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EDITORIAL

Num momento em que as universidades estaduais paulistas discutem formas de inclusão de estudantes oriundos dos grupos sociais mais desfavorecidos, gostaríamos de apresentar algumas reflexões.

Em primeiro lugar, acreditamos que nunca é demais lembrar a força simbólica desse debate, tal como ele se desenvolve neste momento. Não se trata mais de definir se as seletivas e prestigiosas universidades estaduais paulistas devem ou não promover iniciativas que permitam ampliar a base social de recrutamento de seus estudantes, mas de como isso deve ser feito. Essa maneira de abordar a questão atesta, portanto, que estamos numa nova etapa da discussão sobre educação e desigualdade e sobre o direito à educação.

Além disso, o debate interiorizou, de maneira definitiva e em novos termos, a dimensão da permanência na universidade. Não se trata mais de assegurar apenas o acesso. Também não é o caso de pensar em permanência apenas como garantia das condições materiais que permitam aos estudantes chegar à universidade, usufruir das diferentes dimensões de aprendizado que ela proporciona, oferecendo moradia de fácil acesso e recursos para manutenção e compra de livros. O debate mais recente tem também enfrentado a espinhosa questão relativa aos currículos.

Como definir currículos que favoreçam a integração desses estudantes oriundos de escolas que, em sua maior parte, não conseguiram produzir as habilidades e as competências consideradas como pré-requisito para os cursos universitários mais seletivos? Como compor um currículo que atenda a essa exigência, sem produzir ao mesmo tempo efeitos de separação e segregação no conjunto de estudantes? Ao que tudo indica, esse será o problema central a ser encarado pelos debates em torno da inclusão no ensino superior nesta década, exigindo a mobilização de professores de todos os níveis de ensino, dos gestores universitários e, por fim, mas não menos importante, dos ativistas do movimento estudantil e sindical.

Todos os esforços serão necessários, porque o problema que se coloca não é simples. Ele consiste em definir modalidades de inovação curricular num contexto em que não se prevê mudança no valor dos recursos reservados às universidades estaduais. O problema, portanto, consiste em assegurar acesso e permanência dos grupos sociais que chegam pela primeira vez à universidade pública, garantindo, ao mesmo tempo, que os diplomas que eles agora têm condições de disputar não tenham seu valor diminuído em decorrência de uma crise na universidade. Por tudo isso, a luta pela inclusão e pela permanência dos jovens oriundos dos grupos menos privilegiados só faz sentido ao se confundir com a defesa da universidade pública.

Muito apropriadamente, a nossa revista apresenta, neste número, um dossiê que problematiza justamente a diversidade na formação de professores. Considerada como um dos nós do nosso sistema educacional segregado, a capacidade dos professores de tratar de forma positiva a diversidade do grupo de alunos que estão encarregados de atender é um dos desafios cruciais dos programas de formação e, portanto, das faculdades de Educação. O dossiê aborda essa questão em sua complexidade, examinando em detalhe a contribuição que a Antropologia pode oferecer para o enfrentamento deste desafio.

Para além do dossiê, a revista traz uma série de cinco artigos que oferecem portas de entrada diversas e instigantes para pensar sobre o fenômeno educativo contemporâneo. A seção Diverso e Prosa recupera o momento emblemático de fundação da Escola Moderna por Francisco Ferrer Guardía em Barcelona, em 1901. A apresentação da seção, por nosso colega Sílvio Gallo, ajuda-nos a situar essa experiência singular de uma pedagogia libertária e anticlerical em relação não apenas aos enfrentamentos por que a região atravessava na época, mas também às fortes transformações associadas à expansão dos processos de construção dos sistemas nacionais de ensino na Europa ocidental.

Por fim, três resenhas oferecem um contato argumentado com obras recentes que nos proporcionam um olhar ampliado sobre o fenômeno educacional, sobre indivíduos que nos ajudam a compreendê-lo e sobre espaços que enquadram nossa percepção.

Boa leitura!

Ana Maria F. Almeida

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2013
  • Data do Fascículo
    Ago 2013
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