista Estudos de Psicologia; Pro-Posições; Revista Brasileira de Educação Especial; Revista Brasileira de Educação; Educação em Revista; Revista Educação e Pesquisa; Revista Ciência & Educação; Cadernos de Pesquisa; Cadernos CEDES; Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências; Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos; Revista História da Educação; Educação & Realidade; Perspectivas em Ciência da Informação; Revista Ciência da Informação; Revista de História.
  • 13
    Nomeamos as áreas de estudo pelas instituições que produzem esses periódicos, assim como, em alguns casos, pela referência a elas nos títulos das revistas ou no texto de apresentação do periódico pelos editores. Assim, a Revista Psicologia Escolar Educacional, editada pela Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional – ABRAPEE – foi inserida como área de conhecimento “Psicologia”. Na tabela das áreas de conhecimento da CAPES, a área Psicologia Educacional enquadra-se na Educação, e não na Psicologia. Por outro lado, este periódico é editado por uma associação formada por psicólogos para “congregar os estudiosos e profissionais da área, visando o reconhecimento legal da necessidade do psicólogo escolar nas instituições de ensino, bem como estimular e divulgar pesquisas nas áreas de psicologia escolar e educacional” (Recuperado em setembro de 2018, de https://abrapee.com), o que nos inclina a enquadrá-la na “Psicologia”.
  • 14
    Maior ou menor quantidade de artigos publicados nas áreas de conhecimento indica uma tendência que não pode ser tomada como numericamente exata. O volume localizado deve ser relativizado, por exemplo, porque os periódicos têm tempos distintos de existência; alguns foram criados em meados dos anos 1980, outros são mais recentes; alguns, com publicações trimensais, outros semestrais; alguns têm digitalizados seus acervos desde o primeiro número, como o caso da Revista Psicol. Esc. Educ., que disponibiliza o artigo “Avaliação da produção científica sobre leitura na universidade (1989-1994)”, de Geraldina Porto Witter, de 1996.
  • 15
    Penido (2017)Penido, T. N. (2017). Um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado: 45 anos de produção em leitura no Brasil (1965-2010). 1 recurso online (1607 p.). Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. Recuperado em 15 de outubro de 2018, de <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/330329>.
    http://www.repositorio.unicamp.br/handle...
    , ao retomar os trabalhos sobre leitura (Ferreira, 1999Ferreira, N. S. de A. (1999). Pesquisa em leitura: um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil, de 1980 a 1995. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2001; Martins, 2005Martins, R. P. (2005). Estudos introdutórios sobre leitura no Brasil – 1996 a 2000. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.; Penido, 2010Penido, T. N. (2010). Um estudo da leitura como temática nos resumos das teses de doutorado e das dissertações de mestrado no Brasil (2000-2005). Trabalho de Conclusão de Curso, Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas-SP. Recuperado em 15 de outubro de 2018, de <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br>.
    http://www.bibliotecadigital.unicamp.br...
    ) reuniu 2.040 dissertações de mestrado e teses de doutorado, concluindo que as áreas de Letras/Linguística (955 trabalhos) e Educação (720) superaram a da Psicologia (116) – que constituía quase que um reduto de produção acadêmica nesta temática. Tal mudança pode ser atribuída, entre outros fatores, ao aumento na quantidade de programas de pós-graduação na última década, em todo o território brasileiro, em outras áreas de conhecimento, bem como à facilidade para acessar pela internet bancos de dados digitalizados da produção originada em programas de pós-graduação os mais longínquos, diferentemente do que ocorria quando das pesquisas de Ferreira (1999Ferreira, N. S. de A. (1999). Pesquisa em leitura: um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil, de 1980 a 1995. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas., 2001)Ferreira, N. S. de A. (2001). A pesquisa sobre leitura no Brasil: 1980 - 1995. Campinas, SP: Komedi..
  • 16
    Ao longo do tempo, a Revista Pro-Posições foi criando novos projetos editoriais (capas, gêneros e seções distintos foram modificados, extintos, incluídos), adequando-se a padrões de outros periódicos científicos, à medida que a expansão e o aprofundamento do sistema de avaliação (da Capes, do CNPq, da Fapesp, etc.) passaram a controlar/classificar/legitimar a cadeia produtiva acadêmica.
  • 17
    Neste número, além desta resenha, figuram as seguintes: “Comenius: a persistência da utopia em Educação (Wojciech A Kulesza)”, escrita por Mariano Narodowski; “Desde Nuestra Escuela Paideia (Josefa Martín Luengo)”, de Silvio Gallo; “Administração escolar: uma abordagem crítica do processo administrativo em educação (José do Prado Martins)”, de Luiz Carlos Batista de Moura e Jane Shirley Escodro Pranstretter; “O cotidiano da escola de 1° grau: o sonho e a realidade (José Luiz Domingues)”, de Vani Moreira Kenski; “As Ciências Sociais na escola (Maria Tereza Nidelcofl)”, de Eloisa de Mattos Holfling.
  • 18
    São estes os artigos da década de 2000: Suzani Cassiani de Souza e Maria José P. M. de Almeida, 2001; Claudete Amália de Andrade, 2002Andrade, C. A. S. de (2002, março). Leitura e vestibular: novos horizontes. Pro-Posições, 13(2), 35-41. ISSN 1982-6248. Recuperado em 10 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643951>
    https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
    ; Ferreira, 2002Ferreira, N. S. de A. (2002, maio/agosto). Dos amores difíceis: uma leitura compartilhada na aula de Língua Portuguesa. Pro-Posições, 13(2) [38], 43-53.; Barreto, 2002Barreto, P. M. (2002, maio/agosto). Intermédio. Pro-Posições, 13(22) [38], 56-61.; Thiollent, 2004Thiollent, M. (2004). Releitura de um livro escolar de Charles ab der Halden. Pro-Posições, 15(3), 173-194.; Nascimento, 2006; Costa, 2006Costa, K. M. de M., & Nascimento, T. C. (2006, fevereiro). O leitor em formação: múltiplos caminhos. Pro-Posições, 17(3), 217-219. ISSN 1982-6248. Recuperado em 05 de fevereiro de 2019, de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643617> Acesso em: 05 fev. 2019.
    https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
    ; Ferreira, 2008).
  • 19
    Penido (2017)Penido, T. N. (2017). Um estudo dos resumos de dissertações de mestrado e teses de doutorado: 45 anos de produção em leitura no Brasil (1965-2010). 1 recurso online (1607 p.). Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. Recuperado em 15 de outubro de 2018, de <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/330329>.
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    destaca que duas tendências investigativas se fortaleceram a partir dos anos 2000, quando se olha para a produção acadêmica sobre leitura. São elas: 1) a discussão das políticas públicas e de diversos programas de leitura organizados por instituições governamentais e não governamentais que trazem à tona estudos como aqueles sobre o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), ou o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE); 2) o debate em torno da aproximação dos suportes tecnológicos em que a leitura estabelece novas relações com os leitores.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    05 Set 2019
  • Aceito
    10 Out 2019
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